Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

A difícil vida de um ex-banqueiro

JSC, 31.07.09

Segundo esta notícia João Rendeiro, pagou ao fisco 3 milhões de euros de dívidas fiscais, relacionadas com remunerações que recebeu do BPP. Se entendi bem a notícia, João Rendeiro recebeu uns tantos milhões de euros do BPP, não tendo procedido ao pagamento dos impostos que incidem sobre essas remunerações.

 

A notícia não esclarece se os 3 milhões, agora pagos, já incluem juros de mora nem esclarece se a situação fiscal de João Rendeiro ficou regularizada.

 

O que a notícia afirma é que João Rendeiro pagou “do seu próprio bolso”, a evidenciar a excelente capacidade de liquidez do ex-banqueiro, ao contrário do que sucede com o seu ex-BPP.

 

 Outra curiosidade da notícia é João Rendeiro considerar que deveria ser o BPP a pagar os três milhões ao fisco, por força do contrato que celebrou com o Banco, a que presidia.

 

 Outro aspecto que a noticia não revela é como João Rendeiro obteve os três milhões, uma vez que, está na noticia, “Em Junho, a Procuradoria-Geral da República confirmou o congelamento das contas de João Rendeiro”.

 

Autonomia versus Independência Camuflada

JSC, 31.07.09

O Tribunal Constitucional chumbou as normas que davam ao parlamento regional dos Açores poderes maiores do que aqueles que estavam cometidos aos órgãos de soberania nacionais, na medida em que algumas decisões destes ficavam dependentes da audição prévia do parlamento regional.

 

A atitude que o líder regional açoriano tomou sobre esta matéria, a facilidade com que conseguiu submeter aos seus interesse o PS nacional, constitui mais um elemento para evidenciar a perversidade do sistema de formação de maiorias. Ou seja, os deputados regionais exercem o seu voto não em função do interesse nacional mas em conformidade com a vontade do líder regional. Este, por sua vez, faz depender o apoio da dimensão do envelope financeiro ou do alargamento dos seus poderes, sob a designação de autonomia regional, que no limite pode ser absoluta, mas não de independência uma vez que necessitam das verbas do OE para pagarem o folclore e as obras.

 

A reacção não se fez esperar, com os contornos habituais. Do lado dos Açores acusaram o TC de centralista, de estar ao lado de Cavaco e de Manuela Ferreira Leite. Como se vê argumentos de peso, próprios de quem acredita nas instituições que deveriam respeitar.

 

Do lado do Governo, aparece Alberto Martins a dizer que o PS respeitará a deliberação do Tribunal Constitucional. Confesso que nunca entendi como é que declarações deste teor fazem títulos em Jornais. Como é que estas declarações conseguem ser notícia. Não é raro ouvirmos na rádio e na Televisão, advogados de arguidos ou os próprios arguidos a declararem que estão disponíveis para colaborar com a justiça. Em algumas situações chegam a emitir comunicados, para a comunicação social, cujo fito é dizer que o Sr X está de consciência tranquila relativamente aos factos e disponível para colaborar com a justiça. Depois os jornais fazem disso notícia, como fizeram agora com as declarações de Alberto Martins.

 

Em meu entender, notícia seria o deputado Alberto Martins declarar que o PS não aceita a decisão do TC e que a irá combater. Ou o arguido X, directamente ou através do seu advogado, declarar que está cansado, farto de colaborar com a Justiça e que de ora em diante aos senhores da justiça dirá nada. Isto é que seria notícia, o resto é conversa fiada, palha, para jornalista encher papel ou tempo de antena.

 

Transparências e opacidades

José Carlos Pereira, 31.07.09

Em política exige-se verdade e lealdade na relação com os eleitores, exige-se compromisso e rigor na apresentação de programas e equipas.  A menos de dois meses da data das próximas eleições legislativas, o PS, liderado por José Sócrates, já apresentou o seu programa e as suas listas de candidatos a deputados. Podemos discordar das opções, seja de políticas ou de pessoas, mas não podemos ignorar que elas foram apresentadas atempadamente e que podem ser avaliadas e escrutinadas.

