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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

SAÚDE – A Procura Inadequada

JSC, 31.08.07
A notícia:

As contas do 1.º semestre dos Hospitais EPE, hospitais com gestão empresarial, apresentaram prejuízos de 128 milhões de euros. Os jornais trazem abundante matéria sobre este assunto.

A justificação:

Em declarações ao JN, de 31/8, Manuel Delgado, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, explica o défice com o facto das receitas serem ainda insuficientes.

Solução para o equilíbrio futuro:

O mesmo administrador explica que acabar com o défice passará por “limpar os hospitais da procura inadequada”.

Dúvida

A minha dúvida é mesmo esta: o que é uma “procura inadequada” num Hospital-EPE?

Estes dias que passam 75

d'oliveira, 30.08.07

O mundo move-se... apesar de tudo

Há uns tempos, num desses programas de televisão estrangeiros, que infelizmente não passam telenovelas portuguesas (nem sabem o que perdem, os tristes), li que no Texas havia um preso no corredor da morte á espera da execução. Presos nos corredores da morte há muitos nos Estados Unidos (que não é o único pais onde ainda se mata legalmente, convém dizer) mas este, que se chama Kenneth Foster era diferente. Não matara ninguém, não roubara nem mandara matar. Simplesmente estava in the wrong place at the wrong moment. De facto auxiliara um amigo a fugir à polícia, guiando o carro da fuga. Veio-se a provar que esse amigo (já executado) matara um homem. A ajuda de Foster foi suficiente para ser condenado à morte. Esta monstruosidade jurídica foi atacada em todo o lado e na América também. Foster deveria ser morto esta noite. Não o será. O governados do Texas comutou-lhe a pena em prisão perpétua. Convenhamos que é um passo de gigante. Insuficiente: prisão perpétua por ajuda a um assassino (coisa que segundo o próprio, Foster ignorava: dava uma boleia a um ladrão sem sorte). Urge, agora tantos anos já passados na cadeia, exigir uma revisão decente e justa da sentença.
Fosse Foster branco e as coisas provavelmente correriam melhor mas ainda não se conseguiu obter a formula milagrosa que tem tornado Michael Johnson cada vez mais branco.

A China quer mostrar que também é um país normal ou quase. Enfim, o quase é um pouco excessivo, mas há que saudar todos os minúsculos passos que vai dando. E para o provar, ei-la que liberta um dos dissidentes da praça Tien-an-men. Faltam ainda 99 mas só o facto de libertar um preso de consciência anima a malta. Vamos todos pedir a libertação dos restantes. E isso antes dos jogos olímpicos. “Camaradas” chineses arregacem as mangas e tratem de, também aqui, imitar o melhor do Ocidente. Estas imitações, podem acreditar, ninguém as recusará.

Uma criatura americana morreu. Era rica muito rica. A fortuna (ou uma bela talhada dela) é herdada por um cão que já tem oito anos. Quando o bichinho falecer, será inumado no panteão familiar da dona.
Ah, já me esquecia: os quatro netos da senhora não recebem um só dollar. Nem agora, nem nunca porque o remanescente da fortuna da bizarra americana ira para uma fundação.
Ora aqui está uma ilustração do belo brocardo: quem espera por sapatos de defunto morre descalço.

E a “nossa” Europa. Pois lá vai cantando e rindo. Enfim, lá vai. Como exemplo desta bela inocência eis que a Orquestra Sinfónica de Osnabrück está a fazer uma digressão nada mais nada menos do que no Irão. Parece que por lá há muitos amadores da grande música ocidental. A orquestra tocou portento para um públco caloroso. Com um pequeno pormenor, coisinha insignificante...
As mulheres da orquestra para tocar tiveram que pôr véu.
Espera-se fervorosamente que uma orquestra semelhante mas iraniana venha à Europa. E que, em Roma sê romano, as mulheres iranianas toquem de cabelo ao vento. Eu não sou de Osnabrück, nem alemão mas palavra que fiquei envergonhado. É assim tão importante levar Beethoven a Teerão?

