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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Bruxedo?

JSC, 30.10.09

Segundo o DN, Teófilo Santiago, Director da Polícia Judiciária de Aveiro, atrai ou é atraído por “bruxedo”, tantos os casos notáveis que liderou.

 .

Agora o processo chama-se “Face Oculta”. Anteriormente, os casos notáveis, igualmente mediáticos, também tiveram nomes  sugestivos: “Apito Dourado “, "Aveiro Connection" ou sem nome como o processo de investigação a suspeitas de corrupção na PSP Porto ou o processo que metia títulos e o levou a prender Pedro Caldeira.

 

 Se é verdade que em todos estes processos estiveram envolvidos muitos notáveis, com peso mediático e outro, não se percebe da notícia do DN o porquê da atracção pelo bruxedo que imputa ao director da PJ, a não ser que o bruxedo tenha a ver com alguma reza que levou a que todos esses casos tenham redundado em nada de judicialmente significante. Aguardemos pela parte visível da “Face Oculta”.

 

Os Guilhermes de Matosinhos

José Carlos Pereira, 30.10.09

Guilherme Pinto venceu novamente a Câmara de Matosinhos para o PS e derrotou o regressado Narciso Miranda. Pelo caminho ficou também José Guilherme Aguiar, ex-vereador em Gaia, que foi repescado do lado de lá do Douro para averbar um dos piores resultados de sempre para o PSD.

Como Guilherme Pinto ganhou sem maioria e corria o risco de ficar refém das diatribes de Narciso, o presidente reeleito lançou o isco a José Guilherme Aguiar, oferecendo-lhe pelouros em troca de uma "aliança" que permita maior estabilidade. Em tese, compreende-se esta solução, que acaba por castigar o populismo desenfreado de Narciso. Contudo, a oposição do PSD/Matosinhos a este acordo faz prever dificuldades no futuro para este partido. Esta aliança pode muito bem representar a capitulação definitiva do PSD, que assim se coloca fora da corrida ao poder naquele concelho por longos anos.

Guilherme Pinto faz uma jogada de mestre, manietando Narciso e atribuindo ao PSD umas migalhas do poder. José Guilherme Aguiar parece satisfazer-se com um pelouro executivo na autarquia e mais alguns lugares para distribuir. Mas daqui a dois ou três anos como será? Os próximos candidatos do PSD à Câmara e às Juntas de Freguesia terão de saber lidar com o facto de terem um correligionário comprometido com o poder socialista. Como o farão? Mais um caso revelador das muitas incongruências que aqui e ali se fazem sentir entre as expectativas dos autarcas eleitos e as dos aparelhos partidários.

Duas não notícias

JSC, 28.10.09

Ontem, bem pela manhã, ouvi a notícia numa rádio local. Durante o dia procurei saber mais pormenores, procurei na Lusa, Sapo on line, TSF, DN e outros. Nada. Lembrei-me de pesquisar no google, para concluir que afinal a notícia existe mesmo. Pode ser lida aqui. Apesar de, pelos vistos, já nem ser notícia. Notícia, segundo os parâmetros jornalísticos, é o caso da “menina russa”, que voltou em grande ao jornais e às Tv.s. Entediante.

 

Ganância criativa

O meu olhar, 27.10.09

Há no processo de formação de preços em economia de mercado um conceito admiravelmente engenhoso, o de "renda do consumidor".

A ideia é simples: quando se fixa o preço de um produto ou serviço, há gente a "ganhar" a diferença entre o que paga e o que estaria disposta a pagar. Para sacar essa "renda", as empresas procuram "compartimentar o mercado" e cobrar a cada um, pelo mesmo produto, o máximo que está disposto a pagar. Há muito que os bancos andam com a ideia fixa de cobrar a "renda" de comodidade e segurança que resulta do uso de cartões de crédito e débito (com que os bancos poupam milhões em custos de pessoal). Falhada a tentativa de se cobrarem pela utilização das caixas Multibanco, conseguem agora, com a possibilidade de os comerciantes passarem a "taxar" os pagamentos feitos com cartões, meter pela janela o que não entrara pela porta. Mas a mão que nos irá ao bolso não é a dos comerciantes, é a dos bancos. Através dos comerciantes, os bancos irão cobrar-nos, além das anuidades dos cartões, cada pagamento que fizermos com eles. Com uma vantagem: o odioso cairá sobre os comerciantes.
 

Crise? Qual crise?

