As crianças do Níger e as crianças gregas
O sinal para os povos "ajudados" pela FMI
O FMI anda há décadas a aplicar a mesma receita de empobrecimento dos países que foram forçados (pelas agências de rating, banca internacional) a pedir a intervenção do FMI.
A ementa do FMI inclui sempre o aumento generalizado de impostos, aumento de taxas de juro, privatizações, redução da despesa pública, libertação de fundos para pagar aos bancos e credores, entre os quais se inclui o FMI.
A preocupação do FMI é obter fundos, dinheiro, para entregar aos credores. O que acontece à economia, à população, isso não é da conta do FMI. O FMI onde quer que entre é um problema para a população. Em décadas de intervenção o FMI nunca apresentou uma solução para a promoção do desenvolvimento económico. A solução que aplica consiste em criar as condições para obter fundos, sacar e canalizar o dinheiro para os credores. Digamos que o FMI é o garante de uma austeridade sustentada. Nunca o garante de um desenvolvimento sustentado.
Visto assim a missão do FMI, no plano nacional, é executada pelo ministro das finanças, que, como se sabe e sente, não olha a meios para obter fundos, dinheiro fresco. O que acontece à economia, à população? Isso não é problema dele, pelo menos no imediato.
Mas não é do Vitor Gaspar que me pretendo ocupar. O que deveras me incomodou foram as declarações da patroa do FMI, Christine Lagarde. Patroa não, antes executiva do FMI porque patrões são os accionistas e os que colocam o dinheiro no FMI e que querem ser ressarcidos a juros avultados.
Pois bem, a Senhora Christine Lagarde, provavelmente, sem dar conta disso, mostrou a verdadeira natureza do FMI: SACAR. Mas não é um saque qualquer. É um saque inteligente, tão inteligente que os governos nacionais qualificam de “ajuda”. Mesmo no domínio da agiotagem é preciso ter arte.
Para Christine Lagarde o problema da Grécia não foi o conúbio entre governos e as altas instâncias da UE, incluindo os alemães. Para ela o problema são os gregos no seu todo, porque, disse, “toda aquela gente na Grécia que quer escapar aos impostos”.
Para esta madame, tida por cliente das grande marcas da alta costura, os desempregados, os doentes, os pais das crianças que nada têm para comer, o que têm é que pagar impostos, transferir dinheiro para o governo, a fim deste o transferir para o FMI. Tudo o mais não conta. Lagarde bem podia ser nome de robot.
Quantos impostos não pagariam só uma vestimenta da senhora Lagarde? Basta olhar para Christine Lagarde, para se sentir a imensa preocupação, tormento mesmo, que aquela senhora tem com as crianças do Níger. De certeza que as crianças do Níger e todas as crianças de outros pontos do mundo esfomeado são um problema para a Senhora Lagarde. Pelo modo como falou das crianças gregas, a sorte de todas as crianças do mundo nem problema de consciência chegam a ser para Christine Lagarde.
A única valia nas suas declarações é a de ter mostrado, pela voz da própria, a verdadeira natureza do FMI e a falta de escrúpulos do sistema financeiro, que o FMI serve.