Ao invés, a moda no PSD, o principal challenger na corrida pela vitória, parece ser a de esconder e de renegar quaisquer opções. As iniciativas do PS na área social são para "rasgar", só haverá compromissos que possam garantidamente cumprir-se (quais?), o programa light será apresentado apenas no início de Setembro e as equipas continuam no segredo dos deuses. Se a ausência de programa ocorresse na liderança de Pedro Santana Lopes dir-se-ia que era incompetência, impreparação, incapacidade. Como sucede com Manuela Ferreira Leite já ninguém estranha -  a senhora não fala, não se compromete, não se "atravessa". Assim, é sempre possível que os votos de uns quantos incautos venham a cair-lhe no regaço. Percebem a jogada?

 

Estes dias que passam 175

d'oliveira, 30.07.09

 

 

3 notas contra a corrente (como é costume. E vício!)

 

A minha querida camarada de blog “o meu olhar” queixou-se do fim do jacarandá do Largo de Viriato. A propósito disso, e na discussão em comentários, afirmou que o Porto é lindo e que a cidade está melhor em termos de vegetação, nomeadamente parques públicos.

Vê-se que a colega é ainda uma mulher jovem. O Porto, excepção feita ao parque da cidade (que se implantou numa zona rural já com extensos arvoredos, convém sublinhar), perdeu árvores e verde que se fartou. A começar pela canalhada sem nome que fizeram á zona da universidade, á avenida da Liberdade e ás praças e jardins circundantes. Que, pura e simplesmente, foram comidos pelo pedregulho austero ou devastados por um designer de quinta categoria que deve presumir de arquitecto. É inqualificável o que se fez ao belo jardim romântico  da Cordoaria que mediava entre a Cadeia da Relação e a velha Faculdade de Ciências.  Outro jardim que desapareceu foi o da praça Coronel Pacheco. Das árvores que povoaram a praça Gomes Fernandes, antiga de Santa Teresa ou ainda Feira do Pão ou do Carvão, nem résteas. Ruas inteiras perderam as suas árvores. A Avenida da Boavista levou uma carecada. E por aí fora.

Tudo em nome do modernaço, arquitectónico ou não. Escola do Porto, ou não. Abrenúncio!

Mas detenhamo-nos no jacarandá. A Guilhermina gosta e eu (e  o meu querido velho colega António Barreto) também. Conviria, porém esclarecer que os jacarandás são uma importação relativamente recente. Vieram do Brasil, como as cerejeiras vieram do Japão. Mau hábito este de importar espécies estranjeiras e de descurar as autónomas. Aposto que 99% dos portuenses não sabem o que é um teixo ou uma faia. Mais de metade nunca terá visto um carvalho e por aí fora. Seria interessante que os poderes locais e municipais que não têm de ter o lucro em mira, pensassem na nossa antiga floresta hoje infestada por eucaliptos e pinheiros. Seria… mas parce-me baldado o esforço de os convencer.

