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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Para complementar

Sílvia, 29.01.06
Poema para o Rio



Suor e maresia
nos envolvem.

Sente-se o mormaço
do calor do dia,
no corpo todo,
no requebrado das mulheres,
nos olhos masculinos
deslizando pelas ancas .

Observa este povo,
e saberás a cadência
da música,
de onde vem, de onde vem,
de onde...

Atenta o ouvido
e perceberás o ritmo
nos ruídos cotidianos.
Assim como os saltos
nas calçadas,
um cantarolar surdo
que nos atravessa.
A música a sobrepor-se
ao lado áspero
da cidade grande,
a alegria.

Todos os caminhos dão no mar,
chamado irresistível,
oceânico,
de nos desfazermos n'água.
De nos despirmos
da pele de circunstâncias.

O olhar atento verá
por entre os edifícios,
a história,
a mistura das raças.
O negro que há em nós,
música e libido à flor da pele
e o sorriso por dentro.
O índio,
liberdade e selva.
O europeu,
pose e civilidade mescladas
às tentaçôes da cidade.

A geografia,
a acolher todos os gostos.

Amo esta cidade
com a consciência crucial da beleza,
da alegria , da miséria,

da violência.
Da cidade sedutora.

Rio de Janeiro,
céu, inferno,
e purgatório.



Silvia Chueire

O JCP quarentão

Incursões, 29.01.06
O nosso JCP, rapaz pouco dado às tarefas do lar mas que tem a Olga que resolve e muito bem, lá teve que convocar os amigos, para a noite deste sábado, para comerem umas coisas volantes e beberem umas coisas volantes a propósito da comemoração do seu quadragésimo aniversário, coisa que, como já aqui disse, me ficou cara quando por lá passei, não tarda muito faz seis anos.

O leitãozinho estava bom e o resto também estava e a conversa animada e, no fim de contas, era quase tudo gente do Marco, gente que se conhece há muitos anos o que vem provar a minha velha teoria de que os nossos melhores amigos são aqueles que conhecemos até determinado tempo da vida, aqueles que se cimentam nos tempos das dificuldades e não aqueles que vêm depois, quando acham que temos alguma coisa que se lhes acrescente. Tudo isto, obviamente, descontando algum exagero, coisa em que, como se sabe, estou a tornar-me especialista, não sei se é da idade ou se da inimputabilidade que cada vez mais reivindico, porque dá jeito para desculpar as tolices.

Heterogénea plateia e uma conclusão: todos, mas mesmos todos, estão mais calmos, menos agitados, mais comedidos. Um sinal de velhice, digo eu, ou um sinal de que o espaço começa a ser conquistado pelos meninos - os filhos dos adultos - que não páram e que nos mostram que o tempo tem passado rápido, porque eles crescem rapidamente, tão depressa como o nosso cabelo fica mais branco e mais raro, e talvez também, na parte que me toca, uma dor incisiva por não estarem ali os meus meninos, que estavam em casa da mãe. E uma dor atrevida, uma pontada de saudade e uma vertigem desalmada por saber que a minha filha estava de castigo - merecido, sem dúvida -, mas que me pediu pelo telefone que a fosse buscar porque precisava de sair e ir ver os amigos e queria que eu fosse com ela, mas eu não podia porque não podia nem queria desautorizar o castigo. Não fui. Mas ela esteve sempre ali, a toldar-me a alegria de estar entre amigos e a comemorar o JCP quarentão, que, à conta disso, aumentou a sua colecção de gravatas ao ponto de receber duas iguais e a que lhe ofereci e não era igual às outras e que, por sinal - mau sinal - ainda por cima não era das que a loja tinha em promoção.

Sim. O ritual manteve-se. Os cigarrinhos na varanda. Mas julgo que não haverá problemas, a temperatura não estava negativa - 3 graus positivos quando vim embora - e eu, que sei do que a casa gasta, tinha levado uma camisola mais grossa pelo que presumo não ser ainda desta que repito a pneumonia que um dia ganhei na Póvoa.

