Au bonheur des Dames 349
Morte onde está a tua vitória?
O futebol diz-me pouco, quase nada mas o Eusébio é outra coisa. Houve quem, cavilosamente, quisesse associar o jogador negro vindo de Moçambique, a aspectos menos interessantes do pais cujo nome ele defendeu nos estádios de toda a parte.
Eu, a quem o futebol diz pouco, quase nada, relembro com um intensa comoção o famoso jogo contra a Coreia do Norte num campeonato do mundo. Num café (o “Mandarim”, à praça da República em Coimbra, ou seja e no jargão politico da época , no “Kremlin” à “Praça Vermelha”) vi gente de todos os bandos políticos, no caso oposicionistas e situacionistas, republicanos e monárquicos, revolucionários e fascistas, estudantada, futricas e até agentes da pide, sempre à coca, rendidos aquele homem que motivou a equipa portuguesa.
Relembre-se: Portugal era uma das surpresas daquele campeonato (1966) e defrontava a Coreia do Norte que em escasso tempo chegou a vencer por três a zero. Todavia, Eusébio marcou quatro golos e o resultado acabou por um extraordinário 5-3.
Eu, a quem o futebol diz pouco, quase nada, fiquei pregado á cadeira, incapaz de me mover de tal modo aquele alucinante bailado na relva me parecia milagroso.
Em nome dessa juventude longínqua, desse momento de encantamento, dessa dignidade desportiva e humana que Eusébio sempre viveu, gostaria de nesta página depositar uma modesta flor do sul do seu Moçambique.
Com admiração, respeito e gratidão, mesmo se o futebol me diz pouco, quase nada.
Mas o Eusébio era da malta, da família, da casa.
Tátá, velho pantera!
O título refere, evidentemente, a 1ª Epístola aos Coríntios (15, 51-58) mesmo se o escriba seja, como se sabe, absolutamente agnóstico que não ateu
Tátá era uma fórmula laurentina de despedida nos tempos em que o Eusébio e eu éramos rapazolas.
a ilustração é de flores nativas do sul de Moçambique, a região de Eusébio