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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Apito Dourado e Apito Final Para o Arquivo Morto

JSC, 31.01.09
O Tribunal Constitucional acabou com as dúvidas (se é que as havia). As escutas telefónicas foram consideradas ilegais, logo as conversas que se ouviram não servem para provar os factos que as mesmas versaram. Os caminhos da Justiça são assim: difíceis e quase tão ininteligíveis (para o comum dos mortais) como os desígnios de Deus.

E agora? O que é que acontece às pessoas que já sofreram castigos? E os clubes ou SAD.s que foram penalizadas? E o Boavista que foi mandado para a divisão secundária e com isso, segundo dizem, corre o risco de desaparecer?

E agora? O que é que acontece às pessoas que andaram a investigar erroneamente? Não deve ser fácil motivar alguém a trabalhar para o arquivo morto.

Agora, bem, agora, sempre se poderá dizer, que tudo acabou como o previsto. Ao menos isso.

A Lei do Divórcio no Congresso da CNIS

JSC, 31.01.09
A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) está a realizar, em Fátima, o seu IV Congresso Nacional. A CNIS, segundo o Público de ontem, é formada por cerca de 2.600 entidades de solidariedade, emprega 200 mil pessoas e representa 4,3% do PIB.

A expressão dos números mostra que a CNIS é uma potente força social, com grande poder económico e um apetitoso campo para o exercício da influência política.

A liderança da CNIS é disputada por dois Padres, que encabeçam as respectivas listas directivas. De um lado, o Padre Lino Maia, do Porto, que assume a continuidade. Do outro, o Padre Carlos Gonçalves, de Sintra, que pretende que a CNIS actue mais “como serviço e não como um poder” e qualifica a direcção do Padre Maia de “entidade extraterrestre”.


O Congresso da CNIS foi aberto pelo Presidente da República e parece que só por isso é que teve alguma referência na comunicação social, apesar de envolver muita gente, forte representação do poder civil e religioso e outros significativos meios. Ou seja, este Congresso terá mais impacto, directo e indirecto, sobre a vida de centenas de milhar de pessoas do que outros que se realizaram recentemente e que tiveram honras de abertura dos noticiários, hora a hora.

Não fosse Cavaco Silva ter aproveitado aquela plateia, muito especial, para falar na Lei do Divórcio e, certamente, o Congresso passaria mais ou menos desapercebido. Confesso o meu espanto pela relação que o Presidente estabeleceu entre a nova Lei do Divórcio e o incremento de novos pobres. A lei do divórcio pode não ser uma grande e ponderada lei. Pode não ser a reforma mais urgente que o país estava à espera, mas daí a responsabilizar aquela lei pelo incremento de novos pobres, parece-me um exagero, que nem a especificidade da plateia consegue justificar.

Estes dias que passam 141

d'oliveira, 30.01.09

As burkas nunca são grátis

 

