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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 94

d'oliveira, 29.02.08
Mais do mesmo....

Às vezes custa dar uma pazada num adversário político. Nem sempre se tira um pequeno consolo de tão salutar e lusitano acto sobretudo se, bem vistas as coisas, o adversário é um desastre confirmado, um punching ball, um pobre diabo condenado a esbracejar em vão no meio do deserto das ideias que não lhe povoam a cabeça.
Eu nunca tive pelo dr. Luis Filipe Menezes uma consideração sequer, digamos, modesta. Tirei-lhe, desde cedo a bissectriz, vi-o choramingar num qualquer congresso em que, a destempo, zurziu nos sulistas elitistas, tentando com torpeza, desastrosa sagacidade política e rara falta de oportunidade, ganhar uma plateia que, ainda por cima, se riu dele.
Pensei que essa aterradora experiência e o tempo, sobretudo o tempo, lhe trouxessem às mimosas meninges alguma ideia mais interessante do que esta excitação do populismo. Isto para o caso de não ficar definitivamente sepultado pela vergonha.
Mais tarde, ascendeu à presidência da Câmara de Gaia. Houve quem lhe louvasse o feito muito embora haja quem pense, e eu estou nesse grupo, que até a santinha da Ladeira ganharia a câmara ao pobre diabo socialista que por lá andava a fingir de autarca. Todavia, durante uns tempos, entretido com a cidade que lhe caíra no regaço, o dr. Menezes parecia ter ultrapassado o feliz estado de inocência política que o celebrizara. Tomou mesmo um par de medidas simples mas eficazes e com bom senso; pareceu ( logo se verá) que sabia dirigir uma câmara municipal. V N Gaia está melhor do que estava há uns anos e suponho que nem sequer os mais pertinazes socialistas locais se atrevem a murmurar o nome do anterior edil socialista.
Há, no entanto, nos políticos subalternos em geral, e no dr Menezes em particular uma singular atracção pelo abismo. Dois ou três pequenos sucessos fazem-nos sonhar com o voo majestoso das águias quando eles dificilmente superam o esvoaçar da galinha pedrês. E isso perde-os definitivamente.
Os deuses adoram pregar pequenas partidas aos humanos. E os deuses da política doméstica olharam embevecidos para o dr. Meneses e sopraram-lhe ao tenro ouvido a hipótese de um destino nacional. Era só correr com um maçador que dirigia o PPD entre duas eleições, depois de dois cataclismos políticos. E o dr. Meneses entendeu que chegara o seu momentum.
Desafiou o gestor interino do partido, aviou dois discursos inflamados e surpreendentemente ganhou o partido. Ou ganhou o que restava de um partido com vocação de poder que nunca teve jeito nem gosto pela oposição.
Desde esse infausto dia, isto parece uma montanha russa. O dr. Meneses parece uma bicha de rabiar. Dá estalos e estalinhos mas é tudo pólvora seca. O PS bem que lhe atira suculentas razões de combate, comete burrices semanais, mas nada! Nada desvia o dr Meneses da sua agenda própria. Onde se esperaria oposição, ouve-se confusão. Hoje uma coisa, amanhã outra, uma terceira três dias depois. Nem as minhas gatinhas que são novas e nem sempre percebem que não vale a pena andar atrás do próprio rabo, fariam melhor.
Consta que o engenheiro Sócrates já prometeu um milheiro de velas, de quilo, à Senhora de Fátima se o dr Meneses se mantiver galhardamente ao leme do PPD até às eleições. Alguém lhe terá dito que assim sendo até pode despedir definitivamente o poeta Manuel Alegre. E continuar a sua política de rigor (!!!) e de reformas (!!!) socialistas (!!!). Faça o que fizer ganha por falta de comparência de adversário.
Eu não choro pela má sorte do PPD. Eles é que cavaram a própria sepultura. Só que, em política, uma acção forte e interessante só pode ser levada a cabo sob o escrutínio e oposição de um adversário forte. E ao não o haver, resignamo-nos a dirigentes cada vez mais fracos. E ao um futuro cada vez mais deprimente. Por uma vez sem exemplo tenho alguma pena do dr. Pacheco Pereira. E de alguns dos seus pares. Não os quero para governantes mas também me dói vê-los tão desgovernados.

