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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Programa do Governo para a área da Justiça

Incursões, 31.07.04
Aceitando o desafio deste comentador anónimo, aqui fica uma "entrada", sempre em 1ª linha (durante esta semana, para já), onde pode ser debatido permanentemente o programa do Governo para a Justiça (e as sugestões a fazer para a sua prática).
O Programa pode ser lido aqui e sobre o mesmo recaiu este post. Existem comentários anteriores.
Mãos à obra!

Privatus versus Publicus

Incursões, 31.07.04
Rio Ave
Hoje, um evento comemorativo arrastou-me ao Hotel de Santana, em Azurara, Vila do Conde. Da sala de refeições, mesmo defronte, depara-se uma deslumbrante paisagem sobre o Rio Ave, a cidade e, em especial, o Mosteiro de Santa Clara. Este monumento, que foi convento de Clarissas e, no ancien régime, reformatório de crianças, é hoje uma escola profissional sob a tutela do Ministério da Justiça, entregue, desde 1944, aos cuidados dos Salesianos. A casa conventual que ainda existe já não é a primitiva – trata-se de uma edificação do séc. XVIII, de que apenas foi construída a fachada sul de um grandioso projecto de construção para um novo mosteiro. Continua a ser, no entanto, o ex-libris de Vila do Conde.
Situado no centro da cidade, ocupa, com o terreno envolvente, onde estão construídas modernas oficinas e um amplo campo de futebol, um espaço cobiçado pelos interesses privados. E aquilo que poderia ser um edifício de utilidade pública, ao serviço dos vila-condenses e populações limítrofes, está condenado, segundo dizem, a transformar-se “na maior pousada do norte”, acessível apenas a endinheirados. Se isso já não aconteceu, não faltará um qualquer secretário de Estado, daqueles que ainda mal se mexem dentro de recentes fatos encadernados, a assinar uma qualquer portaria de cedência do público (só o rendoso) ao privado, com o aplauso de um qualquer presidente de câmara, sócio-da-lista ou não, com ou sem cabelo. E haja quem diga que o negócio cheira a esturro!
É por estas e por outras que cada vez menos me revejo nesta mal parida (demo)cracia!

Homenagem bombeiral

Incursões, 31.07.04
Jorge Sampaio, o reconciliador, "responsabiliza todos pela catástrofe dos incêndios", o que é uma forma de não responsabilizar ninguém. E, porque o 10 de Junho das comendas ainda vem longe, apressa-se, em plena época estival, a render mais uma homenagem aos bombeiros voluntários que, abnegadamente, lá vão fazendo impossíveis.
Desta vez, não o vimos de capacete!

Porto parado

Incursões, 30.07.04
Ainda não tinha reparado - ando tão distraído! -, mas o Porto está sossegado. Recordo, agora, que há já vários dias que o trânsito flui mais facilmente. Olho pela janela do escritório e não vejo a interminável fila de automóveis do fim de tarde. As pessoas andam mais devagar, sem a pressão dos horários. São as férias a fazer do Porto uma cidade praticamente parada e que, pouco a pouco, se vai deslocalizando - mais do que apetecia - para a marina de Vilamoura.

Postais do Sul (2)

ex Kamikaze, 30.07.04
A estrada da Serra

O cheiro dos estofos de napa do carro familiar garantia enjoo, mesmo em pequenos percursos e quando nas férias rumávamos a Lisboa, pela então incontornável estrada da serra, já se sabia que as “paragens técnicas” seriam inevitáveis.
Pelo menos eu, na minha infantil candura, encarava-as com a naturalidade de quem - nessa época de propagação da ideologia do “pobrezinhos mas honrados” e “orgulhosamente sós” - não podia imaginar que a distância que nos separava da almejada capital a viria a fazer em apenas duas horas (ou um pouco mais, dependendo da maior ou menor observância dos limites de velocidade…), sobrevoando a serra em bem lançados viadutos, para mais com ar condicionado e, sobretudo, com estofos inodoros.
Ainda assim, a beleza da paisagem a partir de São Braz de Alportel (a percepção da Pousada marcava, para nós, o verdadeiro início da viagem) não nos deixava indiferentes.
E aproveitávamos sempre para parar no Barranco do Velho e retemperar os ânimos enchendo os sentidos de paisagem e do ar lavado daqueles montes e vales.
No regresso, quando ali chegávamos à tardinha, não havia enjoo que resistisse às sopas caseiras do restaurante à beira da estrada, em especial a de feijão encarnado, hortaliça e toucinho.

