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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 172

d'oliveira, 04.07.09

As sereias, Alegre e o novo curso político

 

Ouvirá as sereias e passará adiante

Navegará até ás margens do inferno

(Manuel Alegre: um barco para Itaca)

 

Os jornais noticiam com grande destaque uma campanha, comandada por Sócrates em pessoa, e destinada a trazer Alegre para as listas de deputados a apresentar ás próximas eleições.

Antes de aprofundar esta jocosa novidade, convirá fazer a habitual declaração de interesses. Sou amigo de Manuel Alegre desde 1960, apoiei-o na sua tentativa de conquistar a presidência da República, não pertenço a nenhum movimento politico fundado ou dirigido por ele mas estou absolutamente disposto a assinar as listas do novo movimento que se está a constituir (e nisso comprometendo o meu voto no caso de se apresentar a eleições gerais ou autárquicas, este ano e só este ano). Não me filiarei, obviamente em tal movimento mesmo que me pareça saudável aparecer uma alternativa de área socialista ou social-democrata, no verdadeiro e tradicional sentido dessa expressão. Para esse peditório já dei mais do que o suficiente para voltar a cair na ingenuidade de me filiar seja no que for.

Dito isto, vejamos então o estado actual desta dança com lobos.

Alegre, bateu com a porta, há um par de meses, por razões claras que ele mesmo explicou e que foram prontamente aceites com claríssimo alivio por parte dos seguidores e admiradores do secretario geral do PS. Aqui mesmo, neste blog pluripartidário, houve quem acusasse e quem defendesse Alegre (basta ir ler os textos e os comentários referentes ao caso e publicados em Março).

Todavia, no estado maior do PS, há quem deva ter a memória curta e já nem recorde as acerbas criticas feitas a Alegre e os velados ( e não velados, por exemplo José Lello) convites para o deputado sair e não “chatear mais”.

Alegre não saiu. Declarou que não se recandidataria, que ficaria na base, que não calaria nenhuma das críticas feitas mas que não abandonaria o PS. O suspiro de alivio foi ouvido em todo o lado. Mesmo quando, por trás dele, em surdina, se continuaram a ouvir vozes que pediam a cabeça do poeta ou pelo menos a expulsão.

Agora, pelos vistos, esqueceram-se todas as queixas, todos os agravos, todas as acusações. Corre, solta e impetuosa, uma só voz pedindo o regresso de Alegre às listas de deputados.

Pratiquemos sobre este súbito volte face: será que o partido se descobriu, repentinamente, uma costela masoquista e deseja ardentemente uma “vox clamantis in desertu”, um azorrague, um grilo da consciência, um cardeal diabo, que lhe recorde rancorosamente os erros, os desvios e a negregada margem esquerda? Será que Sócrates e respectivos coleguinhas entenderam voltar ao b-a-bá escolar e primário e resolveram chamar o negregado professor Alegre para, entre palmatoadas e censuras lhes ensinar de novo o que é o socialismo mesmo na versão moderada e nacional que foi a do PS?

Ou, mais simplesmente, entenderam aquelas pequenas luminárias que, perdida já toda a farronca, esboroadas as esperanças de maioria absoluta (e quiçá relativa…), há que recorrer à figura do seu detestado ícone de esquerda para minorar o desastre anunciado, dar uma demão de rosa pálido ao amarelo espúrio do rumo, numa manobra que, em qualquer clássico da politica se chama “oportunismo”? 

Referem os jornais que, até ao momento, Alegre não parece estar disponível para este regresso entre folares e cavalhadas. E percebe-se.

À uma, se é verdade o que os jornais dizem no que toca ao argumentário usado (a derrota do PS e a respectiva saída do Governo), não é razão suficiente, politica e ética, para fazer tábua rasa do que disse e do que criticou.