O José tem 40 anos. Parece que ainda foi ontem que éramos putos. Bom resto de vida, José!

Sobre amigos, música e a cidade

Sílvia, 28.01.06
Ia para uma rua que não sabia bem onde era, tinha o endereço e o bairro: Botafogo.

Ia assistir a uma apresentação de um trio de jazz, convidada por amigos que me garantiam ser muito bons os músicos.

Ia apesar da distância do lugar onde moro. Moro num bairro afastado, a
quase uma hora de distância, mas gosto de música e havia me comprometido a estar lá. A cidade como é de conhecimento de todos é violenta, e as pessoas se preocupam quando uma mulher sai sozinha e vai retornar à casa tarde ( neste caso nem tão tarde ) da noite.

Ia apesar de estar cansada do dia de trabalho, era uma quarta feira, e porque a violência da cidade nunca me impediu de sair de casa, fosse a que hora fosse. Vou e volto dirigindo meu carro. Já passei por acidentes, no caminho, automóveis destruídos. Nunca por assaltos ou tiroteios. Tomo cuidados, é certo. Mantenho os vidros fechados e presto atenção aos sinais. Mas tiros ou assaltos ainda não vi.

Ia porque gosto de divertir-me e ouvir blues e jazz tem o efeito de repor minhas energias, ou humor, ou seja lá como decidam chamar. O fato é que a música é-me importante. Muito.

Ia , sem dúvidas, também porque é um prazer dirigir ao longo das praias, à noite, a lua refletida no mar, Metade desta cidade são praias. É nelas, em torno delas que as pessoas passeiam, divertem-se, se encontram.

Ia naquela noite de lua cheia, a ver as pessoas andando nas calçadas à beira mar. É verão mas estava fresco.

Ia encontrar-me com amigos e música, um bom motivo para ir.

Ia, mas não conhecia muito bem a rua exata e ao chegar onde pensava ser, errei o lugar. Parei o carro numa esquina e perguntei ao vendedor que estava dentro de uma van que vendia cachorros-quentes, onde era a rua tal. Ele respondeu-me que eu errara a rua por uns cinquenta metros. É logo perto, aquela esquina que a senhora passou, disse-me. Um seu cliente que comia ali, de pé, acrescentou apontando: lá, ó. E eu raciocinando a volta que teria que dar, por onde, e quanto tempo levaria, por causa de um erro de metros, quando o tal homem me diz : faça o seguinte, dê a ré, porque é tão perto que não vale a pena dar uma volta tão grande, eu cuido do trânsito se vier algum carro. Interrompeu seu lanche e foi para o meio da rua, mais trás de onde estávamos, fazendo sinais para que eu fosse e para que os carros que vinham parassem por um instante. Dei a ré em segundos e entrei na rua que procurava, agradecendo com um acenar de mão, obrigada! Pude ver pelo retrovisor, o seu sorriso enquanto saía do meio da rua e voltava ao seu sanduiche.

Ia para uma pequena rua em Botafogo encontrar amigos e ouvir música. A casa onde o show se realizou era um bar num sobrado recuperado ao tempo, de excelente gosto e usando materias de demolição, portão de ferro batido em desenhos bordados do início do século passado, fora da casa, mas já dentro do pequeno jardim, uns guarda-sóis brancos quadrados logo junto às janelas abertas que se localizavam perto do pequeno tablado onde o trio tocaria, portas de pinho-de-riga muito altas, lindamente trabalhadas, pé direito muito alto, lá dentro mesas de desenho moderno distribuídas sem aperto. No segundo andar uma pequena galeria de arte com uma coleção de cadeiras assinadas, de design, a “mania”, disseram, do proprietário do bar.