Em Espanha, aqui tão perto, abriu-se hoje mais uma fossa comum do tempo da guerra. Desta vez foi na Corunha. Desenterraram-se os ossos dos vereadores republicanos e de um grupo de sindicalistas galegos. A direita espanhola acha isto escandaloso. Andam a perturbar os mortos! Não se deve mexer no passado! Esta campanha é revanchista!
Tem toda a razão. O melhor mesmo seria desenterrar Franco e pô-lo de novo em El Pardo. Fazia, mesmo morto, melhor papel que Rajov.

E sempre ali, na “pele de touro” uma euro-deputada, Rosa Diez abandona o PSOE e seu lugar em Bruxelas para se juntar ao movimento “Basta ya” e aos Ciutadans... Está na forja um novo partido político que se tiver a sorte dos Ciutadans nas recentes eleições autonómicas da Catalunha poderá fazer a diferença. Bons ventos de Espanha, desta vez...

a gravura: cartaz da UGT publicado na Catalunha: operários organizem os campionatos do trabalho, frente à guerra.

Uma arte antiga

José Carlos Pereira, 30.08.07
aqui tinha sido referida a demissão da directora do Museu Nacional de Arte Antiga. Há poucos dias, Dalila Rodrigues, enquanto estuda com os seus advogados se deve intentar uma acção contra o Estado pela forma como terminou a sua comissão de serviço, pesando nomeadamente os prejuízos causados pelo facto de ter vendido a sua casa em Viseu e comprado uma nova em Lisboa e agora ter de regressar a Viseu para as suas funções docentes no politécnico local (!), recebeu no museu o líder do PSD, Marques Mendes, para criticar o Governo pelas opções tomadas. Sim, porque Mendes não foi lá ver os painéis de S. Vicente...

Em plena campanha interna no PSD, Dalila Rodrigues e Marques Mendes deram um péssimo exemplo do sentido de Estado que se exige a um alto funcionário da Administração, ainda que demitido da sua função e a poucos dias de terminar o mandato, e ao líder do maior partido da oposição.

Pacheco Pereira analisou assim o assunto no seu Abrupto: “Em toda a campanha interior do PSD deve estar presente que um candidato a dirigente do PSD é um candidato a Primeiro-ministro. Marques Mendes, no seu "passeio" pelo Museu Nacional de Arte Antiga, esqueceu-se disso porque foi dar caução a um acto que é inadmissível numa funcionária pública no exercício das suas funções. Esta é uma questão de Estado, que já o presidente da República tratou com pouco cuidado.Ao fazer o que fez (e já antes em várias alturas tinha procedido igualmente mal), Dalila Rodrigues colocou-se numa situação insustentável. Não é suposto uma funcionária pública abandonar o dever de lealdade e isenção e, se queria fazer o que fez, poderia muito bem fazê-lo noutra condição, noutro estatuto, de outra maneira. Tudo aquilo era possível, com Marques Mendes visitando o Museu ao lado de Dalila Rodrigues, ambos como cidadãos e políticos, no pleno exercício dos seus direitos, criticando o Governo como entendessem, mas Dalila Rodrigues não poderia estar ali como directora do Museu, mesmo demissionária, nem poderia colocar-se ao lado do líder da oposição na casa do Estado que gere, para atacar o Governo legítimo do seu país. Insisto: é uma questão de Estado.”

Subscrevo por inteiro.

voz alheia 2

d'oliveira, 29.08.07

Era la guerra
FRANCISCO UMBRAL

Era la guerra con sus limpios dientes, era la guerra con su papel firme, era la guerra de todas las guerras, que se repite siempre como una bestia negra, sin imaginación.

Vino tal que el domingo con su fiesta de pueblo y colgó tanques y hombres debajo de los árboles. Nos asusta la insistencia de la guerra, su parecido con guerras anteriores. Todos los guerreros tienen la misma guerra y todos los tiranos tienen la misma cara.

