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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

No labirinto alfarrabista 1

d'oliveira, 06.05.13

 

 

 

Brilhante século XIX

 

Em Portugal, lê-se pouco e lê-se mal. Convenhamos que a culpa não é toda dos leitores mas alguma, também, dos editores, para não falar das livrarias que agora abrem portas.

Refiro-me, no último caso, a certas formas de comércio livreiro que movidas por uma ideia muito próprio de lucro a todo o custo apenas se interessam pela novidade, pelo best-seller e pelos livros mais fáceis (falo da FNAC mas poderia acrescentar mais um par de livrarias normalmente cadeias de livrarias onde ir por um livro mais confidencial ou com mais de dois ou três anos é tarefa arriscada quando não inútil.

Decidi, não sei se com razão, muito menos se com algum eventual êxito, ir consignando neste espaço um par de visitas e/ou de recomendações sugeridas pelas minhas deambulações pelo comércio alfarrabista.

E só o faço porque em três ou quatro ocasiões recentes consegui levar amigos a esse tipo de livrarias e dar-lhes a possibilidade de encontrar livros que eles queriam desde há anos.

Hoje, para começar, venho dar-vos conta de uma obra a todos os títulos notável:

Dictionnaire. universel d’histoire naturelle servant decomplément aux ouevres de Buffon, de G de Cuvier, aux encyclopédies et aux ancients dictionnaires scientifiques.

Não se alarme o leitor com o título comprido muito na moda no século XIX . Nem com o número de volumes (13 mais 3 de gravuras a cores ,intitulado “Atlas”), sequer com o preço (250€).

Trata-se de uma obra de grande qualidade mesmo se o “estado da arte” seja radicalmente diferente do longínquo ano de 1949 data em que o editor Renard Martinet& Cie deu por concluída a edição.

Hoje em dia, o principal interesse da obra reside nos preciosos três volumes de belíssimas gravuras a cores mostrando mais ou menos quinhentos animais. Uma obra prima.

Aliás, os preços que compulsei na internet (entre 1900 e 5000 euros) mostram bem a diferença entre a edição só texto (300 a 500€) e a edição completa.

O que é curioso é que, neste momento, presumo, anda por aí, num alfarrabista lisboeta a mesmíssima obra completa por 250€!!!

Tive-a na mão e só a não comprei porque, aqui muito à puridade, envergonhava-me adquiri-la na totalidade para imediatamente passar os treze volumes de texto à clandestinidade dos arrumos.

Qualquer leitor entusiasta se depara com um problema: onde pôr os livros. Treze volumes andam pelos 75/80 centímetros (mínimo) e esse espaço faz uma falta dos diabos.

Como não faço parte do circuito bibliófilo, muito menos do dos colecionadores maníacos, achei melhor saciar a minha curiosidade numa edição recente do referido “atlas”, numa bonita e bem conseguida edição: cinco volumes encadernados num “coffret” de dimensão simpática, tudo por 38,5€ via “Amazon fr.”.

Confesso, todavia, que me ficaram os olhos presos naqueles três volumes encadernados (e cansados) da edição original. Mas eu sou apenas um leitor e a crise dissuade os melhores de gastar um balúrdio e, ainda por cima, degredar para a antecâmara da morte uma obra a todos os títulos exemplar.

Fica para quem a estimar ou, eventualmente, para algum especulador em livros (que os há...) que se motive com os preços mirabolantes da internet.

E já que se fala do senhor Orbigny, não deixa de ser interessante relembrar que, agora no Porto, um alfarrabista oferece, baldadamente, aos interessados uma monumental edição do grande Buffon, também ela em muitos volumes e carregada de ilustrações preciosas.

Claro que, oh volúpia possessória, também já consegui obter, desta feita num formato “XL” as gravuras de Buffon, recentemente reeditadas. Isso e um maravilhoso “alfabeto” da autoria do grande naturalista que andava esgotado há décadas.

Mesmo não sendo, não o sou seguramente, passadista, tenho de confessar que, hoje em dia, raros são os ilustradores que valem a pena.

Entre esses, e para que conste, relembro dois autores:

Manuela Bacelar

E o “Planeta Tangerina” que este ano conseguiu um grande prémio que só pecou por tardio.

E são portugueses!