Diário Político 120
Metáfora para os dias que passam
Ums rapazolas chamados Gallagher iam dar um concerto perante muitos fans (ele há fans para tudo!…) mas minutos antes de entrarem em palco envolveram-se á pancada.
Acabou aí o regresso de uma banda cujo êxito nunca compreendi: os Oasis.
Mais de cinquenta mil fans choraram. Os noticiários internacionais não perderam tempo, claro.
Ao mesmo tempo, com a gravidade que se compreende, a América despedia-se de Ted Kennedy. Aquí a música era outra. Depois dos cantos sagrados na catedral de Boston (e os católicos americanos não brincam em serviço, sequer neste campo) eis que irrompeu poderosa “America oh beautiful”, esse hino oficioso da esperança e da alegria.
Ted Kennedy! O terceiro, aliás o quarto, esquecemo-nos sempre do mais velho que morreu em combate. Ted o que deixa a herança mais consistente pelo intenso labor no Senado (quarenta e seis anos de presença activa!), pela cruzada continua e sem desfalecimentos por um outro sonho americano, pela coerente e límpida oposição à guerra, pela aposta em Obama.
Poder-se-á dizer que para ele tudo foi fácil. Era rico, pertencia a uma dinastia de gigantes, era poderoso. Esquecem-se oa críticos que era católico num Estado “wasp”, o Massachussets numa nação eivada de valores protestantes, e sob a sombra trágica e perigosa de dois irmãos assassinados. Ted, antes de ser Ted, como John era John e Robert, Bob, teve que fazer esquecer (teve de superar) o Kennedy familiar e pesado como uma lousa de túmulo. E demorou anos! Anos de trabalho quase anónimo nos corredores do Senado, sob a luz inclemente de projectores que só iluminam o escândalo, jamais o esforço e o trabalho honrado.
Hoje, numa daquelas encenações que só os americanos sabem levar a cabo, a nação e o mundo despedem-se do homem que morre antes de ver o sucesso do combate de toda uma vida: as novas leis sobre a assistência médica e sobre os cuidados de saúde.
Os últimos meses de Ted Kennedy foram penosos. Demasiado penosos. Mas foram também, para quem é um mero espectador interessado, uma lição de estoicismo e de heroísmo. Este homem, á semelhança de Guillaume, o “meilleur chevalier du monde” preparou a sua morte, o espectáculo da sua morte. Não creio que tenha lido Duby, os americanos são pouco dados à historiografia europeia e muito menos à da nossa idade média. Mas se, por milagre, o tivesse lido, poderíamos dizer que aprendeu bem a lição.
Quem não aprende qualquer lição do passado, infelizmente, é a nossa classe política. Estamos perante dias importantes, duas eleições, balanço de uma inteira legislatura, para não falar dos treaentos e tal balanços de governo municipal. A época é dura. A crise,não acabou, pese embora a certas e oportunas sereias que anunciam já a retoma e a felicidade próxima. É menira, Nada melhorará antes, pelo menos, de uma ano. E estou a ser optimista.
Sei do que falo: este ano, este mês, embora tenha tido rendimentos inferiores aos do ano passado vou pagar impostos incomparavelmente mais altos. Sem escapatória alguma. Isso será um dos critérios (não ´único, não o principal mas um deles) que me ditará o voto, obviamente. Sobretudo porque é com o meu dinheiro (escasso dinheiro, suado, duramente suado) que depois o Estado irá levar a cabo os investimentos públicos, assumirá as dívidas de bancos aventureiros, as derrapagens de custos de auto-estradas que ainda não saíram do papel e cuja utilidade é indiscutivelemnte duvidosa, do famoso comboio de alta velocidade Porto Vigo e outras maravilhas que a inconsciência de uns políticos ineptos inventam para se promoverem aos olhos dos basbaques.
A época de caça abriu. A da caça verdadeira e a outra, a da caça ao eleitor inocente. Nunca entendi a necessidade de cartazes gigantescos com mensagens entre o pobre e o paupérrimo (para não falar nos inenarráveis conselhos da drª Ferreira Leite que falhou uma carreira de catequista) de cartazes onde se afirma que subiu o salário mínimo, mas esquece que subiu mais o imposto e decresceu o rendimento líquido, que é o que interessa. E aumentou a ansiedade perante o futuro, o receio, o stress. Dir-se-á que não é só cá. É verdade. Só que entre nós, há o singular hábito de só iluminar uma das faces da moeda. A que nos convém.
Amigos e amigas, leitores. Assim não vamos lá. Isto que se veícula em certos discursos, em certos cartazes, em certas afirmações, não é optimismo saudável, não é vontade de superar obstáculos, de criar um país e uma vida melhores. É inércia, videirice, aldrabice. É a secular maldição portuguesa, o faduncho eterno que nos amarra à mediocridade, ao salve-se quem puder.
Querem exemplos? Hoje, no Público, um tenente coronel aviador na reforma bolsa uns grotescos sentimentos nacionalistóides, para não dizer fascistóides, sobre Olivença, a Espanha o nosso destino e o mais que lhe lembrou. Como escrita é indigente, como pensamento apenas primário e como oportunidade é um tiro no pé. A criatura, para só citar uma das suas falsas pérolas, acha que os municipios da raia, longe de criarem relações firmes com os seus congéneres espanhois a dois passos, deveriam aproximar-se do litoral (a duzentos quilómetros!). Já agora, conviria perguntar para quê?
Feito por d’Oliveira, incréu, estrangeirado e pouco dado a glorificar o “torrãozinho de açúcar”
29.08.09