Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

"E para repousar do amor, vamos à cama"

Incursões, 27.02.05
Soube pela RTP África que foi lançado em Maputo um livro póstumo com os Poemas Eróticos de José Craveirinha. Que não demore muito a cá chegar!
Como já alguém disse aqui há dias, as associações de ideias são tramadas.
Por isso, me levantei, fui à estante e tirei um outro livro de poemas eróticos, também póstumo, de um outro grande escritor da língua portuguesa - O Amor Natural, de Carlos Drummond de Andrade (Editora Record, 2002). E escolhi este poema:

O CHÃO É CAMA

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Uma forma superior de estar na vida

ex Kamikaze, 27.02.05
Dizer que "fazer poesia é uma forma superior de viver ou (e talvez de forma mais correcta) "estar" na vida" significa para mim o seguinte:
1. vive melhor quem se distancia do imediato e pragmático. O poeta sabe trabalhar o conceito (instrumento de apropriação da realidade e, por isso, da vida) da forma mais significativa e isso faz com que o que diz tenha um horizonte de sentido mais distante: vai mais longe e ajuda-nos a ver a realidade do outro lado, do lado das musas e as musas, convivendo com as divindades, vão às essências das coisas
2. O "mundo da vida" vivida pelo poeta tem uma expressão artística. E a expressão estética é uma expressão criadora, capaz de dar “nova vida” à realidade e com isso abrir novas formas de ver, sentir, sofrer e amar.
3. Os poetas estão próximos dos deuses, como já referi. Por alguma razão a linguagem do mito, dos profetas, é uma linguagem metafórica, impregnada de poesia. Quem não sente que há poesia, por exemplo, no génesis?!...
4. Concluindo: a linguagem poética tem um sentido que transcende o imediato, expressa, por isso, uma forma superior de estar na vida.

Compadre Esteves, in comentário a este postal.

Direito Europeu da Concorrência

ex Kamikaze, 27.02.05
A DECO reuniu 40 juízes em Chaves entre sexta-feira e hoje para informar e incentivar os magistrados portugueses a aplicar a nova directiva comunitária sobre concorrência (...)
Esta iniciativa contou com a participação de 40 juízes do Circulo Judicial do Porto e contou com o apoio do Conselho Superior de Magistratura e foi financiado pelo Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia.
O responsável referiu ainda que o primeiro seminário do género decorreu na Ericeira, em Novembro, e que serão realizados mais quatro, abrangendo cerca de 200 juízes de todo o país.
In Portugal Diário
*********************
A Deco está também a levar a efeito, desde Janeiro de 2005 e em parceria com a Ordem dos Advogados, Cursos de Direito do Consumo, em quatro àreas específicas, destinados a advogados e advogados estagiários.

Os do aparelho e os outros

Incursões, 26.02.05
(Não consigo colocar comentários - vai um postal)

José Carlos, meu caro José Carlos, não podes ser sempre tão radical! Refiro-me, obviamente, ao teu post sobre a sucessão no PSD.

Sobre a substância do assunto, já falei. Resta-me equacionar o seguinte: tu falas numa terceira via, para além de Mendes e Menezes. Não sei a que terceira via te referes. Manuela Ferreira Leite? Tenho consideração pela senhora, acho que é uma pessoa competente e honesta. Pode ser uma solução. Mas, que diabo, não sofrerá ela do mesmo mal de que sofrem as hipóteses na mesa? Não gostas de Marco António? Admito que não gostes e percebo-te. Mas gostas de António Preto, o homólogo lisboeta de Marco António, que parece estar na primeira linha do lançamento do nome da ex-ministra que, aliás, foi sua "madrinha" política? Conhecendo-te como conheço, sei que não gostas. Até porque, conforme se vai lendo aqui e ali, terá sido à custa do nome de Ferreira Leite que Preto, alegadamente, obteve algumas benesses que, aqui, não dá para caracterizar.
Como bem sabes, eu sou um desconfiado dos "aparelhos". Já o disse muitas vezes e já o demonstrei algumas.

Repara: quem é, afinal, Sócrates? Não foi ele próprio sempre um homem do aparelho? E Guterres, quem era antes ser líder do PS? E tantas outras figuras que vingaram à custa do aparelho, não se lhe conhecendo obra nenhuma na designada sociedade civil. Aliás, creio que não duvidas de que se não fosse o incontornável e supremo aparelhista Jorge Coelho - responsável pela campanha do PS - e Sócrates não teria chegado onde chegou. E repara ainda: mesmo Manuel Alegre ou João Soares - ex-adversários de Sócrates - que mais são, em política, do que produtos do aparelho?

