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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 302

d'oliveira, 03.09.13

Um pobre diabo, pouco dotado, inculto e politicamente menor ou

 

Abertura da época de caça adiada sine die

 

 

 

Para quem não perceba, estou a falar do senhor Passos Coelho que, actualmente, exerce sem brilho, sem ideias, sem garra, as funções de 1º Ministro.

 

Como é que um ex-jota (mais um!!!...) do PSD, um ex-administrador de várias empresas insignificantes, um ex-docente de Matemática numa escola secundária perdida em Cu de Judas, um licenciado em Economia numa dessas fábricas de diplomas (uma tal Universidade Lusíada...),  nascido em 54, chegou onde chegou?

 

Pois por inércia, por desatenção, por um mero acaso ligado à incompetência do anterior 1º Ministro que, de vitória em vitória, de obra faraónica em obra faraónica, de esperteza saloia em esperteza saloia, lá afocinhou a meio do mandato.

 

Lembremos os factos. O desditoso e pouco entusiasmante 2º governo de Sócrates (a que nenhuma cicuta misericordiosa acorreu para salvação dos portugueses) percebeu, atónito, que de PEC em PEC as Finanças Públicas entravam em colapso.

 

A crise já vinha de longe, é verdade. Vinha de meados dos anos 90, mesmo se antes já se percebessem sinais evidentes de exaustão: as receitas não conseguiam crescer o suficiente para acompanhar crescentes despesas públicas. O crédito fácil, a euforia de deixar obra (estádios agora uivantemente desertos, auto-estradas para cuja construção nunca se fizeram contas quanto ao tráfico, a inacreditável campanha sumptuária da renovação das escolas que fez a gloria da ministra Lurdes Rodrigues a quem, por tão alto feito, premiaram com um lugarzinho confortável na FLA, os projectos megalómanos de aeroportos, caminhos de ferro que custaram o que custaram, ao mesmo tempo que iam para o lixo os anteriores projectos de obras semelhantes que também custaram apreciáveis bagatelas e o que mais adiante se verá...), a displicência, a cultura do desperdício, o novo riquismo bacoco e grosseiro, fizeram o resto. Ou melhor: aumentaram o buraco pavoroso em que nós todos estamos metidos.

 

Não omitamos a história triste e ridícula dos primeiros ministros fujões, desaparecidos do combate, reaparecidos em invejáveis lugares onde também não brilham nem mostram obra que se veja e que orgulhe, sequer, as mais estremecidas avós dos mesmos.   

 

No meio desta história cruel que repete, passo por passo, a eterna história dos políticos nacionais desde há século e meio (leiam Eça, por favor. Ou Ramalho. Ou Fialho. Ou dezenas de outros críticos portugueses que perderam tempo, sono e esperança a tentar fazer o retrato dos parlamentos que se sucediam), dos sátrapas que comiam à mesa do Estado, das combinatas, dos escândalos, das intentonas, das conspirações, dos roubos, da corrupção endémica e do desprezo universal dos eleitores, eles próprios desprezados e maltratados pelos poderes públicos e fácticos que se sucederam, há uma constante:

 

Quando se perde o Poder e se mergulha na Oposição é o deserto. Quem por lá vegeta, não manda, não é respeitado, não interessa ninguém, não sabe o que se passa, não é informado.

 

À conta dessa triste situação, que fazem os manda-chuvas partidários? Calculam cuidadosamente o tempo de exílio interior que a chefia da oposição representa e movem os cordelinhos de modo a mandar um inocente para o cargo. Na altura devida, fazem um congresso, varrem o “totó” e rgressam triunfantes ao poder partidário e eventualmente à ribalta política se ganharem as eleições que se perfilam no horizonte próximo.

É o que se está a passar com aquele cavalheiro Tó Zé Seguro, outra excrescência das jotas, outra revelação universitária (desta feita é Relações qualquer coisa, por outra universidade privada e desconhecida...): com o PS na  oposição, os barões atiraram com o mudo e quedo deputado para as trincheiras. Na altura devida, garanto, aparecerão os verdadeiros artistas.

 

Ora, o frágil Passos Coelho é fruto de uma situação idêntica no outro partido do “centrão”. É verdade que tinha sido escovado pela equipa da drª Ferreira Leite que, compreensivelmente, o achava sensaborão e de duvidosas capacidades. Engano fatal da boa senhora que se esqueceu que a criatura tinha as manhas todas do longo estágio na jota e contava com o apoio daquele inesquecível Relvas, o doutor apeado, que não terá estudos suficientes mas que os substitui por um virtuosismo conspirativo e aparelhístico invulgar.