Anda toda a bem-pensancia indignada com o cardeal patriarca. Parece que o prelado no contexto de uma conversa sobre diferenças entre credos religiosos se atreveu a prevenir as jovens católicas contra os casamentos com muçulmanos.
Ai Jesus o que o homem disse! Ofendeu as outras religiões, mormente a muçulmana. Eu que não sou católico, cristão, sequer crente, lá vou ter de fazer de cardeal diabo e defender o purpurado. Porque ele está carregado de razão. Não no toca à defesa da fé ou à tentativa de não perder ovelhas, por mim pode perdê-las todas, diga-se de passagem.
O que o cardeal disse, e qualquer pessoa dotada do sentido da visão e capaz de ler percebe, é que uma jovem portuguesa ao casar com um muçulmano arrisca bastante. Por cá, se cá permanecer, bem podem ir as coisas. Mas suponha-se, por um momento, que o referido muçulmano regressa ao pais de origem. Claro que nem todos os Estados onde o Islão impera são idênticos à Arábia Saudita, ao Afeganistão, ao Irão ou ao Yémen. No Iraque, por exemplo, antes da desastrada invasão americana, as mulheres gozavam de relativa liberdade (inferior todavia à das mulheres indonésias). Com a guerra começou a ganhar terreno o chiismo que, aqui para nós, não é pêra doce para o segundo sexo. O mesmo se diga de boa parte das regiões curdas por muito revolucionários que os guerrilheiros pareçam. Digamos que na grande maioria dos Estados árabes ou muçulmanos a charia, o tchador a burka e toda a restante parafernália anti-feminina são de regra. Direito de voto, vai no Batalha. Restantes direitos, idem, aspas. A capitis deminutio que atinge a gens femenina é de regra e não há indícios de se poderem esperar grandes mudanças para breve. O mesmo, de resto, sucede com a cristã que se casa com um judeu integrista: está feita ao bife e pode, desde logo e como amostra ,habituar-se a caminhar atrás do seu amo e senhor. Três passos o que até não é muito e talvez sirva para a senhora poder aproveitar a sombra do marido omnipotente.
Dirão que estou a ser injusto para com as outras religiões do livro mas nem isso. Estou a dizer evidências que só a parvoeira multicultural persiste em ocultar. Mas passemos a África e aos seus territórios muçulmanos. Alguém me dizia que pelo menos aí não haveria excisão clitoridiana. Engano, caro leitor: há. Se é feita em nome de Alah ou como mero sinal da aculturação do islamismo a um velho fundo africano, não sei. Mas que a excisão é uma prática comum e generalizada na África muçulmana disso não há dúvidas. Como a lapidação das adúlteras. Das adúlteras, digo, não dos adúlteros.
Qualquer pessoa que se dê ao inocente trabalho de folhear jornais franceses conhece as centenas de casos em que pais muçulmanos levam os filhos fruto de casamentos inter-religiosos, para o pais de origem, mormente o Magrebe, deixando as esposas ocidentais a chorar baba e ranho para tentar rever os filhos.
Eu não tenho a certeza se foi esta a situação que Sª Eminência quis prevenir. Eventualmente, ele, representante de uma igreja que raramente resiste ao velho espírito de cruzada, terá tentado evitar a defecção das suas ovelhas. Na impossibilidade de criticar as “seitas” evangélicas que pululam por aí e que vão roubando com êxito crescente a freguesia, o senhor cardeal resolveu disparar contra o mais óbvio. E acertou, custa-me dizê-lo. Uma coisa são os muçulmanos ocidentalizados, vivendo no Ocidente e outra a imensa maioria do Islão. E convém lembrar que quando se nasce muçulmano não há apostasia que resista ou que seja aceite. Salman Rushdie que vos diga.
Traduzi, nos últimos anos, quatro livros que descrevem as realidades do Iraque, do Afeganistão, do Curdistão e, ainda que em forma de romance “erótico”, Marrocos. Tratava-se neste último caso de um livro atribuído a uma mulher. Todos, incluindo “A espingarda de meu pai” (um livro de memorias de um cineasta curdo) são deprimentes quanto ao retrato que fazem do mundo feminino.
Também não sei se o senhor cardeal quis referir-se aos assassínios de honra, isto é aquelas miseráveis execuções que pais, tios e irmãos de uma muçulmana infligem a esta porque namora, dorme, casa ou simplesmente sorri para um “infiel”.
Não quero, com isto, dizer que por cá, entre cristãos não haja violência contra as mulheres, que a há e de que maneira. Agora começa a fazer caminho a cobardia começada em Espanha de assassinar a mulher que repudiou o companheiro, que fugiu aos maus tratos ou que não aceitou ser requestada. Tudo entre cristãos “velhos”, católicos, apostólicos e romanos. Uma mulher dessas é pior do que a víbora primigénia e há que fazê-la desaparecer. Com sofrimento se possível. Mas isto, que é horrendo, é, apesar de tudo, excepção entre nós, ocidentais. Alguém poderá dizer o mesmo em certas regiões muçulmanas?
 

* provavelmente - e isso o senhor Cardeal não disse nem talvez pudesse dizer - muitas autoridades religiosas muçulmanas teriam opinião idêntica quanto aos perigos que espreitam uma rapariga muçulmana educada no Islão e casada com um cristão. O choque com os hábitos ocidentais poderá ser brutal, a liberdade da mulher uma libertinagem, os modos e as práticas sexuais do Ocidente uma ofensa. Se percebermos isto talvez consigamos perceber o cardeal.