O leitor (im)penitente 35

d'oliveira, 29.02.08

Ao desbarato!

Como vou aqui deixando constância, volta e meia percorro os alfarrabistas à procura de um que outro título desses que já não se apanham nas livrarias. Foi assim que pouco a pouco comecei a fazer uma pequena biblioteca de temas coloniais, fundamentalmente livros sobre Moçambique, ex-colónia que conheço por ter lá estudado durante o finado segundo ciclo dos liceus.
Apesar de não fazer buscas sistemáticas, a verdade é que vou encontrando as coisas que quero, a pontos de ter praticamente completas algumas colecções cujo valor apenas advém do facto de serem relatos relativamente interessantes da “gesta” colonial. E se digo gesta entre aspas é apenas por duas razões. Primeiro porque, ressalvados os aspectos políticos e éticos da actividade colonizadora, resulta surpreendente a escassez de recursos com que foi realizada a ocupação dos territórios angolano e moçambicano. Em segundo lugar porque, os poderes coloniais da altura, exaltavam este género de acções, pouco interessando para o efeito se estamos perante os republicanos do Partido Democrático que influenciaram decisivamente os “Cadernos Coloniais” (ed. Cosmos) ou o recente Estado Novo que deu à estampa a “colecção Pelo império” (Secretariado Nacional da Propaganda, SNI e Junta de Investigações do Ultramar, sucessivamente).
Ao lado disto que já não é pouco tenho-me topado com centenas de referências de autores portugueses e estrangeiros. Ainda há dias houve um importantíssimo leilão onde as espécies “coloniais” atingiam quase três centenas de títulos. Informando-me melhor junto do livreiro alfarrabista, organizador do catálogo, vim a saber que esta era já a décima almoeda onde se ofereciam livros da ex-biblioteca do Comandante Ernesto Vilhena. Ou seja: de há anos a esta parte anda a ser vendida e desmantelada uma importantíssima colecção de livros sobre as colónias portuguesas, nomeadamente sobre a sua história entre 1800 e 1940!!!
Desconheço se as bibliotecas e arquivos nacionais têm acervos destes em quantidade suficiente para não acorrerem aos leilões. Desconheço se o governo que enche a boca com a nossa pregressa história alguma vez pôs a hipótese de constituir um fundo relevante de publicações sobre a história da expansão e da colonização.
Parece-me, porém, que todos deixam desaparecer em mãos privadas os elementos fundamentais e quiçá únicos de um saber pacientemente reunido.
Dir-me-ão que na Biblioteca Nacional já existem exemplares idênticos aos agora dispersos. Também era o que mais faltava. Do que duvido é que exista uma Biblioteca especificamente ultramarina onde eventualmente pudesse funcionar um centro de estudos da expansão e da colonização e onde se pudessem agrupar esta colecção ora dividida e eventualmente outras que por ai estejam constituídas e desapareçam do mesmo modo que esta.
Poder-se-á ainda argumentar que tudo isto é muito bonito mas que é caro. Nada mais longe da verdade. As espécies que desta vez foram vendidas apareciam todas com preços de base entre os 10 e os 20/25 euros. Ou seja que seria possível que antes de se pensar num leilão as colecções completas pudessem ser adquiridas por pouco mais de dois, três mil euros. Eu mesmo, sem pretender substituir-me ao Estado, sem ter os seus meios, tentei ainda comprar os livros que queria antes do leilão. E se bem me recordo, por cerca de duas dúzias não pagaria mais de 300 euros. Se tivesse chegado antes poderia mesmo ter feito um negócio ainda melhor. Infelizmente já só pude fazer ofertas para o leilão pelo que consegui muito poucos exemplares dado que fiz as licitações antecipadas.
Vivemos no país das possibilidades perdidas. Nem sequer tentamos salvaguardar o nosso património. Ou tentamos tarde e a más horas. Quando por mera sorte, se consegue apanhar uma obra de arte, uma colecção, um livro num leilão, os jornais embandeiram em arco. Se as pessoas soubessem que, normalmente, antes disso, o Estado foi requerido a comprar e se negou sequer a encarar a hipótese de o fazer tenho a impressão que cairia um ministério. Porque não é a primeira, a segunda, sequer a décima vez em que a pressão da opinião pública força os agentes do Estado a comprar (e a salvar para o Património Nacional) objectos que com um mínimo de atenção, de zelo e de diligência teriam custado muito menos.
Em Maio voltará a haver leilão de mais uma parte da ex-colecção do Comandante Ernesto Vilhena. Apostemos que mais uma vez aparecerão peças interessantíssimas para todos excepto para quem nos representa mal.

