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Incursões

Instância de Retemperação.

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Sócrates, Relvas, o Expresso e o que não tem graça nenhuma

J.M. Coutinho Ribeiro, 09.07.12
 
Ando a achar uma piada imensa à forma como muitos que desculparam Sócrates no assunto da sua licenciatura, se atiram, agora, a Miguel Relvas como gato a bofe, dizendo que são casos muito diferentes. E também acho uma piada imensa à forma como muitos dos que, na altura, crucificaram Sócrates por causa da licenciatura, agora tentam desculpar Relvas pelo mesmo motivo, como se não tivesse nada a ver. Anedótico é, por outro lado, o incómodo que grassa aí nos responsáveis dos vários partidos relativamente a estes assuntos. Um incómodo indisfarçável. Um incómodo que se compreende. Todos tentam ao máximo evitar o assunto. É que se alguém decide investigar a fundo, vai acabar por descobrir a imensa mole de licenciados assim na classe política. E, também, a concluir que, num jogo de espelhos revelador dos interesses em jogo, muitos dos assim licenciados até acabam a ficar nas respectivas universidade a dar aulas. Assim, ganham todos. Dinheiro, prestígio, influência, seja lá o que for que os move. Mas há, depois, o outro lado da história. Em ambos os casos relatados, é suposto que houve mãozinha de quem, do outro lado, tentou diminuir politicamente os dirigentes em causa. Pareceu-me evidente no caso de Sócrates, quando começou a cair em desgraça; parece-me evidente, agora, no caso de Relvas, que, em rigor, como ministro deste governo, nunca chegou a estar em graça. O que - longe disso - invalida que estes casos se investiguem e sejam noticiados. Mas é precisamente porque são casos importantes, que devem ser casos bem investigados. E nem sempre tem acontecido. Eu, que tenho da liberdade de expressão uma visão muito lata e do Expresso uma excelente opinião quanto ao seu rigor jornalístico, não posso deixar de assinalar a cruzada deste semanário (e de outras publicações do grupo de Balsemão) contra Miguel Relvas. Tanto quanto me dizem, Balsemão só largará Relvas quando tiver garantias de que o governo não privatizará a RTP, poupando, assim, a Balsemão maiores dificuldades na deficitária SIC. Mas, dizem-me também, o governo está disposto a bater o pé ao militante nº 1 do PSD nesta assunto e avançará mesmo com a privatização da RTP, o que, na minha modesta opinião, é o que deve ser feito. Colocado sob o fogo da suspeição, seria legítimo esperar que o Expresso tivesse um cuidado acrescido na investigação e divulgação de notícias relativas Relvas. Ora, a avaliar pelo que sucedeu na edição deste fim-de-semana, tal não terá acontecido e três dos quatro professores supostamente envolvidos na licenciatura de Relvas, não eram os que foram noticiados. É óbvio que o Expresso pode defender-se, alegando que perguntou ao ministro e este não deu explicações sobre o assunto. Não basta. Percorre-se a lei e não se encontra dispositivo que obrigue alguém a dar explicações em assunto em que é visado, nem se encontra dispositivo que diga que fica legitimada a informação falsa, por falta de colaboração do visado por tal informação. Já por aqui se percebeu que eu exijo de quem nos governa muito mais do que aquilo a que estamos habituados. Mas também é bom que se saiba que, particularmente em casos sensíveis como estes e quando estamos perante jornais de referência, há lapsos que não se aceitam nem têm justificação. É que a ultima ratio do direito à informação é precisamente o direito dos cidadãos a serem informados com rigor e objectividade. Um desígnio ainda mais importante do que o dos jornais poderem dar informação e dos visados pelas notícias a serem tratados com rigor e com o mínimo possível de violação dos seus direitos de personalidade. Não é por acaso que a liberdade de imprensa é tida como um dos pilares essenciais da democracia.

 

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