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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 293

d'oliveira, 15.05.13

 

 os tempos que correm 

 

Um dos meus escassos leitores recriminou-me por, ultimamente. pouco ou nada ter escrito sobre a coisa política. “e logo agora que lhes podias ferrar o dente...”, acrescentava velhacamente.

Dei-lhe uma explicação que, em traços gerais e bem mais leves, aqui repito.

Quando vejo e oiço o ajuntamento de criaturas que nos (des)governa e o não menos lamentável coro dos que o criticam só me lembro dos velhos clássicos do terrorismo anarquista e bombista. Da então louvada “acção directa”.

Não querendo citar o dr Soares que falava do rolar de cabeças (que já era aliás uma citação –errada – de outra citação, apenas me atrevo a lembrar os tiros pouco misericordiosos tintados de justiça popular descabelada que iam abatendo metódica e minuciosamente alguns políticos e cabeças coroadas do século XIX.

E espero que o dr Soares não tivesse tipo a esparvoada ideia de aclamar o Buiça, um pobre diabo que com má cabeça mas boa pontaria despachou D Carlos. Parece que ainda há por aí um par de tolos perigosos que, volta que não volta, lhe vai florescer a campa. Este género de pessoas seria óptima para estar na meta da maratona de Boston, no Paquistão ou na Síria. Para saber o quanto custa a vida aos inocentes.

Eu, que sou absolutamente adverso a este género de violências, tenho sentido, dia sim, dia sim, uma espantosa vontade de pegar numa escopeta e, ala que se faz tarde, à caça de coelhos e outras alimárias daninhas. (como se sabe, o coelho, graças à sua prodigiosa fecundidade é considerado uma espécie daninha em vários países, máxime na Austrália. Daí a ideia de ajudar a mixomatose com doses reforçadas de chumbo grosso certeiro).

Todavia, e como já disse, sendo pouco propenso à violência revolucionária, e desconhecendo em absoluto o manejo da qualquer arma acima do canivete ou da faca de trinchar o peru do Natal, não só não me vejo transformado em Zorro mas também, apesar de tudo, me repugna pôr a mão certeira na tromba de qualquer político. À uma porque os não apanho a jeito. Depois, porque tenho medo das infecções.

Não podendo, portanto, dar saída condigna à minha aversão a esta gentuça, optei por me ir roendo por dentro de raiva, de desprezo, de indignação.

Ouvi-los na televisão é uma agonia indescritível e, sem receio de desmentido, esta gente é pior do que os piores agentes da pide (e conheci muitos, infelizmente, e nas piores circunstâncias possíveis) que defrontei.

É que estes nem sequer cumprem ordens, por muito que uns pobres diabos no Parlamento o afirmem. Não! Esta gentuça age por convicção, por educação e por preconceito. E por ignorância supina e estupidez congénita. Estupidez social, ética, política, o que quiserem

Eles acreditam no que dizem, alguém lhes ensinou três liberalices e isso, junto com a escassa educação que receberam de pais, familiares e professores dessas universidades de meia tigela que frequentaram, fez deles o que eles são: uns adolescentes retardados com acne no que lhes resta de cérebro. Educados nas jotas e anexos, nos aparelhos partidários, desconhecedores da vida real, a política para eles é apenas o complemento da ejaculação precoce que os assalta sempre que vislumbram um número.

Então e a oposição?

A “oposição”? Que “oposição”? A que regouga na Assembleia da República, que ameaça o Presidente da República ao mesmo tempo que surpreendentemente lhe pede com unção que corra o Governo?

A que uiva com a Frau Merkel dia sim, dia não e se encomenda ao Monsieur Hollande que, no toca a tiros no pé, copia mal o sr Portas?

Ouvir o bramido repugnante que impera no Parlamento é algo a que eu nunca pensei chegar. E que fica muito para lá do que Eça descrevia  em textos da “Campanha Alegre”.

Tomemos como exemplo uma espécie de megera que fala em nome do partido dos verdes.