“UNS QUILÓMETROS DE AUTO-ESTRADA”

JSC, 29.02.08
“Uns Kms de auto-estrada” passou a ser a nova unidade de medida a utilizar sempre que se pretende conhecer o impacto financeiro de uma opção política.

A opção por uma nova orientação na política educativa, na saúde ou a reorganização do mapa judicial passam a ser medidos em Kms de auto-estrada. Quando um jornalista ou um adversário político questionar: E quanto é que isso custa? A reposta é: Uns quilómetros de auto-estrada.

Por exemplo, se alguém quiser saber quanto custa ao Orçamento de Estado proibir a publicidade na RTP, a resposta é: “uns quilómetros de auto-estrada”.

Depois, se algum mentecapto ou mal intencionado não perceber o sentido da coisa, avança-se com um conjunto de observações ou até se pode remeter para a leitura dos discursos do presidente de um outro país para concluir que, afinal, com essa medida, o Estado não gastará mais do que já gasta.

Ou seja, ficamos a saber que “uns quilómetros de auto-estrada”, enquanto unidade de medida das opções políticas, valem zero.

A falta de consenso

O meu olhar, 27.02.08
No post Na Acção Política: Quem Avalia Quem? O nosso amigo Mocho Atento fez o seguinte comentário: “…não é verdade que o Estado não esteja submetido ao Direito. Antes me parece mais correcto é dizer que não há Direito em Portugal!!! Ninguém se entende sobre quais as normas que estão em vigor (vejam-se as dúvidas e interpretações divergentes do direito aplicável a pedido de empréstimo da Câmara de Lisboa). Não havendo consenso quanto às regras, não é possível saber quais as condutas lícitas ou ilícitas. Tudo se transforma numa lotaria, numa lei do puro acaso, num resultado de fortuna ou azar!...”

Não podia estar mais de acordo. Não sendo da área, mas por diferentes decisões que têm vindo a público sobre os mais diversos casos, verifico que assim é.

Isto a propósito de mais um caso exemplar: as decisões sobre o pagamento das aulas de substituição. Pelo que ouvi o resultado neste momento é: Estado – 9 Professores – 6.
Quem ganhará? A confiança na Justiça deste país é que não ganha certamente.

Tenho saudades

J.M. Coutinho Ribeiro, 27.02.08
Lá venho eu estragar o que anda tão bem, para recordar que ainda não estou esquecido daquela proposta, de finais do ano passado, sobre o jantar-de-anho-assado-e-arroz-do-forno-no-Marco, no princípio do ano, pretexto de reunião de incursionistas, ou o contrário, não sei bem, nem interessa, coisa deliberada entre o JCP (homem da confraria do dito) e eu, numa noite, sei lá, estava um frio do caraças, foi na varanda de casa dele, isso sei, porque estavamos a fumar, ele charuto e eu miseráveis cigarros. Houve quem achasse que a ideia era boa e houve quem não dissesse nada. E ficámos assim. À espera. No entrementes (!), a Silvia invocou a distância, que se compreende, e a Kami - que nunca chegou a dizer se ia ou não - decidiu partir a perna e, tal como as talas, a conversa ficou em suspenso, mesmo não se sabendo se vinha ou não com o Jab, tudo isto enquanto eu tentava convencer o nosso compadre a ir (claro que ele usou todos os argumentos para não ir, até o facto de só gostar da cadela de caça que lá tem, quando se fala do Marco, mas eu acho que ainda podemos convencê-lo). Ponto final. Depois, veio aquele problema com o nosso LC, que eu não sei se queria ir, mas acho que devemos estar atentos à hipótese de ele querer ir, mesmo quando sabemos que ele não vai estar com essa disponibilidade nos tempos próximos (mas está melhor, que eu sei - um abraço!). E, aqui, chegamos ao ponto, até porque eu já desisti do restaurante da minha tia - onde não se pode fumar - e o JCP já andou a subornar o Nocas - que resolve a coisa. O mocho nunca disse nada, mas vai, que ele confirmou-me. JSC e meu olhar também acharam a ideia boa e MCR e d´Oliveira aussi - porquai pas? Vamos lá tratar do assunto, que eu ando com saudades das boas conversas.
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Pagar a Tempo e Horas

