Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au Bonheur des Dames 141

d'oliveira, 30.09.08

Fado descosido (adenda a Au bonheur des Dames 140)


Foi penoso ver a prestação da senhora vereadora Ana Sara Brito. Tive vergonha por ela. E pelo senhor Presidente da Câmara, ali ao lado, a apoiar o que não pode ser apoiado.
Ora vejamos.
1 A senhora vereadora exerce funções autárquicas, há um pancadão de anos.
2 Foi durante o exercício dessa função que alugou à Câmara de que era vereadora (e não interessa o pelouro, porque a Vereação é o governo da Câmara) o apartamento de que, inocentemente,
3 se desfez quando passou a tutelar directamente a específica área da acção social.
Tudo isto foi dito na televisão e transcrito no jornal.
4 A senhora vereadora insiste em que a casa não era “habitação social” pelo que
entende que havia entre ela e a CML um normal contrato de arrendamento que
5 só começa a ser irregular quando (sic) ela toma conta da área de tutela da acção social e corria o risco de começar a ser senhoria e inquilina ao mesmo tempo.
Presumindo que a senhora vereadora é uma mulher inteligente, conviria perguntar qual é o entendimento que tem da função de vereadora. Se não sabe que esse cargo não a torna de per si senhoria mas apenas, porque membro da vereação, um dos elementos do colectivo camarário e, como tal, do senhorio da casa que ocupa. Ou por outras palavras para ela perceber: a vereação é a representante da Câmara que é obviamente a senhoria da casa.
Portanto se, como julgo, a senhora vereadora é uma mulher inteligente, fez muito mal em tentar tapar o sol com uma peneira e pensar que somos todos burros. Não somos, senhora vereadora, não somos. Vª Exª meteu os mimosos pés pelas mãozinhas. Está a vender-nos gato por lebre.
Ou então não tem cabecinha e a gente perdoa-lhe mas pergunta-se o que faz uma criatura descerebrada na vereação da principal cidade do país.
A senhora vereadora, do alto da sua alegada e proclamada inocência jura que se não demite. É pena! Ficava-lhe bem. Tem de ser demitida por quem de direito, porque fez o que não podia fazer e ainda não percebeu.
E aqui entra o jurista dr. António Costa. Entra como Presidente da Câmara e como jurista, diga-se. Devia, em vez de estar calado (na parte em que vi), corrigir a inocente colega de vereação e partido e explicar-lhe esse facto irrisório que é o de ela enquanto vereadora ser senhoria, enfim representante do senhorio.
Fez-me pena ver o dr. Costa ali. Eu sei que fica bem ser leal. Acompanhar os camaradas nos bons e maus momentos. Mas, há sempre um mas, isso não pode ajudar à festa de enganos que a argumentação da senhora vereadora teceu.
Nem explica como é que a casa lhe foi parar às mãos, quanto começou por pagar (estes cento e quarenta e tal euros terão começado por ser muito menos, até nem deve ser difícil fazer as contas para trás bastará ir aos índices de aumento de rendas anuais para achar o primitivo quantitativo). E poderá dizer-se agora que os vinte e tal contos actuais seriam há vinte anos um preço mais ou menos normal para um apartamento na rua do Salitre. Só que há vinte anos se calhar a renda paga era cinco vezes mais baixa!.... Ou seja: um achado, um milagre, ou pior um favor estranho.
Ontem disse aqui que tinha consideração pela senhora vereadora. Mal a conhecia mas as circunstâncias em que a vi e ouvi, uma vez, há anos, tornaram-ma simpática. A partir desta conferencia de imprensa as coisas mudam. Não gosto de ser tratado como um pateta nem gosto de pessoas que atiram areia aos olhos dos outros. Verifico que a senhora vereadora (se ainda o é) não gosta de perder nem a feijões. É com ela. E com o partido que a mantiver.
Por menos, muito menos, está o dr Santana dos violinos de Chopin no banco dos réus. Deve estar a divertir-se à grande com este inesperado trunfo que uma vereadora do PS lhe oferece. De bandeja.

