Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Uma equipa incompleta?

O meu olhar, 30.09.09

Depois da comunicação de ontem de Cavaco Silva fico com impressão que a sua equipa de assessores está incompleta. Faltam-lhe certamente especialistas que o ajudem a encontrar o significado das expressões “ sentido de Estado” e “garante da estabilidade” e identificar, com exactidão, as “vulnerabilidades” no seu sistema informático e… resolvê-las. Não será tarefa fácil já que os recursos que o Presidente da República tem ao seu dispor são muito escassos, mas vale a pena o esforço.
 

Já agora, também daria muito jeito ao país que oferecessem a Cavaco Silva uma agenda, mesmo um simples calendário já poderia ser útil, para que pudesse fazer o agendamento adequado das suas intervenções. O agendamento para ontem de duas iniciativas, recepção de técnicos da área de sistemas de informação e a comunicação ao país, pareceu-me falta de planeamento.
 
Por fim, também seria conveniente que a sua assessoria para a comunicação cuidasse para que Cavaco recebesse os jornais diariamente. Parece que a entrega do Público falhou uns dias em Agosto.
Falhas lamentáveis.

missanga a pataco 76

d'oliveira, 29.09.09

D. João Qualquer obstáculo, qualquer impedimento, qualquer entrave seria para mim um alivio. Até me sinto doente só de pensar nesse homem. Tudo o que contrariar os seus desejos reforçará os meus. Como é que podes impedir este casamento?

Borachio Por uma via pouco honrosa, senhor, mas de tal modo escondida que nada de desonesto poderão ver nos meus actos

(Muito barulho para nada, Shakespeare,  Cena 2ª, 2º Acto) 

 

Ansiedade

O meu olhar, 29.09.09

                                                  

Hoje estou feliz! Vou finalmente saber o que o Presidente da República tem para dizer aos portugueses. Ele vai falar. O meu problema é saber como vou aguentar tanta ansiedade para ultrapassar as horas que nos separam desse momento de que todos falam, pelo qual todos anseiam. Além disso temos a dúvida essencial: falará finalmente das escutas? Todos os comentaristas que ouvi asseguram que sim.
Claro que podíamos pensar que, como tivemos eleições, uma declaração sobre as mesmas seria adequado. Até porque a governação vai ser difícil. Desenha-se a passagem do cenário das feiras e mercados para a Assembleia da República. Penso que os ventos correm totalmente a favor de Portas: vai sentir-se, como nunca, em “casa”.
Claro que se Cavaco falar sobre as eleições (um assunto “menor”) isso implicaria continuarmos sem desvendar o próximo episódio das escutas. Entre uma coisa e outra não há dúvida: venha o próximo episódio. A partir desta declaração de Cavaco seremos um povo mais esclarecido, mais capaz de enfrentar desafios, mais motivado para o trabalho.
Há uma terceira possibilidade: Cavaco vai falar dos dois temas: eleições e escutas. Afinal estes dois temas têm andado sempre ligados...
Aguardemos pacientemente.

Diário Político 122

mcr, 28.09.09

Expressiva, significativa, confortável... (ensaio sobre o dissabor)

 

Permitam-me os leitores que me atreva pelo caminho sempre difícil  da retórica política. Não que tenha para tal especiais aptidões ou particular conhecimento mas tão só porque, ao fim de muitos anos de vida cidadã, uma pessoa acaba por perceber o que lhe querem dizer ou, mais importante, o que lhe querem esconder.

Ontem, desde cedo, e diante das câmaras (atentas veneradoras e obrigadas) das televisões que temos, vários próceres socialistas foram destilando com comovedora candura estes (e outros) adjectivos que parecendo festivos apenas denunciavam uma amarga desilusão. Falavam, como é evidente, da maioria que as projecções e, depois, as urnas, lhes tinham concedido.