O meu olhar, 27.10.09

Como se recordam, no encontro do G20 um dos temas centrais foram os salários dos gestores da banca. A ideia era disciplinar os incentivos que são calculados como recompensa de retorno de curto prazo. Falou-se mesmo em que estes, a existirem, deveriam ser devolvidos caso os investimentos que lhes serviram de base fracassarem. A ideia era diminuir a tentação do risco “fácil” que levou, como todos sabemos e sentimos na pele, ao descalabro financeiro e económico mundial. Pois bem, os líderes das maiores economias mundiais acabaram por optar por medidas “nim”, sem expressão, já que não fixaram limites à existência desses incentivos e dilataram no tempo a introdução de mudanças.

Agora fala-se que os reguladores nacionais querem intervir nesse sentido. A banca insurge-se. Horácio Roque afirma "Quem deve decidir os prémios aos gestores são os accionistas". "As empresas não são repartições públicas". Nada mais correcto. Gostava que a mesma opinião tivesse sido defendida na altura da intervenção pública para salvar a banca a nível mundial.
Além disso, não nos podemos esquecer que a banca tem um papel fundamental na saúde da chamada economia real ( nunca gostei desta expressão) e, portanto, não pode ser deixada completamente ao sabor de ambições desmesuradas e irresponsáveis de gestores “indispensáveis”.  Há lições básicas que se deveriam aprender com esta crise. Esta é uma delas.
Ou será que não se passou nada na banca de reprovável e com consequências desastrosas e eu estou para aqui a divagar sobre um mau sonho que tive?
 

O novo Governo de Sócrates

José Carlos Pereira, 27.10.09

Tomou ontem posse o XVIII Governo Constitucional, o segundo executivo liderado por José Sócrates, agora sem maioria absoluta no parlamento, o que exige uma maior abertura e uma concertação permanente com os partidos da oposição. Sem contudo perder de vista que os portugueses quiseram dar uma vitória clara e expressiva ao PS em 27 de Setembro. Não foi a oposição que ganhou as eleições.

A constituição do novo Governo conjuga a experiência e a estabilidade do núcleo duro que já acompanhava Sócrates com a entrada de nomes menos sonantes mas certamente bem preparados tecnicamente. Sê-lo-ão politicamente? Só o tempo o dirá.

Dos ministros que continuam merece destaque a mudança de Vieira da Silva para a pasta da Economia, Inovação e Desenvolvimento e de Santos Silva para a Defesa Nacional. No primeiro caso, um claro reforço das políticas económicas e da gestão do QREN. No segundo caso, uma enorme surpresa, muito embora configure um reforço de atenção aos meios castrenses.

Entre os novos nomes, a maior curiosidade será ver como Maria Helena André, que já integrava a Comissão Política do PS, gere a pasta do Trabalho e da Solidariedade Social a partir da sua experiência sindical. A única referência menos positiva chegou-me em relação a Dulce Pássaro, ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território, por parte de quem com ela lidou na área dos resíduos.

O discurso de tomada de posse de José Sócrates enfatizou as grandes prioridades que o executivo seguirá: o combate à crise, a modernização da economia e da sociedade e a justiça social. No tempo que vivemos, creio bem que estas prioridades são aquelas que o país precisa seguir. Haja competência e determinação para levar por diante as políticas correctas.

Estes dias que passam 186

d'oliveira, 23.10.09

 

Com o Mali e a Costa Rica?.....

Se escrevesse para o mainstream teria o cuidado de indicar num mapa onde ficam estes dois, aliás, simpáticos países que, de resto, têm a seu favor a população (e a cultura) Dogon e o facto de não ter exército respectivamente. E faria isso porque conheço (infelizmente) os programas de ensino vigentes e a noção assaz aproximativa que os alunos do secundário (e até da universidade...) tem da geografia política.

É que a ileteracia, os fracos níveis de ensino e de educação básica costumam andar ligados à falta de liberdade tout court ou à falta de algumas liberdades específicas.

No caso em apreço temos que num ranking de “liberdade de imprensa” no mundo caímos do 16º para o 30º lugar ex-aequo com os dois citados países.

A responsabilidade deste ranking é dos “Repórteres Sem Fronteiras”, organização que goza genericamente de boa reputação e que já nos atribuiu um 25º e um 10º lugares. Na altura terá havido, como é costume, manifestações de entusiasmo nacionais e governamentais mas agora só se ouve o “som do silêncio” se me permitem citar Simon & Garfunkel.