Nota que não tem a ver com isto: a senhora vereadora até poderia ser utente de uma casa classificada como habitação social. Os pobres também podem ser vereadores. O que a ela lhe falta (ou lhe sobra) é rendimentos condizentes. Os jornais falam numa reforma de três mil trezentos e tal euros. Para que se saiba: a reforma de um assessor principal no último escalão da função publica (e os AP são os mais altos funcionários da carreira) com o tempo de serviço completo é inferior. Muito inferior.

* a gravura representa 0 terramoto de Lisboa e foi pilhada num blog dum mestre do Técnico chamado Pisco. 'brigadinhos!


Au Bonheur des Dames 140

d'oliveira, 29.09.08

É uma casa portuguesa, com certeza...

Eu andei a fugir deste tema como o Demo da Cruz. É que, leitoras gentis e pacientes, eu faço parte dum pequeno clube, o clube dos camelos com três bossas de que foi fundador e presidente perpétuo o Rui Feijó e secretario geral o que abaixo se assina. Para ser membro do clube apenas era preciso ser português, ter vergonha na cara e acreditar que há limites que não se ultrapassam.
Os sócios não abunda(va)m, como calcularão. E com a morte do Rui, o clube periclita mas mantêm-se.
Portanto, eu a fugir de falar das casinhas lisboetas, acreditando que grande parte dos beneficiários viria dizer das suas razões, entregar as casas, desculpem lá qualquer coisinha, mas nada. Raspas de nada!
Ora pratiquemos: a Câmara de Lisboa, ao longo os últimos trinta anos (ou mais...) foi recebendo andares, apartamentos de diversos tamanhos nos mais diferentes locais da cidade. As notícias avançam que há 3.200 habitações nestas condições. Pelo menos!
Ou seja Lisboa, melhor dizendo a sua autocrática Câmara, teve ao seu dispor 3200 chaves para premiar, oferecer, recusar, emprestar, barganhar, uns milhares de cidadãos escolhidos a esmo entre conhecidos, edis, artistas, motoristas, desgraçadinhos, protegidos, coristas, arrivistas e eleitores. Três mil e duzentos “chefes de família”. Eleitores como já se disse. Beneficiados sem um motivo claro, dentre o montão de postulantes.
E quem é que dava o bodo aos pobres? Pois a vereadora da habitação sendo certo que o senhor presidente da Câmara saberia disso ou pelo menos não desconheceria a prática. Prática que vem de longe como a fama do brandy Constantino.
Não estamos a falar dos bairros sociais onde (Camelo de 3 bossas), julgo, haverá regras mais conformes com o Direito e a Justiça. Estamos a falar de “um património disperso”, proveniente de contra-partidas entregues à CML (e porventura a mais câmaras no país...) sobre o qual não há controle de qualquer espécie. Aliás não se sabe exactamente quantas habitações existem, onde estão localizadas, quem as usa (e abusa), quanto valem no mercado, quanto rendem, em que estado de conservação estão. O relatório onde esses dados constam não foi entregue à CML porque esta não o pagou!!!
Eu sou proprietário em Lisboa. Com a minha excelente Mãe e o meu não menos excelente irmão. Temos a (des)dita de ser donos de três prédios em bom estado, nos quais apesar das rendas miseráveis que recebemos sempre fizemos obras, mesmo quando a CML não o impôs. É que, camelos com três bossas (desculpa lá Mãe, desculpa lá irmão) sempre entendemos que devíamos algum respeito à cidade, aos inquilinos e a nós próprios.
Não vos conto quanto custa a mais simples obra, os malditos andaimes, o inferno burocrático a percorrer para obter a mais simples licença, os amargos de boca, a insolência de certos serviços, o ar condescendente com que nos recebem como se também nos fossemos pedir uma casinha à Câmara. Poderia, todavia, dizer que estas obras úteis, necessárias ou imperiosas se têm feito e pago com receitas provenientes de vendas de andares como facilmente deduzirão.
Pagamos, contrariados mas na hora certa, os impostos municipais, as taxas, as derramas e tudo o mais que “eles” inventam para fazer os “ricos” pagar a crise.
E agora vem esta gentuça, edis, serviços, beneficiados, dizer com ar de perfeita tranquilidade e insuspeita inocência que faziam o que faziam, davam o que davam, compravam o que compravam, corrompiam o que corrompiam, porque era costume, porque se fazia desde sempre, porque sei lá o quê.
Pergunta inocente: nunca ninguém ganhou algo por baixo da mesa? Nunca um desses inquilinos miraculados pagou uma gorjeta a quem tão simplesmente lhe atribuiu o andar assim, sem mais?
Deixemos este ponto, pouco atraente, e passemos a um seguinte. Pelos vistos até uma (só uma?) senhora vereadora (já não falo de uma citada Directora de Segurança Social de Lisboa cujo ordenado é de sub-director geral !...) viveu tranquilamente 20 anos num apartamento destes. Dizia-se que iria falar. Falou? Quando? Eu bem sei que a dita senhora (da qual aliás tinha excelente opinião...) foi para a casinha generosamente camarária antes de ocupar o lugar político que ocupa mas, e está aqui o busílis, tem desde há muitos anos actividade política relevante no PS. E isto não lhe chegava para ser mais prudente?
Mas deixemos isso. Que faz a CML entretanto? Ao que leio, vão estudar o problema e fazer um regulamento. Há um, feito há dois anos mas nunca foi aprovado. Pudera! Aprovar o papelucho ia, quand-même, meter alguma ordem na desordem, na rebaldaria. A solução foi deixar a aprovação lá mais para o Verão, para as calendas gregas, digo lisboetas. Agora não: agora vão estudar e decidir. No meio desta frenética actividade, haverá um par de criaturas que, a bem ou pressionadas, largarão as casinhas e irão acolher-se sabe-se lá a que novo artificio residencial. O resto ver-se-á. E já se fala de direitos adquiridos. Ao fim e ao cabo daqui a dez anos estará tudo em águas de bacalhau. Mas o escândalo estará enterrado sob uma nova camada de esquecimento e de outros escândalos.
Finalizemos: as leitoras sabem que nutro pelo dr Santana Lopes o mesmo carinho com que recordo a primeira indigestão que tive. Da senhora vereadora Lopes da Costa nem isso. Nunca a vi e não estou com especial vontade de a ver. Mas vê-los a eles no banco dos réus por fazerem o que todos, repito, todos os outros fizeram, incomoda-me. Estão na mó de baixo, são da oposição, Santana é (para desgraça dos lisboetas) potencial candidato à Câmara, portanto há que lixá-lo. Alguém me diz que uma coisa é a política e outra o poder judicial. Claro! Será mesmo? Então os senhores acusadores não descortinam no meio de tanto caso ultimamente contado pelos jornais outros presumíveis réus? E não acham extraordinário o absurdo número de beneficiados, a sua posição social, a sua influencia na sociedade? Não lhes ocorre perguntar se eles mesmos não terão culpas no cartório? Não haverá quem queira saber de que meios se serviram estes felizes usuários do direito à habitação para pagar em média 35 euros mês?