JSC, 26.02.08
A crise de tesouraria da CML teve o grande mérito de chamar a atenção do país para um problema crónico da administração pública central e local: O atraso no pagamento aos fornecedores do Estado, com a agravante do Estado exigir o pagamento atempado dos créditos sobre esses mesmos fornecedores, designadamente o IVA.

O atraso nos pagamentos tem sido, ano após ano, denunciada pelo Tribunal de Contas, que identifica o volume da dívida em atraso e credores. O prazo médio de pagamento do Estado aos seus fornecedores é 152 dias, enquanto que na Europa não chega aos 69 dias.

Muitos especialistas, incluindo ex-ministros das finanças, têm opinado sobre a matéria (que poderiam ter resolvido enquanto minitros). Eduardo Catroga, por exemplo, ainda recentemente defendia que o governo (apenas se referia ao central) deveria emitir dívida pública para pagar aos fornecedores. Ferreira Leite, ao defender, creio que ontem, que o Tribunal de Contas deve ser “olhado como um empecilho”, por não ter visado o processo da CML, no fundo, está a defender que a administração pública recorra à transformação da dívida de curto prazo em dívida bancária de outra natureza, para desse modo acudir à tesouraria.

O Governo acabou por ser sensível (e ainda bem) a este problema. Por isso aprovou o Programa Pagar a Tempo e Horas, que visa reduzir os prazos médios de pagamento para 40 dias!!!

Para tornar a medida eficaz, o Governo definiu metas e uma sanção para os dirigentes, que não atinjam o objectivo de redução do prazo de pagamento das dívidas de curto prazo.

O novo Programa Pagar a Tempo e Horas aplica-se, de igual modo, às autarquias que também passam a dispor de financiamento de médio e longo prazos, destinado ao pagamento de dívidas de curto prazo a fornecedores.

Esperemos que o Programa resulte e que o Estado passe a dar o exemplo no cumprimento das suas obrigações, contribuindo, assim, para o melhor desempenho das empresas e da economia.