Depois, mesmo que se atribua, como foi o caso, a Alegre toda uma série de cálculos políticos tenebrosos onde entra a presidência da República, não se percebe como é que ele poderia, sem mais, esquecer a sua posição, solenemente proclamada, para vir engrossar o caudal de candidatos  às legislativas.

Finalmente, estou curioso por saber como é que esse regresso seria vivido por outros próceres socialistas que obviamente também serão candidatos (mais uma vez, e por todos, Lello).  Aceitarão o filho pródigo? Matarão, biblicamente, o seu cabrito mais gordo, para celebrar  o reencontro ou rasgarão as vestes e retirar-se-ão ofendidos com o novo rumo esquerdista do partido?

Incidentalmente, também tenho alguma curiosidade quanto aos comentários que este facto irá provocar. Imagino, tenho quase a certeza, que haverá quem venha falar de uma nova situação politica, objectivamente diferente da de Março Abril (coisa que raia o delírio mas enfim, a politica à portuguesa está carregada de exemplos semelhantes) como se os pressupostos teóricos da governação politica não tivessem sido exactamente os causadores da actual situação desastrosa.  

Estes dias que passam 171

d'oliveira, 03.07.09

 Bengalada neles!

 (carta ao meu amigo João que está desanimado com o espectáculo da pátria)

Conhecemo-nos há uns bons quarenta e cinco anos. Mais até. É de Coimbra, que tu agora votas às gemonias, que vem a nossa amizade, afeiçoada em combates comuns, num tempo de esbirros, de delatores, de solidão. Fizemo-nos cidadãos nas Assembleias Magnas ao frio vivo das noites invernosas no pátio do Palácio dos Grilos, sede da AAC. Aí com muita oratória, igual dose de entusiasmo, muita inocência, deslumbrados, começámos a perceber um mundo diferente daquele em que até então tínhamos vivido. Vínhamos de famílias acomodadas que se podiam dar ao luxo de mandar os filhos para a Universidade, de lhes pagar cama, mesa e roupa lavada numa terra distante, de lhes perdoar, mesmo, algum que outro arroubo contestário. Os nossos pais, pelo menos o meu, apesar de não comungar com a nossa aspiração, estavam ao nosso lado, apoiavam-nos mesmo quando, nos casos meu e do meu irmão, acabámos com o costado em Caxias.

Tu, mesmo, já em Lisboa, arriscaste e não pouco ao assumir responsabilidades politicas clandestinas e estudantis na direcção do movimento associativo.

Vivemos tempos difíceis, durante os primeiros vinte e cinco anos da nossa vida adulta. Assistimos, interviemos, esforçámo-nos (como já confessaste em páginas tuas na internet) durante os anos de fogo e rosas que se sucederam ao 25 de Abril. E muitos anos depois, já com cinquentinhas ainda fomos dar uma mãozinha aos Estados Gerais. E fomos mesmo assim: não pedimos, não queríamos, sequer admitíamos que no horizonte imediato do nosso contributo houvesse uma prebenda qualquer.

Depois desta breve incursão pelo nosso percurso que reivindico com algum orgulho é altura de te dizer que, desta vez, não te apoio na tua desalentada denúncia da situação que vivemos.

Gente como nós já passou por muito pior para se assustar com estes pobres diabos que se pavoneiam na capoeira politica em que eles mesmos se meteram. Isto, caro João, são umas pobres galinhas sem raça definida que sonharam ser águias e nem sequer chegam a urubus. Atiçadas pelo cheiro da carniça, ei-las que aparecem num cacarejo dementado a disputar os restos que caem da mesa do orçamento.

Perante esse espectáculo resta-nos não só a indignação (ainda temos capacidade de nos indignar) mas sobretudo a denúncia das negociatas, das mentirolas (será que eles pensam que somos todos uns anjinhos?) da falta de perspectiva a curto, médio e longo prazo.

