O mar não é só praia, corpos ensolarados, passeios românticos ao longo do areal. O mar não é apenas poesia, contemplação. Foi mau, o mar, hoje, no sudeste asiático, em sítios onde paraísos se transformaram em infernos. Milhares de mortos, milhares de desaparecidos, milhares de desalojados.
São 4.00 horas, o João diz que está de férias e não quer dormir, depois de me dar uma abada em jogos de futebol na play-station nova. Imagine-se, eu a jogar futebol na play-station... Mas que posso fazer esta noite se não as coisas de que ele gosta? O Natal é mais dele que meu e quanto melhor for o dele melhor será o meu. Por isso transijo e deixo-o ficar mais uns minutos enquanto eu espero que o sono chegue, depois de uma noite tramada em que só adormeci já a manhã ia alta, ao ponto de ter trocado mensagens com pessoas que já tinham acordado porque tinham de trabalhar. Pois. Também acontece, pessoas que trabalham no dia de Natal, como a minha tia que é psiquiatra e estava de serviço, com quem tinha estado umas horas antes, mas com quem me apeteceu trocar umas palavras sobre coisas idas, remoídas, assim, via sms, pela calada da manhã que começava.
Para jantar foi uma peripécia. Uma volta pela cidade, tudo fechado e mesmo no shopping apenas um ou outro sítio aberto, mas cheios de mais, como era suposto, o que me obrigou a dar uns passos e reincidir no Mercure-Gaia, onde, aliás, já no ano passado tinha jantado no dia de Natal, nessa noite também com a Mariana, que este ano não está, vá-se lá saber porquê, talvez um dia perceba, mas que pelo menos veio ver-me quando fui buscar o João, não sei se porque tinha saudades do pai se para me mostrar o novo penteado de tranças à boa maneira africana. Fica-lhe bem o penteado! Não é por ser minha filha, mas a miúda é gira que se farta e qualquer coisinha lhe fica bem. E também não é por andarmos de "candeias às avessas" que vou renegar isso...
"Desde as origens, a humanidade conheceu a trágica experiência do mal e procurou encontrar as suas raízes e explicar-lhe as causas. O mal não é uma força anónima que age no mundo devido a mecanismos deterministas e impessoais. O mal passa através da liberdade humana. No centro do drama do mal e constantemente relacionado com ele está precisamente esta faculdade que distingue o homem dos demais seres vivos sobre a terra. O mal tem sempre um rosto e um nome: o rosto e o nome de homens e mulheres que o escolhem livremente. A Sagrada Escritura ensina que, nos inícios da história, Adão e Eva se revoltaram contra Deus e que Abel foi morto pelo irmão Caim (cf. Gn 3-4). Foram as primeiras escolhas erradas, às quais se seguiram tantas outras ao longo dos séculos. Cada uma delas traz em si uma essencial conotação moral, que implica concretas responsabilidades por parte do sujeito e põe em questão as relações fundamentais da pessoa com Deus, com as outras pessoas e com a criação.
Visto nas suas componentes mais profundas, o mal é, em última análise, um trágico esquivar-se às exigências do amor. O bem moral, pelo contrário, nasce do amor, manifesta-se como amor e é orientado ao amor. Este argumento é particularmente evidente para o cristão, pois sabe que a participação no único Corpo místico de Cristo coloca-o em particular relação não somente com o Senhor, mas também com os irmãos. A lógica do amor cristão, que no Evangelho constitui o coração palpitante do bem moral, conduz, se levada às últimas consequências, até ao amor pelos inimigos: « Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber » (Rm 12,20)."
Da Mensagem de João Paulo II para o Dia Mundial da Paz
Uma vez mais JN on line. A Associação Comercial do Porto homenageou Pinto da Costa. Não se falou de futebol ou, pelo menos, essencialmente de futebol. Falou-se de política. O presidente da ACP é Rui Moreira que, em declarações públicas nos últimos dias, se ofereceu para ser adversário de Rui Rio, seja pelo PS, pelo PSD ou como independente. E é o autor da pergunta que levou Rio a comparar o "Apito Dourado" aos casos Tapie e Gil y Gil, numa sessão pública. Comparação que levou Pinto da Costa, em resposta, a "ameaçar" Rio com um confronto eleitoral. No evento da ACP, Pinto da Costa disse que não de ofereceu ao PS, mas que está disposto a enquadrar-se numa candidatura independente, caso as candidaturas partidárias não o satisfaçam. Música para os ouvidos de Rui Moreira. E de alguns outros, digo eu. A minha tese sobre os encontros secretos no estrangeiro em deslocações do FC Porto não é uma invenção...