Ia encontrar amigos e música e encontrei mais que isso. Encontrei mais uma vez a solidariedade de pessoas que sequer me conheciam (esta coisa tão tipicamente carioca ), uma bela casa com um bar acolhedor, música de qualidade, e, claro, os amigos, a conversa depois do show, um bom vinho, e petiscos, estas perdições.

Silvia Chueire


Este texto vai dedicado à Kamikaze que me perguntava outro dia porque não escrevo sobre o Brasil, a cidade, psiquiatria. Sobre psiquiatria, assuntos correlatos, quaquer dia escrevo. Perdoem-me a prosa. Não é dos meus fortes.

Antes que me esqueça, van é uma carrinha, como vocês que dizem aí. Cariocas, suponho que vocês saibam que é como se chamam às pessoas nascidas no Rio de Janeiro (ou pela cidade adotadas).

Casa inquieta, Rodrigo

Incursões, 28.01.06
Estava
o ano velho a acabar,
numa noite como esta em que o cansaço é muito e a noite insone e eu
(carregador do mundo) escrevi aqui
um texto, supostamente inteligente sobre o livro "Casa Quieta", de Rodrigo Guedes de Carvalho. Rodrigo
não gostou da
"gracinha"
e interpelou-me, via e-mail, e trocámos conversas inquietas sobre o assunto mas, como somos pessoas civilizadas, não ficou azedume nem melindre. E eu persisto
tal como prometi
a ler vou na página
56
mas torpecei no hospital e nas dúvidas sobre o encontro de irmãos, o Salvador e o outro, e sobretudo sobre a idade dos irmãos, do Salvador e do outro.
Do Salvador que ama a Mariana, a Mariana-morta-de-trás-para-a-frente, e há outra Mariana, Mariana de outro homem, que chora no corredor do hospital
e eu
que também amo a Mariana, a minha filha, inquieta
Casa Quieta.
E ontem fiquei mais contente porque uma bailarina do
Porto
(não me lembro do nome)
questionada sobre o seu livro preferido respondeu
Casa
Quieta.
Ela vingou-o. Rodrigo. Guedes. de. Carvalho.
(E eu sou mesmo um mau leitor, caríssimo. Mas tenho vindo a melhorar...)

VPV

Incursões, 28.01.06
Eu não conheço Vasco Pulido Valente de lado nenhum, a não ser do que leio do que ele escreve e escreve bem. Há dias, li uma crónica dele no Publico, que logo tive a tentação de comentar, mas esqueci-me. Falava VPV da ameaça de Chirac ao Irão, por causa do nuclear e, daí - que era a questão importante - passou para o acessório, dizendo, palavra menos palavra, que estava contra a França por causa da ameaça, ele que cresceu no tempo em que nós, portugueses, aprendíamos a falar e a escrever em francês. Li a crónica ao balcão de uma área de serviço, de pé, ice tea e sandes mista, manhã carregada e talvez com sono, mas houve uma ideia que me ficou: em que mundo vive VPV? Aprendeu a falar e escrever em francês, porque essa era a tónica dominante do tempo em que cresceu? Tónica dominante, onde? Se VPV soubesse das coisas do mundo, saberia que nesse tempo a maioria dos portugueses do mundo real não aprendia a ler ou a escrever em francês... nem em língua nenhuma.