Era ayer y domingo y empezaba otra guerra. Lo que asusta en la guerra es su cara de fósil, que nace ya dejando parecido.

El domingo los tristes hablaban de la guerra, tenían el perro suelto o comiendo otros perros y hasta sus enemigos ya se dejaban ver porque sus enemigos eran hoy sus amigos y aquello iba a ser fácil como dicen los hombres de la guerra.

Qué tienen los domingos en su estructura frágil, qué traen en sus colores de muñeca violada, pero sea lo que fuere aciertan con la guerra y saben el camino, que es el de sus abuelos. No es hermosa la guerra, sino más bien enferma y llena los domingos de pleuresía y tristeza. Vayamos a la guerra como si la creyéramos, pongamos una bomba en cada corralera y así demostraremos cuántas guerras sabemos, cuántos hombres matamos, cómo acertamos siempre con el dios de la guerra, que es el campeón de bolos y suena muy despacio.

La guerra ha terminado o habría terminado si la guerra empezase de verdad un domingo, pero no empieza nunca porque ahora es guerra total y los hombres no saben dónde empieza esta historia, cómo empieza esta gente.

Ahora ya son más libres porque tienen más guerra y van coleccionando huesos de antepasados que hicieron otras guerras y por otros caminos. Esto se llama guerra y un día vendrá su gobierno, el campeón de la guerra desgritando mujeres. Se sentirá muy fuerte porque mata sin ruido. Nos iremos al cine donde empieza una guerra.

Era la guerra. La guerra llena de conventos que matan al infiel cuando ve a Dios. Porque toda guerra se hace por esto, por haberle visto o no haberle. Era la guerra con sus claros dientes asesinos que va dejando pulcros limpiabotas por donde pasa con su surco de dientes como por un surco de pena. Era la guerra de todas las guerras, que se repite siempre como una bestia cansada, como una fiesta de pueblo, como un colgajo de tanques y de árboles.

Era, sí la guerra, que ahora ha vuelto a matar descamisados y negros con un precioso camisón de rosa. Estamos en la guerra porque el yanqui tiene fuentes de petróleo en su precioso parque de muchachas. Estamos en la guerra, en puertas de la guerra, lavándonos los dientes con su papel de estraza pues a los yanquis Bush hoy los quiere negros y nos cuenta la guerra en un papel muy duro que sirve al jefe para contar su guerra, para contar sus cuentos, para un colgajo alegre de tristísima lluvia de colores donde recordará, viejo asesino, el rosario que reza con los panificadores y sus otros obreros de la Casa Blanca, lo limpios que están todos, lo guapos que han crecido, lo nobles que son todos, aunque violen a una chica, dulcemente contra la losa fría de su espalda de Virgen.

02.01.2007 El Mundo (los placeres y los dias)

a gravura representa dois ninots que irão ser queimados na Nit del foc em Valência: Camilo José Cela e Francisco Umbral. Ou como em certos países os escritores gozam de tal fama que até dão paraimagens de festa popular...

novos diplomas (selecção)

ex Kamikaze, 29.08.07
Lei nº 48/07, D.R. nº , Série I de 2007-08-29
15ª alteração ao Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei nº 78/87, de 17 de Fevereiro
ENTRADA EM VIGOR: 15 de Setembro 2007

Lei n.º 47/2007, D.R. n.º 165, Série I de 2007-08-28
Primeira alteração à Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, que modifica o regime de acesso ao direito e aos tribunais.

Decreto-Lei n.º 303/2007, D.R. n.º 163, Série I de 2007-08-24
altera o Código de Processo Civil, procedendo à revisão do regime de recursos e de conflitos em processo civil e adaptando-o à prática de actos processuais por via electrónica; introduz ainda alterações à Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, e aos Decretos-Leis n.os 269/98, de 1 de Setembro, e 423/91, de 30 de Outubro.