No que toca à beleza da cidade, estamos também conversados. Ou, melhor, desconversados. Eu explico-me: na ânsia de modernidade, a cidade tem sido assolada por merceeiros da arquitectura e derivados que não olham a meios para rebentar com o que fazia a rude beleza desta cidade burguesa. Ruas inteiras, repito, inteiras, vêem as suas casas serem abatidas para em lugar delas se erguerem coisas medonhas que, em obediência ao que julgam tradicional, são revestidas a azulejo tipo casa de banho. Ou, ai o progresso!, a granito polido, a mármore de terceira etc… entre o Campo (disse campo e não praça!) da República e a Igreja de Cedofeita (a velha e não a monstruosidade que lá puseram ao lado, com um campanário que parece um pombal de pombas neurasténicas!) havia uma rua toda ela de casas de dois três pisos, fachadas nobres, boa azulejaria, belas madeiras, janelas à flor das sacadas, enfim, uma rua bonita. Agora já lhe plantaram aquí e ali uns caixotes infames que o tempo já exclerosou. Um horror. O mesmo há-de (já está) acontecer á Rª de Santo António que uma burrada republicana e outra burrada vintecinquista rebaptizaram com o nome de 31 de Janeiro. Esquecem-se estas luminárias, que se julgam progressistas!?, que o santo António além de português, de doutor da Igreja e de intelectual de valia, foi homem amado por multidões de crentes (e eu sou ateu!) e é o patrono amável de amores vários e não demasiado inocentes. Bastaria esse toque, folclórico e pecador, para o converter numa criatura de bem. Mas era-o. Franciscano da corrente mais revolucionária fez mais pelas gentes modestas que todos os republicanos daquela revolta de opereta, daquela aventura tonta que além de produzir vítimas inocentes apenas serviu para glorificar uns revolucionários amadores e dementados.

A cidade tem milhares de ruas e avenidas modernas a quem o nome dos do 31 poderia põr-se. Mas foi a rua de Santo António, uma das que foi cenário da intentona, que rebaptizaram!

Aliás, o mesmo se fez à praça Velasquez (que, dizem, além de grandíssimo pintor, era descendente de portugueses) ao dar-lhe o nome de Francisco Sá Carneiro. Vejamos se fica com este ou se ainda muda para um terceiro. De resto, a sonha rebaptizadora portuense já destruiu mais memória histórica da cidade do que qualquer outra terra que eu conheça. Como o caso já referido da praça de Santa Teresa, por exemplo.

Eu sou apenas um pobre homem de Buarcos que vinha ao Porto a casa dos avós de longe em longe. Só comecei a calcorrear estas ruas lá pelo fim dos anos cinquenta.  Nunca achei a cidade especialmente bonita, como, por exemplo, Évora, Lisboa, Coimbra (hoje também destruída). A beleza do Porto era muito escondida: nas casas com quintal, nos jardins onde as flores conviviam com as boas pencas, na austeridade das fachadas só quebrada pelos ferros forjados e pelo azulejo, no sol que se reflectia ao fim da tardinha nas janelas à flor das sacadas. O Porto tinha estilo, tinha personalidade. Tinha carácter. Tinha um fortíssimo travo romântico dado pelos seus jardins fechados, pelas ruas arborizadas, pelos canteiros (que agora são detestados) pelas janelas cheias de vasos, de gatos e de velhas curiosas. E comia-se bem, diabos me levem. Comia-se bem e a todos os preços. Até isso está a ir pelo cano! Foi-se o grande “Comercial”, foram-se vários restaurantes médios de grande qualidade, desapareceu uma multidão de casas de pasto, de tascas onde os petiscos baratos tinham dignidade, gosto e sabor. Em troca abriram umas coisas em forma de hamburguesaria, de restaurante a fingir-se fino, de caça turistas (a Ribeira está inçada deles), enfim, come-se tão mal como em Lisboa (onde todavia subsistem os grandes e caros restaurantes, claro).

A cidade está reduzida a isto. Perde população todos os dias. Todos os dias. As casas caem de abandono. A população envelhece. As industrias desertaram-na. As instituições culturais emigram para a periferia (hoje foi a Sic, o Expresso e a Visão, antes tinham ido o Fantasporto e TEP).  Do ponto de vista político já quase não há consulados como também já não há uma Delegação do Ministério da Cultura. Mas temos uma Casa da Música, onde, por acaso, não se pode fazer ópera!

Deus dê longa vida ao jacarandá e, já agora, se amerceie desta cidade. E que uma sementinha de jacarandá aterre no quintal da Guilhermina. E que germine. E que cresça à sombra do gato e do cão e de alguns pardais que por lá façam ninho. E que, num milagroso golpe de vento, alguma semente de teixo, de faia ou de carvalho, para não falar de castanheiro, resolva tentar a aventura de habitar uma cidade que tem perdido a alma.

