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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Sinais dos (novos) tempos

José Carlos Pereira, 27.03.09

Almoçava ontem tranquilamente nas Docas, em Lisboa, quando assisti a uma cena insólita: um casal de noivos, vestido a rigor, circulava por ali. Ela de vestido, véu e ramo de flores, ele de fato e mochila (!) na mão. Com eles apenas um outro casal (seriam os padrinhos?).

Não sei se andavam à procura de mesa nos restaurantes ou se procuravam a melhor vista para as fotografias da praxe. O que sei é que aquilo me fez pensar sobre a instituição casamento, sobre a emoção de casar e de juntar familiares e amigos. Um casamento assim, como o que vi, pareceu-me uma coisa muito diferente do casamento com que muitos sonham.

A virtude da Justiça

Mocho Atento, 26.03.09

"A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

A justiça para com Deus chama-se «virtude da religião».

Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum.

O homem justo distingue-se pela rectidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. «Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não prejudicarás o pobre, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade» " (catecismo da Igreja Católica)

 

 

Estes dias que passam 148

d'oliveira, 25.03.09

Louvor e simplificação de Ricardo Salvat

 

qui demanava

avui unes paraules

que l’acompanyin?

Llums en aquest seguici

de la mort caminada.

 

Não sei se alguma vez aqui falei de Ricardo Salvat. Do professor, do encenador, do homem de teatro Ricardo Salvat. Desse mesmo que, num turvo dia de Abril de 1969 foi expulso de Coimbra onde exercia de Director Artístico do CITAC. Com ele, aliás, foi também expulso outro grande homem de teatro. Luís de Lima que na altura era o encenador do TEUC. Expulsos porque testemunhas incómodas da crise académica que então grassava.

 

Ricardo Salvat chegou a Coimbra em finais de 68 e fora-lhe atribuída uma difícil tarefa: substituir Victor Garcia, um argentino genial que provara em vários palcos europeus a sua altíssima qualidade. A este “derroche de talento” vinha substituir-se o austero Salvat, evangelista de um outro modo de fazer teatro, profundamente influenciado pelo teatro documental e ainda tributário de Brecht.

 

Todavia, e nisso reside, porventura, a generosidade e entrega da juventude, Salvat rapidamente conseguiu interessar os amadores de teatro que o tinham convidado. E começou pelo que sendo o mais fácil era também o mais difícil. Ensinar, em escassas semanas, um pouco do que sabia de História do Teatro, da qual era já um reputado especialista.

 

Coube-me a mim a tarefa gratificante de ser o “sebenteiro” do Professor. Munido de um dicionário de catalão-castelhano, de alguma audácia e amparado pela gentileza de Salvat lá fui eleborando as folhinhas resumo do curso de teatro. Que foi um êxito!

 

Entretanto, íamos preparando um espectáculo “Castelao e a sua época” baseado na vida e obra do grande autor galego. Salvat trabalhara num projecto semelhante em Barcelona (“Adriá Gual i la seva época”) e a sua disciplina, o seu fervor  (e a nossa absoluta disponibilidade) começavam a dar frutos. Ao mesmo tempo, pegando numas traduções de Paulo Quintela de  poemas de Brecht e na “Excepção e a Regra” do mesmo autor ia organizando com a nossa entusiástica cumplicidade um espectáculo alternativo que escapasse à sanha da Censura.

 

E, last but not the least, para a preparação dos espectáculos trouxe a Coimbra alguma da melhor gente que conheci. Cito apenas dois, ambos galegos, e agora justamente famosos: Luís Seoane e Xesus Alonso Monteiro, figuras proeminentes do novo galeguismo, da oposição activa ao franquismo e expoentes duma “inteligentsia” ibérica de que andávamos muito arredados.

 

Foi também por ele, que soube a história da dissidência de Jorge Semprún e Fernando Claudín e também por directo testemunho do caso Padilla. Detenhamo-nos um pouco aqui:

 

Herberto Padilla, poeta cubano. Com a revolução regressa do exílio nos Estados Unidos e começa a trabalhar na “frente cultural”. Ao contrario de muitos outros intelectuais cubanos, esteve no estrangeiro, conhece gente e não acredita que a revolução transforme em pão e rosas tudo o que toca. Não é um crítico, muito menos um dissidente. É, se quisermos, um independente. Que não lê a cartilha dos novos donos da literatura cubana. Concorre ao Premio Casa de las Américas com “Fuera de juego” e ganha. Simultaneamente, e é aqui que entra Salvat, o prémio de teatro é atribuído a Anton Arrufat por “Los siete contra Tebas”. O júri que, por maioria, lho atribui está constituído  por Ricardo Salvat, Adolfo Gutkin e José Triana que o designam e por Raquel Revuelta e Juan Larco que votam contra. Não vale a pena comentar as pressões a que os três primeiros foram submetidos para evitar a vitória de Arrufat. Como no caso Padilla, o texto é publicado mas não é posto à venda e muito menos encenado. Como no caso Padilla virão as perseguições. Com uma diferença: Arrufat, não obstante todas as humilhações por que passa, recusa-se a emigrar. A sua persistência (e a sua inteireza...) tiveram frutos tardios. Continua crítico mas o Poder não conseguiu evitar que lhe concedessem o Premio Nacional de Literatura.