É mister recuar um pouco, um par de dias, uma semana, maxime, para recordar a alguém mais desatento esta pequena e elementar verdade. Depois de um malogro desagradável nas Europeias, o PS, enfrentou um Verão benevolente ou assim tornado por força de notícias (nem sempre verdadeiras ou nem sempre exactas) sobre a conjuntura económica a que se foi juntando uma natural mobilização de militantes e simpatizantes que perante o desastre anunciando desistiam de queixas e criticas e se uniam para “bater a direita”.

Por seu turno, a Direita, ou seja o ajuntamento inconstante que a dr.ª Ferreira Leite tentava consolidar com menos perícia do que teimosia, engodada pela miragem de uma vitória ao alcance da mão, fez o que se esperava: desatou a calçar os sapatos do defunto a quem ainda ninguém passara, et pour cause, a devida certidão de óbito.

Lateralmente lá se acabou com a incómoda voz da jornalista Moura Guedes e se desviaram (com ampla e inocente colaboração do PSD) os focos da discussão para o TGV e outras bagatelas, terrenos já caminhados pelos fontistas e seus adversários vai para mais de um século. Belém, por seu lado, deu o seu precioso contributo quando permitiu que se remexesse numa historieta que, mesmo se verdadeira, poderia voltar-se contra os seus presumíveis denunciantes.

Tudo isto e as vagas referências à bondade de uma série de medidas anti-crise e o seu (putativo e imediato) efeito já para este fim de ano, alentaram a máquina socialista. Nem sequer faltou a voz da versão salvífica da esquerda apeada do poder (Manuel Alegre a pedir o voto de todos os seus amigos) ou a miragem ainda mais distante de um pai bonacheirão e au dessous de la melée (Mário Soares a tentar colar a Sócrates o fixe da sua campanha presidencial). E foi assim que se chegou à penúltima semana de campanha com uma enternecedora visão de vitória ao alcance da mão. No pior cenário, antevia-se uma maioria confortável (e este adjectivo nunca foi usado, que eu saiba) que significava tão só uma perda de dez a quinze deputados facilmente remediável com um acordo parlamentar. No melhor, nunca confessado, as perdas estariam reabsorvidas ou quase pelas asneiras do outro lado. Um que outro jornal, às escondidas, mas autorizado, referiu o facto, naqueles sibilinos termos da “cassete jornalística”: "o partido socialista ainda não reclamou a maioria absoluta".

E, nesta frase conspícua ia toda uma subtil menção a essa maioria absoluta quase ao alcance da mão. Assim os deuses ajudassem, assim o povo se mobilizasse, assim os descrentes bebessem o cálice da amargura até às fezes.

A Direita e a Esquerda ajudaram à festa na medida exacta em que também nos últimos dez doze dias de campanha tornaram o fim da maioria absoluta do PS num objectivo de campanha, num slogan, num desafio. E isso, desculpar-me-ão, é algo que também não deve ser manejado à toa. Justamente por que se não controlam totalmente os seus efeitos.

Portanto, o PS chegou ao dia da verdade com estes dois simpáticos cenários. As sondagens publicadas atiravam com dez pontos de diferença entre os dois partidos de poder e remetiam os outros três para percentagens que, graças ao método de Hondt, os privaria de muitos dos deputados que afinal obtiveram. Os jornais estão aí ou, se já foram para o lixo, basta ir a uma hemeroteca.

Porém, uma coisa é o que se quer e outra o que se obtém. E a realidade, sempre essa incómoda circunstância, ameaçou, logo ao princípio da noite, com outras maiorias. Com as tais que se foram desembrulhando (significativas, claro, expressivas, por que não?, mas desconfortáveis, sempre).

Portanto é assim: a maioria socialista não conforta, não sossega, não é simpática. Por mais voltas que dê, só há uma alternativa rápida de acordo. A que propõe um bloco central. Todavia, isso, com a dr.ª Ferreira Leite, é difícil e, no PSD, a defenestração do líder é já uma tradição se é que ainda não faz parte dos Estatutos. Os urubus já devem andar a pairar sedentos de carniça e dispostos a matar a “mãe”. Poder-se-á pensar que, afastada a velha senhora, a “tia” chata, apareça alguém pronto a (em nome dum acrisolado patriotismo e da responsabilidade e sentido de Estado, bla, bla, bla) chegar a um acordo “honroso” em que os “sacrifícios”, pessoais e políticos serão imensos mas “necessários” para salvar Portugal de uma situação “incómoda” e exigente.