Estes dias que passam 140

mcr, 30.01.09
Linchamentos morais

Quem me lê sabe quão escassa é a minha consideração pela pessoa do senhor Primeiro Ministro. Tenho-o mesmo na conta de um fraco primeiro ministro. Com a agravante de ser arrogante e autoritário. E enfatuado...
Agora o que não suporto, como cidadão, como português e como homem de esquerda (doa isso a quem doer) é esta zoeira feita de omissões, de sugestões e de insinuações sobre o Freeport e sobre Sócrates.
Ainda não vi um diabo de um facto com um mínimo de credibilidade que me permita confortar a tese da culpabilidade de Sócrates. Ainda não percebi porque raio os ingleses não respondem a uma carta rogatória e vêm agora com outra a pedir o que não podem pedir sem antes responderem ao que lhes foi solicitado.
Não percebo como é que uma procuradora geral adjunta não é ouvida quando diz que nada há no processo que permita incluir Sócrates no rol dos suspeitos. Não percebo porque é que ninguém crê no Procurador Geral da Republica mas, ao mesmo tempo, lhe exige que faça o seu trabalho de casa.
Se me permitem uma ironia, se é que é uma ironia, a fonte desta manipulação noticiosa, repudiada pela oposição (o caso do bloco de esquerda não conta, o bloco diz tudo o que vem às cabecinhas das luminárias que o compõem e isso dá um torcicolo à cabeça mais calma que os ouve) que tem tratado o caso com pinças, vai dar direitinha aos publicitários que preparam a campanha de recandidatura de Sócrates.
Se a oposição não quer falar do assunto, se a imprensa apenas noticia o que vem requentado de Inglaterra, se os suspeitos de corrupção activa estão tranquilamente no Algarve e negam o seu envolvimento e até as famosas declarações contidas num vídeo, em que ficamos?
Pois ficamos nesta absurda pergunta: a quem aproveita este barulho?
A minha tese, carregada de malignidade é a seguinte.
1 Enquanto se discute o Freeport, não se discutem as mais que discutíveis políticas governamentais;
2 Não se discute o orçamento rectificativo que me parece necessitar de uma boa adenda de tal modo a crise avançou entretanto
3 À falta de argumentos gordos e definitivos corresponde sempre uma reacção hostil do público que se sente legitimamente frustrado. As pessoas começam a perguntar se atrás de tanto fogo de maravalhas não anda algo feio como a tentativa de caluniar pura e simplesmente. Ora, isso costuma acarretar uma contra-corrente de simpatia.
Se é assim, então a agónica maioria absoluta que todos previam que se transformaria em maioria simples (quando não em derrota) pode, como os Titãs filhos da terra levantar-se do chão matricial mais robusta do que antes.
Tudo isto poderia ter sido concebido por um estratega ousado mas inteligente. Ao serviço de quem?
Não da oposição que apesar de tudo ainda está anémica no que toca ao PSD e que não tem ilusões de cheirar o poder como é o caso do PC e aliados, existentes ou futuros.
Se não é ao serviço da oposição restam duas hipóteses.
A primeira é que identifica uma central internacional anarquista, uma máfia desconhecida mas poderosa que farta de ser perseguida nos seus velhacoutos tradicionais apontaria para uma instalação neste torraozinho de açúcar feito de praias e campos de golfe. É impossível? Também acho mas já vi outros impossíveis acontecerem. Como um exame ser feito ao domingo, para não ir mais longe.
A segunda hipótese (afastadas por incoerentes a conspiração da maçonaria internacional ou o inglesíssimo fantasma de Canterville) é a de se encontrar no P.S. a fonte desta salada russa. Só eles é que ficam a ganhar. E a dois carrinhos. Porque é a imprensa quem pressurosamente dá guarida a todos os disparates, renova uma e outra vez argumentos já esgotados e desmentidos, poupando assim aos cofres do partido uma forte dinheirama.
Aqui chegadas, se chegaram, as leitoras mais indulgentes sorrirão. Do que é que o mcr se foi lembrar...
Sim e não minhas queridas amigas. Sim e não. É que esta tourada à antiga portuguesa pode ter mesmo esse resultado obnóxio. Em decaindo a acusação ao Primeiro Ministro (e pelo andar da carruagem isso pode ocorrer) esperem-lhe pela volta. Soares ganhou uma eleição depois de um bofetão na Marinha Grande. Para pasmo de Zenha e Maria de Lurdes Pintassilgo candidatos que pareciam ter mais adeptos na esquerda. Para maior pasmo do candidato da direita que tinha aquela eleição como um passeio. E para indignação do dr Cunhal (alegadamente mandante do agressor) que se viu obrigado a comer um elefante inteiro, ou um sapo, sapo grande, enorme mesmo, para não ser acusado de trair a esquerda.

