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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Tudo a bombordo 1

d'oliveira, 02.10.06
Ao principio era o verbo....

Uma inicial prevenção para evitar más interpretações: este texto e os que porventura se seguirem, são apenas uma resposta apressada ao desafio do leitor José, secundado, aliás, pelo intermitente “carteiro”. Em poucas palavras: eu brinquei como uma fotografia minha, de fato macaco, autêntico (convém dizê-lo), farda da equipa de montagem do citac, meu grupo de teatro dos tempos de Coimbra. A propósito disso fui desafiado para explicar porque é que sou de esquerda, ou como é que um filho família da média alta burguesia se mete nestes ínvios caminhos.
E são uma resposta apressada ainda por outra e mais próxima razão: agora, para fortalecer o canastro e deitar fora adiposidades adquiridas, recomecei a fazer longas caminhadas a pé. Um peão é alguém que corre o risco de encontrar gente conhecida e foi isso mesmo o que, à minutos, me sucedeu: alguém de pequena estatura e pouco cabelo atirou-me "oiça lá V é advogado?” Ai Jesus é o meu passado a perseguir-me, pensei. Todavia respondi afirmativamente tentando perceber se aquele homem com ar de cinquenta, sessenta anos tinha sido meu cliente no civil ou se seria de algum dos sindicatos onde me estreei como profissional do direito.
Na passada resolvi perguntar-lhe de onde nos conhecíamos e ele, tranquilamente, respondeu-me que do MES (Movimento deEsquerda Socialista, grupo já falecido há décadas com conveniente e apropriada declaração ao Tribunal Constitucional, caso único no panorama português onde ainda espreitam vinte cadáveres de partidos que apesar de mais mortos do que um tiranossaurio rex volta e meia aparecem a fingir que são o fantasma que percorre a Europa (cfr. Marx, Manifesto...). Contas feitas, aquela voz, que me vinha de um passado de 31 anos, pertencia a um mecânico que também fora militante, que depois se passara para o PRP e daí para as FP 25, onde desempenhara de pistoleiro. À conta da “traição” de uns cavalheiros, das notas manuscritas impudentes e imprudentes de outros tantos, tivera de passar à clandestinidade (onde uma vez o terei encontrado, lá para Moledo) e para o estrangeiro depois. Regressara depois do processo ter dado com os burrinhos na água, voltara a ser mecânico e, finalmente, reformara-se.
Conversámos um pouco e lá nos separámos. Já pouco nos une, mas esse pouco é muito: é o fim da nossa juventude, alguns sonhos e a realidade a cair-nos em cima nos idos de setenta. Em nome dele, falo, ou escrevo, não para defender as opções que tomou mas a sinceridade com que o fez, os riscos que enfrentou, as misérias que passou. E isto, assim dito, encerra já um dado: uma vez esquerdista, sempre esquerdista. Não renego, não me arrependo, não perdoo nem me esqueço. Estou de certeza muito mais moderado, mas continuo a votar, a opinar e a valer-me de um par de teorias do comportamento ancoradas à esquerda. Não sei se a história me dará razão, mas é minha convicção que, se nascemos desiguais em quase tudo, é possível tornarmo-nos iguais em deveres e direitos. E para isso há que agir com as armas que cada um tem: e essas são a pública expressão das opiniões, a defesa intransigente dessa liberdade em todos os azimutes, mesmo que daí ressalte a defesa dos que pensam exactamente o contrário do que nós pensamos, a convicção que esta luta se trava com a força da razão e não com a razão da força, em suma na democracia, no uso do direito de propaganda e no segredo das urnas de voto.
Isto vai já em três páginas no ibook G4 e parece-me que chega como introdução. Continuarei se me deixarem....

Uma verdade inconveniente

O meu olhar, 01.10.06

Fui ver o filme Uma Verdade Inconveniente com Al Gore a transportar-nos numa viagem feita de realidade e consequências, mas também de optimismo e responsabilização.

Trata-se de um filme obrigatório e inadiável. Rigorosamente a não perder por todos os elementos da família!

Vivemos num planeta que maltratamos, centrados nas nossas rotinas quotidianas, distantes da realidade que pulsa no planeta. E ele aí está, com os seus recursos esgotáveis, com as suas dinâmicas próprias, com o seu equilíbrio cada vez mais em risco. Não podemos ficar indiferentes a essa realidade. Este filme vem-nos alertar para a grandeza do problema, suas causas e consequências. Atinge como um raio a nossa consciência, o nosso dever enquanto pais e cidadãos.

Transmite, todavia, uma mensagem de esperança e de responsabilização. É comum que os grandes problemas sejam apresentados com cenários catastróficos e que, de seguida, sem se apresentarem soluções, se culpe o governo, ou governos de pouco ou nada fazerem.

Ora isso não se passa neste filme. Nele, apesar da dura realidade se impor pela urgência, fala-nos também do que todos devemos fazer. Aponta o dedo à responsabilidade dos Governos de todo o mundo, com os Estados Unidos e a China à cabeça, mas fala-nos também da nossa responsabilidade, do contributo que todos podemos e devemos dar para inverter o ritmo acelerado da destruição do único sítio que temos para viver.

O que eu pensei quando acabei de ver o filme foi: Al Gore fez a sua parte, que é enorme. Eu tenho que fazer a minha. O somatório de muitas pequenas/grandes acções podem fazer a diferença.

Não fiquemos indiferentes e o primeiro passo é informarmo-nos e não nos deixarmos levar por opiniões não fundamentadas de “cientistas de bancada” que gostam de pôr um manto sobre o assunto dizendo que “é um exagero”. O problema é que esses comentários nada resolvem e têm uma acção de adormecimento da opinião pública. No filme essa faceta é salientada. É referido que numa amostra significativa de artigos científicos sobre o aquecimento global, o número de cientistas que considera que este e as suas causas são uma questão com equívocos é zero. Mas se fizermos a mesma análise relativamente a artigos de comentaristas, os chamados “ fazedores de opinião”, então passa para 50 % a percentagem dos que considera que se trata duma questão inconclusiva e de natureza política.

E, a ser de facto verdade o que a grande maioria dos cientistas mundiais afirma, não nos resta muito tempo para despertarmos.

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