Como as coisas mudaram…
Não há dúvida que hoje está tudo bem mais calmo, mais positivo. De manhã Mira Amaral explicava ao jornalista da Antena 1 que o Governo deve procurar fazer bem o que se propõe fazer, mas que não será pela sua acção que vamos sair da crise, está tudo dependente do que as autoridades comunitárias decidirem, dizia Mira Amaral. Desde quando é que o Governo não pode resolver a crise? Mira Amaral descobriu esta verdade nas últimas duas semanas? Tanto quanto me lembro há dois meses atrás tudo era da responsabilidade do Governo e tudo dependia das suas decisões.
Os jornalistas aceitam estas explicações e até as complementam numa acção de entreajuda. Veja-se o caso da subida das taxas de juro. Quando as taxas andavam pelos 6%, 7%, davam lugar a grandes manchetes e abriam telejornais. Quando se aproximaram dos 8% apareceram os banqueiros e longos debates nas televisões. Agora que as taxas escalam os 12%, 13% aparecem como nota de rodapé nos noticiários e sempre com a causa atrás: “a situação na Grécia”. Então, a renovada confiança nos novos governantes não produziu efeito algum? Não se dizia que os mercados precisavam de ganhar nova confiança e que isso passava pela mudança dos protagonistas? A comunicação social perdeu tão rapidamente a memória?
O caso do dia é o da eliminação de Bernardo Bairrão da lista de Secretários de Estado. O homem foi convidado, aceitou e demitiu-se do cargo de administrador da TVI. No dia seguinte o Primeiro Ministro corre com ele e desnomeia-o antes de tomar posse. A tudo isto a comunicação social limita-se a dar a notícia, sem levantar grandes ondas ou questões. E tudo poderia estar certo se o convite a Bernardo Bairrão tivesse partido do primeiro ministro. Acontece, porém, que foi um Ministro que convidou Bernardo Bairrão e foi o mesmo Ministro que o Primeiro Ministro desautorizou na praça pública ao rejeitar o nome que anteriormente aceitara. Se este filme tivesse ocorrido há dois meses atrás a comunicação social não estaria a exigir a demissão do Ministro?
Estão a imaginar o barulho que por aí iria se tudo isto se tivesse passado com Sócrates?
As coisas mudaram de facto, o país está melhor, mais calmo, apenas lhe faltam os jornalistas de outrora.