Pedro Homem de Mello e a Mística Portuguesa
Foi um homem cuja Alma estava em sintonia perfeita com o povo e a sua cultura (esse mesmo povo que, à época, ainda não tinha sido “estragado” pelos “reality shows” e pelas telenovelas…).
Aliás, Júlio Dantas definiu-o como “poeta de alta estirpe”. José Régio considerou-o “um dos mais verdadeiros líricos da nossa tradição poética”. E João Gaspar Simões afirmou que ele tinha sido “um mestre, mestre no sentido em que são mestres os que abrem caminhos de poesia”.
“Em Pedro Homem de Mello concretiza-se uma das nossas mais belas poesias da transgressão, “numa tensão entre angústia, o remorso, a consciência do pecado, a culpa e a vertigem erótica que é indissociável do êxtase ante a beleza humana e o prazer físico, da explosão dos sentidos, do pulsar do sangue, da memória dos efémeros momentos vividos nessa entrega e da trágica solidão que a ela se seguiu”.
Vou deixar aqui um poema que se insere na misticidade de Pedro Homem de Mello, celebrizado por Amália.
Povo que lavas no rio
Que vais às feiras e à tenda
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Há-de haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Beber em malga que esconda
Um beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seios...
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso.
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrada,
Mas a tua vida, não!
(Aqui fica este poema, em homenagem à nossa ultramarina Sílvia, tendo em atenção os seus românticos poemas, ela que anda muito silenciosa…deve ter “sambado” muito por estes dias… )
Em tempo: lembrei-me agora que as "nossas" graças aqui são três! São as nossas "santas" cá de casa! ( ai o que eu fui dizer...). Bem, então, a poesia, romântica e apaixonada de Pedro Homem de Mello, toda ela aqui dedicada às musas do blog...)
dlmendes