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Incursões

Instância de Retemperação.

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A mentira sistémica

sociodialetica, 20.04.12
(Imagem retirada de Somente Is@)

 

Alguns portugueses estarão a favor do atual governo, outros estarão contra. É assim em democracia mesmo que a abstenção atinja 99,9% (o que não foi o caso), mesmo que se identifique os portugueses com uma equipe de futebol cuja eficácia dependa do treinador, mesmo que a memória seja curta e a desinformação muita, mesmo que se admire mais o sorriso, o sexy ou o vigor do candidato que as suas ideias, mesmo que se fique inebriado pelo ondular das bandeiras de uma certa cor no vento da manifestação encomendada.

 

Todos amamos a democracia, mesmo que lutemos contra esta forma de democracia. Por isso todos amamos que os membros do governo sejam honestos e sinceros. Quando assim não é estamos perante uma questão de moral, que a todos merecerá condenação.

 

Já não falamos do flamejante verde de esperança – que esvoaça e encanta, rola e rebola pelos corações durante a campanha eleitoral – que se metamorfoseia, por encanto do apregoado realismo antes desconhecido, num cinzento sem futuro, quando governam.

 

Falamos da mentira construída, elaborada, organizada, meticulosamente estruturada, planificada até ao detalhe. A mentira enquanto forma de fazer política.

 

Foi o que aconteceu com o corte dos subsídios de férias e Natal na função pública. O Ministro das Finanças anunciou o corte de meio subsídio em 2011 e afirmou perentoriamente que era uma medida excecional e que não se repetiria. Aqui ainda não mentiu, mas também não falou verdade. No futuro não seria metade, mas todo.

 

Depois o Governo anunciou o corte dos referidos subsídios em 2012 e 2013. Ainda só começava a aumentar a insolvabilidade de muitas famílias, que contaram com essas remunerações nos seus planos de despesa a longo prazo, já o Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares anunciava que se prolongaria para 2014. Poucos acreditaram nessa afirmação, habituados que estamos ao desbragamento linguístico e desfaçatez do mesmo. Quando o Primeiro-ministro vem falar em começar apenas a repor, parcialmente, em 2015 percebeu-se claramente que só a total anarquia governativa ou uma mentira muito bem acordada tinha sido estabelecida. Depois das declarações da Ministra da Justiça prevendo a continuação do corte para além 2015 percebemos que estamos perante uma mentira que devia fazer corar qualquer diabo nas chamas do inferno.

 

Concorde-se, ou não, com esta política, a falsidade e a mentira vai para além dos valores éticos de cada um de nós. Ou será que já nem os temos, até isso deixámos roubar-nos?