Há muito – não foi preciso esperar pela conclusão da A2 – que a estrada da serra deixou de ser percurso incontornável, para gáudio dos viajantes apressados, como este turista acidental.
Mas, quando o troço que agora a atravessa ainda não estava construído, e as intermináveis bichas tornavam o percurso ante ou post auto-estrada um desespero mesmo para pessoas normalmente pacientes, ocorreu-me - no que me restava da infantil candura - que a quase esquecida estrada da serra poderia ser uma boa alternativa.
Desenganei-me. A estrada – ou melhor, o que restava dela – resumia-se a uma lomba central de alcatrão, de tal forma esburacado que o percurso se tornava uma autêntico desafio à perícia do condutor, aos nervos dos passageiros e à suspensão do veículo.
Quando tentei perceber como era possível terem deixado a estrada chegar a tal ponto, falaram-me da inoportunidade de um investimento em melhoramentos, quando era já certo que a auto-estrada estava para chegar, era uma questão de mais ano menos ano.
Continuei a não perceber. Não teriam as populações serranas, para mais numa época em que os discursos oficiais já há muito manifestavam preocupações com a desertificação do interior, direito a um mínimo de efectiva consideração?

A A2 lá acabou por ser concluída sem que, até lá, o arranjo da estrada da serra se tivesse, sequer, iniciado. Encontra-se hoje, finalmente, em bastante bom estado de conservação e, se nunca chegou a ser uma alternativa a condutores desesperados é, estou em crer, um caminho para suavizar o isolamento e a pobreza das populações, até por via do “boom” de programas turísticos “alternativos” (por regra da iniciativa de gente que sabe ganhar a vida sem desrespeito pela natureza e tradições).
Ou era, que o FOGO, por via da incúria e desleixo, aparentemente crónicos neste país, destrói este ano o que no ano passado, já horribilis, foi poupado. Talvez por isso não esteja activo o link que se fazia em tempos para a página do site do Ministério da Agricultura relativo às árvores de interesse público, de que faziam (fazem?) parte muitas das que se avistavam da estrada da serra.

Oxalá me engane e o link tenha sido apenas deslocalizado.

Carta aberta a S.E. a Ministra da Cultura

ex Kamikaze, 30.07.04
Regresso em grande do Causidicus  Gomez, na GLQL, com uma Carta aberta a S.E. a Ministra da Cultura, que merece ser divulgada allover (e chegar ao destino) e de que se transcrevem excertos, com rasgada vénia. 

"No momento em que, mais uma vez, o país arde, as prioridades são claras: combater os incêndios e apoiar as vítimas.

Nenhuma destas prioridades tem imediatamente a ver com o Ministério de V. Ex.a. Pode a Senhora Ministra continuar a abanar suavemente o distinto leque com que se refresca - dispensando o requinte burguês do ar condicionado e o risco de infecção por legionella – sem com isso se sujeitar à crítica que se abate sobre alguns dos seus colegas.

Porém, sendo Ministra da Cultura, V. Exa. não pode deixar de ser culta; e, sendo culta e Ministra, será certamente sábia. O governante sábio conhece as virtudes da prospectiva. Sabe que o bater de asas de uma borboleta (ou o abanar de um frágil leque) pode provocar terramotos nos antípodas. Tem sobre os seus ombros sábios a responsabilidade estratégica de antecipar, planear e prover, tudo quanto necessário seja à boa governação da sua pasta. E bem pesada é a pasta da Cultura, carregada que está com o património cultural que partilhamos e temos a responsabilidade de preservar para os vindouros.

Agora que S.E. o Secretário de Estado dos Bens Culturais está ocupado com as incontornáveis prioridades da mudança do seu gabinete para Évora - medida de tão profundo alcance que ainda ninguém esteve à altura de o discernir - é chegado o tempo de V. Exa. governar. E como V. Ex.a sabiamente já terá antecipado, uma das urgentes prioridades dessa governação tem a ver com os incêndios que nos assolam.

(...) não esquecemos que a nossa congénita incapacidade de prever e evitar factores de risco, de planear, testar e coordenar intervenções, explica em muito o que está a acontecer. Acabar com a cultura do nacional-porreirismo, do improviso e da impunidade tem de ser, de uma vez por todas, um dos principais desígnios nacionais. Fazê-lo hoje – e já - também no domínio do património cultural, é imperativo.

Não podemos deixar de integrar medidas de salvaguarda dos bens culturais na estratégia nacional de luta contra os incêndios, tanto mais que a eventual perda de muitos desses bens seria irreparável.

A Cultura não está, neste momento, debaixo de fogo. Que a titular da pasta saiba tomar, serena mas firmemente, as medidas que se impõem para que não venha a estar, são os votos do cidadão que se subscreve,

Gomez"

Duas questões sobre a inseminação artificial

Incursões, 30.07.04
A inseminação artificial coloca, no meu entender, duas questões fundamentais para as quais urge encontrar resposta.

Considerando:

Cada embrião humano é potencialmente um indivíduo da espécie humana. A dignidade natural do ser humano implica o reconhecimento do estatuto ontológico do embrião humano – isto é, o embrião potencializa um ser com o direito a ser reconhecido como pessoa, com uma história individual e sujeito de direitos e deveres.

Pergunta-se:
1º- Em que condições a inseminação artificial pode respeitar este princípio?!...
2º-Será eticamente admissível tornar a paternidade biológica num meio para satisfazer determinada orientação sexual?!... (Caso, p.ex., dos casais homossexuais)

LETRA PARA UM HINO

Incursões, 29.07.04
É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre. 

Manuel Alegre.
In: “O Canto e as Armas”. edt. Centelha. Coimbra

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