 

De todo o modo, se Passos queria, Manuela não conseguia pará-lo e os abutres do partido viram na criatura, um excelente “inocente útil” para os momentos de solidão a que, provavelmente o partido estava votado. Ninguém acreditava na queda de Sócrates, o que também mostra bem a falta de análise política e o amadorismo daquela gente que confunde política com oportunismo e conspiração barata.

 

Com se vê, os interesses da Pátria estão bem entregues!

 

Portanto Sócrates no seu mais que merecido ocaso e Coelho na gaiola dourada do seu novo poder. Desconhecendo tudo e não vendo serem-lhe facultadas informações fiáveis, completas do “estado da Nação” eis que a criatura se embrenha numa propaganda tonta e optimista quanto ao eventual acesso ao poder. Foi isso que perdeu Sócrates. Dum lado, um politico acossado por todos os lados, incapaz de perceber que a sua estultícia o cegava, do outro um medíocre adversário que, ignorando tudo, tudo prometia.

 

E um segundo e mais fatal engano: a multidão eleitoral não queria Passos mas apenas ver-se livre de Sócrates.

 

Quando, ao fim de um par de semanas, o recém eleito começou a ver o que se passava ainda não era tarde. Ou melhor: já era tarde porque ele não era a pessoa indicada para atalhar os males carregados pela situação. E, em poucos meses, seis, sete ou dez, eis que a avalanche das más notícias, amplificada pela incúria, pela incapacidade de as perceber e atalhar, lhe caiu em cima. Não é segredo para ninguém (excepto eventualmente para ele e para os seus áulicos) que a população o detesta, que troça dele, que os intelectuais e as escassas elites o desprezam, que a Oposição radical o odeia. E que a Europa, Merkel incluída, o considera pouco. Aturam-no porque querem mostrar à Grécia que alguém faz por pagar. Cá dentro, Portas toureia-o com eficiência e descaramento. Os poderosos do PSD já lhe preparam a certidão de óbito, escrita e reescrita por Pacheco Pereira que acumula contra o pobre diabo, diatribes, sarcasmo, desqualificações várias e um ódio de estimação. Tirante este último, desnecessário, está cheio de razão.

 

A classe média que, quanto a coelho, só á caçadora, arrepela-se: boa parte dela, dependente do Estado, vê afundarem-se ordenados, pensões e expectativas.

É difícil encontrar, na imprensa, um articulista que sequer finja consideração ou estima pelo homem.

 

Só o terror de ver Seguro ao leme do Estado, aguenta Coelho. A esquerda radical, ou assim-assim, ainda anda de lanterna à procura de algo que substitua a derrocada final do cadaveroso Leste ou essa mistificação que se chama República “Popular” da China onde um partido comunista recheado de empresários de sucesso leva a julgamento um dos seus mais distinguidos elementos. O homem vai ser condenado por corrupção, por manobras anti-partido, por espionagem, por ofender a memória de Mao ou apenas porque sim. E por cornudo, já me esquecia.  

 

Coelho, enquanto ainda há por aí caça maior e mais interessante, vai-se escafedendo até umas eleições que o PS já não quer próximas. Et pour cause: foi tal e tão forte a dose de cavalo aplicada ao país que algum resultado por fraco que seja poderá animar as hostes. O PS reserva-se para mais tarde, não quer pegar neste doente moribundo e espera, ansioso, pelos resultados das eleições municipais que, queira-se ou não, são importantes para medir não tanto o clima político no Porto ou em Lisboa, mas os eventuais progressos da indignação cidadã (listas independentes) ou os eventuais progressos, sempre marginais mas significativos, do PC e do BE.

 

Há um trégua implícita mesmo se os arrufos de Coelho com o Tribunal Constitucional (as bojardas da criatura sobre o assunto são grosseiras e mostram a incapacidade política que já se referiu. Aquilo é falta de tino e muita cabeça perdida, se cabeça ainda há e em regular estado de funcionamento) podem fazer pensar o contrario. A troika ronda por aí, o turismo está a dar um respiro ao emprego, as exportações lá se vão portando menos mal e até as vendas de carros subiram ligeiramente por comparação com o ano de 2012 (de todo o modo estão abaixo de finais dos anos 90...).

 

Dito de outro modo: a situação é tão medonha que ninguém, excepto os que nunca chegarão ao poder, se arrisca. E quando  a podridão reina, as varejeiras consolam-se. E vivem. Assim vai Coelho (tirado da cartola de quem nós sabemos).

 

Miserere nobis!

 

 

 

 

 

 

 

                                       

 

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