Estes dias que passam 93

d'oliveira, 26.02.08

Tempos baços, gentes baças

Ao longo destes três anos escrevi aqui muita coisa sobre Portugal. A maior parte das vezes fui pessimista. Não que o seja, normalmente, mas apenas porque o que via e referia não era de molde a alegrar o mais estouvado dos optimistas.
Alguns dos meus escassos leitores criticaram (benevolamente mas criticaram) o que lhes parecia ser uma rabujice de estrangeirado. Curiosamente, sabendo disso ou não, repetiram argumentos ouvidos noutras épocas mas nestes mesmos lugares contra textos e críticas de portugueses bem melhores do que eu.
Há no “torrãozinho de açúcar” (a imagem é de Eça, diga-se en passant) a ideia firme que o progresso do país só não é visto por quem o não quer. Que as críticas são injustas, denotam falta de patriotismo e mera vontade de dizer mal.
Será assim?
Antes fosse, respondo, antes fosse. Mas não é! A mediocridade campeia, as elites no poder parecem esgotadas, dessangradas, mortiças, cadáveres adiados à espera de uma certidão de óbito que tarda.
A passividade perante os pequenos e os grandes escândalos já não surpreende ninguém, já não incomoda quase ninguém e é genericamente tolerada. Sirvamo-nos de pequenos exemplos, colhidos, sem esforço algum nos últimos dias.
Dezenas ou centenas de milhares de multas de trânsito caminham alegremente para a prescrição por não haver quem as trate. Extinguiram uma entidade e a nova que foi criada não tem gente, nem método, nem escola, nem tradição, nem conhecimento, nem rotinas que a consigam pôr em andamento. Dos antigos funcionários há umas largas dezenas que estão na calha para a “mobilidade especial” sendo o seu trabalho feito com recurso a contratados que não sabem nem podem saber como se processa uma multa. O Estado perde uns milhões, os trabalhadores perdem parte do salário, o incumprimento das regras de trânsito cresce porque os seus fautores sabem que não há quem os puna.
Uma triste criatura que secretariou ou subsecretariou um ministério é acusada de ter assinado no último dia (aliás noite) de funções um número gordo de despachos, trezentos, murmura-se aqui e ali.
Comentemos: Em primeiro lugar não vale a pena fingirmo-nos virgens ofendidas. É do conhecimento geral que nos últimos dias de um governo há um desusado movimento despachante. Ele é louvores, algumas contratações, enfim tentativas diversas de cobrir alguns colaboradores, deixando-os no quentinho de uma qualquer sinecura governamental.
Aqui o que surpreende é a quantidade. Ou melhor, o que surpreende não será tanto a quantidade mas a desfaçatez. Trezentos despachos avulsos! Arre que isto é chamar burro a qualquer cidadão. E já não falo do facto de a mãozinha despachante dever ter ficado derreada com tanta assinatura.
Juntemos a esta fartura aquela história do Casino de Lisboa. Desse casino que subitamente aparece defendido pelo ex-ministro Jorge Coelho que vem de espontâneo para a liça dizer que conhece e estima o director do Casino, que é uma pessoa de bem e retautau, bem-bem já está. O eminente Coelho poderia ter metido a viola no saco porquanto factos são factos. O Casino ganha ou não com o despacho de não reversibilidade das instalações para Estado? Se ganha, como tudo indica, é porque alguém pediu alguma coisa que dantes era impensável. Não foi o amigo do defensor Coelho? Então foi alguém por ele. Algum admirador secreto que achou que deveria premiar-se a patriótica actividade do Casino juntando-lhe mais esta benesse aos fartos ganhos que obtém com o vício alheio.
Um grupo de professores auto-mobilizou-se e foi de jornada até ao local de umas jornadas do PS sobre educação. O eminente Sócrates resolveu desta vez dizer em português técnico o que pensava da “arruaça”. E dos arruaceiros. Gente ao serviço de Moscovo, de Pequim, de Pyong-Yang ou de Alguidares de Baixo. Os “do costume”. Os anti-patriotas. Os malandrins. Os pedreiros livres (bem, pedreiros livres talvez não: ao fim e ao cabo eles abundam sobretudo nas fileiras do centrão), em suma os que são contra a “modernidade”, o “progresso”, as “reformas” e o exaltante socialismo dos senhores Silva e Silva ministros agora muito em foco.
Circulam neste abençoado “jardim à beira mar plantado” uns larguíssimos milhares de carros vendidos pelos anteriores donos mas nunca registados no nome do actual proprietário. O Estado resolveu fazer os primeiros pagarem o imposto que em boa verdade deveria ser da conta do actual proprietário. Alarme geral. Prevenido desse absurdo, o Estado não cedeu. O Automóvel Clube de Portugal, uma das poucas organizações que funciona decentemente neste bananal propõe aos ex-proprietários um expediente: mandar apreender a viatura. Isto às claras e às vistas do Estado inclemente que sabe que isto é um artifício.
A Câmara de Lisboa caiu nas malhas da legislação aprovada pelo seu actual presidente quando este era ministro. O Tribunal de Contas entendeu que o pedido de empréstimo que a CML propunha não estava dentro dos parâmetros legais. A CML protesta. E recruta de uma só vezada três constitucionalistas que, supõe-se, não trabalham para aquecer. À cautela, espero que eles se paguem à cabeça, toma lá parecer, chega-te aqui com o cacauzinho. Em cheque visado, se faz favor! Não, não é desconfiar, nada disso, é só por causa das moscas...
Não tenho dúvidas que os três sábios dirão que a CML está no resplendente caminho da Verdade e o TC atolado no pântano infeccioso da ignorância. Prevejo até que outras câmaras recorrerão aos mesmos (ou a outros) juristas logo que a lei as comece a incomodar. E o mesmo decerto poderá ocorrer na Madeira se o soba de lá entender que tem de responder aos continentais colonialistas.
Terminemos esta procissão dos passos com uma nota galhofeira: o dr Meneses, aclamado líder do maior partido da oposição, não sabe se assina ou não os acordos de regime que livremente estabeleceu. Ou melhor, hoje assina, amanhã não. Malmequer, bem-me-quer. E entretanto o seu respeitável partido vai ter de devolver uma respeitável maquia recebida à má fila de uma empresa qualquer. As empresas são generosas e atiram assim, sem mais nem menos, o seu dinheiro, à rua. Não se pense que isto era uma tentativa de corrupção. Era o que faltava. Todos sabemos que empresas e partidos odeiam essas más práticas e anseiam pelo bem público.