Tudo vai depender ainda dos resultados das autárquicas, claro mas mesmo que o PPD consiga, caso a caso, reunir todas as suas dispersas e desconsoladas tropas, o simples facto de se estar numa eleição muito local pode não confortar a actual direcção do Partido.

E agora, os outros?

Será que os do Bloco (que num cartaz anunciavam estarem “prontos”) negociarão com o PS? Em que base? Sacrificando o quê? Porém nem a maioria deste nem  a fulgurante ascensão daquele juntam os deputados necessários para formar uma maioria parlamentar. Alguém, mais iludido e esperançoso, ja terá alegremente  pensado numa “frente popular” juntando a este grupo o PC.

Claro que nem o Bloco nem o PC se mostraram favoráveis a tão extraordinário renascimento de um dos mitos maiores de meados do século passado. Há muito azedume antigo, muitas contas a ajustar, muito divergência inconciliável para que este cenário (pesadelo, já hoje manifestado, de muito boa gente ) tenha algum crédito.

Resta o CDS. Vozes aqui e ali já falam de um acordo. Sempre com o mesmo problema: falta gente. A maioria expressiva, “a grande vitória eleitoral” (Sócrates dixit) e os dois dígitos de Portas também não chegam para garantir uma maioria. Convém lembrar esta antipática matemática aos que recordam (e quão esquecidos estão das consequências) um anterior acordo com os mesmos protagonistas.

Aqui chegados, alguém será tentado a dizer que eu estou a dar o PS como perdedor destas eleições. Conviria ler o que está escrito e não alguma hipotética mas fantasiosa entrelinha. O PS ganhou mas vai ter muito que suar para fazer a vitória render.

E, já agora, vamos a contas.

Todos os restantes partidos ganharam votos e deputados: o PPD ganhou para já seis deputados não contando com os que decerto lhe virão caber com os resultados da Europa e resto do Mundo. (Mais três?, dois seguramente). Também teve mais alguns votos do que na legislativa anterior. É um vencedor? Não. Não pela simples razão de que corria como challenger e aí cai estrondosamente. Está a cinco pontos (e não os dez previstos há dias) do vencedor e a dezoito deputados..... A hora da verdade a ter chegado será para Ferreira Leite essa catecúmena que arrumou a casa com demasiada precipitação e não soube, não pode ou não quis aparecer de facto como alternativa. Bon debarras, como dizem os francius.

O PC cai para quinto lugar mas beneficia da sua implantação centralizada, do seu “esprit de corps” o que lhe permitiu ganhar um precioso deputado e trinta mil votos. É consolador. A noite das facas longas não está para breve lá dentro.

O Bloco ganha como se previa mas menos, bastante menos, ao fim e ao cabo do que o número global dos seus votos poderia fazer pensar. É o método de Hondt a fazer das suas e portanto convém que se não queixe. Foi a jogo e as regras são estas. Onde as suas percentagens estavam em consolidação aproveitou, noutros círculos é como se não o tivessem votado.

Outro galo cantou ao CDS. Há ali muito trabalho politico, muito esforço e, se olharmos aos meios utilizados, à máquina leve e ao estilo de campanha, esta eleição correu-lhe melhor do que bem. Tudo lhe sorriu, (até o malicioso Hondt!) pelo que Portas se pode mesmo permitir “saudar todos os antigos presidentes do Partido, todos sem excepção” (sic!). Ora aqui está um claríssimo vencedor.

E mais, Portas rouba votos ao PS e atreve-se a jogar nas mesas dos novos eleitores deitando por terra uma teoria tonta que dava o bloco como proprietário dessa geração votante. Quem anda neste mundo percebe o fenómeno. É que uma coisa é a juventude minoritária e politizada e outra a juventude tout court que também vota. Os da primeira poderão mostrar alguma simpatia pelo bloco ou pelo PC mas a maioria, pelos vistos, vota com menos arroubo profético.

