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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 294

d'oliveira, 19.12.12

Há dias maus e dias piores

Eu não sei se estamos na quadra do Natal ou se, misteriosamente, já se chegou ao Carnaval.

Vejamos: um cavalheiro que frequentou longinquamente uma universidade e que, dizem-me, será ministro, andou em conversas com um candidato, o único candidato, à compra da TAP. “Normal”, pensar-se-ia, “o homem é ministro. E como ministro deve estar ao par do que se passa”. Só que, lembra-me alguém, o cavalheiro não é o ministro da pasta. Nem de perto nem de longe.

Ora esta estranha solicitude do senhor Relvas parece bizarra. A que título anda ele nestas conversações? Não terá ralações que lhe cheguem com as extensas atribuições do seu cargo? O homem é incansável? Que dedicação à “res publica”! A menos que, e não serei eu quem atire a primeira pedra, a sua intervenção no caso TAP, possa parecer ilegítima.  É que `a mulher de César não basta ser honesta, TEM QUE PARECÊ-LO!...

Já por aqui afirmei que o senhor Relvas se deveria conceder a si próprio umas férias, umas longas férias. E mesmo que isso fira o seu zelo patriótico e o seu imperecível amor á pátria e à TAP (de resto uma companhia completamente falida, o que prova, além do mais, que Relvas é sensível à caridade e ao amor pelos mais desfavorecidos), talvez fosse bom lembrar ao senhor Passos Coelho (tirado da cartola...) que as movimentações deste seu colega e amigo levantam algumas dúvidas por aí. E este desgraçado Governo pode precisar de muita coisa (de tudo, aliás...) mas não de dúvidas. Sobretudo, destas.

 

Mas Relvas é ubíquo. Agora é a trapalhada da venda da RTP1. Por mim, nenhum mal virá ao mundo se nos livrarmos daquilo que, de há anos a esta parte, finge ser “serviço público”, como se serviço público fosse ser apenas e mal, pessimamente, “ a voz do seu dono”, o reino do desperdício e da incompetência. Basta olhar para as privadas e para o que fazem para perceber que a RTP1 É um elefante moribundo e errático que apenas precisa de um cemitério. Até a pequena “2” é melhor, mesmo se a sanha canalha do economês lhe tenha retirado um excelente programa como, apesar de tudo, era a “câmara clara”.  Eu percebo que acabem com os programas culturais: não interessam nem ao menino Jesus e põem uns tipos esquisitos a falar de coisas esquisitas. E as sublimes mentes que gerem o empório RTP não percebendo (obviamente) o que para ali se diz, devem achar que aquilo é gastar velas com ruim defunto. E neste momento a chamada “cultura” é um medonho defunto para as luminárias que dirigem a televisão e o país, ou vice versa.

Agora, porém, parece que o candidato à compra da RTP é uma coisa que tem sede num paraíso fiscal, alimentada por dinheiros de que ninguém conhece a proveniência, e cujos donos são absolutamente desconhecidos. A menos que alguém tome por donos os cavalheiros que num qualquer rincão do Panamá gerem igualmente “milhares de empresas” como consta dos jornais.

Claro que no meio desta absurda farsa, falou-se na hipótese de haver angolanos na empresa candidata a compradora. Independentemente de também eu me maravilhar com a rapidez com alguma gente angolana enriqueceu (e nem vale a pena citar nomes porque são já sobejamente conhecidos), o que me espanta foi o relento de colonialismo cansado que aflorou aqui e ali. “São os pretos que nos querem colonizar!” Como se o facto de uns cavalheiros, por sinal levemente amarelados, nos terem comprado a EDP fosse de somenos.  Ou seja, os chineses, mesmo que de alguma verdadeira ou meramente putativa tríade,  estão autorizados a vir cá à pesca de bons negócios mas a “pretalhada” é demais! Até o “El Pais”, jornal que leio desde o primeiro dia, veio chamar a atenção para a ironia da história.

Conviria lembrar que há por aí uns bancos, carregados de dinheiro africano, há uns jornais com donos angolanos, há hotéis e empresas todos eles mantidos de pé com esses petro-dólares , provenientes de um pais onde ainda há gente (muita) sem sapatos, sem roupa e com fome). E sem liberdade! Mas isso passou sob um espesso silêncio que cobriu por inteiro o arco politico representado no Parlamento e não só.

Pela parte que me toca, ficaria igualmente preocupado se as matilhas de Murdoch, aquele cavalheiro que domina os piores e mais lucrativos tablóides do mundo, viessem pela RTP. Não virão: não acreditam naquele cadáver do Lumiar. Como no caso da TAP, e sempre com a sombra omnipresente de Relvas, ninguém parece interessar-se pela “rtp”.

Em tempo: quando é que começou a falar-se da venda da TAP e da RTP?  Creio, e espero estar certo, que não foi este depauperado ajuntamento de ministros que inaugurou esta fase de liquidações apressadas de passivos. Que isso vem já de longe, como a fama do “licor beirão”, mais propriamente do anterior executivo.

Continuando: vender a TAP afecta a soberania nacional? Será que a Suíça é menos livre por já não ter a Swissair?  E o Brasil, novo eldorado, perdeu alguma coisa quando morreu a Panair? E por aí fora.

Fui, em uma boa centena de voos, um relutante passageiro da TAP, mesmo no tempo em que a sigla era pirateada para “transportes atrasados permanentemente”. Viajava na TAP por não ter escolha ou alternativa mais barata. Agora, sempre que tenho essa oportunidade, recorro às companhia low cost e francamente acho que ganhei na troca. E, cereja no bolo, não tenho de me cruzar com o senhor Relvas. Convenhamos que já não é pouco.

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