E sobretudo é possível, mesmo nos blogs, que tu agora achas pouco interessantes, expor-lhes as vergonhas ao sol. Somos cidadãos que sabem o que isso custou. Somos cidadãos a quem os mais elementares direitos, políticos, sociais, culturais, foram durante longo tempo sonegados. Soubemos resistir a isso, soubemos ultrapassar isso, soubemos até vencer isso. Mal iria o mundo, mal estaríamos nós, se agora nos remetêssemos ao silêncio, à tristeza e ao desalento. Bem pelo contrario, esta situação permite, mesmo a velhos combatentes, desenferrujar a língua, a caneta e o que mais for necessário para combater esta gente que arrenega de tudo, que não tem espinha nem ideais, não tem vergonha nem ética.

Não temos, hoje, mais a perder do que tínhamos em circunstâncias muito piores. Só os adversários são inferiores aos daquele tempo. Em tudo, mas isso não é óbice para não nos mobilizarmos. Era o que faltava. Animo, companheiro! Salut I forza nel canut!  

 

* isto ia chamar-se “varapau neles!” mas lembrei-me a tempo que o nosso amigo d’Oliveira tem uma série com o título “A varapau” pelo que optei pela bengala, coisa a que a nossa idade pode começar a fazer jus, E uma bengala dá sempre jeito.  

 

 

Diário Político 117

mcr, 03.07.09

“A catástrofe iminente…”

Nunca pensei ter de voltar a esta vexata quaestio da candidatura da dr.ª Elisa Ferreira mas o jornal “Público” dedicou-lhe uma meia página ontem e o que por lá se relata pede comentário.

Ora vejamos: uma recentíssima sondagem dá à excelsa candidata menos de metade dos votos de Rui Rio. Parece que esta evidência, de que há meses se deu aqui conta, constitui uma enorme surpresa para a o PS local e para a aspirante à edilidade! De facto, a dr.ª Ferreira fala em "duche de água fria", enquanto uma notabilidade distrital que dá por Avelino Oliveira fala abertamente em “O PS assumir a campanha” e acrescenta num tom elegíaco de general golpista espanhol: “ é preciso quebrar o pendor intelectual da candidatura e recuperar a força partidária.

Detenhamo-nos por segundos nesta expressiva frase, neste grito de alma: ao que parece não convém ao PS (ou ao PS tripeiro) um toque intelectual na campanha mas uma mera demonstração "partidária”. Para um partido miticamente fundado por Antero de Quental a confissão é, alem de pungente, uma clara confissão do estado de espírito com que actualmente se faz politica no partido socialista. Conviria lembrar ao argumentativo Oliveira que o abandono do "intelectual” pode conduzir, conduziu sempre ao chamado método Joãozinho das perdizes, o tal que varria feiras a pau de marmeleiro.

Conviria lembrar a este aparatchik socialista que o que não temos visto nesta campanha, nem nas últimas posições do Partido e da candidata, é pensamento ou política. Nada!  Vejamos. O socialismo a la tripeira andava desaparecido, escafedido, volatizado sob o fado pungente das acusações a Rui Rio. Este, olímpico, nem lhes ligava. E o partido, na sua versão insensata e municipal, vivia á sombra basbaque das vitórias governamentais.  E das putativas luminárias portuenses que o ilustravam. Sobre a cidade não tugiam nem mugiam. Foi então que, numa noite aziaga e de nevoeiro,  se lembraram de que as eleições autárquicas estavam à porta. E o partido sem viço nem candidatos.

Deu-se nesse momento de doloroso despertar o milagre (o segundo milagre, o da famosa repetição da história segundo Marx) da “santinha da ladeira”. Inventaram a candidatura paraquedista da dr.ª Elisa Ferreira! Esperavam ter um efeito certo e, na medida (escassa) que este blog pode testemunhar, tiveram-no. Só aqui, se referiram à candidata JCP (duas vezes, mas muito incidentalmente) e mcr (4 vezes : Au Bonheur … 169 e 170; estes dias… 146 e 158, textos inteiramente dedicados ou quase). Eu mesmo deixei sobre o tema o diário… 115. Em seis meses é obra! Vê-se que vivemos na “invicta” cidade  e que a coisa nos perturba.