Como se sabe, entre nós, há uma aberrante formação política que se pretende ecologista e que vegeta no Parlamento à boleia do PCP. Que utilidade eles terão para o “partidão”é algo que me intriga. Toda a gente vê, à primeira aparição da criatura que ora, e para mal da minha digestão, evoco, que aquilo é como a melancia: verde por fora e avermelhado por dentro. “His master’s voice” e nada mais.

Num país com um sistema eleitoral menos vicioso, aquela criatura nunca ganharia uma eleição. Nem numa votação de vizinhos e conhecidos.  Ouvir a representante do povo a vociferar contra Coelho & comandita quase nos faz perdoar este. É caso para dizer “tu quoque...” Ouvir os arrebatamentos místicos dos colegas do lado que hoje enchem a boca de liberdade mesmo se lá bem no fundo, recordam com indizível saudade os democráticos Brejnev e Stalin que em questão de economia, pobreza e perseguição não pediam meças a ninguém, é de arrepiar.

Que mal teremos nós feito a Deus ou à Natureza laica para nos cair em cima uma quadrilha destas?

Ouvir um pobre diabo como o Tozé, ungido por uma norte coreana votação como condutor do partido socialista é penitência para pecados tremendos: os sete em simultâneo e repetidamente. A criatura é um indigestão e se nos cair no regaço eleitoral ainda corremos o risco de ter saudades de Coelho. Tento há meses apanhar-lhe uma ideia mas ou ando distraído ou aquilo é o Sahara da política. O indivíduo que passou o consulado socrático num jejum de declarações e num enternecedor silêncio murmura coisas desconexas e adoptou uma espécie de bota-abaixismo parecida, senão idêntica, aos agitados meses de Coelho antes da queda de Sócrates. Que eles eram (e são) como gémeos não me surpreende. Vejam-lhes a carreira, o aparelhismo, a vida profissional e apontem-me as diferenças.

Mas alonguei-me. Falar desta gente estraga-me os dentes, provoca-me náuseas e suscita-me humores coléricos medievais.

Para me proteger das cáries e do escorbuto prefiro falar de outras coisas. Protejo a saúde e não me arrisco a, num dia medonho, sair para a rua de arma em riste disposto a criar um mártir mesmo se isso mesmo é o que ocorre diariamente no Parlamento onde toda a gente sai cada vez mais mal tratada. Governo e oposição usam a mesma verborreia, as mesmas acusações, os mesmos truques, a mesma péssima gramática e a mesma escolha do mau gosto, da gritaria, do insulto e da grosseira interpretação do que eles chamam verdade.

E  nós, eleitores, aguentamos este espectáculo avinhado envergonhados com o circo dos nossos eleitos, tapando o nariz e os ouvidos e assobiando para o lado.

Foi sempre assim, diz-se. Não é verdade: nunca foi bom mas agora é pior, mais ordinário e mais insultuoso. Somos insultados diariamente por uma corja que agarrada ao poder real e a outros igualmente verdadeiros mas mais escondidos tratou de arruinar um país que era pobre mas que lá se ia aguentando. As elites parlamentares, autárquicas, regionais e outras organizaram uma quermesse  trapalhona e entenderam imitar em calão o fontismo do século XIX. E, com ele, o nepotismo, o amiguismo, a clientela e o esbanjamento.

Aqui chegados, uivam que isto está a saque e toca a espremer quem já está mais que espremido. Todavia, é bom que alguém se lembre que se isto aconteceu foi porque alguém (os eleitores) permitiu. Os Sócrates, os Abreu Amorim, os Pizarros, os Meneses, os Portas, os Coelhos o casalinho maravilha do BE e os proletários do senhor Jerónimo, dançarino emérito de tango e fox-trote, pediram e obtiveram os votos de muitos que agora se sentem lesados.

Se apenas um décimo das propostas de obras públicas que eles apresentam aos quarteirões, fosse aprovado, não estávamos como estamos, mas sim mortos e sepultados sob uma dívida monumental.

Assim sendo, e não estando eu para me apoquentar mais do que é devido (e é muito) e muito menos para entrar tão tardiamente na “acção directa” justiceira, prefiro ir escrevendo sobre coisas menos vergonhosas, livros por exemplo.

 

* na gravura: o "felize auspicioso" atentado contra o czar Alexandre       

 

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