Lei n.º 46/2007, D.R. n.º 163, Série I de 2007-08-24
Regula o acesso aos documentos administrativos e a sua reutilização, revoga a Lei n.º 65/93, de 26 de Agosto, com a redacção introduzida pelas Lei n.os 8/95, de 29 de Março, e 94/99, de 16 de Julho, e transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2003/98/CE, do Parlamento e do Conselho, de 17 de Novembro, relativa à reutilização de informações do sector público.

"o que de melhor se pode dizer de um advogado"

ex Kamikaze, 29.08.07

"A imprensa brasileira noticia: «Hoje ele completa 70 anos e, depois de exercer a advocacia por quase 30 anos e atuar como desembargador por 16 anos, ele está se aposentando.
(...)
«Carlos Stephanini nunca abandonou a beca, mesmo togado», porque «a sua imparcialidade é o retrato fiel do seu compromisso com o Direito e a justiça».

Eis o que de melhor se pode dizer de um advogado, para além de lhe referir a honradez. Defensor do interesse de uma parte, mas não com ela confundido. É difícil? Sim. Impossível? Não. Na subtileza da diferença está a grandeza moral da pessoa."

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do sempre atento Blog de Informação

ex Kamikaze, 29.08.07
Excertos deste post:

"Conforme noticiado aqui, no «Público», «O Presidente da República vetou o diploma que aprova o regime de responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades públicas.»

Contrariamente ao enfatizado por outros órgãos de comunicação social (TVI, SIC, Rádio Renascença, TSF, e C.M.) não se trata de um veto fundamentado, "apenas", por exigência de equilíbrio das finanças públicas e razões de operacionalidade administrativa.

Leia-se, a propósito, os seguintes extractos da mensagem dirigida pelo Presidente da República à Assembleia da República, que se encontra publicada, na íntegra, aqui:

«(...) 8. No contexto da responsabilidade por danos causados no exercício da função jurisdicional, o diploma em apreço consagra (artigo13º) um princípio geral de responsabilidade do Estado por erro judiciário − realidade que, em bom rigor, não deve ser confundida com a da revogação de uma decisão judicial por uma instância superior. Ora, a previsão de responsabilidade por erro judiciário é feita de um modo de tal forma abrangente que poderá conduzir a essa confusão, com consequências difíceis de prever a todos os níveis, incluindo o da salvaguarda do princípio da independência dos tribunais, entendido este na sua dimensão da liberdade de julgamento. (...)

9. Suscitam-se, igualmente, dúvidas sobre a clareza da solução acolhida quanto à responsabilidade dos magistrados judiciais e do Ministério Público (artigo 14º, nº 1).

Razões de segurança jurídica e de garantia do princípio da independência e irresponsabilidade dos magistrados judiciais, aconselhariam a densificação dos conceitos de culpa grave e dolo para os efeitos da propositura da acção do direito de regresso, à semelhança do que sucede em outros ordenamentos europeus.

As garantias constitucionais de independência e irresponsabilidade dos magistrados judiciais impõem que estes só respondam por violações concretas dos deveres funcionais e nunca por eventuais erros ou incorrecções das decisões que proferem". (...)


Obs: nada que não tivesse sido dito, oportunamente, pelas ultra-corporativas associações de magistrados... E esta, hem?

Diário Político 64

Incursões, 29.08.07

De Espanha ventos incómodos...