Disse, num postal lá mais abaixo, que não me revia nas declarações de Rio e muito menos na oportunidade em que foram feitas, por muito que defenda a separação de águas entre o futebol e a política. Mas revejo-me menos nesta associação entre Rui Moreira e Pinto da Costa...
Cá estou, alguém tem de estar, que um blog não pode parar, coisas de ex-jornalista que ainda não perdeu todos os tiques.
Saí para o Marco só ao fim da tarde, tarde demais, tive de passar pela área de serviço para lavar o carro e esconder na mala a rima de jornais que habita o banco de trás, porque já esta semana tinha levado um raspanete do meu pai por causa do carro sujo e do cabelo comprido que, à cautela, também já cortei.
Falei com os meus filhos durante a viagem, fiz outros telefonemas, avisei o Zé Carlos de que já não ia a horas de me encontar com ele - ritual rompido - e cheguei a Soalhães triste, tentando disfarçar a tristeza. Recebi mensagens e respondi a mensagens. Antes de jantar, passei por casa da minha tia mais vellha que já não via há uns tempos e encontrei tios e primos mais novos.
Janta-se cedo em casa dos meus pais, mesmo quando é Natal. Passei a seguir por casa de outros tios, vi outros primos e segundos primos e, talvez pela primeira vez nos natais dos últimos anos, acho que me reencontrei com alguns deles de quem guardo mágoas, mas não guardo rancores, que eu não sou dessas coisas.
Continuei a responder a mensagens - é curioso como há tanta gente que se lembra de nós nestas alturas... - e intentei regressar ao Porto. Mais ou menos a custo, deixei a via rápida, virei para o Marco-cidade, o Central estava aberto, ainda não era meia-noite, e tomei um café. Um café de café na Noite de Natal é das coisas melhores que podem acontecer. Lembrei-me que o Aires, que não é da família mas é como se fosse, me tinha convidado para passar por casa dele e eu fui e arrisquei um "malte", e vi mais tios e primos.
Saí do Marco passava já das 2 horas, vim devagar que a auto-estrada estava molhada, entrei no Porto e hesitei, Para casa? Passo no Triplex, que está aberto esta noite? Para casa. Afinal ainda não li os jornais de sexta, também já não sei se vale a pena ler ou esperar um pouco mais e ler só os de logo, que nestes dias não há notícias.
Estou em casa. Afinal eu tinha prometido que assegurava os seviços mínimos nesta noite. E cá estou. Obrigado a confessar que voltei melhor do que quando saí de casa. Nem tudo é mau...
a memória da família reunida entre as ilusões e as luzes a iluminar a árvore. a alegria dos olhares infantis habitando o brilho. o júbilo.
a mãe, o pai, a reinarem sua generosidade. seu amor colado nos nossos sorrisos. nossa gratidão, nosso enlevo, girando entre os pais, papai noel e a criança pequenina que nascera naquela data num estábulo entre pastores.
minha emoção recolhida no fundo do peito ao pensar nos que lá não estavam, nos que não recebiam nada a despeito da canção: “seja rico, seja pobre, o velhinho sempre vem...”. o consolo de levar no outro dia a alguns, parte do que acendia nossos olhos.
hoje pai e mãe não estão. somos nós os pais e mães. e tudo em que creio é no amor, na felicidade em torno da mesa, compartilhados os risos, ainda creio no homem.
não tenho ilusões. há nossas crianças encantadas, o calor inestimável da família, o vinho a soltar nosso espírito, o abraço que gostaria de abraçar a humanidade, dado aos irmãos. minha família reunida, meus amores.
Espero, ansioso, que o Natal passe. Apetecia-me adormecer hoje e acordar só depois, depois do tempo da festa, quando a policromia das árvores de Natal já se apagou, quando o mundo já voltou à normalidade morna, quando a minha sala de jantar no shopping já não estiver invadida por estranhos, quando as filas de trânsito amainarem. Apetecia-me, sobretudo, que a angústia dos que não têm festa morresse, a minha e a de todos os outros que querem voar sobre o Natal.
Espero, ansioso, que o Natal exista. Para todos aqueles que amo. Para todos aqueles de quem gosto. Para aqueles que gostam do Natal.
E, por isso, transfiro para vós - para os que merecem -, todos os afectos deste Natal. Tenham um Bom Natal, seja lá o que for que isso signifique para cada um.