Voltando á vaca fria: PS que vitória?

Também aqui se arrisca alguma hipótese. O tempo de Sócrates encurtou. E pode encurtar ainda mais se os resultados das autárquicas forem desagradáveis. E para ele, desagradável será, por exemplo, António Costa ganhar Lisboa. Tal vitória ungi-lo-ia como sucessor, à semelhança de Sampaio, como recordarão. Costa não tem sobre si as hipotecas contraídas por este governo, saiu dele a tempo, polemicou o quantum satis com alguns ministros para mostrar que não é um yes-man e, com os limites que se conhecem, tentou e conseguiu uma mini-frente de esquerda na lista para a Câmara. Basta-lhe que Carmona embarace Santana Lopes e que alguns eleitores indecisos mas  genericamente à esquerda votem útil. Aí têm um líder para o próximo PS, pronto a servir. Novamente alguém achará que a actual direcção do PS quer perder Lisboa. Não disse isso nem sequer o penso mas no actual quadro, a emergência de um sólido vendedor não conotado com os desaires dos últimos tempos, tem, queira-se ou não, esse efeito. Os militantes querem campeões, foram educados para os quererem, e a baça alegria que ontem nenhuma televisão conseguiu esconder, mostra-o abundantemente. Hoje duas respeitáveis senhoras numa mesa ao lado da minha perguntavam-se para que servia esta maioria. E obviamente rosnavam contra quem não transformou o significativo em confortável ou mesmo em absoluto. Amanhã, mais e mais farão a mesma pergunta.

D’Oliveira fecit 

 

(este texto terminou de se escrever às 11.20 da manhã de hoje. Depois foi o que se viu: o habitual Passos Coelho apareceu –como se previa – e com a candura da inocência desvairada afirma que logo a seguir às autárquicas pede contas. Ora aqui está uma coisa que “ajuda” a campanha do PSD!...

Tiros no pé? No pé, na mão, no peito... e no que mais se lembrarem.)

 

 

 

 

 

 

A vitória de Sócrates

José Carlos Pereira, 28.09.09

O PS ganhou as eleições legislativas de ontem, com uma vantagem muito confortável sobre o PSD. É certo que perdeu a maioria absoluta e que Sócrates terá de governar em condições mais difíceis, mas isso também servirá para comprometer as outras forças políticas com a governação do país. Esses partidos terão de evoluir do protesto para o compromisso.

O PSD revelou-se um desastre total, praticamente igualando o resultado de Santana Lopes, em 2005, que tanto escandalizara as elites sociais-democratas. Manuela Ferreira Leite não conseguiu unir o partido nem motivar o seu potencial eleitorado. Não tardará a aparecer quem venha pedir a sua cabeça.

O CDS-PP registou uma subida inesperada e foi a grande surpresa, fixando-se como terceiro partido mais votado. Captou o voto de muitos eleitores de direita que preferiram a determinação e combatividade de Portas à apagada e vil tristeza de Manuela.

O BE duplicou a sua representação mas teve o amargo de boca de ver o CDS-PP ultrapassá-lo, tal como a CDU subiu a votação mas ficou reduzida a quinta força política. Os sorrisos amarelos abundaram nas respectivas sedes. A abstenção cresceu, tal como a soma de votos brancos e nulos, o que pode ser um sinal de que muitos descontentes com o PS acabaram por não reconhecer nos outros partidos alternativas eficazes.

