diário Político 186
The good old times
A louvada sentença do Tribunal da Relação do Porto absolvendo e mandando reintegrar um lixeiro despedido nos quadros da empresa que o despedira por trabalhar em evidente estado de bebedeira compreende-se bem sobretudo se atentarmos na história pregressa da pátria lusitana.
Está aí em cima um cartaz da época em que os homens tinham barba na cara e não cediam a essas mariquices modernas sobre o álcool que se ingeria.
Cavalheiro que se prezasse despachava uma litrada por refeição fora os ameaços nos intervalos onde o copo de três se cruzava com uma amêndoa amarga (uma amarguinha!) um café com "cheirinho", um bagaço bem aviado,maxime - mas mais para senhoras!- um ginginha com elas.
um rapazola bêbado subia na consideração social dos amigalhaços e fazia sorrir ternamente o progenitor que afiançava que "miúdo tinha a quem sair".
O Estado e a sociedade em geral olhavam com bem humorada condescendência os filhos família aos tombos durante as festas académicas (sobretudo a Queima das Fitas como ainda hoje ocorre com menos inocência e mais propósito - mesmo antes do cortejo arrancar já os celebrantes engurgitam farta dose de cervejame com muitos shots à mistura para depois se arrastarem todos penosamente esganiçando-se em avinhadas elocubraçoes sobre quão bom é ser "doutor") ou outras. Antes isso que ser esquisito. E esquisito era tudo o resto, desde os bebedores de água ou leite até aos "maricas".
A cruzada, em boa hora, empreendida pelos que entendem que "um grão (ou dois, ou um quarteirão) na asa" só dignifica o trabalhador modesto e "alienado" (não chego ao ponto de afirmr que alguém usou esta expressão hoje tão em desuso ou que, sequer, a conheçam ou a percebam mesmo dentro do colete de forçs marxista) mas ainda o torna mais competente e desembaraçado tem, como se vê, raízes antigas.
eu sei, bastamente sei, que algum leitor me estará a chamar agente do capital e do ultra liberalismo. Insistindo no consumo do álcool como escape para as agruras da vida, alguém dirá, que isso reduz a capacidade de reacção social do proletário escravizado e a sua vontade de se juntar aos cerrados batalhões dos que lutam pela libertação do homem.
enganam-se esses falsos apóstolos da anti-troika, do progresso e da liberdade. com um copo de vinho (ou dois ou uma dúzia, afinam-se as gargantas e sai mais melodiosa e vibrante a "grandola vila morena" e os gritos de "eleições já!".
Parece que a Europa se indignou com a apologia do álcool evidenciada pela sentença. Mas quem é essa Europa? Essa gente rica e ociosa que zomba dos pobres e do Sul? Essa multidão que só bebe à sexta e se chateia durante uma inteira semana de trabalho monótono e bem remunerado que leva o seu egoísmo a recusar um pequeno auxílio aos que, pelo menos, sabem gozar a vida e emborcar uma caneça de verde tinto?
Antes sós que mal acompanhados! (como dizia alguém cujp nome não recordo nem quero recordar)
d'Oliveira fecita 2.8.13