Esta situação - que, aliás, é comum nos dois maiores partidos - é, de resto, uma realidade que me preocupa. Se bem te recordares, há anos que eu digo que aquilo que vale a pena em Portugal é ser-se ex-ministro. Tudo acontece ao contrário. Raramente se vê um bom quadro deixar a vida privada para rumar à política mas, em contrapartida, é comum ver um medíocre ex-ministro rumar a um lugar bem pago em empresas privadas. Não, obviamente, porque se tenham tornado bons quadros, mas porque se tornaram figuras úteis, capazes de gerir influências interessantes.
Por isso, meu amigo, mesmo que as candidaturas à liderança do PSD se resumam a Marques Mendes e Menezes, nada nos indica que um deles não venha a ser um bom líder, na acepção que tem feito escola em Portugal.

CSMP não questiona ordens de Souto Moura

mochoatento, 26.02.05
"O Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) recusou ontem pronunciar-se sobre o facto de Souto de Moura, procurador-geral da República, ter decidido alterar a distribuição dos processos de difamação movidos por Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso e Jaime Gama, contra os menores que os acusavam no processo da Casa Pia. Os magistrados do MP votaram em bloco e decidiram que não tinham legitimidade para dar indicações ao procurador-geral da República. A decisão teve vários votos de vencido, designadamente dos juristas que fazem parte do órgão em representação da Assembleia da República, mas mesmo assim foi aprovada por maioria. A acta da reunião ainda não é conhecida, não sendo por isso ainda público o exacto teor dos votos dos membros do CSMP.
Recorde-se, ainda, que a decisão só foi levada a reunião daquele órgão, porque Paulo Pedroso apresentou um requerimento nesse sentido. O ex-deputado socialista contestava o facto de Souto Moura (que preside ao CSMP) ter decidido redistribuir os processos de difamação aos magistrados que fizeram o inquérito do processo Casa Pia, mesmo indo contra as intenções da coordenadora do DIAP. Paulo Pedroso pretendia assim que o CSMP determinasse como tais situações deviam ser tratadas no futuro, para que tais casos não se repetissem. Numa reunião acalorada e que se pautou pela discórdia, os magistrados, que estão em maioria no órgão, decidiram que o assunto nem devia ser objecto de estudo. Isto porque, argumentaram, as decisões de Souto Moura não são sindicáveis pelo CSMP. O JN sabe que alegaram, ainda, que o Conselho não tinha competência para se pronunciar sobre o assunto."

Tânia Laranjo. Jornal de Notícias, 26-02-2005.

O caso do apartamento

ex Kamikaze, 26.02.05
"É um verdadeiro ultimato que o chefe do Governo francês, Jean-Pierre Raffarin, lançou ontem, ao fim do dia, ao seu ministro da Economia: Hervé Gaymard tem até ao fim da semana para explicar claramente o "caso do apartamento" - um daqueles escândalos que só existem em França, mas que ameaça o futuro deste político de 42 anos e começa a abalar a autoridade do Executivo.
No entanto, nenhum acto ilegal foi cometido.
(...) Percebendo o potencial mortífero deste caso, Raffarin agiu rapidamente. Na primeira fase, e em menos de 12 horas, Gaymard teve de anunciar que mudava de casa ainda naquela semana e que iria reembolsar pessoalmente as despesas das obras. Por seu lado, o primeiro-ministro decretou regras muito claras quanto aos apartamentos alugados por ministros: o Estado paga só 80 metros quadrados por cada um, e mais 20 metros quadrados por criança a cargo. Se quiserem uma superfície maior, pagam a diferença do seu bolso."

A ler na íntegra no Público .

"um daqueles escândalos que só existem em França" , diz Ana Navarro Pedro, articulista do Público.
Esta observação intriga-me: será que a articulista presume que só em França há políticos pouco escrupulosos? Ou com tantos filhos? Ou que só em França "o caso" assumiria as consequências descritas? E porquê? Por não ser de molde a desencadear críticas da opinião pública dado ter sido tudo legal ? Ou pela reacção do primeiro-ministro, face a tal legalidade?

Bem, pelo menos em Portugal, não estamos de facto habituados a que uma situação tida por legal, ainda que iníqua, seja objecto de tais reacções institucionais...

Ainda o Aquaparque

mochoatento, 26.02.05
Continuo a não perceber. Confesso que sou limitado nalgumas "novas" realidades jurídicas. Mas como é que se morre por causa da falta de lei ? È que a responsabilidade exige um nexo de causalidade entre o facto e o dano. Um dia destes, os médicos estão tramados. É evidente que há responsabilidade pelo tratamento deficiente, com violação das "leges artis", mas não serão responsáveis por haver doenças ?

Tenho pensado neste problema, porque tenho em mãos um processo em que se pretende que há responsabiliade mesmo que o lesado seja um dos responsáveis do evento em que ocorreu o acidente.

é noite

Sílvia, 26.02.05

é noite de pequenas ondas que marulham
iluminadas pela lua cheia
que escorre pelo mar como um afago;
de silêncio amplo cobre-se a areia.

só os meus olhos mudos observam o mar
na noite tátil dessa tua ausência.

talvez mesmo eu me ausente
quando assim líquida me calo
o corpo abraçado por espantos,
a alma um fio que mal se pressente.

ah, se te pudesse tocar
a pele a voz.
se me tocasses.


silvia chueire