Uma boa notícia

ex Kamikaze, 26.02.08
Hoje, a Graça, esposa do nosso amigo Lemos Costa, leu o texto que há tempos a Liliana escreveu. Leu também os comentários. Perguntava-lhe, de vez em quando, se queria que continuasse a ler e o nosso amigo dizia que sim, com a cabeça. Ficou contente.
Suponho que gostaria que os seus amigos do Incursões soubessem disso e é por isso que venho dar esta notícia.
Vão lhe retirar o tubo da traqueia esta semana. Felizmente está a melhorar e o período mais difícil já passou.
Um abraço que, por certo, o L.C. gostaria que, em seu nome, desse a todos os que no Incursões se têm preocupado com a sua saúde.
escrito hoje pelo primo de Amarante-compadre Esteves, ali abaixo, em comentário

Na Acção Política: Quem Avalia Quem?

JSC, 24.02.08
Num comentário a um post anterior escrevi que concordo com o princípio de que “a má gestão deve ser avaliada pelo povo”. Contudo, um dos problemas que este princípio encerra é o de saber quem é que o povo avalia quando os responsáveis pela gestão já se foram embora.

Esta questão, da avaliação dos agentes políticos, não é nova nem exclusivamente portuguesa. Desde há muito que se discute este tema da avaliação dos políticos. Para os políticos, o mais normal, a regra, é entenderem que apenas devem ser avaliados pelo povo, isto é, pelos eleitores. São inúmeras as declarações de políticos, no activo, a defender esta tese. E o cidadão em geral até aceita, de bom grado, esta regra como natural. De facto, quando vota, está a julgar.

Sucede, porém, que apenas vota uma parcela da população. O resultado é que apenas um parte se dispõe a formular o seu juízo, isto é, a avaliar activamente a acção dos agentes políticos. Uma fatia considerável dos eleitores não votantes até pode fazer uma avaliação negativa e até pode ser esta a razão para a sua não participação. Ou seja, apenas uma parcela da população se dispõe a fazer a avaliação política pelo voto. Mais, essa avaliação, no actual sistema eleitoral, não visa a acção do político X ou Y, mas sim a do Partido, o que não é exactamente a mesma coisa. Acresce que o político X ou Y, aquando das eleições, até pode já não fazer parte da equipa que se candidata ou não estar entre os potenciais ministeriáveis.

Por outro lado, o eleitor activo, aquele que vota, raramente disporá de toda a informação para formular um juízo qualitativo acerca da gestão desenvolvida. Mais, o eleitor até pode ter sido induzido a fazer uma leitura deturpada das opções tomadas, quer na afectação de recursos, quer na captação de receita, uma vez que a informação que dispõe é a vinculada pelos gabinetes de marketing político, cada vez mais poderosos na moldagem da mensagem e na formatação da opinião pública.