Vêm aí tempos novos e creio que fará bem a Sócrates passar pela experiência de negociar compromissos e políticas. Cabe-lhe demonstrar que o PS também é capaz de ceder e consensualizar posições. Quanto às medidas que não merecerem apoio de nenhum partido da oposição, ficarão à espera de melhor oportunidade…

estes dias que passam 182

d'oliveira, 28.09.09

Vitórias pírricas

Saberão as leitoras que Pirro, rei do Epiro, descendente de Aquiles, conseguiu extraordinárias vitórias contra o mais poderoso império que a Europa alguma vez conheceu (Roma). Todavia, quando alguém o cumprimentou, Pirro teria respondido que com mais uma ou duas vitórias idênticas, estaria perdido. É que elas lhe tinham custado tanto em homens e dinheiro que pouco lhe restava já não digo para as explorar mas apenas para lhes manter limitados efeitos.

Gostaria de pensar que outras pessoas mais perto de nós e tendo também um nome de ressonâncias clássicas, soubessem avaliar estas sábias palavras pronunciadas há vinte e dois séculos.  Gostaria igualmente que os eventuais dirigentes políticos portugueses entendessem o recado que nós portugueses lhes mandámos (nós os que votámos os que se abstiveram os que disseram sim mas, ou não porém). Mas pelo que vejo (e tanto me congratulo em ter evitado votar em A ou B) parece que a lição ainda vai demorar a ser percebida.

É que todos persistem em afirmar vitória eleitoral mesmo se, dessa mesma vitória, poucos ou nenhuns efeitos duradouros conseguem tirar.

Falei, em post anterior no meu querido amigo, e antigo camarada de outros carnavais, Ferro Rodrigues. E não foi por acaso como agora se vê: teve mais votos numa situação terrível do que o actual primeiro ministro. É tempo de voltar  por muito que Paris valha (e vale) uma missa. E com isso entramos já no ponto quente:

O Partido socialista ganhou as eleições. Sem dúvida. Só que ganha perdendo a maioria absoluta que não soube usar e que não merecia voltar a ter, vendo fugir-lhe mais de meio milhão de eleitores e sendo, ó ironia, o único partido que perde votos em relação às anteriores legislativas. Mas ganhou, disso não há dúvidas. Compete-lhe agora dizer ao que vem e como vem. E relembra-se aqui, antes que a poeira da vitória o obnubile que em Portugal houve governos minoritários que governaram. E que ganharam depois eleições, como o senhor Presidente da República poderá, querendo, recordar o seu primeiro governo.

O PSD perdeu as eleições. Perdeu por razões próprias e por um passo desastrado de Belém, se é que foi aí que se criou o caso das escutas fantasmas. Digamos que, se assim foi, é bem feito. Perdeu também porque o seu o seu principal adversário  recebeu nesta última semana duas boleias de peso: Alegre em Coimbra e Soares no Porto fizeram saltar os alarmes e mobilizaram sem qualquer dúvida muitos votantes que se mostravam até há dias muito pouco dispostos a votar “útil”. Alegre, a que um pobre pateta do Porto (que deve ter sido reeleito!) chamava tudo, fez em Coimbra às claras o que já fizera veladamente em Lisboa (quando convenceu Roseta a aliar-se a Costa, coisa que pode transformar uma hipotética derrota autárquica numa vitória possível): deu o aval e pediu aos seus muitos adeptos para esquecer diferenças e ofensas. É bom que lhe agradeçam. E que o ponham entre os vencedores...

O PC andou toda a campanha a pedir um aumento de votos. Teve-o. Presumivelmente desejava mais deputados. Teve mais um. Não se confirmam as notícias da sua morte iminente sequer o seu enfraquecimento. Não ganhou no tabuleiro das aparências visto ser agora o quinto (e último) partido com representação parlamentar. Porém, os comunistas disciplinados que são, vacinados contra os pequenos sobressaltos da história que para eles tem um fim pré-determinado, não se movem, nem se impressionam, no reino das aparências. Estão dispostos a esperar mesmo que o dia da vitória final se vá postergando até ao ressuscitar de Lenine. Quando o cadáver embalsamado da Praça Vermelha se levantar eles aí estarão para conquistar outro Palácio de Inverno. Resta-lhe um pequeno problema: que vai fazer com estes votos e com este deputado? 