Pela parte que me toca, isto vai mais longe. Eleitor natural do PS (ele não merece mas voto PS, Alexandre O’Neil) isto mexe comigo. É que não me passa pela cabeça votar num fantasma, numa ausência, numa não-candidata. E como não me vejo a votar no dr. Rio, num dos seus cúmplices, Rui Sá, o cavalheiro do PC que andou com ele às costas um largo período ou no Bloco, resta-me a hipótese desagradável de votar em branco ou de ir para a praia, coisa pouco salutar em Outubro. E como eu, muito boa gente, fez, começa a fazer ou ainda fará o mesmo raciocínio.

O problema, porém, é mais grave e mais fundo. Elisa Ferreira candidata tous azimuts é tão só a ponta do iceberg que faz naufragar qualquer embarcação socialista. O que está em causa é um modo de fazer “política” para os media, para os aplausos da claque. Quando se semeiam inanidades politicas e insensatas declarações sobre a intrínseca maldade do intelectual no governo da coisa pública mostra-se de facto ao que certa auto-denominada esquerda se reduziu: a uma caricatura de si própria, sem ideais, sem ideias, sem espírito, sem regra e sem pensamento.

E contra isso não vale a pena importar “santinhas” seja de que cor forem. Isto não vai com milagres mas apenas com trabalho honrado, com seriedade e propostas claras e exequíveis. E com noção de serviço público, claro. Todavia, parece, ao ler as declarações dos dirigentes portuenses do PS, que a politica para eles é exactamente a mesma que faz com que um ministro se disfarce de touro manso a ameaçar paspalhices para a oposição. Ou seja isto nem para touradas dá. Uma garraiada e mesmo assim.

d’oliveira fecit

 

O título refere um conhecido panfleto de V.I Ulianov que não vale a pena recomendar aos dirigentes socialistas do norte. Não sabem ler e se soubessem não o compreenderiam.

 

missanga a pataco 73

d'oliveira, 03.07.09

 Aos costumes parlamentares disse tudo

 

 

Palavras, para quê? É um artista português em toda a sua baça grandeza. De inutilidade ministerial comprovada durante quase quatro penosos anos passa agora a anormalidade democrática improvável. 

E depois não me venham dizer que o desnorte não tomou já conta de tudo. É para isto que se pagam impostos? 

 

 

O Estado da Nação Benfiquista

JSC, 02.07.09

Enquanto no Parlamento se peleja em redor do Estado da Nação, o país real ocupa-se do Estado da Nação Benfiquista. Providências cautelares, pedidos de suspensões, acusações grotescas, decisões judiciais que acumulam problemas, tudo, tudo serve para colocar o país do futebol em transe, o que é porreiro para o estado da Nação, que ocupa o pessoal da política, passar ao lado do pagode.

Suspendam as eleições, reclamam uns; outros, prometem fazer novas eleições daqui a seis meses, enquanto o Presidente demissionário e candidato parece ainda não ter decidido se amanhã vai ou não vai a votos.

É incrível como é que um clube com a dimensão do Benfica chegou a esta anarquia. Dizem que há muitos grifos à espera que aquilo se vá decompondo, porque pensam que a sua grandeza será maior se o Benfica for ao charco. É uma visão estranha, de quem aposta em ser grande entre os pequenos, em vez de pugnar por ser o maior entre os grandes. Há, ainda, os chicos espertos, que se fizeram benfiquistas para sacarem, para armarem a confusão geral, contribuindo, desse modo, para a realização do grande sonho daqueles que querem ver o SLB a definhar, sem honra nem glória.