O Presidente da República na abertura do ano judicial

simassantos, 27.01.06

As escutas telefónicas- A responsabilidade civil dos juízes - A independência da Magistratura Judicial - A autonomia do Ministério Público
*
O Presidente Sampaio referiu-se na Abertura do Ano Judicial, no Supremo Tribunal de Justiça, à regulamentação das escutas telefónicas como meio de investigação criminal, considerando que se foi longe demais.Defendeu então que “importa arrepiar caminho rapidamente, com um catálogo restrito e claro dos crimes graves que as podem justificar, de par com a consagração do seu carácter excepcional, da sua autorização e controlo efectivo pelo juiz de instrução e da proibição de se recorre a elas fora do inquérito criminal”. “O regime das escutas telefónicas tem de ser excepcional e minuciosamente controlado. Mas não se caía na tentação, por não se terem, até agora estabelecido regimes eficazes, de instituir entidades exteriores à administração judiciária, para controlar a legalidade das escutas. Com isso se daria uma machadada fatal no sistema judiciário, que casos vários tanto têm fragilizado”.
A propósito da responsabilidade civil dos juízes alertou para o risco de se pôr em causa a independência do poder judicial: “cuidado com as soluções que visem responsabilizar civilmente magistrados judiciais”. “Um juiz deve ser responsabilizado, sem quaisquer restrições quando erra intencionalmente. Mas “se estiver em causa a mera negligência, em que a vontade consciente não está presente e a recta intenção se mantém, responsabilizar o magistrado é ferir aquilo mesmo que nos garante a sua independência, a Irresponsabilidade pelos actos geradores de prejuízos quando não se verifique dolo”.
E alertou ainda: “a independência dos juízes e a autonomia do Ministério Público” são “elementos essenciais da nossa democracia” e “têm que ficar preservadas, sem quaisquer reticências”.