A paciência dos comunistas falta aos cavalheiros do Bloco.  Ou então é a frieza que lhes falta. Cresceram muito. Menos do que esperavam e no “teatro das aparências” a que, como se viu, rendem um estranho culto, averbam uma pequena derrota: ficaram claramente atrás do CDS apesar das projecções e das sondagens que, surpreendentemente, os traziam ao colo. Muitos dos votos que fugiram ao PS, versão Sócrates, caíram-lhes no regaço. Seria bom que se lembrassem disso porque com um líder menos autoritário e com um governo menos “liberal” tais votos poderão regressar ao destinatário original numa dinâmica de voto “útil”. Conviria que Louçã, Rosas e Fazenda percebessem que estão a jogar com dinheiro emprestado.

Finalmente o CDS regista o melhor resultado dos últimos vinte e seis anos. É obra! E consegue-o usando meios modestíssimos, gastando uma soma irrisória, sem aparato nem cartazes grandes. Portas gabou-se mesmo de registar elevadas percentagens nas mesas dos jovens eleitores contestando assim a ideia de que seria o Bloco o campeão dessa faixa etária. (Já agora conviria ver os resultados do PC nessas mesmas mesas).

Uma coisa é certa. Ganham eleitores e deputados sem que se possa dizer, sem sombra de dúvida, que os foram buscar a eleitores tradicionais do PSD. Apostaram em slogans simples (agricultura, pme’s eficácia) e há que reconhecer que Portas, além de culto e inteligente, é um excelente organizador e um trabalhador incansável. Pessoalmente considero que ele e Jerónimo de Sousa foram os dois melhores líderes em campanha: convictos, claros, humildes e determinados. E não misturaram água no seu vinho o que, nos dias que correm, não deixa de ser notável. Nunca me apanhariam o voto mas ganharam o meu respeito.

 

E agora?

Como já disse, o mundo não acaba nem este resultado é uma catástrofe. Este país tem de aprender a viver com maiorias relativas e com acordos de circunstância. É assim que se vive no resto da Europa onde não são frequentes as maiorias absolutas.

Conviria, isso sim, mudar alguns hábitos. A começar pelo spoil system em que agora se tornou a nomeação de chefias na função pública. A continuar pela imoral contratação de deputados para assessores de câmaras municipais (onde os inexistentes serviços prestados pelos primeiros são pagos a peso de ouro. A acabar pelas nomeações para as empresas públicas e aparentadas como prémio  de serviços políticos. E já agora: proibir que políticos recém-desempregados passem rapidamente para empresas privadas que seguramente apenas os contratam para traficar influências ou, e pior, para pagar serviços prestados no exercício de cargos públicos.  

Se isto, só isto, fosse conseguido na próxima legislatura, que imenso passo não teríamos dado... será pedir muito?

* como o título indica esta seria uma vitória a que ninguém poderia chamar pírrica.     

 

 

 

Já está!

JSC, 27.09.09

Acabei de ir votar. Como não sabia o número de eleitor fui para uma fila, onde outros eleitores, com o cartão de cidadão na mão, aguardavam que lhes dissessem o que eu também queria saber.

 

À minha frente uma eleitora apresentou o seu cartão de cidadão e o cartão de eleitor antigo. Não constava do caderno eleitoral. Sabe, disse o funcionário, muitos eleitores com o cartão de cidadão desapareceram dos cadernos eleitorais. Vou ter de telefonar para a Comissão de eleições.

 

Telefonou, conversa para cá, conversa para lá, acabaram por concluir que o melhor era a senhora votar, numa daquelas secções de voto, com o número antigo e fazerem uma acta a dizer isso mesmo, que depois seria remetida para a Comissão. Escreveu um número num papel e disse-lhe para se dirigir à Secção tal e votar.

 

Pareceu-me um método simples e expedito. Contudo, não sei o que acontecerá se aquela eleitora se dirigir a outra qualquer secção de voto e repetir o mesmo pedido: Onde é que voto? Como foi apagada dos cadernos eleitorais talvez a deixem votar e lavrem uma outra acta.