“el terror vasco, si, ha dejado de ser revolucionário para quedarse en estético y su labor artesanal consiste, como decimos, en evitar que nada cresca, que nada se relacione, que nada pacte, que nada viva ni cante fuera de las tapias del cementério. Mejor que hacer la revolución es impedir que los otros hagan la democracia”

Estas linhas foram escritas em El Mundo a 25 de Março de 2002, por Francisco Umbral que hoje vai a enterrar. Mais um numa sucessão de mortos que, como os fogos violentos de Verão, eclode por todo o lado (o Alberto de Lacerda, o Eduardo Prado Coelho e don Paco Umbral, estrela do Café Gijon, e da noite febril de Madrid). Vai fazer falta, este escritor múltiplo, este comentador político desbragado e poético que nunca renegou a sua matriz de esquerda ibérica, vermelha e negra, independente, sem bombas mas com “plumazos” que deixavam derreados os seus “contrincantes”. A história dos últimos sessenta, setenta anos de Espanha pode ler-se em meia dúzia dos seus livros onde as memórias e os arrebatamentos davam uma cor funda à sua particular tela.
Morre Umbral e “renasce” a ETA. Enfim, renascer é talvez exagerado que o bicho nunca tinha realmente morrido. Apesar do crescente repúdio à sua acção, de cada vez serem mais e melhor conhecidos os meios de pressão com que oprime a sociedade basca que vive entre o receio da denúncia (as “pintadas” à porta de casa...) e o medo bem real do tiro na nuca. Que o diga Savater para não ir mais longe.
E a ETA reaparece como e porquê? Resposta fácil: uma bomba aqui, um carro abandonado precipitadamente ali, uma família raptada durante um inteiro fim de semana, uma carrinha que explode no meio de um campo. Razões para isto? A “intolerância” de Zapatero!
Todavia, não é da política interna de Espanha que quero falar, mas apenas do monte de falácias com que, no nosso país, se relativiza o facto de só neste mês (e porque foram detectados) se alugaram carros que transportavam explosivos. E alugavam-se com documentos falsos portugueses, ao que parece, recorrendo ao estratagema de encomendar a viatura num sítio e recolhê-la a uns centos de quilómetros depois. Isto, para qualquer paisano, significa que esta gente se mexe à vontade por cá. Como “um peixe na água” como se dizia nos bons velhos tempos de leituras teóricas maoízantes.
Algum leitor mais renitente em acreditar que isto é o moinho da Joana, retorquirá que ainda ontem um senhor general à paisana (agora parece que os generais não usam farda para não serem confundidos com o desaparecido engenheiro Ângelo Correia ou o pitoresco Alvaro Vasconcelos, dois profundos teóricos da “defesa nacional) dizia com a aquela displicência de quem sabe que não havia constância de bases da ETA no jardim à beira mar plantado.
Por acaso, ainda me recordo, de há uns anos ter sido preso um cavalheiro basco que se fazia acompanhar de vário material explosivo. Cá, claro. A Espanha pediu a extradição desse acidental turista, oferecendo vasta cópia de argumentos e um curriculum vitae do inocente perseguido digno de causar inveja. Alguns senhores juízes entenderam que não era caso disso e o homem foi ficando e provavelmente ainda andará por aí. A menos que tenha sido chamado para junto do Senhor ou para cumprir outras tarefas que exigindo discrição o afastaram do convívio dos seus lusos admiradores.
É que por cá, numa certa, pequena mas tão determinada quanto imbecil, franja esquerdista há um piedoso sentimento de ternura por esses rapazes do tiro na nuca, da bomba lapa, do amonal amoral. Existiu sempre no risonho país lusitano, a ideia que os inimigos de “Castela” são nossos amigos. A ETA e aquele furúnculo chamado Exército do Povo Galego, tiveram por cá amigos, apoiantes quiçá cúmplices. O fascismo dá-se bem nestas pequenas e disparatadas bandas que à falta de milho transgénico sempre arranjam tempo para uma solidariedade internacionalista.
Mas persistamos nesta vaga e estival indagação: sendo verdade que em França as coisas vão mal para as bases recuadas da ETA, conhecido que é o facto de Andorra não oferecer condições mínimas para o estabelecimento de esconderijos de gente e de armas, onde é que, com economia de meios, possibilidades de passar despercebido, se poderá instalar um núcleo “guerrilheiro” que a todo o momento possa ser activado? Na Bolívia? No Irão? No Pólo Norte, agora tão cobiçado? Ou num pais vizinho com quase mil quilómetros de fronteira vaga e terrestre, sem polícia que se veja, de escasso controle sobre emigrantes ucranianos, turistas brasileiras jovens ou mendigos romenos que se movimentam à vontade?
Francamente senhor general!
Admito, só para poder conversar, que os indícios (duas viaturas portuguesas alugadas em Portugal) não dão uma garantia a 100% mas também me parece displicência a mais não considerar preocupante a ocorrência e sobretudo a simultaneidade. Em menos de um mês, este mês de Agosto, silly season para alguns, dois carros parece bastante. Tanto mais que se poderá sempre pensar que não passam da ponta de um iceberg (cá estamos outra vez no pólo..., que maçada!) e que eventualmente outros andarão nas nossas estradas com a sua carga letal de “recuerdos”, tripulados por rapazolas educados na kale borroka e desejosos de mostrar a virilidade numa corrida sem touros, sempre perigosos, mas com alvos inermes como foram quase todas as últimas vítimas mortais desta lepra moral e política que se chama ETA.
Até ao próximo rebentamento.