Claro que ainda não há informação completa sobre quantos jornalistas foram ouvidos, quais os itens (entre 40) onde fraquejámos e quais as movimentações relativas de países da nossa área cultural e social.

Para já estamos na pior posição de sempre, ao lado do Mali e da Costa Rica. Seguramente estamos acima do Irão, do Afeganistão e de mais umas dezenas de exemplos idênticos. Resta saber se alguém da Europa ou, mais geralmente, do Ocidente nos acompanha.

Várias vezes aqui mesmo me esforcei por tentar chamar o assunto á colação. Falei, se não erro, da liberdade de imprensa como um bem único e exemplar. Mostrei, até, que aquilo que entre nós escandaliza (jornalismo agressivo, televisão audaciosa, constante intervenção dos meios informativos na vida governamental) é coisa comum em todo o mundo civilizado. Basta aliás ver os grandes programas das televisões americanas, a dureza dos jornais da direita espanhola, a coragem de alguns jornais italianos que desafiam o Berluscão e as massas que abjectamente o votam e apoiam mesmo nos casos em que o Cavagliere manifestamente sai do trilho, asneia, ofende e é repelente. Ainda ontem, num programa cultural transmitido pela oficialíssima TV5 o ministro da cultura francês era ridicularizado (e não pelos seus hábitos sexuais, previna-se desde já) a começar pelo apodo com que o brindam (“Fredo”) e a terminar pela dureza das citações e das críticas.

Cá, isso seria tomado como crime de lesa majestade, como campanha negra, a TV5 já estaria encerrada ou pelo menos o director do programa demitido.

A verdade é que estamos para ali, com a Costa Rica e o Mali. Os três na trigésima posição! Longe dos nossos parceiros políticos e económicos, afundados numa tabela que seja qual for o critério nos diferencia da Dinamarca, do Canadá ou do Brasil. Para pior.

Esta não é uma má notícia. A má noticia é a prática nossa, de todos nós, o medo de falar, de apontar o dedo, de pôr em causa os de cima, os que mandam, a banca, as empresas, os intelectuais parolos. Somos todos responsáveis por este feio lugar, pese embora a simpatia da desarmada Costa Rica ou a opulência da mitologia Dogon, a beleza absurda das suas grandes máscaras, a esplêndida cosmogonia desse povo.

 

(Hoje deveria começar a publicar uma série a que chamei “O 7º de Praia (latim e grego por fora)” que mais não é do que um punhado de historietas acontecidas ou inventadas, vá lá saber-se, a um punhado de amigos com alcunhas tão surpreendentes como Tatão Cachimbinha, Joca Tripé, K, James Dininho, W, Tom Mix, Miro Mirão, Alf Alfa, Leôncio Rex etc... Algum humor, pelo menos é o que se espera, a gabardina da fantasia sob a crueza da realidade, enfim, algum delírio. A porcaria do “real quotidiano” (valha-nos S Mário Cesariny!) deixa para as calendas esse projecto. Isto foi praga do raphanus raphanistrum, planta malcriada muito na moda). 

* as ilustrações: máscara dogon e uma "toguna" ou casa dos homens e das palavras, sítio onde se reunem os homens e se tomam deliberações. Também funciona como casa de administração da justiça.    

Diário Político 125

mcr, 22.10.09

Gulag? Vou ali e já volto!

 

Uma rapariguinha, licenciada em qualquer coisa dessas com que agora se entretém a juventude desempregada, é a mais nova deputada do mais velho partido português. Velho em idade, velho em idade média dos militantes, velho, irremediavelmente velho, no conjunto de preceitos e ideias que constituem a sua espinha dorsal.

(Declaração de interesses: não é o marxismo que está aqui em causa mas o marxismo-leninismo, expressão transviada que faria Marx sair do túmulo aos tiros, contra a perversão e degenerescência do seu pensamento e da sua acção. Pior: o marxismo leninismo de que se veste o PC,  é a tradução em calão português de uma coisa inventada na ex-URSS por aparatchiks fieis a Stalin, formalista, inerte e profundamente conservadora. Com o traço habitual da brutalidade boçal e do desprezo pela vida humana e pelos homens. A simples concepção de partido de quadros de vanguarda,  militarizado e hierarquizado onde o sussurro (quando permitido) das massas nunca penetrava, mostra bem em que concepção eram tidos os cidadãos eventualmente votantes, sempre pagantes e pelo que se vê e viu sempre relutantes.)

