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Podemo-nos sempre surpreender...
De volta à esplanada onde o sol primaveril é batido por uma brisa forte eis que me dou conta que de preguiçoso contumaz me vejo promovido a relapso vicioso por uma amabilíssima leitora que me escreve um mail a criticar-me a longa ausência. Que eu era um dos mais assíduos bloggers que ela segue (vá lá que me não chamou prolixo!...), que uma pessoa tem deveres (“ai que prazer não cumprir um dever...”), que os meus colegas deveriam suspender-me das “jantaradas” em que, segundo ela, andamos sempre(!!!???) enfim um rol de acusações que me deixaram prostrado e (quase) incapaz de vir até aqui dar ao dedinho.
Não vou responder às acusações porque são todas esmagadoramente verdadeiras, excepto no que toca às jantaradas que ocorrem quando o rei faz anos e mesmo assim... Vamos lá ver se, com mais um aniversário do “incursões”, alguém se mobiliza para dar razão à leitora gentil.
E, agora, vamos às nossas encomendas. Ainda não será desta vez que escreverei sobre o desastre que anunciei em variados textos e que, em poucas palavras, se resumia nisto: a governação da nau Portugal vai de mal em pior. E isso vem desde há mais de um ano, muito mais. Os números do buraco existiam mas a cosmética eleitoralista (e mesmo a história da TVI, tão apropriada!) falsearam dados e convenceram eleitores entorpecidos que tudo corria no melhor dos mundos. Não corria como agora se começa a ver. Eis-nos nos “PIGS” que provavelmente também passarão por feios e maus.
Deixemos, porém, uma análise mais aprofundada para mais tarde, e passemos às notícias do dia, respigadas todas do “Público”.
Inês de Medeiros renuncia ao pagamento das viagens entre Paris e Lisboa. Convenhamos que, mesmo com uma decisão a seu favor, aquilo parecia bizarro. Então uma deputada por Lisboa vai receber o pagamento de viagens que nada explica. Vive em Paris. Muito bem! Por que é que não a candidataram pela emigração? Qual é a razão de a meterem por Lisboa? Será que o P.S. receava que Inês fosse batida pelo adversário PPD?
Não faço parte dos que tentaram crucificá-la a todo o custo mas nunca consegui perceber o raciocínio que levou Gama a mandar pagar os subsídios de viagem, sobretudo quando no mesmo documento avisava que para o futuro as coisas não seriam assim!
Inês de Medeiros desistiu de receber o subsídio. Isso prejudica-a bastante porquanto é provável que faça entre duas a quatro viagens (ida e volta) mensais à terra onde efectivamente vive. Todavia, se –como ela afirma – desconhecia que havia um subsídio de viagem (e mesmo assim aceitara ser candidata) também não é caso para um comentador mais porta-voz oficioso do Governo a vir pôr num altar. Há momentos em que o silêncio é de oiro.
Um engenheiro civil, Fernando Silveira Ramos, ganho o “Secil de engenharia” pelos molhes do Douro. Trata-se, aliás, de um profissional altamente conceituado cujo mérito é unanimemente reconhecido.
Relembremos, contudo, que estes molhes do Douro, especialmente o molhe norte, objecto agora da recompensa, fizeram correr rios de tinta e tiveram mesmo a duvidosa honra de serem contestados por um repolhudo grupo de personalidades que temia perder “as vistas” sobre o grande mar oceano. Nunca percebi esta guerra, menos ainda a mobilização clamorosa deste ajuntamento de criaturas que nada designava como conhecedoras da matéria em causa. O molhe norte lá está, já deu provas da sua eficácia num inverno especialmente violento, os humildes pescadores da Afurada estão um pouco mais seguros, as “vistas” não se perderam e a qualidade da obra é reconhecida. Atribuem a um dos “contestários” uma blague de gosto duvidoso: que o prémio deveria ser atribuído não a quem esforçou as meninges mas à comissão de personalidades que teria sido a responsável pelo bom termo da obra no seu actual estado. Arre! Irra!
Parece que o Banco de Portugal deixou passar sem reparo a duplicação do passivo do BPP (de 1,3 para 2, 7 mil milhões de euros em apenas três meses entre Julho e Setembro de 2008). Os leitores recordarão a recente polémica e as acusações ao BP e a Vítor Constâncio seu principal responsável. Recordarão, igualmente, que Constâncio foi defendido a outrance por mais um repolhudo grupo de notabilidades que via nisso uma conspiração política. Como se vê! Irra! Arre!
Já aqui se disse que o TGV Porto Lisboa era um luxo caro, desnecessário e um desparrame de dinheiro sem retorno. Que um “pendular” a sério resolveria as coisas e, sobretudo sairia muito mais barato. Que o ganho em tempo é irrisório. Que não está provado que um tgv atraia mais gente do que a que actualmente viaja entre Porto e Lisboa.
Então no que toca ao percurso Porto Vigo entra-se no delírio absoluto. Algumas mentes febris e mais nortistas que o salpicão de Vinhais uivam de cada vez que alguém pede bom senso. Não sabem, não vêem nem percebem que a auto-estrada Porto Valença está deserta a partir de Braga, está quase deserta entre Braga e Famalicão. Que isso mostra à saciedade (mesmo se, e quando, houver portagens na SCUT norte litoral) que o movimento não pagará nunca esse “gigantesco avanço do progresso” a norte. Esta gente deveria ser (política e financeiramente) responsabilizada, tanto mais que muitos dos que a compõem têm cargos políticos regionais e/ou nacionais.
Portugal vive desde há muito, e sobretudo, desde a entrada na União Europeia, acima das suas reais possibilidades. Todos nós, todos sem excepção, temos de perceber que um país tem de ter um par de regras. Em nossa casa só fazemos as despesas que esperamos poder razoavelmente pagar. Ou pelo menos essa é a boa prática. Porque raios havemos de querer transferir para as gerações vindouros o pagamento de luxos estapafúrdios?
Esta lista poderia alongar-se pelos mais variados campos, desde o futebol (ai, Jesus!) até ao disparate dos privilégios das mais variadas categorias profissionais (professores, juízes, funcionários da CP ou da TAP, médicos bancários etc., etc...) que virtuosamente se indignam com os ordenados dos gestores das grandes empresas mas se recusam a varrer para a rua o lixo que produzem. E que consideram as benesses próprias como devidas e as alheias como ilegítimas.
Ai Portugal! Se fosses apenas três sílabas de sol, sonho e sal!....
*na foto: a gata Ingrid Bergman a fazer praia em casa.Ou de como a modéstia dos recursos estimula a imaginação.