Voltando porém ao inicio desta conversa, temo bem que estejamos a assistir a um linchamento. E, como os leitores sabem, não é com linchamentos que a justiça se faz e a democracia se perpetua. Mesmo que os linchados sejam uns canalhas da pior espécie.

* eu não tenho nada de especial contra o bloco de esquerda. Mas ainda hoje, de raspão, ouvi a jovem Ana Drago a usar o estafado argumento da alteração da Zona Especial de Protecção como se isso não fosse um completo embuste. Há mentiras que repetidas podem passar por verdades mas como é que apelidamnos os seus autores?

Cantando e rindo...

O meu olhar, 29.01.09
Enquanto a crise económica e financeira avança a passos largos nós continuamos neste cantinho chamado Portugal concentrados nas notícias que vão saindo de uma forma sistemática e nada inocente sobre o caso Freeport . Ouvimos a mesma notícia vezes sem conta, analisada por todo o tipo de comentadores (só faltam os desportivos), dissecada ao pormenor, com informações por vezes distorcidas e incompletas e sobretudo, sempre a aparecerem novos dados que mais não são que os dados antigos com nova roupagem. Aconselhava o mínimo bom senso que, depois de publicadas as notícias, e mesmo depois de algum aparato compreensível, se deixasse a justiça funcionar, mesmo que não se acredite muito na sua eficácia. Parece que a presunção de inocência só existe no papel. De qualquer forma, o que se está a fazer é um linchamento público que só serve interesses partidários e nada mais. Ao país não serve de certeza. Precisamos de um primeiro-ministro concentrado naquilo que deveria ser essencial neste momento: o combate à crise. E isso não está notoriamente a acontecer, o que é natural, já que está a ser metralhado por notícias todos os dias e em todos os meios de comunicação social.

Decididamente Portugal não está com muita sorte. Tínhamos que ter eleições num ano em que a crise económica e financeira se desenvolve com toda a força pelo mundo fora!... Não prevejo nada de bom para o nosso futuro próximo.

Davos 2

O meu olhar, 29.01.09
Algumas das conclusões dos participantes no painel paralelo do Fórum Económico Mundial (FME) dedicado ao tema da "Nova Era Económica" reunidos em Davos:

Os pacotes de estímulo orçamental estão a ser adoptados por inúmeros países são importantes, mas poderão não ser suficientes para acabarem com esta crise. Na verdade, existe o risco de que esta intervenção "leve a um fracasso total", advertiu o ministro sul-africano das Finanças, Trevor Manuel.

Por seu lado, o "chairman" da Morgan Stantley Asia, Stephen S. Roach, salientou que não se podem "subestimar os desafios e os perigos com que nos confrontamos em 2009". "Estamos numa recessão global sem precedentes. E não há uma solução rápida".

A contracção da procura dos consumidores nos EUA, que é um forte impulsionador do crescimento mundial, poderá estar ainda longe de atingir o fundo.

Este painel concluiu, assim, que o mundo enfrenta actualmente problemas económicos nunca antes vistos. E que os pacotes de estímulo financeiro poderão não bastar para relançar o crescimento económico, mas que, de qualquer das formas, são importantes, devendo ser coordenados a nível internacional