E que se arrisca a nunca mais a reencontrar.

 

 * na gravura: um teixo. Um milagre! Uma árvore que já cá estava quando os iberos ainda não tinham nascido. Uma árvore que se arrisca a deixar de cá estar. 

 

Inocente e Candidata

JSC, 30.07.09

Tribunal de Felgueiras absolveu hoje Fátima Felgueiras de todos os crimes (8) de que era acusada.

 

À saída do Tribunal,j Fátima Felgueiras declarou que agora «os felgueirenses têm a liberdade para poderem avançar e apresentarem a candidatura que sei que querem fazer para terem a oportunidade de elegerem-me como presidente de câmara».

 

Uma conversa antiga

JSC, 29.07.09

Já me doem os olhos só de pensar que vou perder este lugar. Nasci aqui, neste beco e todos os dias calcorreei estas lajes. Agora até vou ter de ficar longe destas pedras, eu que me afeiçoei tanto a elas. Às tantas não há alternativa. É quase como o bagaço do Manel. Não há alternativa ao bagaço do Manel. Por falar nisso, como vai ser agora que me vão levar para fora daqui?

Claro que a Câmara bem poderia alojar-nos nas casas que tem vagas ali ao lado. São para outros, já estão distribuídas, disseram-nos. Aqui conhecemo-nos todos e ninguém sabe para quem são. Porque não hão-de ser para nós se fomos nós que nascemos aqui, crescemos e amamos aqui, fizemos e vimos nascer os nossos filhos aqui. Porquê não hão-de ser para nós, que queremos morrer aqui?

Mas essa gente nada sabe destes sentimentos. Vieram de fora e têm o poder e a força do lado deles. Poder que lhe demos. O nosso destino não tem alternativa. Só no Barredo há dezenas de casa fechadas e mantêm-nos na Mitra, no Aleixo, em Pego Negro, longe dos Bacalhoeiros nosso miradouro e trampolim para o rio.

Se ao menos restasse a esperança do retorno, até nem importava que fosse o mesmo prédio, no mesmo andar, pelo menos a mesma rua ou outra pegada. Mas nem isso.

O problema é que não há alternativa e ninguém tem culpa disso. Aliás, nesta terra nenhum governante sabe o que é assumir responsabilidades. Quando alguma coisa menos boa acontece é sempre por culpa do acaso, da chuva, da corrente, do vento, do calor, dos burocratas, que é como quem diz, culpa de Deus e nunca de quem governa.

O povo bem suspira e do ar que trespassa as ruelas pressente-se a angustia que vai adentro das fachadas em decomposição. Só que os governantes apenas pressentem estas coisas de quatro em quatro anos e para chegar a esta realidade vêm aconchegados em veículos blindados, de bancos reclináveis electricamente, espaçosos e bem equipados, para que a coluna não sofra qualquer dano, sempre protegidos por polícias e seguranças a fingir de assessores. Depois é a distribuição dos olhares sobre os eleitores, que não sobre as pessoas e os problemas. Talvez seja por isso que se espantam tanto quanto um prédio desaba ou quando o rio se enche ou os incêndios devastam as serras e as geadas queimem os campos.

Os políticos que temos tido, disse, se não são os profetas da desgraça são os fazedores da nossa desgraça. Os homens sem eira nem beira, os habitantes dos bairros de lata, o trabalho infantil, os sem abrigo, eis o exército gerado pelos políticos. Essa casta que detendo o poder nada faz ou pouco faz que contrarie a lógica da acumulação e da apropriação da riqueza. É uma casta que se reveza no poder e sacia clientelas diferentes com interesses afins.

