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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

O elemento novo das legislativas de 2011

José Carlos Pereira, 17.05.11

Acompanho a vida política desde muito novo, logo a seguir ao 25 de Abril. Recordo-me dos grandes comícios e manifestações na Avenida dos Aliados, no Estádio das Antas ou no Palácio de Cristal, onde ia pela mão de meus pais em 1975/76. Nesses tempos de brasa lutava-se pela democracia nas ruas e no Verão quente de 1975 chegou a gritar-se, lembro-me bem, “Vasco só há um, o Lourenço e mais nenhum”! Os partidos do arco democrático estavam ao lado dos militares que tinham subscrito o “Documento dos Nove”, liderados por Melo Antunes.

Recordo-me também de atravessar a ponte Luiz I no funeral de um dos militares mortos no 25 de Novembro de 75. Eram tantas as pessoas presentes que o cortejo fúnebre em direcção à Serra do Pilar teve de ser compassado para não colocar em risco a segurança da ponte.

Consolidado o regime, comecei a participar activamente nas campanhas eleitorais em 1980 e desde então que vou acompanhando, com maior ou menor envolvimento, a actividade política e partidária. Sucederam-se os líderes, os governos e as maiorias. O país transformou-se para (muito) melhor, apesar dos erros cometidos, das crises e das troikas.

Nestes mais de trinta anos passámos por muitas campanhas, alianças, debates, rumores e boatos, mas creio que nestas eleições de 2011 há um elemento novo, que nunca se tinha colocado desta forma: um recandidato a primeiro-ministro é alvo de uma bateria sistemática de insultos, desprezo e desconsideração por parte dos restantes partidos e da comunicação social. Como se Sócrates tivesse uma espécie de capitis diminutio e a sua própria recandidatura fosse um “escândalo”.

Ele “disse que não governava com o FMI”, ele “é mau e Assis, Seguro ou Costa são bons”, “nós entendemo-nos com o PS, mas só com outra liderança”, “não estarei no mesmo Governo que Sócrates”, “se o PS ganhar então os portugueses têm o que merecem”, não faltam atoardas deste género.

Nunca foi tão comum apodar um candidato a primeiro-ministro de mentiroso – com as variantes à escolha de grande mentiroso e de mentiroso compulsivo – ilusionista, falso, hipócrita. E já não falo dos rumores postos a circular convenientemente ou das recentes comparações com Hitler. Esses insultos partem muitas vezes de deputados e dirigentes de primeiro nível de outros partidos. É só estar atento às redes sociais…

Na comunicação social, então, é raríssimo encontrar um comentador que não descarregue a bílis sobre Sócrates. As sondagens dizem que PS e PSD lutam taco-a-taco pela vitória nas eleições, mas quem cá chegasse vindo de fora não acreditava. Quantos comentadores têm ouvido ou lido que se inclinem para o apoio ao PS e a Sócrates? Até meios que me habituei a respeitar e a seguir, como o “Expresso” e a SIC Notícias, têm dado uma visão de um país inclinado, contra Sócrates.

Creio bem que esta diabolização de Sócrates não vai ter os resultados esperados pelos seus promotores. Esta personalização de todos os males em José Sócrates, por tão excessiva, perde toda a credibilidade.

Se a comunicação social cavalga a onda do momento e os jornalistas e comentadores estão mortinhos por “virar a página”, porventura à espera de um protagonista mais a seu jeito, já não se compreende de todo a postura dos restantes actores políticos. Não sabem eles, como por vezes recorda um insuspeito Pacheco Pereira, que não há maior descrédito lançado sobre os políticos do que aquele que parte dos seus próprios agentes?

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