Refiro para que não restem dúvidas uma jovem debutante de seu nome Rita, deputada do velho partido. A criaturinha de Gulag nada, népia, raspas de coisa nenhuma. Parece que o não tinha "estudado". Avivemos-lhe a memória (des)cansada e a mente, política e historicamente, virgem. 

Gulag é o nome (uma sigla) do vastíssimo conjunto de campos de trabalho semeados por toda a União Soviética mas, normalmente, nos piores climas e nos mais distantes lugares. Povoaram-no milhões (ouviu Ritinha? Milhões!, muitos milhões... ) de presos alguns condenados comuns e muitos, eventualmente a maioria, condenados políticos. Mesmo que se admita que os condenados comuns devessem ir para prisões seguras, isto, o Gulag era muito mais: eram campos não de morte lenta (como o Tarrafal, que ela deve saber o que é) mas de morte rápida e impiedosa: de fome, de frio, de tiro puro e simples e de doença.

Este sistema tem raízes na antiga politica dos czares que também deportavam para a Sibéria os oponentes políticos e boa parte dos “direito comum”. Com uma diferença: o regime czarista era ao pé do seu sucessor de uma brandura angelical. Lenin e Stalin estiveram de resto deportados (Lenin até tirou o seu nome do rio que passava pelo seu local de exílio interno: Lena) mas foi amplificado até limites inimagináveis.

A Ritinha que, parece, tem umas quaisquer funções decorativo-partidárias no aparelho talvez não saiba, porque “não estudou”  que isso, o ser personagem do aparelho era o suficiente para, num momento de (mau) humor ser transferida para esses inóspitos lugares com a classificação de “anti-partido”.

A Ritinha não sabe, e se não der à perninha nunca saberá, que aí por 39 (1939, Ritinha, o ano!) já tinham sido eliminados, depois de exemplares julgamentos, quase todos os membros dos variados comités centrais do PC da URSS que (desde o primeiro ainda na clandestinidade)  se sucederam no tempo bem como muitíssimos milhares, dezenas de milhares, de membros de diferentes comités á escala local, provincial regional, nacional etc. Também não sabe que, a juntar a esse já apreciável número, haveria duas ou três centenas de milhar de militantes comunistas a apodrecer nas prisões, ou em trânsito para os campos, os do tal Gulag de que o seu jovem e virginal pavilhão auditivo nunca ouviu falar.  Com esta gente, que já é multidão, seguiram para os mesmos sítios os kulaks (um par de milhões), algumas minorias étnicas, os contra-revolucionários trotskistas, social-revolucionários e aparentados. Uns milhares de oficiais do Exército Vermelho (dos que tinham feito a Revolução e a Guerra Civil), grande parte dos militantes enviados para Espanha no âmbito das Brigadas Revolucionárias e da ajuda soviética à República (dando-se até o caso, irónico, Ritinha, de serem chamados a Moscovo, condecorados e de seguida, Lubianka e pelotão de fuzilamento). E nesta leva iam também muitos comunistas estrangeiros o que, como ela eventualmente perceberá, se esforçar as delicadas meninges, poderia ser o seu próprio caso se tivesse nascido no princípio do século passado e, alanceada pelo amor à aventura revolucionária (ele que adorou che Guevara... um desviacionista!), fosse até Espanha ajudar os republicanos. A menos que... tivesse preferido engrossar as “chekas” dos Serviços de Informação russos e participado com eles na caça aos anarquistas e aos do POUM poupando assim a Franco a maçada de os ter que julgar (também expeditamente) e fuzilar.

Dirão os leitores que isto é, mais uma vez, uma minúcia, como a do deputado europeu que quer que Saramago se vá embora. Não é, respeitável público. Não é. Isto é um sinal dramático. Esta gente governa-nos. Faz as leis. Representa-nos no parlamento. Fala para os jornais porque não consegue estar calada a remoer a sua inultrapassável ignorância.

Ponhamos a questão desta maneira: será que “desconhecer” o Gulag é diferente de “desconhecer” “o detalhe” dos “Campos de Concentração e Extermínio” e dos fornos crematórios, nazis?

Responda quem souber! 
 

 

d'Oliveira fecit  (com ajuda de algumas ilustrações sobre o "Pai dos Povos" veramente chorado pelo partido indígena que ainda hoje o deve ter nalgum altar...

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