Au Bonheur des Dames 317
A prisão é uma chatice
(ainda por cima come-se mal)
Prólogo
Eu sei que o título desta curta série (que, a exemplo de outras, noutros anos) celebra o aniversário do “incursões”) pode prestar-se a equívocos: muito boa gente achará “chocarreiro” ou de humor duvidoso um título de um par de crónicas que versarão temas sérios e graves.
Todavia, decidi mantê-lo por razões igualmente sérias, ponderosas e graves: em primeiro lugar seria o título de um romance que não escrevi sobre algumas épocas de uma vida – a minha – temperado pelo véu ligeiríssimo da fantasia.
Em segundo lugar, valendo-me sempre de Eça, sempre entendi que a auto-ironia, e a ideia de não nos levarmos demasiado a sério, torna menos imodesto este exercício autobiográfico.
Em terceiro, último e definitivo (ou provisoriamente definitivo) lugar trata-se de uma verdade insofismável: a prisão não se recomenda a ninguém e a mistela que por lá servem é pior do que o rancho da tropa (se é que ainda há tropa e ainda há rancho.
Em tempos de crise tudo é possível mesmo se ao virar de uma esquina nos cruzemos com os senhores Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho que, ao que parece, se julgam donos do 25 de Abril ... Bom seria lembrar a essas lustres personagens que o 25 A apenas veio repor –para melhor, convenhamos – a situação anterior ao 28 de Maio e que entre uma e outra data, a tropa, a verdadeira, a das Escolas Militares, desfrutou de uma bela situação que, mesmo hoje ainda se prolonga.
Portanto esta é a história de um paisano que com outros paisanos que nunca se deram por heróis começaram o 25 A com doze anos de antecipação. Mais precisamente num Maio de 1962.