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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Lenta

Sílvia, 21.05.05

Frio,
o dia arrasta-se lento em gotas que caem.
Perco-me em pensamentos
como se descesse lentamente
a vidraça.

Não é inútil o dia assim
-como se os dias devessem ter utilidade
não sendo eles apenas sinal do tempo.
Prestam-se a perscrutar recantos.
a olhar distraidamente em volta
cismando a razão das coisas,
a saber quem somos,
ou quem não fomos.
Serviriam para disfarçar as lágrimas,
se lágrimas houvessem.
Ou para perdermo-nos na memória.


Ao longe, muito ao longe,
ouço minha mãe chamar
-vem, menina distraída -
e ainda o ruído do livro que cai
na pressa desastrada de atendê-la.
É tarde, é tarde...


Silvia Chueire

Excertos da entrevista de Cluny à Visão

Incursões, 21.05.05
«Nos últimos anos, não houve um investimento sério nos meios de investigação. A Assembleia da República devia aprovar uma lei para determinar as prioridades, o que constituiria uma directiva ao Governo para fornecer os meios necessários ao MP e aos órgãos de Polícia Criminal para poderem cumprir os objectivos, no combate a determinado tipo de criminalidade. »

«As direcções dos OPC’s dependem do poder político. E as polícias afectam-lhes os meios quando querem e como querem. O MP não pode ser responsabilizado, enquanto esta situação permanecer.»

«Na maior parte dos países europeus, as escutas estão nas sedes das procuradorias ou dos tribunais de Instrução Criminal, sob controlo directo dos magistrados. Em Portugal, as escutas são feitas nas sedes das polícias. Não podemos ser culpados pelas fugas de informação, enquanto não tivermos o controlo directo de todo o material que nos é entregue.»

«O MP aceita a crítica, tenta corrigir os erros e, apesar da falta de meios, continua a dar a melhor resposta possível. Estamos, por isso, magoados com a forma como o Governo tem apresentado a nossa actuação. A maioria dos magistrados trabalha muito. É desencorajante e perigoso o desrespeito com que o Governo trata as magistraturas. Nunca tinha sucedido. »

«Só podemos investigar aquelas notícias de crimes que existem. Não foi por acaso que se criou o DCIAP. Entre o início do trabalho e a obtenção de resultados, há sempre um intervalo. Apesar de todas as dificuldades, problemas e sabotagens que lhe têm sido feitas. É uma sabotagem prática não preencher integralmente o quadro do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT). Objectivamente, é impedir o funcionamento normal da instituição. Apesar de tudo isto, o DCIAP está a apresentar resultados. Não há quebra de esforço e de empenhamento.»

«Se o poder político considera que a redução das férias judiciais de dois meses para um mês se traduz num aumento da eficiência, então, o melhor é acabar com todas as férias judiciais. É uma falsa questão tentar imputar aos magistrados um privilégio decorrente da actual situação. Eu prefiro ter um regime igual ao dos funcionários públicos. Tudo isto não passa de uma inépcia, na apresentação da proposta ou de uma tentativa de diabolização dos magistrados. Como não há dinheiro para reformas, é preciso encontrar um responsável pela ineficiência do sistema.»

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Uma constatação que configura expectativas

Incursões, 21.05.05
De acordo com o que revela este sábado uma sondagem do Correio da Manhã/Aximage, os portugueses não acreditam nos políticos. Pelo menos é o que dizem 65,4% dos inquiridos que acusam os partidos políticos de fazerem favores a empresários com o objectivo de obterem dinheiro.
Por outro lado, o Jornal “Público” refere um estudo sociológico que estabelece conexões entre uma nova classe política (business politician) surgida nos partidos e a corrupção. Segundo esse estudo, tal classe caracteriza-se por ser constituída por políticos que “antes de entrarem para esta área, tinham poucas capacidades/qualidades, tais como riqueza, prestígio social, experiência profissional ou qualidades intelectuais.” Designa-os por “políticos de negócios”.
No nosso entender, a corrupção é um insulto a cada cidadão honrado e uma doença fatal da democracia. Temos de a combater como uma questão de defesa do regime democrático e isso não é possível, ocultando ou disfarçando as suas causas. Precisamos de ganhar a opinião pública para a luta contra a corrupção, contra a ideia de que pertencer a um partido é fazer parte de uma clientela e de que o bem público é uma disponibilidade privada. Mas tal combate só é possível com uma jurisprudência que tenha em conta este ponto de vista, que prestigie o exercício da cidadania e uma cultura que responsabilize os políticos pelas causas da corrupção. E isso configura as expectativas que os cidadãos criaram em relação à Justiça.