Por outras palavras: ninguém cora ao saber desta história? Aceitam-se apostas.

ASSIM NÃO!

JSC, 29.09.08
No Sábado passado decorreu a jornada de protesto contra os preços dos combustíveis desencadeada pela DECO. Esta iniciativa contou com a adesão de outras Associações.

Quem não aderiu muito foram os automobilistas. Também não era de contar com uma adesão muito significativa. O povão protesta, protesta, mas na hora de poder materializar o seu protesto, lá se esquece das razões e... resvala. É a vida!

Esta fraca adesão levou a que um representante (?) das empresas petrolíferas concluísse, via televisão, que os portugueses estão satisfeitos com a evolução dos preços e que confiam na autoridade reguladora e nas empresas que estabelecem os preços.

Admito que esta conclusão seja um tanto ou quanto forçada. A verdade é que ninguém, incluindo a DECO, apareceu a refutar tão aligeirada conclusão.

Uma vez que o preço do petróleo teve hoje a maior queda, em quatro anos, fico na expectativa para ver com vão reagir a entidade reguladora e as empresas petrolíferas.

Subtilezas

JSC, 29.09.08
A notícia diz que Jardim foi condenado pelo Tribunal Judicial do Funchal a pagar uma indemnização de 20 mil euros a Edite Estrela.

