Estes dias que passam 238
A semana (ou a banana?)
Entre a fome no corno de África, a guerra que se arrasta no Líbia, a que se aproxima na Síria, o naufrágio do “News of the world”, as bravatas dos republicanos americanos e o massacre na Noruega, poder-se-ia dizer que não sobra espaço para as mitigadas novas que nos vêm da Europa e os novos dados quanto à dívida soberana. Escapámos, ou poderemos escapar, por pouco, a um desastre gigantesco mesmo se saibamos que a dívida ainda aí está e que há muito boa gente que aposta em continuar a mantê-la em nome de um estranho “Estado social” que nos últimos anos era mais auto-estradas, estádios, tgv e cada vez maior distância entre ricos e pobres. E prebendas para filhos e afilhados, justiça em bolandas, corrupção crescente e autismo puro.
Mas as televisões estão aí para, mesmo que em pequena porção, nos informarem dos resultados do duelo Seguro Assis. Convenhamos que, num país, ou num sistema, que deixa a oposição no desconfortável papel de “ver a caravana passar”, a televisão portuguesa até se portou bem.
Sobretudo se nos lembrarmos da infinita tristura do confronto entre ambos os candidatos que conseguiram dizer ainda menos do que nas entrelinhas se vai vendo.
Agora, como noticia um jornal de referência, aliás o único a conceder ao caso alguma notoriedade, começam a desatar-se as línguas.
Como por exemplo na secção do P.S. em Lever (Gaia) onde o mais antigo militante, em idade e em inscrição, afirma que a única pessoa que o desiludiu foi o ex-secretário geral que, sic, “apareceu no P.S. mas antes tinha estado no PSD e eu nunca estive no PSD” ou um outro mais jovem que diz que o mesmo cavalheiro “era conhecido por vender ilusões”.
Nos próximos meses ou mesmo semanas, escondidos entre as tolices da silly season, outros comentários do mesmo teor começarão a surdir de entre os panos do luto e no congresso que aí vem vamos assistir ao milagre da multiplicação dos peixes, dos pães e dos que nunca estiveram com a linha dominante nem com os coreanos resultados do congresso de Matosinhos, que foi há três escassos meses.
Que Seguro iria ganhar foi coisa assente desde o momento em que este saiu do bizarro mutismo a que se tinha votado. O silêncio, que por cá, se diz ser de oiro, é apenas silêncio e nunca me pareceu ser outra coisa. Quem não fala, não critica, não protesta, não afirma. Nada. Todavia, a vozearia estridente dos outros, a empáfia, a soberba autista dos outros concedeu a este silêncio inesperadas sonoridades e converteu-o numa bandeira, numa escapatória envergonhada para todos quantos, passada a “magia” se deram conta do deserto que poderão ser obrigados a atravessar. O voto Seguro é um modo discreto, seguro e apolítico de começar a criticar os anos de culto frenético da personalidade do ex-líder.
O castelo de cartas ruiu e os militantes começam a perceber que o mundo continuou a girar sem eles, contra eles. Nessa paisagem inóspita, Seguro, é a figura possível, a crítica possível.
Por outro lado, Assis, mesmo que o quisesse, nunca poderia dizer que tinha ideias novas para o Partido. Demasiado comprometido com Sócrates, demasiado colado ao retrato de um partido trapalhão que acolhe qual filho pródigo uma criatura que se apodera de gravadores alheios, demasiado lisonjeiro (e estou a medir misericordiosamente as minhas palavras) para o anterior líder, Assis nem sequer conseguiu mostrar que não era um mero passageiro de um comboio que António Costa decidira não tomar e muito menos ser o maquinista.
O P.S. adia-se, vai para banhos, regressará no fim do Verão, eventualmente mais queimado, já com algumas questões políticas urgentes resolvidas (bem ou mal, mas isso compete ao Governo).
A oposição, essa, andará por aí em lume brando, pelo menos o Bloco que também deve andar pela praia a meter a cabecinha na areia para fingir que não vê o olhar critico dos eleitores que o abandonaram e mesmo dos outros que devem estar à espera de saber quando é que o seu sacristão geral se decide a tirar umas férias.
O PC prepara a sua festa anual, do Avante (“vperiod”, em russo, como alguém decerto recordará), mesmo se o avante comunista pareça cada vez mais o do caranguejo (outra metáfora de “fino” sabor estival!..., desculpem lá, mas o calor aperta e eu não dou para mais).
Em resumo, estamos no “intervalo”. Por todas as razões incluindo as meteorológicas. E depois, como acima enunciei, as notícias importantes não passam por cá. Isto não é Somália, tão pouco a Escandinávia, não consta que haja guerra civil, tirante a da Madeira que, infelizmente, nunca mais proclama a independência, único meio de nos vermos livres de Jardim, Jaime Ramos & comandita, ao mesmo tempo que deixávamos de pagar um balúrdio para manter os habitantes do arquipélago na gloriosa condição de vítimas dum Portugal madrasto e cubano que os oprime dia sim, dia não ou melhor: dia sim dia sim.
Então malta, façam um esforço. A tropa metropolitana retira, mesmo se só os bombardearem com bananas. Vá lá! Libertem-se!