Davos 1

O meu olhar, 29.01.09

Diário Político 99

mcr, 28.01.09

A propósito de um aniversário

O holocausto. Até a palavra custa a escrever. Sobre o holocausto, com letra grande ou pequena, tanto faz, já se disse tudo. Resta saber se a mensagem passou. Passou, claro, embora haja sempre quem não ouve, não vê, não sente. Nem acredita. E, convenhamos, que é difícil acreditar. É tudo tão grande, tão premeditado, tão extraordinário...
Mas aconteceu. Aliás, aconteceu algo ainda maior e mais terrível.
De facto não se tratava apenas de exterminar os judeus. Os judeus eram a ponta de um iceberg bem maior e mais trágico. Os judeus eram apenas, permitam-me o cinismo, o princípio de uma experiencia de eugenismo se é que isso tem algum significado. Quando o mundo se desembaraçasse deles pela expedita via dos fornos crematórios, da bala misericordiosa, da morte por inanição ou esgotamento, seguir-se-iam os outros.
Os ciganos, por exemplo. A ordem foi dada: exterminem essa canalha. Cigano apanhado era cigano enviado para um lager. Aqui os cálculos dos carrascos saíram ligeiramente errados. Perseguidos desde sempre por ladrões e nómadas, os ciganos criaram uma atávica desconfiança das autoridades. Nunca se integraram, nunca acreditaram no mundo dos payos (para usar a expressão espanhola)m souberam sempre que mais tarde ou mais cedo (sobretudo mais cedo) a repressão ocorreria. Criaram uma visceral suspeita quanto a fardas. E foi isso que os salvou (enfim salvou os que salvaram): ao mínimo sinal de polícia ou assimilado no horizonte, eis que se escafediam. Bem avisados andaram, diga-se de passagem. Nos memoriais dos campos lá estão milhares de nomes de ciganos.
Depois, uma outra “etnia” que foi perseguida e praticamente exterminada: os alemães negros e mulatos, fruto de uma pequena mestiçagem nos antigos territórios coloniais (Tanganika e Sudoeste Africano – actual Namíbia). Viviam, depois dos alemães terem sido expulsos destes territórios perdidos no fim da 1ª Guerra, na Alemanha umas dezenas de milhares de mestiços e de negros que por razões de ordem variada se tinham acolhido na antiga metrópole. Foram rapidamente presos, enviados para os campos e praticamente desapareceram. Convém lembrar que isto ocorreu logo nos primeiros anos do nazismo triunfante. Um povo ariano só tem uma cor, a branca. E de preferência loira.
Mas não fica por aqui a lista.
Os povos eslavos foram genericamente classificados como Untermenschen. Sub-humanos, se preferem. Serviam, para escravos da raça dos senhores. Escravos sem alma, claro e sem quaisquer direitos. Primeiro foram internados em campos os soldados feitos prisioneiros. Depois, dado que o esforço de guerra, deixava a pátria ariana sem homens, entendeu-se que estes quase animais talvez servissem para trabalhar nos campos. E em certas fábricas. De certo modo foi isso que os salvou de uma morte quase certa.
E, ironia da história, consta que as mulheres alemãs, enfim muitas delas, usaram os sub-humanos, para fins não exactamente ligados à reprodução mas de qualquer modo licenciosos. Quem não tem cão caça com furão, costumam dizer os entendidos.
Nos territórios conquistados, o desprezo pelas populações locais deu lugar a selvagerias inomináveis. À mínima resistência ia tudo raso, homens, mulheres e crianças. Ao fim e ao cabo eram sub-humanos...
Saindo do específico campo das etnias ou pseudo-etnias, lembremos que os campos de concentração começaram por ser alimentados por comunistas, socialistas e homossexuais. Os primeiros por obvias razões e os últimos por doença! Eram os famosos portadores da estrela cor de rosa. Não se fala dos loucos ou dos doentes mentais que também foram exterminados por mera eugenia. O Reich milenar não podia ter tarados. De resto esta noção de tarado sobrepunha-se a uma outra a de degenerado. E degenerado dava para tudo, desde o indivíduo associal até ao artista plástico que pintava ou esculpia coisas que o “pintor da brocha gorda” não percebia ou não gostava. Houve, até uma exposição de “arte degenerada” para mostrar ao povo ariano e saudável o que não devia ver, fazer ou comprar.
Com o correr dos tempos, chegaram aos campos os religiosos, primeiro as pequenas seitas evangélicas, depois os luteranos e os católicos. Não que as respectivas igrejas se tenham ilustrado particularmente na defesa dos direitos humanos. Todavia houve muitos crentes que seguindo a sua consciência e fortalecidos pela fé, entenderam dizer não ao admirável mundo novo e pagão que os hitlerianos representavam. Campo com eles.
Não vou especular sobre os números (que existem, claro) de mortos nos campos. Pouco me dá que em vez de seis milhões só tenham morrido, cinco ou quatro milhões de judeus. Não são os números (apesar de tudo impressionantes) que contam mas a específica e declarada intenção de não deixar um só que fosse.
E é esse o crime imperdoável. Crime que não se limita, já o disse, aos judeus mas a todos quantos não entravam na exclusiva lista de bons arianos. E isto às vezes é esquecido. Até pelos judeus que foram, de todo o modo, os mais eficazmente perseguidos. A pontos de com isso se prejudicar o esforço de guerra!
Uma última nota: não se diga que foram os alemães e só eles os perseguidores. Por um lado houve uma pequena mas corajosa oposição interna que foi sendo paulatinamente esmagada logo a partir dos primeiros dias do 3º Reich. O medo fez o resto e a guerra desviou as atenções.
A perseguição das minorias étnicas, sexuais, políticas e religiosas foi alegremente coadjuvada pelas populações dos territórios conquistados. Com um particular destaque para os franceses que denunciaram os seus judeus, que os prenderam e enviaram para campos de trânsito (Drancy, por exemplo). Com mais destaque ainda para os ucranianos que linchavam russos e judeus com idêntico fervor. Com mais destaque para os ustachis croatas que se lançaram à caça de sérvios comunistas ou judeus ou as duas coisas ao mesmo tempo. E não se esqueça neste festim infame o papel da pequena minoria muçulmana jugoeslava que não deixou os seus créditos pró-eixo em mãos alheias.
Como contraste, deve ser recordado que no Norte de África, milhares de judeus foram salvos por árabes, que os esconderam e auxiliaram na altura em que os alemães entenderam estender a essa zona a caça ao judeu.
A história é sempre mais complicada do que à primeira vista parece.