Por sua vez, Jardim diz que recorreu da “decisão de um Tribunal da República na cidade do Funchal”.

Disputa Partidária

JSC, 29.09.08
As legislativas estão de volta. O que faria sentido era que se ouvisse falar de opções, projectos para o país. Não seria pedir muito se os directórios partidários avançassem com uma ideia para o país alcançar no espaço de uma a duas décadas. Uma ideia que mobilizasse os diferentes sectores da sociedade. E que as pessoas a candidatar e a própria campanha eleitoral alimentasse o debate em volta de ideias e objectivos a médio/longo prazo, apresentadas por cada um dos partidos para o país.

As noticias que vão saindo mostram a tricas do costume, os alinhamentos, as escolhas que resultarão mais de quem domina e controla a perfídia das máquinas partidárias do que de qualquer debate de ideias. Esta notícia refere-se às movimentações no PS. O mesmo se passará no PSD. No PCP e no Bloco as coisas não se distinguirão muito e as mesmas gentes aparecerão nos lugares do costume. O CDS é o PP e basta-se.

A conclusão a tirar, plagiando alguns pensadores liberais, é que é preferível uma má democracia a não ter democracia nenhuma. Portanto, podemos estar todos tranquilos, o sistema vai manter-se e replicar o mesmo modelo de funcionamento. Assim o indicia a profundidade das ideias em debate no interior dos aparelhos partidários, a julgar pelo que transparece para a comunicação social.

voz alheia 4

Incursões, 27.09.08


Eu sei que havia um bote no mar, o mar cheio de água, a água cheia de sal, eu sei, vi a perna baloiçar por sobre a transparência veloz do bote-barco, um semi-rígido com muitos cavalos, era a perna e o colete, era o riso esvoaçando nas alturas impróprias da hora em que os peixes almoçavam e queriam sossego, era isso e mais o limo no fundo do lago, o lago de mar aberto, saindo pela fissura de um canal de areias serenas. Havia o homem inteiro e azul e a mulher semi menina dois quatros de velha e meia pessoa era um ser periliquitante, parecia uma folha, saída de uma primavera. __ Mas espera, não era bem assim, era um tipo e uma miúda, calhou definirem a mesma ilha para se encontrarem, calhou dessa maneira pela razão coincidente de amarem com o mesmo ouvido, a força das ondas batendo no seu coração. Quase assim, estavam mais por ali sentados, cada um na sua ponta de areia, um com headphones a outra mergulhada numa revista, cada um com o seu silêncio fermentado de barulhos sonolentos, assim veio o skipper, assim ofereceu boleia, que venham dizia ele, que venham conhecer o outro lado da ilha, tem muitas terras, muita natureza, tem pescadores buscando peixe com o anzol, tem cabanas de caniço com TV a cores, venham, mostro-vos como as nossas mulheres organizam os filhos na beira do lago, e como o mar, o mar, canta músicas que batucam no centro de uma pessoa para nunca mais sair. Extasiados, levantaram-se e seguiram o senhor do bote, um meio barco valente que enfrentava o morno do sol sem calamidades, vestiram os coletes que não salvam a vida de ninguém, nem protegem o coração de arder pela magia de um bruxo simpático, ele aguentou-se de pé expectante, ela mais matéria de água, montou o bote como quem monta um cavalo marinho, sorriu, a cabeça enrolada numa onda de alívios insuspeitos. O pássaro súbito, cortou a nuvem e mergulhou no pé da moça, beijou um limo verde, falhou de apanhar um peixe, a moça, tocou-lhe com uma asa, mal abriu de regresso ao espaço. - Há coisas, que molham a alma, levam um homem a virar uma lavadeira, segurar o seu coração pela gola, batê-lo na pedra do rio e espremê-lo. É preciso um homem ter um cão que lhe guarde, garanta ao coração que pode ganir, se cair molhar no bico de um pássaro, se cair molhar nos pés de uma mulher. Pudessem os cães cheirar anjos de prata, pudessem luas enfeitiçar-se de lobos morenos, pudesse um homem ter o coração de um samurai. - Foi isso, o que aconteceu. Ela cimentou o homem por causa do pássaro.