Para sossego do pessoal, para que se centre no estado da Nação, suspendam as eleições benfiquistas. Nomeiem uma Comissão Eleitoral e de Gestão, constituída por benfiquistas de longa data, com provas dadas de dedicação ao clube, com a missão de pacificar o clube e de preparar novas eleições.

"Grande Porto"

José Carlos Pereira, 02.07.09

É hoje apresentado na estação de metro de S. Bento, pelas 18h00, o novo semanário "Grande Porto". Este novo jornal sairá às sextas-feiras, já a partir de amanhã, e surge apropriadamente em ano de eleições autárquicas e legislativas, as quais podem constituir uma boa alavanca de promoção do periódico.

Penso que há espaço para um bom jornal regional, que dê as notícias sobre os municípios e as diferentes subregiões nortenhas que não "cabem" nos principais jornais nacionais, cobrindo a respectiva actualidade política, económica e social. A direcção de Manuel Queiroz e a presença de Rogério Gomes na administração permitem antever um produto de qualidade, que vem engrossar as apostas do grupo Lena na comunicação social.

“Quando Tróia era do povo”

JSC, 01.07.09

O DN noticiava há dias que o preço dos “ferries” está a seleccionar o acesso às praias de Tróia. Pelos vistos foi fácil transformar Tróia num condomínio fechado. Bastou colocar a tarifas dos barquinhos a preços proibitivos, para excluir, pelo preço, a frequência a pessoas com menos poder de compra. Simples, eficaz e democrático.

 

Tróia Gourmet ou, em alternativa, Tróia sem pés descalços. O primeiro slogan é mais modernaço e a palavra «gourmet» está na moda. Podem adoptá-lo.

 

Consta da mesma notícia que os alunos de uma escola secundária recolheram depoimentos e documentação diversa, que reuniram em livro com o sugestivo título - “Quando Tróia era do Povo”.

 

Como as eleições autárquicas está aí, eis uma fantástica oportunidade para os candidatos à Câmara da zona prometerem (e fazerem) que irão devolver as praias de Tróia ao povo. Até é uma promessa simples de cumprir: basta um ou dois barquitos, pelo menos aos fins de semana e no período de férias.

 

Quatro notícias desgarradas

JSC, 01.07.09

1          Madoff, o grande vigarista, que confessou deixar “um legado de vergonha”, apanha 150 anos de prisão. Apenas nos interessa registar este desfecho, aplaudido pelas vítimas, porque bastaram alguns meses para a justiça chegar à decisão final. Por cá, o homem estaria, por esta altura, a ser promovido ao estatuto de arguido, o que acabaria por lhe conferir direitos especiais, como o de fazer arrastar o processo. Ah, já se sabe, os sistemas judiciais são diferentes… Pois são, como se nota pelo resultado em causa.

 

2          Os soldados americanos abandonaram as cidades iraquianas, cujo controlo passou para as mãos das autoridades locais. No mesmo dia, teve lugar o leilão de seis novas explorações petrolíferas, a que concorreram as conhecidas Exxon, Total, Shell e outras. Até ao final do ano terão lugar mais onze leilões e outros se seguirão, segundo um programa aprovado, de modo a aumentar a produção de 4 a 6 milhões de barris por dia.

 

3          A notícia ocupa pouco espaço, mas mostra a desgraça que se abateu sobre Gaza, para além dos dias da guerra. Dois anos de bloqueio, destruição das casas, destruição do espaço público, falta de medicamentos, destruição do sistema de abastecimento de água e de saneamento, hospitais sem energia. 4,5 mil milhões de dólares doados para ajudar na reconstrução, que não podem ser usados porque o bloqueio não deixa entrar materiais e equipamentos, nem deixa sair as pessoas, mesmo que seja para receber tratamento hospitalar fora do cerco.