Nota final: volta e meia aprecem os chamados negacionistas ou revisionistas a negar o extermínio de judeus, os fornos crematórios e os números de mortos. Devem ser combatidos com rigor, com documentos, com a verdade. E isso é fácil. Todavia, houve, e há, quem opte por um esquema mais estúpido e menos educativo: proibir sob pena de prisão a divulgação dessas teorias. Por um lado não resolve nada, por outro responde com violência à violência das ideias. E estas, como a hidra, não morrem só porque as decepam. Bem pelo contrário. Renascem aureoladas pelo sacrifício e pelo martírio.

RESPOSTAS, precisam-se

JSC, 28.01.09
José Leite Pereira, Director do JN, na sua crónica de hoje, coloca 15 pontos de interrogações acerca da Justiça que o país tem. É um levantar de questões a partir do “broar” que anda por aí. Interrogações sérias e preocupantes. Provavelmente ninguém lhe vai responder. Provavelmente, o Director do JN também não espera nenhuma resposta, apesar da matéria que trata não estar “em segredo de justiça”.
A propósito de Justiça, o ex - Vice-Presidente da AIG, Christian Milton, foi condenado a quatro anos de prisão. Isto passou-se nos EUA. O Sr Christian foi acusado em Fevereiro de 2008, de conspiração, fraude em depósitos e declarações falsas à entidade que regula o sector financeiro nos EUA. Menos de um ano depois: 4 anos de prisão mais dois anos em liberdade condicional e uma multa de 200 mil dólares. Acredito que se o Sr. Christian tivesse praticado aqueles crimes por estas bandas ainda estaria a usufruir do estatuto (social) de arguido (ou nem isso).

Au Bonheur des Dames, 169

d'oliveira, 28.01.09

Mais, sempre mais,
da política a todo o custo
e a todo o vapor
.