De Vexas respeitosamente,
d’Oliveira

na gravura: "bomba de três canos (queira isso dizer o que quer que seja) pilhada, claro, na internet, na wikipédia para ser mais exacto, com o consentimento do seu autor cujo nome, se bem me lembro é qualquer coisa Menezes. O seu a seu dono, que diabo!

o leitor (im)penitente 17

d'oliveira, 28.08.07


Um quarteirão de livros depois...

Pode-se ser, ao mesmo tempo, escritor, jornalista, animador de tertúlias, homem na moda, símbolo do que á falta de melhor (e correndo todos os riscos) da desaparecida gauche divine e da movida de Madrid?
Já sei que alguém daí me dirá que ser escritor e jornalista é normal, o que de todo em todo é falso, como bem avisava o Fernando Assis Pacheco, e que o resto vem em consequência.
Nada disso, leitoras gentis (e uma referência à Maria Manuel que é uma apreciadora da literatura espanhola o que punha o Eduardo espantado e desconfortável porque, vá-se lá saber porquê, não conseguia ler o castelhano, pelo menos não conseguia ler romances. Ainda nas férias de 2006 nos seguiu resignado, mas murcho como uma alforreca naufragada, à Michelena em Pontevedra onde nós estoirámos uma valente soma nas novidades). De facto raros são os escritores que reúnem condições para manter uma coluna diária num jornal e, ao mesmo tempo, publicar com regularidade os seus outros livros.
Falo, claro, de Francisco Umbral. Um deslumbramento que terá começado nos anos oitenta do século passado (ah como gosto desta expressão: o século passado...). Mais precisamente, vejo agora, em 87. Há vinte anos portanto. Neste espaço de tempo comprei um quarteirão de Umbrais e mais um, repetido, prova provada da ganância que me animava. Comprei e, já agora, li. E acabo de descobrir que afinal só posso contar vinte e quatro livros. Descobri outro repetido. Azares de quem começa a envelhecer, é distraído e compra longe de casa.
Francisco Umbral, dizia. Um desses escritores que vem de um qualquer recanto e se maravilham com a grande cidade. Com uma particularidade. Umbral era madrileno, “gato”, como lá diz, mas passou a infância e a juventude em Valladolid só regressando à cidade natal na década de 60. E por isso, ao ler alguns dos seus textos mais memorialistas parece um intelectual subjugado pela visão da grande cidade. E pelos cafés, locais de encontro de tertúlias numerosas. Umbral apareceu no Café Gijon e aí se amesendou. Eu próprio fui um par de vezes a esse sítio emblemático com o único intuito de o ver. Mas ou fui a má hora ou acertei sempre nos dias em que ele faltou. Recordo com alguma emoção que foi lá mesmo que comecei a ler “La noche en que llegué al café Gijon”. Provavelmente esperava encontrar o mesmo ambiente descrito no livro. Não encontrei, claro. Os anos finais da década de oitenta eram felizmente diferentes, mesmo que se tenham perdido as gloriosas discussões do princípio da década de 60.
Umbral é, a par com o seu mestre reconhecido, Miguel Delibes, um prosador poderoso, original, poético e, em contadas ocasiões, cruel, violento e virulento. Provavelmente porque, qualquer leitor o nota, se põe em cena em cada livro, nu e indefeso perante o leitor.