Au Bonheur des Dames nº 17

d'oliveira, 27.01.06
Gloriosos Naufrágios 1

Isto para ser levado de forma profissional havia de ser destacado do bonheur e apresentado como série própria, com matrícula na polícia (como as antigas peripatéticas, tão bem cantadas pelo Assis) e registo na repartição de patentes (coisa fácil de arranjar se tivermos um patrono como o DLM que a seu tempo verá nascer uma secção “ad usum delphini” que eu estou em boa idade para ensinar e ele para aprender). Mas sou mais anarqueirão que um bando de pardais e já não há santo que me valha. Que eu até tenho 18 santos com o meu nome, sendo que um deles foi papa em 308-309 com o seu próprio nome (ora tomem lá!) e diz a lenda que o malvado imperador Maxêncio o fez moço de estrebaria e depois que o mandou matar pisado pelos cavalos. Mas parece que o papa Marcello 1º (terá havido mais?) morreu de morte natural e não pelos coices das cavalgaduras. Terá deixado esse destino ao escriba que estas vai traçando e que sobre ser ingénuo é canhoto de pata e de coração. E fiquem sabendo que eu até já fui à igreja de S. Marcello sita em Roma e numa rua bem principal. Mas a gente, com estas e outras que a seu tempo virão, vai-se desviando do propósito inicial e depois o leitor José fala dos textos fleuve do mcr.
Ora então anuncie-se ao que vimos: um certo Galo (mais galispo que galo, pelos vistos...) acolitado por um certo Francisco Bruto da Costa conhecido gourmet de especiarias orientais (e não só..., acrescentaria eu) resolveu perguntar-me que destino tiveram duas jovens que eu, inocentemente segui até um anfiteatro. E a coisa não ficou por aqui: o Carteiro (que *** sempre duas vezes), o José e até a nossa transatlântica Sílvia insistem em saber destes “idílios difíceis” (para citar um texto do meu amadíssimo Ítalo Calvino, lido por essas longínquas épocas em que bemgastava a minha “juventud divino tesoro” por Coimbra.
Um dos meus ancestros, conhecido pela sua longa e bem sucedida vida amorosa deixou aos herdeiros um par de dívidas e uma máxima: “um cavalheiro nunca se gaba das aventuras amorosas que lhe foram concedidas”. Ou, no máximo, prosseguia o varão ilustre (e nunca duas palavras foram tão bem aplicadas...) contará a história sem citar datas nomes e lugares. Exceptuam-se as grandes cidades (Paris, Viena ou Roma) porque aí a multidão torna tudo anónimo.
Portanto os leitores ficam desde já avisados que o que aconteceu irá com um manto forte de fantasia sobre a nudez frágil da realidade. Isto não é bem Eça (oh quem me dera!...) mas serve.
Vejamos então, e em dose aconselhável para os cavalheiros e a gentil dama já citados, o que se passou com uma das duas meninas. Pois pouco, maravalhas, há que confessá-lo. E vejamos. Durante um par de semanas cruzei-me com uma caloira de Germânicas, cujo nome rapidamente descobri, no Bar de Letras. A coisa era mais ou menos assim: ela sentava-se numa mesa com um par de amigas ou colegas, e eu mais rápido que um mig-21, avião muito em voga na época, picava em voo rasante pelas imediações até conseguir mesa propícia em frente da ninfa inocentinha. Uma vez colocado, iniciava um ataque de olhares na altura conhecido como oftálmica assassina”. Fitava a jovem com o ar absorto e frio dos verdadeiros libertinos (na altura os rapazolas educados liam muito Roger Vaillant, trazido por Cardoso Pires e os que persistiam nesse caminho perigoso começavam a interessar-se por Stendhal e Laclos e acabavam nos chamados “infernos das literaturas”) e quando ela levantava os olhos apanhava de frente a dita oftálmica paralisante. Ora ocorre que, logo pela 2ª ou 3ª tentativa, a criaturinha sustentou o meu olhar com uma firmeza altamente prometedora. Isto, para abreviar, durou quinze dias, e eu andava desesperado por encontrar alguém que ma apresentasse. Naquele ano de 1961 as coisas corriam dessa maneira. Havia necessidade de apresentação, arranjada num encontro “casual” com três pares de aspas e normalmente a visada já tinha informação certa e segura do gavião que lhe rondava o beiral.
Devo dizer-vos que a donzela em questão valia o seu peso (aliás leve) em metais preciosos. Cabelo negro, bem apessoada e uns olhos azul escuro, ai!, uns olhos de danar um santo quanto mais um leigo que, por junto, de virtude só tinha um papa com o seu nome...
Como os leitores já perceberam esta troca de olhares esta “oftálmica” prolongada fazia-me andar a cem pulsações. Caloiro em terra estranha (eu até nasci na maternidade de Coimbra mas à traição: resolvi anunciar a minha vinda com alguma antecedência e a minha boa mãe, dezanove anos inocentes, quando sentiu romper-se o saco das águas em pleno cinema Peninsular da Figueira da Foz ficou envergonhadíssima e murmurou ao meu pai que tinha feito xixi. O Pater, médico e ginecologista, logo desconfiou e, ala que se faz tarde, para a maternidade de Coimbra. E aí, assistido pelo professor Lúcio de Almeida e mais não sei quantos colegas de curso e da mesma especialidade, nasci eu, bonito e repolhudo como se deve. De todo o modo o que eu não daria por ter nascido em pleno cinema durante um filme americano com, se não estou em erro, o Tyrone Power!!!)
Raios partam estes parêntesis que me tiram do sério... Voltemos à vaca fria: o romance alimentado a olhares que eu pensava frios e deveriam ser mais langorosos que uma valsa de Strauss. Vergonhas porque um passa. Quem nunca fez figuras ridículas por amor é favor sair desta leitura.
Ora chegou o dia entre todos fausto em que encontrei um colega que me disse conhecer perfeitamente o objecto da minha paixão. Valha a verdade que, mesmo apaixonado (ou algo no género), eu não era imprudente. Vai daí com rodeios de índio moicano fui-lhe extorquindo informação valiosa. Quem era, donde, namorados? etc... Tudo correu às mil maravilhas até ao momento em que ele me confidenciou que a jovem era míope como uma toupeira mas que se recusava a usar óculos. Que não via a um metro, metro e meio de distancia e que até “tinha havido um par de parvos que tomando a sua miopia por convite se tinham acercado lampeiros e dolicodoces!”
A bomba atómica que me caiu na cabeçorra não tem descrição. Era todo um idílio que se esfumava pela falta miserável dumas lentes de contacto que só começaram a vulgarizar-se dois ou três anos depois.
Embezerrado, comecei a passar de largo e nunca cheguei à fala com a míope mais misteriosa que cruzou o meu caminho.
Ora aqui está uma boa “estória” para os voyeurs que queriam coisa mais suculenta. É para que saibam! Eu, histórias destas, de naufrágios, tenho mais que a História Trágico Marítima inteira. Mas...não sei porquê recordo-as hoje com um doce sabor de Verão e laranjas. E alfazema, muita.
Como os leitores vêm a cultura clássica e os amores dão-se bem. Ou como dizia o espanhol : “con el palo dando y a Dios rogando”. Eu sigo a velha regra: primum vivere deinde philosophare. Com uma diferença: vai tudo ao mesmo tempo.