Assim, em meu entender, o mero controlo da legalidade ou da apreciação formal dos procedimentos concursais, apesar de importante, porque garante a livre concorrência e o funcionamento do mercado, nada acrescenta no que respeita à avaliação da gestão, na perspectiva da sua eficácia e eficiência.

A solução, que melhor pode credibilizar o sistema democrático, é manter um modelo que submeta a gestão pública ao controlo externo, que deve assumir um tríplice sentido: controlo da legalidade; controlo económico, na perspectiva de confrontar os resultados com os meios; controlo da oportunidade das opções e das escolhas públicas face aos recursos disponíveis e ao fim em vista.

Este controlo global só pode ser assumido pelo Tribunal de Contas ou por outra entidade independente do governo e dos lóbis da consultadoria.

Diário Político 78

mcr, 23.02.08
sur mes cahiers d'écolier
Normalmente quem escreve num blog, começa por escrever o texto fora, corrige-o e depois publica-o. Evitam-se repetições, erros, enfim as habituais tropelias da escrita rápida. Todavia, hoje este texto sai directo para o blog, sem rede, em sobressalto, indignado, como se deve.
Passam seis anos, cerca dois mil e duzentos dias, e duas mil e duzentas noites, que Ingrid Betencourt está prisioneira das FARC. Da auto proclamada Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Este grupo criminoso que resiste no interior da selva colombiana vive de expedientes, todos eles infamíssimos. Da lavoura, produção e comercialização da droga, dos resgates dos raptos, da exploração impiedosa dos pobres camponeses que vivem na sua zona de influência. Tudo isto à sombra de uma "revolução popular" que já custou dezenas de milhares de mortos e que nunca, antes pelo contrário, venceu a direita colombiana, que também dispõe dos eus gangsters, nem sequer melhorou um milímetro que fosse a vida de um único colombiano. Minto: se alguém vive bem, coisa de que mesmo assim duvido, serão os chefes da guerrilha e os seus apaniguados escondidos nas cidades com o fito de indicar à tropa "revolucionária" alvos para raptos que dêm chorudos resgates.
Ingrid Betencourt tem contra ela o facto de ter sido candidata à presidencia da república, de ser mulher, de ter ligações com o estrangeiro onde oseu rapto concedeu ao bando criminoso uma aura imerecida.
Estou farto de protestar, abaixo-assinar textos em que se reclama às FARC (como se elas fossem dignas de receber uma carta de uma pessoa honrada, de esquerda e com algum pequeno passado de resistência).
Estou farto de assistir ao vergonhoso espectáculo dado pelos resquícios políticos de partidos que se auto-intulam de esquerda e que convidam as FARC, fazem a sua apologia, distribuem os seus comunicados e se babam à simples menção do nome do seu chefe, um ex-padre conhecido por "Tiro fijo".
Estou farto de ver que ninguém condena esta gentuça que, do conforto da vidinha num país democrático, apoia freneticamente os gangsters da selva colombiana.
É preciso começar a considerar estes canalhas como cumplices objectivos das FARC, do mercado da droga, dos raptos por dinheiro, dos assassinatos, da exploração selvagem dos camponeses colombianaos.
Estou farto dos políticos que apoiam os apoiantes das FARC e só lamento que por um pequeno momento algum filho, neto ou familiar não seja vítima dos métodos revolucionários que fazem fremir as carnes pecadoras destes cavalheiros bem educados e ocidentais. Reparem que disse por um pequeno momento. Porque isso talvez bastasse para os dissuadir do apoio aos criminosos, aos seus amigos e cúmplices. Talvez isolasse um pouco os gangsters, talvez os fizesse compreender o que está em causa.
E o que está em causa é apenas a dignidade do homem, os direitos humanos, a liberdade. São apenas palavras, sei-o bem mas de vez em quando há que usá-las. Para nos lembrarmos de quem somos, do que somos, do que fomos e do que, com dificuldade e alguma melancolia, quisemos quando nos juntávamos sob o signo amável e generoso da revolução.
sur l'absence sans désir...
sur le risque disparu...
sur l'espoir sans souvenir...
j'ecrits ton nom...
liberté

Vosso, como sempre
d'Oliveira

títlo e versos finais recolhidos de um poema de Paul Éluard

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