Vanessa de Oliveira Godinho

O leitor (im)penitente 39

d'oliveira, 27.09.08
Olá Vanessa! Olá Djick!

Ora escutem que isto é uma fervurinha. In illo tempore, pelas coimbras de lavados ares, conheci um cabo-verdiano, aliás conheci um pancadão deles mas este é que interessa, que tocava viola como um serafim, se é que os serafins tocam mais instrumentos do que os preceituados numa Bíblia que esqueci depressa.
Anos mais tarde, muitos anos, há que dize-lo, reencontrei o Djick (havia de escrever Dick mas quis grafar a pronúncia do nome ou alcunha com que o brindavam) em casa da minha prima Lena. O motivo era simples: uma filha do Djick casava-se em breve com um filho de outra prima minha, o Ricardo.
Jantámos bem, que a Lena não deixa os seus créditos em mãos alheias, falámos um par de horas e até hoje. O Djick já é avô, e eu tenho um primo filho e neto de primos que nunca vi. Como nunca vi a mãe, a Vanessa, mulher do Ricardo.
E a que vem isto tudo?, perguntará a leitora gentil. Pois vem por que, hoje, outra prima (arre que o gajo está afogado em primas…, reponta o do costume. Estou sim senhor, replico. da primeira geração, das chamadas primas direitas, são dez e com as filhas já vai num quarteirão.), a já aquí mencionada Maria Manuel, me mandou um texto da Vanessa. O texto está aí a seguir e é, a meus olhos, excelente. Rapinei-o de uma coisa chamada PNET (literatura) esperando que seja boa gente e não me venham pedir contas.
Leiam a Vanessa (Vanessa de Oliveira Godinho) e digam-me lá se não é um regalo.
Um abraço, Djick! Um beijo, Vanessa!