São esses interesses que os aproxima depois da refrega eleitoral. Meses e meses de guerra, a rosa contra a laranja e vice-versa, o porco contra o burro e vice versa, ele são insultos, acusações de má gestão, de incompetência, inércia, compadrio, delações e o mais que se sabe. Depois é o dia dos votos e todos se reconciliam. Os derrotados falam primeiro, para saudar os vencedores e os vencedores falam a seguir para dizer que a vitória não é deles mas de todos e que vão governar para todos e não apenas para os que votaram neles. É a declaração de paz. Seguem-se almoços de trabalho, reuniões para concluir que ninguém pode ficar de fora (referem-se aos que lá estavam antes), que é preciso uma equipa coesa, mas com o apoio de todos porque os superiores interesses do povo exigem que se entendam. E entendem-se!

Desse entendimento resulta a partilha dos cargos ministeriais, dos pelouros, o recrutamento dos secretários, a nomeação de gestores, dos assessores que serão sempre os fiéis amigos, aqueles que melhor serviram e ajudaram a subida de quem recruta.

Quando se substituem uns aos outros, os que saem fazem discursos de balanço enfermados de adjectivos e raciocínios laudatórios ao trabalho desenvolvido. E com eles estarão sempre os subsídio-dependentes, os fazedores de opinião, todos aqueles que fazem da sua vida o degrau, a escada por onde trepam políticos e disso dependem uns e outros.

Estranha democracia esta que escorraça as pessoas para fora do seu habitat natural, que não cuida das franjas alargadas do povo que espreita pelas vielas denegridas nem das pessoas que dormem nas soleiras dos portais, onde os comissários dos governos não chegam.

 

 

Património em risco

ex Kamikaze, 29.07.09

No passado dia 18 de Julho, no Pátio de Letras, Fernando Silva Grade, demonstrando um aprofundado conhecimento da temática da reabilitação do património edificado, fez uma apresentação, apoiada em imagens bem elucidativas, sobre que obras foram feitas, com que materiais foram feitas e como desrespeitaram a traça e história arquitectónica da Sé, emblemático monumento de Faro e do Algarve.

 

Tais obras, efectuadas sem qualquer projecto, foram finalmente interrompidas (até que o haja), graças ao empenhamento do Fernando Silva Grade nesta causa.
 
Contudo, relativamente ao que já foi feito/estragado, não há sequer a promessa de rever a situação... por isso, ali mesmo durante o debate, surgiu a ideia de fazer e colocar em subscrição uma PETIÇÃO de CIDADÃOS com a finalidade de sensibilizar quem de direito para a necessidade de reavaliar e alterar o que foi (mal) feito.
 
O Fernando e o Alfredo Franco deram já início ao processo: a petição já está on line e para a ler, ver quem já a subscreveu, assinar também e reencaminhar aos seus amigos basta clicar aqui. Criaram também um blog (onde também podce aceder á petição) Eu já assinei e exorto-o/a a apoiar esta acção de cidadania assinando também.

a opinião do Arq. paisagista Fernando Pessoa, aqui

O fim da minha árvore

O meu olhar, 28.07.09

                                     

Só ontem me dei conta que tinha desaparecido a “minha árvore” da cidade do Porto. Esta árvore é também, ou era, a árvore de Hélder Pacheco, de JSC aqui do Incursões e certamente de muitos mais. Era uma árvore lindíssima, de encher o coração e a alma. Pesquisei na net para ver o que lhe tinha acontecido. Encontrei este aviso de desclassificação. Fica a tristeza.
 

AVISO DE DESCLASSIFICAÇÃO Nº 2 /2008

Nos termos do parágrafo único, do Artº 1º, do Decreto-Lei nº 28 468, publicado no Diário do Governo, I Série, nº 37, de 15 de Fevereiro de 1938 e do Decreto Regulamentar nº 10/2007, de 27 de Fevereiro, publicado no Diário da República, I Série, nº 41/2007, de 27 de Fevereiro, é desclassificada como árvore de Interesse Público o Jacaranda mimosifolia D. Don, árvore vulgarmente conhecida por Jacarandá,existente no Largo do Viriato, Freguesia de Miragaia, Concelho do Porto, propriedade da Câmara Municipal do Porto, cuja localização se indica em excerto de mapa, extraído da carta militar, folha nº 122, do Serviço Cartográfico do Exército: Esta desclassificação resulta do facto deste exemplar ter secado.
 