 

4          Vann Nath, pintor, salvou-se por pintar Pol Pot. Agora, Vann Nath revela ao mundo como sobreviveu, no dia a dia, aos horrendos crimes que liquidaram 25% da população do Camboja. O processo está a decorrer no Tribunal, criado pela ONU, para julgar os crimes praticados contra a humanidade pelos seguidores de Pol Pot. Nunca é tarde para se fazer justiça e limpar a consciência colectiva (dos povos).

 

Au Bonheur des Dames 193

d'oliveira, 01.07.09

 

Estará tudo isto a saque?

 

A pergunta será, porventura ociosa dado que a maioria das gentis leitorinhas responderá sem hesitações que sim, que entrámos no tempo dos urubus e que anda meio mundo a enganar o outro meio.

É possível, mas eu, que sou da velha guarda e que ainda tenho alguma fé no próximo, caio que nem um pato em todas as que me aparecem. Ou, se não caio, titubeio. Ora vejam.

Estava eu, todo contente a gozar um sábado de grande calma lendo ( ou melhor folheando) de parceria com a minha gata Kiki de Montparnasse, duas aquisições literárias recentes, a saber, “Mil anos de poesia europea” e “La aventura de pensar” do Savater.

E a que vem tão extravagante junção?, perguntará a habitual leitora cartesiana e curiosa. Ora, a nada, ou melhor, tal leitura deveu-se ao facto de estar a dar entrada dos livros no ficheiro e, como de costume, resolvi demorar-me a dar uma vista de olhos. A Kiki entusiasmou-se com um capítulo sobre Hume e a radicalização do empirismo (e toda a gente sabe quão empírica pode ser uma gata cinzenta e amadora de fiambre da perna extra ((mas sempre da marca Nobre!, nisso se parecendo com a minha augusta mãe que em fiambres é muito selectiva. Deve ser da idade…)) enquanto eu a tentava com as primeiras linhas de “Orlando furioso” (le donne, i cavalier, L’arme, gli amori, le cortesie, l’audaci imprese io canto…) quando me batem à porta.

Fiz das tripas coração e arrastei-me até à entrada, desta vez acompanhado da gata Ingrid Bergmann que é uma criaturinha curiosa até mais não e muito dada a estabelecer novas amizades.

Era um cavalheiro da “clix” que me vinha propor, num só pacote, este mundo, o outro e toda uma nova maneira de estar na internet. E na fibra óptica!, diz-me de lado a Ingrid. E na fibra óptica, concordo eu.

Contas feitas, por menos do que eu pagava na Zon, ofereciam-me a felicidade, a velocidade e os canais 2 e 3 da RAI. E mais coisas, claro, mas retenho estas que foram as que mais me bateram no olho voraz.

O pobre, quando a esmola é grande, desconfia e eu, macaco velho e já com o rabo pelado, resolvi fazer algumas perguntas. Se tinha de esfurancar a casa toda (Homessa! Nada disso! É tudo wireless!), se alem das duas boxes que queria poderia ter televisão nas restantes divisões (Pois claro, era o que faltava!),se poderia organizar, nas boxes, uma lista de canais favoritos, obliterando a escória televisiva e ordenando-os à minha maneira (isso da primeira vez fazem-lhe os instaladores mas de todo o modo é uma fervurinha!) e finalmente se poderia ter uma “pen” para o serviço de internet móvel, uma coisa mais eficaz do que a de que dispunha, mais rápida, mais fiável etc, etc… (gargalhada dos vendedores, na altura já eram dois: cheirava-lhes a carniça fresca, claro: que sim, que estivesse descansado.)

Assinei os papeis perante o olhar critico, e no momento, kanteano da Kiki e o entusiasmo da estouvada Ingrid.

Até hoje, dia maior da nova vida toda em fibra óptica. Hoje, dia dos prodígios, recebi logo pela manhã uma encomenda com o dispositivo de internet móvel que me pareceu rigorosamente idêntico ao que já tinha! E à uma e meia, estacionavam cá em casa dois instaladores da Clix cheios de fios.

