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Incursões

Instância de Retemperação.

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Crise? Qual crise?

JSC, 21.09.12

 

Depois da majestosas manifestações de 15 de Setembro importava encontrar um entretenimento que fizesse passar para segundo ou terceiro plano a dinâmica que o contágio da manifestação podia gerar.

 

Foi assim que a comunicação social nos brindou, permanentemente, com o folhetim Paulo Portas/Passos Coelho. O folhetim percorreu toda a semana até que dois grupos de gladiadores (sem os respectivos líderes) se reuniram, num hotel de Lisboa, para fazer de conta que forjavam um comunicado, como se aquela gente pudesse produzir algum texto (e muito menos torna-lo público) sem o patrocínio dos respectivos líderes.

 

No fim do dia, leram o comunicado e, por entre sorrisos, partiram todos os satisfeitos. A coligação tinha sido salva, estava mais fortalecida, diziam. O país continuaria a ter os mesmos figurantes no governo e, mais importante, o espírito da manifestação já levava uns dias de silêncio.

 

A seguir aos sorrisos da equipa laranja centrista aparece, finalmente, o Presidente da República a proclamar que a "eventualidade" de uma crise política está ultrapassada. Deste modo, tão simples e arguto, o Presidente esvaziou o Conselho de Estado que está prestes a iniciar-se e que tem (tinha) por finalidade analisar a crise política, que todos tinham por instalada na governação.

 

Como não podia deixar de ser, o Presidente da República não deixou de invocar os medos e de se juntar a todos aqueles que não veem alternativa à política de empobrecimento das famílias e de falência das empresas, onde os bancos estão a salvo, ao serviço dos quais está todo o poder político instituído.

 

Do que se lê, o Presidente da República parece dizer que o povo se assustou com as "medidas muito duras" anunciadas pelo Governo, acrescentando que “nenhuma medida, até este momento, foi aprovada". Ou seja, pode-se ser levado a pensar que o Presidente da República pensa que os manifestantes foram precipitados ao irem para a rua protestar contra algo indefinido, que ainda não estava aprovado.

 

Apesar disso, de criticar implicitamente os manifestantes, Cavaco Silva, politicamente correcto, rematou que é preciso "ouvir o país". Só que Cavaco Silva não disse que o Governo tem de ouvir o país nem revelou qual a sua disponibilidade para ouvir o país. Aliás, como ele disse, a crise não passou de “eventual”, logo tudo tende para a normalidade, podemos passar ao folhetim seguinte.