Em Viana do Castelo, cidade que há anos anda a gastar energias e dinheiro para desalojar à viva força os habitantes de um mamarracho que, apesar de mamarracho se fez com toda a legalidade e todas as licenças (aliás o prédio só é mamarracho pela altura, porque sobressai entre um núcleo de casa muitas vezes bem piores e mais problemáticas), houve um referendo.
Sobre uma questão que dizia pouco ou muito pouco aos habitantes que não só não a percebiam mas também se estavam nas tintas para a perceber. Assim sendo apenas uns escassos trinta por cento se deram ao trabalho de ir votar. Desse exíguo grupo saiu maioritária uma posição de negação à “comunidade intermunicipal do Minho” ou outra balivérnia do mesmo teor.
O senhor Defensor de Moura, presidente da Câmara local, rejubilou. E não era para menos: Se os escassos interessados tivessem dito sim à CIM ele demitir-se-ia. Ou, pelo menos, foi isso que ameaçou. Perante tão consternante alternativa o povo, que é quem mais ordena, disse não à “cim”. Para desgosto de outro prócere socialista, o senhor presidente da Câmara de Melgaço. Que já ameaçou não sei bem o quê. Nem importa. “Isto” são guerras “deles”, marcação de território de caça (ao voto e aos patos).
Consta que o P.S. pode querer tirar o tapete a Defensor de Moura e não o recandidatar em Viana. Corre, igualmente, que, nesse caso dramático, Defensor se defenderá correndo como independente. Deve estar convencido que o povo vianense, as noivas, as meninas da procissão da Senhora da Agonia e as restantes forças vivas estarão do seu lado. Não sei nem me importa porque, graças a Deus (ou ao deus dos ateus), não sou munícipe vianense.
Tenho quase como certo que nesse hipotético caso, o P.S. bem pode dizer adeus à risonha capital do Alto Minho. Mas isso não deve ser coisa que preocupe os dois por ora desavindos autarcas.

A propósito de autarcas, a concelhia portuense pôs a votos a candidatura de Elisa Ferreira à Câmara do Porto. Houve uma fortíssima maioria de votos a favor desta senhora. Mas houve também uns votos contra o que é natural neste género de conclaves, sobretudo se secretos. Uma vez apurados os resultados, uma luminária presente entendeu que já que a drª Elisa Ferreira tinha sido altamente votada se poderia, como cereja no bolo, propor a “aclamação”. O que imediatamente se fez entre um fartote de aplausos. Nos meus tempos de assembleia, a aclamação só ocorria no caso de haver unanimidade mas é possível que agora as coisas sejam vistas com mais liberalidade. O que me surpreende não é tanto a “aclamação” mas a súbita conversão dos oponentes à vontade da maioria. Note-se que o jornal refere expressamente “votos contra” e não abstenções. Das duas uma, ou esses votos foram (apesar de secretos) um mero engano dos votantes ou, perante a iminência de se verem reconhecidos os adversários da desejada Elisa entenderam mais prudente associar-se às festividades em curso. Chama-se a isto flexibilidade política e sentido de Estado.

Um cavalheiro apropriadamente chamado Bota entendeu propor o nome austero de Gonçalo Amaral à Câmara de Olhão. O referido cavalheiro ilustrou-se fartamente na condução do inquérito ao desaparecimento de uma criança inglesa, como todos sabem. Saiu do inquérito sem louros de qualquer espécie e sem que o público saiba o que aconteceu à desventurada criaturinha. Publicou um livro sobre o assunto com o sugestivo nome de “A verdade da mentira”. Ou vice-versa. O livro, já que livro é todo o conjunto de folhas impressas, coladas e encapadas e oferecido à leitura, cuja leitura se recomenda a quem queira obter o perdão de muitos e graves, gravíssimos, pecados capitais, já vai não sei em quantas edições e corre mundo ou, pelo menos, a Espanha e a Inglaterra em apropriadas versões vernáculas. Lá, como cá, devem habitar legiões de pecadores...
A comissão política do PSD, uma vez sem exemplo, opôs-se a tal candidatura. Pelos vistos, acreditam que os habitantes de Olhão, vila da Restauração, merecem outra sorte mesmo uma câmara socialista. O referido Bota terá dito que GA também era cidadão e por isso tinha direito a presidir a uma Câmara. Haja quem lhe explique que ser só cidadão não chega. Convém ter um projecto político, meia dúzia de ideias para a cidade, ter um passado, já agora, e um futuro se possível.

Aguardam-se ansiosamente notícias sobre Felgueiras, Gondomar (o major, claro, sempre ele...) Oeiras (Isaltino, pois claro) e mais um par de terras onde alguns pterodáctilos governam em nome sabe-se lá bem de quê. E estamos em boa altura, agora que o Carnaval se aproxima.

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