 

De qualquer modo, estes procedimentos mostram que o sistema não parece muito fiável nem confiável. Pode permitir que o mesmo eleitor vote várias vezes. Se a este apagão de eleitores dos cadernos juntarmos os mais de 930 mil eleitores fantasma, que o DN diz existirem nos  mesmos cadernos, então, qual o grau de confiança que podemos ter neste sistema eleitoral? E qual a credibilidade dos estudos que tenham por base o número de eleitores que constam do caderno eleitoral, a começar pela taxa de abstenção?

 

 

missanga a pataco 75

d'oliveira, 26.09.09

Votar com o coração e com a razão

 

Não vou votar útil. Ou melhor vou votar útil porque vou votar de acordo com os meus princípios, com a minha vida passada e com o que desejo para mim e para o meu país.

Isso implica algum rigor e sobretudo uma ideia de fundo: vota-se para que, para lá de uma vitória ocasional, se possam criar condições para uma vitória futura.

Dito isto, facilmente se percebe que, depois do que aqui fui dizendo ao longo destes cinco anos, terei de inflectir o meu tradicional (mas sentido) voto. O PS não cumpriu minimamente as expectativas que nele se depositaram há quatro anos. E que lhe deram uma vitória esmagadora preparada é certo pela liderança corajosa de Ferro Rodrigues e ajudada (e de que maneira) pela errática governação de Barroso e Santana Lopes.

E convém parar aqui por momentos. É que costuma atribuir-se a Lopes a derrota fortíssima do PPD como se fosse possível abstrair da “fuga” de Barroso. Barroso esse que, agora, concitou os votos do PS português por motivos imbecilmente “patrióticos” (vê-se aqui o apego à União Europeia!...), prova mais que evidente que o desnorte na governação interna se estende a insuspeitadas latitudes de que é última notícia o voto na Unesco onde Portugal conseguiu votar ao arrepio de boa parte dos amigos e aliados dando a sua voz a um cavalheiro egípcio anti-semita e queimador de livros (e fiel membro de um governo tirânico e ditatorial, mas isso deve ser coisa pouca para as robustas luminárias democráticas que nos desgovernam).

Todavia, algumas sereias que sempre abundam nestes períodos vieram ultimamente (com a ajuda compreensível do dr Soares e surpreendente de Alegre) pedir um último e desesperado quadrado defensivo à volta do PS para barrar o caminho à Direita. Quanto à Direita remeto para o que foi alegado pelo bloco de Esquerda e pelo PC para não ter, outra vez, que explicar que grande parte (e a fundamental) da actividade governativa destes quatro anos serviu interesses conservadores e situacionistas fossem eles a negação do casamento dos homossexuais (que agora foi apressadamente brandido como bandeira) até ao descarado apoio a certos bancos ou ao mais alarve abandono da agricultura entregando-se ao CDS a sua defesa e devolvendo-se à União Europeia verbas importantíssimas por falta de uso das mesmas!!!

A rua, certa rua, desde os professores aos operários e empregados, foi ocupada por manifestações multitudinárias que só têm paralelo com as dos anos de brasa 74-76. Algumas criaturas surdas ou autistas não viram, não ouviram não perceberam. Ou viram naquilo apenas  a mão de Moscovo ou melhor da Soeiro Pereira Gomes. Ou seja, viram o fantasma grave de Marx de mão dada com o senhor Jerónimo de Sousa (e já agora com o senhor Antero de Quental...) a amotinar professores e magistrados, tropas e funcionários públicos, intelecuais e proletários para não falar de camionistas e armadores de pesca. E de rurais, claro.

Como de costume, passou-se adiante e assobiou-se para o lado. As urnas decidirão.

Querer, porém, que perante o perigo hipotético do regresso do dr Salazar mal interpretado por um patético José Junqueiro (que de certeza não sabe nem nunca saberá quem foi o homem) as multidões se juntem à volta do farol do socialismo que é, dizem, o senhor José Sócrates parece demais. A mim isso estomaga-me.