Intrigado, e desconfiado, perguntei o porquê da fiarada.  Era para escavacar parte das paredes e levar a tal óptica a 100mps aos locais de consumo.

Resolvi começar por perguntar se me instalavam nas boxes o tal programa de favoritos explicando que não gosto de ver o canal bromberg das cotações, a MTV e outras balivérnias. Os rapazes torceram-se, franziram o sobrolho e murmuraram que isso não era assim tão líquido. Até a Ingrid Bergmann que obviamente acorrera para confraternizar com os visitantes pareceu desconcertda. Aterrado, resolvi indagar se poderia ver televisão mesmo nas divisões onde não haveria instalação de boxes. Não!

Não?, bradei, estarrecido, então o que é que faço?

Põe mais boxes.

E pago!

Ai não! Se lhe disseram que era de borla pode tirar o cavalinho da chuva.

Manda a verdade que a tanto os “comerciais” clixonianos não se atreveram. Mas, perante a minha pergunta clara e objectiva, disseram que onde não haveria box haveria apenas o pacote primário da clix!

Em poucas (e escolhidas) palavras: alguém me tinha tomado por lorpa, me tinha enfiado o barrete até aos ombros e me servia gato por lebre, salvo seja (desculpem lá gatas, isto é uma velha expressão portuguesa, não é nada sobre vocês”.)

Alto e pára o baile! Assim nem vale a pena começar. Vamos já ver o que diz a clix e se as coisas foram como dizem, foi pena o passeio porque para serviço assim-assim já me basta a Zon.

E terminou desta maneira, com protesto assinado, a aventura de migração para a clix. Clix que a pariu! No mesmo momento resolvi devolver o dispositivo de internet móvel que era, como eu suspeitava, a mesmíssima coisa que já tinha. A propósito já está encomendada a outra operadora, aliás à minha operadora para este efeito, a famosa pen que os clixordeiros não têm.

Na passada, negociei com a Zon um novo contrato mais barato, com mais regalias do que anterior. Eu não sei se quem é zon está on como eles apregoam. Sei, todavia, que com algumas outras, ou outra, operadora não se está on. Está-se off. 

(Kiki, o Berkeley não é ainda para a tua idade!  E o Schopenhauer muito menos! )

 

 mcr com Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman de Andrade escreveram este Au Bonheur des Dames et des Chattes

 

* "La Aventura de pensar", Fernando Savater, Debate, 2009

"Mil años de poesia europea", Francisco Rico, Backlist, 2009

** na gravura Kiki e Ingrid a fazerem pose para o dr Manuel António Pina 

A descida no preço do gás

JSC, 01.07.09

Em termos médios, o preço do gás natural para os consumidores domésticos vai baixar 4,1%.

 

Os clientes do Porto são os que têm menores reduções de preços. A Portgás, empresa detida pela EDP, apenas reduz as tarifas em 2,8%, enquanto que os clientes com maiores reduções são de Lisboa (-4,1%), Setúbal ( -4,5%) e da Régua (-5,3%).

 

 Não conheço o critério que levou a Entidade Reguladora a aprovar estas descidas de preços. Mas não deve ser fácil de explicar, a partir da estrutura de custos, o porquê dos clientes de Lisboa e de Setúbal beneficiarem de uma descida que é quase o dobro da descida de tarifas no Porto. Por outro lado, os custos de distribuição na Régua ou na margem sul devem ser claramente superiores aos verificados no Porto, o que torna ainda mais difícil a compreensão desta política de preços.

 

O negócio do gás natural, que começou por ser uma alternativa de escolha do fornecedor de energia, é cada vez mais um negócio de fornecedor único, em regime de monopólio regional, em que o Governo, entidade que concessionou o negócio, parece ter perdido o controlo, a ponto da EDP ter deitado a mão a algumas empresas locais, com o resultado que se vê.

 

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