Estes dias que passam 174

d'oliveira, 26.07.09

O S

Um aborígene da Madeira que dá por Ramos entendeu comparar  o Primeiro Ministro José Sócrates com Salazar. Foi aliás a propósito do famoso “S" que a rapaziada usava no cinto da farda da mocidade Portuguesa.

Eu acho o engenheiro Sócrates um espertalhaço e tenho as mais fundadas dúvidas quanto às suas qualificações académicas. Também nunca o vi como um homem de esquerda. Não lhe faço essa desfeita nem ele alguma vez deu azo a que pudesse ser acusado de esquerdismo. De resto, o seu passado é significativo. Vem da Juventude Social Democrata se não estou em erro e não me parece que o que ele vai por aí afirmando saia muito desse carril.

Todavia, daí até comparar Sócrates com Salazar vai alguma distância. Do ponto de vista político, desde logo. Aliás, é impensável sequer imaginar Sócrates a governar como a múmia de Santa Comba. Sócrates será vaidoso, autoritário mas não é, de nenhum modo, um ideólogo. Também não é um reaccionário. Porque Salazar era, além de conservador, reaccionário. Que não restem dúvidas disso. Basta lê-lo, de resto.

Sócrates também não tem, nem parece ambicionar, a preparação cultural e filosófica de Salazar. Aliás, se alguma coisa o poderá caracterizar quanto a isso, será seu completo alheamento desse conjunto de probemas e questões. Daí também não vem grande mal ao mundo. O problema, se problema há, está na pesporrência da criatura, na sua transbordante auto-confiança,   na capacidade de falar horas sem dizer nada, ou dizer muito pouco. Salazar, o melífluo, era, nesse capítulo, parco de palavras, ameaçava suavemente não perdia a calma e não se arriscava como Sócrates.

Não se pense que se está aquí a tentar um retrato amável do tiranete. Nada disso. Estou apenas a tentar incidir no essencial: Salazar era simplesmente incapaz de viver em democracia. Nem sequer acreditava na troca livre de opiniões. Ouvia poucos, pouco e raramente tinha dúvidas. Considerava-se um cruzado leigo, acreditava piamente nas virtudes da contra-revolução, num ocidente mítico e civilizador, nas diferenças sociais, na missão salvífica com que Deus, o Deus dele, o tinha imbuído.

Sócrates pode ter tiques de autoritarismo mas isso vem mais da vaidade que o anima. Se acaso não ouve a rua é porque a confiança em si próprio e a alta ideia que tem dos seus dotes o torna surdo. Mas é capaz de recuar, coisa impensável para Salazar que se louvava nos mártires com que o terão aturdido no seminário.

Mas deizemos estas duas desinteressantes criaturas e ocupemo-nos do pobre diabo da Madeira, do espanta-caça de Jardim. Confiando em que, na altura, o homenzinho ainda não estaria sob o efeito dos licorosos que tornaram famosa a festa de Chão de Lagoa, convém perguntar o que é lhe passou na cabecinha pensadora. Ainda por cima falou em “fascismo” logo ele, pajem de Jardim, que viveu bem e regaladamente ao sol da ditadura!  Aquilo é, definitivamente, outro país. Honradamente boçal e primitivo como se vê pelas imagens da televisão, por uma vez, sem exemplo, implacável. Ver Jardim, de palhinhas no cocuruto, a propor licor de eucalipto aos jornalistas seria divertido se não fosse ridículo. Ver o outro abencerragem a condenar o “fascismo” seria patético se não fosse um insulto.

Ver esta gente aos saltos lá na festarola deles reforça-me a vontade de me ver livre daquela insalubre espécie de compatriotas. Eles não gostam de nós, porquê obrigá-los a serem parte deste país que, nas palavras deles, os oprime, os injustiça, os esmaga?