Vou pois votar útil. Em branco para ser mais preciso. Para dizer a essa gentuça do leque partidário que daqui não levam nada sequer uma mão que os salve do atoleiro.

Não ganharei seguramente as eleições mas não perderei a alma. E isso para mim é o mais importante. Passem bem, votem, e tenham um bom domingo. Ainda não é desta que o país vai ao fundo. Ou que sai dele...

 

Uf! Acabou!

JSC, 26.09.09

Faço parte dos que votam sempre no mesmo sentido. Voto em quem nunca ganha. Com a crença de que estou a contribuir para um maior equilíbrio de forças na área do poder. Só isso e só por isso.

 

Esta campanha foi uma não campanha. Já o escrevi mais abaixo. Salvaram-se, quando muito, os debates a dois e as prestações dos “gatos”. O resto foi uma chatice. Uma chatice a roçar a boçalidade. Depois ainda ocorreram aqueles fenómenos estranhos, não esclarecidos, saídos de Belém. Uma lástima.

 

Acabou. Votemos para que tudo permaneça mais ou menos igual. E esperemos pelas próximas, dentro de dois anitos.

 

Um voto positivo

José Carlos Pereira, 25.09.09

No próximo Domingo, os portugueses vão às urnas para eleger o novo parlamento e um novo governo. A escolha coloca-se entre duas lideranças possíveis: José Sócrates (PS) e Manuela Ferreira Leite (PSD). Ambos estão há muito tempo na política e têm um passado por que responder. Sócrates é deputado eleito desde 1987, foi secretário de Estado e ministro com António Guterres, é líder do PS desde 2004 e primeiro-ministro desde 2005. Manuela Ferreira Leite foi secretária de Estado e ministra com Cavaco Silva, deputada eleita entre 1991 e 2002, ministra com Durão Barroso, líder parlamentar com Marques Mendes e é líder do PSD desde 2008.

As últimas sondagens mostram o PS próximo da vitória e o PSD a recuar. Não haverá maioria absoluta, tudo o indica, e teremos portanto um governo minoritário, suportado por acordos pontuais com os partidos mais pequenos. Sócrates conquistou, em 2005, a primeira maioria absoluta para o PS e o descontentamento de alguns sectores não lhe permite renovar essa maioria absoluta.

O meu voto vai convictamente para o PS e para José Sócrates. Teve a capacidade reformista e a coragem de encetar reformas necessárias para o país. Algumas delas eram unânimes em 2005. Nem tudo foi perfeito – como nunca será, seja qual for o Governo – mas o balanço que faço é muito positivo.

Nas políticas sociais e na atenção prestada aos mais desfavorecidos, na reforma da segurança social, na afirmação dos direitos dos consumidores, na aposta na atracção de investimento estrangeiro, na promoção das empresas portuguesas no exterior, na afirmação da diplomacia económica, nas medidas tomadas para ajudar empresas e particulares a enfrentarem a crise global, na criação líquida de mais de cem mil empregos até ao final de 2007, na redução do défice patente até 2008, no esforço de consolidação das contas públicas, nas políticas de educação, na aposta nas energias renováveis e na redução da dependência energética, na desmaterialização de processos e na eliminação de burocracia paralisante, no investimento público qualificante, na reforma da saúde e na modernização dos equipamentos deste sector, no aumento significativo do investimento em ciência, tecnologia e inovação, vi uma atitude positiva de quem quer levar o país para a frente e aproximá-lo dos melhores, sem perder de vista a coesão económica e social. Vi uma governação de esquerda responsável.

A campanha eleitoral evidenciou também a unidade do PS, que congregou as suas figuras históricas, e a afirmação das suas propostas pela positiva, fazendo realçar, também a este nível, as suas diferenças com o que se vive no PSD, embrulhado e baralhado com o comportamento do presidente da República.

O voto no PS, nas actuais circunstâncias, é um voto positivo, em quem sabe o que quer para Portugal. Será esse o meu modesto contributo no Domingo.

Pág. 1/5