Além de romancista e ensaísta (e aqui valeria a pena referir alguns textos certeiros sobre Lorca ou Valle Inclán) foi um jornalista esforçado cujas crónicas segui primeiro no El Pais e depois no El Mundo: tenho para aí umas 300 ou 400 crónicas que paciente e diariamente tirava da internet. Esta por exemplo, referente a 30-12-2000 sobre a intelctualidade:
...nuestras dinastias han sabido que no se pude vivir sin intelectuales, aunque sean bajitos y ahi están Savater, Jimenez Losantos, Ferrero imponiendo la dulce tirania de la estatura. De entre ellos solo Savater se juega la vida. Pensa más un morto que un vivo, cuando muere cabalmente.
Depois acusa grande parte dos intelectuais por não actuarem, de já não irem às manifestações anti-otan mas apenas “a la venial vanguardia del Teatro de la Abadis, en Fernàndez de los Rios, mala calle donde siempre te engaña una puta. En dias sin función, por supuesto.
Morre agora, com uns breves setenta e poucos anos e mais de cem livros publicados. Ou seja ainda me faltam cerca de setenta!.. Menudo lio, este!
Umbral teve todos os prémios possíveis em Espanha, desde o Nadal ao Cervantes, do Nacional de literatura ao Príncipe de Astúrias. Faltou-lhe entrar na Academia, coisa que muito o mortificou e que de facto é de uma injustiça gritante sobretudo quando se sabe que foi preterido por um escritor que não o iguala em qualidade.
Não tenho a certeza mas julgo que em Portugal se terão traduzido um ou dois livros dele. Desconheço que acolhimento tiveram mas não me custa a crer que tenham passado despercebidos. É a sina dos espanhóis entre nós. E somos nós quem perde.
A morte deste cronista implacável dos últimos cinquenta anos deixa, como é costume dizer, um grande vazio. Porque ele, escrevia com sangue, no fio dos dias, arriscando-se a todo o momento, na sua crónica diária. Ou como ele disse uma vez numa entrevista à televisão: não temos alma mas, de qualquer modo, devemos tentar salvá-la. Que programa imenso!

voz alheia 1

d'oliveira, 27.08.07


Por uma vez, provavelmente única, dou a palavra à Maria Manuel Viana que quis corresponder à amabilidade dos companheiros desta barca e enviar-nos um texto seu sobre o Eduardo.
Aqui o recebi e, por junto, copiei-o.
Juntei para o ilustrar uma fotografia de uma máscara Urhobo (Nigéria). Achei que o EPC gostaria dela, curioso como era.


para as incursões


ele teria gostado de ler as palavras do marcelo. ter-se-ia comovido. aquelas eram também as palavras dele. vagueio pelos blogs, à procura dum pequeno sinal, duma memória partilhada, para assim calar esta dor insuportável.
ele já não está.

em 73, cruzámo-nos num festival de cinema na figueira. ele falava da persona do bergman. eu tinha 18 anos. fiquei fascinada.

amámo-nos por entre muitos rostos, muitas outras pessoas, muitos filmes e muitos livros.
ele já não está.

adormeceu devagarinho, no sábado de manhã.
como o menino que era.
ele já não está.

dói-me acordar.
dói-me viver.
ele já não está.

fomos felizes enquanto os deuses o permitiram.

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