Deixem-nos viver a sua vida. Libertem a Madeira das amarras ao continente. Ela que vá mar fora, cantar as excelências de Jardim e Ramos e do licor de eucalipto. Com sorte chegam à Venezuela onde a palhaçada à jardineira tem sérios concorrentes.   

Au Bonheur des Dames 199

d'oliveira, 25.07.09

Um velho senhor deitado no chão

 

Deixem-me partilhar esta convosco. Se é que estão para aturar um velho cavalheiro que se lembra de demasiadas coisas como se o antes fosse melhor do que o agora.

Ando atarefado a organizar os meus textos publicados neste blog. Contas feitas, e por baixo, passam dos setecentos. Em quatro anos é obra. Setecentos textos a duas três paginas cada, eu, em vez de Ribeiro, tendo para Proust (traduzido em calão, claro, que eu até gosto muito do velho senhor por muitas e boas razões. Até pelo “petit pain de mur jaune le plus beau tableau du monde”: ora tomem lá que é para saberem). Portanto, nem imaginam a trabalheira. Ele é gralhas que escaparam a tudo, ele são números repetidos, no Au bonheur de repente passa-se do 152 para o 158, onde é que ficaram os cinco que faltam, por vezes não há títulos, enfim um forrobodó do catorze!

Ora, para esta ingente tarefa que cumpro aplicadamente com a assessoria das gatas (que volta e meia resolvem saltar para a mesa e passear entre mim e o computador) o melhor é ouvir música. Poderia socorrer-me do IPod mas há na televisão um belíssimo canal. o mezzo, que tem a vantagem de apresentar coisas variadas e, muitas vezes, novas para mim. Ora agora mesmo, está a passar o 3º andamento da Nona de Beethoven.

E, de súbito, vem-me à memória o avô Alcino Correia Ribeiro, exportador de vinho do Porto, provador de primeira, homem severo, culto e poupado até dizer basta.

Quando apareceram os discos de 33 rotações e, concomitantemente, umas aparelhagens relativamente cómodas para os ouvir, o avô esqueceu-se da forretice e atirou-se de caras. Ele fora toda a vida, e especialmente na sua juventude, um frequentador de concertos, sobretudo na Alemanha (antes de 1914!) onde passara dois ou três anos a estudar Química e coisas relacionadas com a vinicultura.

Para estrear a aparelhagem, comprou de rajada as nove sinfonias anunciadas na “Stern”, que ele teimosamente continuava a assinar (o avô falava seis ou sete línguas vivas e duas mortas, atrevendo-se mesmo a ler Homero no original!). Quando aquilo chegou e finalmente desembrulhamos aquela resma de discos (mesmo assim eram muitos) o avô anunciou triunfal que iria começar pela nona (três discos pelo menos) e que para a ouvir em condições naquela sala não havia  melhor posição do  que deitados no chão.

E foi assim que, nesse dia (entre todos abençoado), ouvi pela primeira vez a nona, dirigida, penso, pelo von Karajan. Deitado no chão, duro apesar dos tapetes, com cinco intervalos para mudar o disco, tudo minuciosamente explicado pelo avô durante os intervalos. Se bem me lembro a explicação obedecia, como não podia deixar de ser, a critérios em voga nos anos imediatamente anteriores à guerra. Não importa. Sempre que oiço a nona, é do velho senhor que me lembro, do seu pueril entusiasmo, do profundo conhecimento da peça, que ele cantarolava de fio a pavio. E da ode à alegria que obviamente traduzia com facilidade e rigor.

Hoje, a CG saiu de modo que o 3º andamento da nona escutou-se comigo no chão com uma gata na barriga e outra encostada à perna direita. Expliquei-lhes tudo tal como me lembrava. E creio que elas apreciaram.

 

E como manda uma antiquíssima tradição, fomos de seguida comer um pouco de paté. Para mim com um copo de vinho tinto. As gatas beberam água que se consolaram...

Pág. 1/5