Vai dedicada aos senhores “Galo”, DLM, F.B. da Costa, Carteiro, José leitor e amigo, e à nossa especialíssima convidada do ultramar Sílvia.
Escrito sob os auspícios de Wolfgang Amadeus que faz hoje 250 anos. Na companhia do canal Mezzo que vai dar 24 horas de Mozart.

Mozart, Mozart, musica

d'oliveira, 27.01.06
O canal mezzo está hoje a passar vinte e quatro horas de Mozart. Depois não digam que não sabiam.
Boas "escutas". Estas não fazem mal a ninguém e devem mesmo multiplicar-se...
Um abraço

O estilo promove o homem

Incursões, 27.01.06
Pacheco Pereira publicou (significativamente) na editora que Zita Seabra dirige, o livro “Quod erat demonstrandum”.

O livro reproduz os seus comentários políticos e pretende ser uma espécie de “escrita de contacto”, publicando o que pensa em cima dos acontecimentos.

Sempre pensei que Pacheco Pereira diz o que pensa o senso comum mais esclarecido, com o inconveniente de “puxar as brasas para a sua sardinha”, como diz o ditado.

O livro é muito datado e não é com esta sua última produção que, finalmente, conseguirá ficar na história.

Se o marketing que o apoia continuar eficiente, o (bem visto) Pacheco Pereira ainda terá direito a uma nota de rodapé na história do tempo em que vivemos.

O beneficio não será de Pacheco Pereira, mas da mania de colocar notas de rodapé.

Mozart (1756-91)

d'oliveira, 27.01.06
Wolfgang Amadeus Mozart nasceu a 27 de Janeiro de 1756 em Salzburgo, há 250 anos.

Aos três anos tirava melodias no cravo e chorava quando alguém tocava alto demais ou de forma dissonante. Aos quatro anos, sabia tocar cravo e violino fluentemente. Aos cinco começou a compor minuetos e outras peças.

Os seus dons preocupavam a família e o pai preferia que tivesse uma outra profissão e soubesse poupar o dinheiro. Mas, Mozart era incapaz de gerir as suas finanças: tudo o que ganhava gastava-o rapidamente.

Gostava de viajar e na vida adulta mudava constantemente de residência. Quando tinha doze anos, já havia visitado doze países, proposto casamento à rainha Maria Antonieta da França que respondeu, sorrindo: “peça-me de novo, quando for mais velho”.

Diz-se que viveu a sua vida em carruagens, hospedarias e nos salões das cortes.

Escreveu música para dança, peças didáticas, sinfonias, concertos, áreas para óperas, todos os géneros musicais do tempo. Toda a gente se lembra de “As bodas de Fígaro, Don Giovanni e Flauta mágica”.

Os seus últimos anos, apesar de musicalmente ricos, passaram-se entre dívidas e numa extrema pobreza.

Morreu aos 35 anos, na madrugada de 5 de Dezembro de 1791.O seu corpo foi enterrado no pequeno cemitério de Sankt Marx, nos arredores de Viena, numa vala comum, tal como eram sepultados os indigentes.

Um dos seus biógrafos descreveu-o como "o músico mais consumado que jamais viveu". Quem gosta de música, sabe que isso é verdade.