Au Bonheur des Dames 139

d'oliveira, 26.09.08

Lá está ele, outra vez”, rosnará um leitor façanhudo e neo-con. Estes gajos não têm emenda, retorquirá um coleguinha transferido da esquerda pura e dura para o aprazível prado onde as ovelhinhas de Deus e do capital engordam com a erva tenra que somos todos nós.
Ora pratiquemos, irmãs e irmãos:
Então não é que a Washington Mutual faliu? É mesmo a maior falência alguma vez registada nos States, ao que me diz um noticiário francês e manhoso. Os franceses mesmo com o Sarkozy são assim: quando podem, toma lá que já bebes! Está-lhes na massa do sangue um certo anti-americanismo, primário, secundário ou universitário...
Mas a verdade é que a Washington Mutual foi pelo cano. Era apenas a maior das empresas do ramo. Lá ficam a arder mais umas centenas de milhares de palermas que pensaram que aquela gente era séria, que os seus bens estavam a salvo. Então não haviam de estar? Com aqueles golden boys pagos a peso de oiro para administrar honrada e eficientemente o dinheiro à sua guarda, quem é que iria desconfiar?
São uns malandros, ululam uns republicanos despeitados. Agora que com a senhora Palin aquilo ia tão bem e há uns desavergonhados que estragam o arranjinho...
Os republicanos acreditam que Eva nasceu duma costela de Adão, que God is on our side, que o mercado se auto-regula que um homem americano é ainda mais homem se tiver em casa pelo menos um colt 38. E é por isso que esta tromba de água financeira tem, por força, de ser obra
a) dos comunistas;
b) do diabo;
c) de um bando de patifes, eventualmente democratas;
Os leitores escolherão a hipótese que mais lhes convier e, nunca, mas nunca, avançarão com hipóteses conservadoras (ora toma lá!) como a de que é forçoso regular o mercado ou nem todo o capitalismo é bom e natural.
Longe de mim, aproveitar o momento para disparatar com bolchevismos despropositados. O bolchevismo, que o diabo o guarde, nunca foi chão que desse uvas e, pela parte que me toca, nunca teve o meu favor. Todavia, há neste vasto mundo, mais opções do que estas duas aberrações a do liberalismo a todo o transe e a do comunismo. Claro que foram sempre minoritárias, que sofreram os tratos de polé que intelectuais ávidos de sangue ou banqueiros vorazes sempre lhes dispensaram.
Portanto, limitemo-nos a este facto, mesquinho mas facto: a WM foi à vida e hoje podia ver-se em Wall Street uma multidão enraivecida pedindo o seu dinheiro de volta ou, na falta dele, a cabeça de uns quantos sevandijas estrafalários que usaram e abusaram dos fundos à sua guarda e da boa fé dos depositantes.
E não serviu de nada a reunião entre Bush e os candidatos à Casa Branca porque um não podia dizer o que lhe ia na alma e o outro não estava para perder credibilidade embandeirando na proposta presidencial que, em boas contas, se resume, em ser o público que já foi lixado, a pagar os prejuízos. Ou a pagá-los assim, a secas, sem daí tirar consequências para o futuro, apurar responsabilidades, criar mecanismos idóneos de defesa.
Eu sou um empedernido amador de jazz, de policial americano, de literatura americana, de westerns e de mais algumas coisas que por lá se criaram. A falar verdade só não gosto de coca-cola, de hamburguers e daquele frango falsificado que agora servem nos KFC. O resto marcha tudo: A Marilyn Monroe, o Hemingway, o Pinchon, o Faulkner, o Pound (até o Pound!...) a Playboy e o suplemento literário do NYT. Até sou um pequeníssimo mecenas do Metropolitan Museum, vejam lá. Com as quotas em dia! Gosto da América, do sonho americano, da ideia de fronteira, dos grandes espaços e da Declaração de Direitos. Tenho um pequeno grupo de amigos americanos recrutados na aventura do direito comparado, em Berlin, nos bons tempos da colaboração entre a Secretaria de Estado da Cultura e a embaixada americana e, mais tarde numa prolongada estadia na Baviera.
É a pensar neles que escrevo estas linhas: gostaria de lhes dizer que estou solidário, criticamente solidário e que não liguem às parvoejadas que figuras públicas e semi-públicas portuguesas andam por aqui a debitar. Desde governantes acéfalos até cocottes da inteligentsia indígena tudo murmura que tudo vai bem. Não vai. Isto ainda agora começou. Vamos pagar, ai isso vamos, mesmo que a inanidade das nossas instituições financeiras, por pequenas e mesquinhas, as faça passar sem grande provação, a borrasca.
Algo tem de mudar, como diz Obama. Dêem uma oportunidade ao homem que com Mc Cain será apenas mais do mesmo.

* a gravura foi pilhada na internet a um blog cujo nome perdi. 'brigadinhos...

Missanga a pataco 59

d'oliveira, 24.09.08

Ao que consta o FBI vai investigar cerca de cinquenta empresas bancárias e para bancárias americanas. Entre elas todas as que estão na origem da debacle financeira.
Afinal não parece ser assim tão difícil criminalizar o procedimento das Merryl Linch, Freddie Mac ou Fanny Mae.
Para que conste: o principal administrador do Lehman brothers ganhaou 40 milhões de dólares e saiu com um prémio de 13. O da AIG recebeu 68 milhões e o cavalheiro da Merryl Linch 60!
Imaginem o que eles não receberiam se não tivessem levado as respectivas empresas à falência.

Sábado: GasoliNÃO

JSC, 24.09.08
É sabido que sempre que o crude aumentava a empresas faziam repercutir, de imediato, o efeito no respectivo preço de venda aos consumidores. Em dada altura um senhor até veio explicar que isso resultava da aplicação de uma fórmula matemática.

É sabido que durante semanas o preço do crude desceu, fortemente, nos mercados internacionais sem que a tal fórmula actuasse. Os consumidores continuavam a pagar os combustíveis ao mesmo preço, o que só poderia significar ganhos acrescidos para as petrolíferas.

Em consequência da reacção de diversas entidades, incluindo a DECO, a empresas estão, finalmente, a baixar os preços. Contudo, ainda estão longe de os ajustar em função da descida do crude nas últimas semanas.

É por isso que a reivindicação faz sentido. E mesmo que isso apenas seja uma acção simbólica, ainda assim faz sentido que expressemos o desagrado face às petrolíferas e face a uma entidade reguladora que apenas actua ou diz que vai actuar quando sente que o barulho desceu à rua.

Pág. 1/4