 

Estes dois casos, sobretudo o primeiro, porque Padilla se tornou um caso de repercussão internacional, mostraram os limites da “revolución de los barbudos” e marcam o inicio da critica internacional à falta de liberdade na Ilha. Salvat, testemunha directa, não o ocultou mesmo que as suas críticas fossem nesse tempo cuidadosamente ponderadas e feitas en petit comité. Sou testemunha (não creio que única) dessas preocupações, desses cuidados e dessas angústias. Como também o sou das incertezas e discussões ue em espanha se geraram depois do caso Claudin. 

 

Ricardo Salvat morreu ontem. Quarenta anos depois de ser expulso de Portugal sob o labéu de perigoso agitador que, verdade se diga, de facto era. Agitador de ideias, inconformador, homem livre, arauto de um teatro que a turbulência dos tempos fez desaparecer. De um teatro que, aliás, pospunha o seu próprio desaparecimento. Ainda que só esporadicamente tenha acompanhado o que ele foi escrevendo, e escreveu muito, fico com a ideia de que ele tinha clara consciência disso. No notável livro (no prelo) que José Oliveira Barata dedica à história do teatro universitário, Ricardo Salvat é chamado “o pedagogo”. E foi isso que ele acabou por ser ao longo dos últimos trinta anos. E um respeitado professor, um critico generoso e consciencioso, um velho sábio.

 

..........

cerques un nom inútil,

per aturar-te?

 Sabrás millor quin era

pel nom, el secret últim

de qui va precedir-te?

Tan sols un home.

 

•    poemas de Salvador Espriu: poema XI in “Setmana Santa” e XXIX in “Cementiri de Sinera". Eis a minha tradução:

1. quem é que hoje pedia alguma palavra que o acompanhasse? Luzes nesta comitiva da morte caminhada.

2. Procuras um nome inútil para te deteres? C Será que com ele  conseguirias conhecer o segredo de quem te precedeu? Foi apenas um homem.

 

** na fotografia Ricardo Salvat e mcr,  Coimbra, 1969

 

A fortaleza

Mocho Atento, 25.03.09

"A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral.

A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa." (catecismo da Igreja Católica)

Um bom exemplo

José Carlos Pereira, 25.03.09

O editorial desta semana do "Expresso" dava conta das medidas que a empresa editora daquele semanário tomou com vista a reforçar a solidariedade entre todos e a proteger o emprego. Em tempos de crise, é salutar ver estes exemplos frutificarem. Administradores, directores e principais redactores reduziram as suas remunerações em pelo menos 10% e abdicaram de bónus. O Conselho de Redacção aprovou outras medidas de poupança, designadamente a suspensão de remunerações extraordinárias.

A crise que afecta a economia global (na comunicação social e em muitos outros sectores de actividade) leva a que todos vejam na salvaguarda do emprego e na sobrevivência das empresas o melhor passaporte para um futuro...melhor. O exemplo do "Expresso", pela sua repercussão pública, pode ser um estímulo para muitas outras organizações em Portugal. A minha já encetou este caminho há quase um ano.

A prudência: virtude cardeal

Mocho Atento, 24.03.09

"A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir.

«O homem prudente vigia os seus passos» (Pr 14, 15). «Sede ponderados e comedidos, para poderdes orar» (1 Pe 4, 7).

A prudência é a «recta norma da acção», escreve São Tomás, seguindo Aristóteles.  Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação.

É chamada «auriga virtutum – condutor das virtudes», porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar." (Catecismo da Igreja Católica)

Código da Execução das Penas em discussão

Mocho Atento, 24.03.09

Está em discussão na Assembleia da República um diploma fundamental para a reforma do processo penal em Portugal. Trata-se do novo Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade. Esta proposta merece um debate sério e profundo na sociedade portuguesa. A tensão entre liberdade e segurança é sempre difícil de gerir numa sociedade aberta e democrática.

Colaboração Internacional H2O

Mocho Atento, 23.03.09

Rotary Internacional/Rotary Foundation e a Agência Norte-Americana para Desenvolvimento Internacional (USAID), estabeleceram protocolo de colaboração para implementação em países em vias de desenvolvimento de projectos auto-sustentáveis nas áreas de recursos hídricos, saneamento e higiene.
 
Mais de mil milhões de pessoas (20% da humanidade) não têm acesso a água potável, e mais de dois mil milhões não têm saneamento básico.

 

A falta de água potável e de saneamento básico causa a morte de 1,8 milhões em cada ano, sendo crianças a maioria dos que se perdem por falta de condições básicas.
 
A Colaboração Internacional H2O deve inicialmente implementar projectos na República Dominicana, Gana e Filipinas. Estes países foram seleccionados com base no seu grau de necessidade assim como tendo em conta a agilidade e experiência dos Clubes Rotários locais e da USAID nas regiões.

Um tiro, duas mortes

O meu olhar, 22.03.09

 

 

 

“Kill Children” é um novo slogan nas T-Shirt produzidas pelas Forças Armadas de Israel para os seus soldados. Segundo notícia no Público o jornalista Uri Blau fez uma investigação e descobriu que soldados de várias unidades mandaram fazer T-shirts com imagens de crianças mortas ou de mulheres grávidas transformadas em alvos. Uma camiseta mandada fazer por uma brigada de snipers mostra uma mulher grávida na mira de uma caçadeira. Por baixo pode ler-se: “Um tiro, duas mortes”.
A notícia fala de “diminuição dos padrões de ética” eu falaria de desumanidade.