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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au Bonheur des Dames 241

d'oliveira, 31.07.10

A moda, as modas

 

Escrevi um post que por azar só foi publicado dias depois. E digo por azar porquanto usei nele uma expressão “humor merencóreo” (que por acaso já utilizara antes, e aqui, por duas vezes) que tem honras de coluna no último JL. De facto, o Eugenio Lisboa, fala, e bem!, de Alberto de Lacerda e serve-se da mesma expressão, relacionando-a, de resto, e como eu, com o esse grande e melancólico rei que foi D. Duarte. Ou seja, o recurso à mesma expressão num órgão de indiscutível importância cultural e num modesto post da minha lavra podem fazer pensar que me aproprio das ideias de outrem em benefício da minha dispensável prosa. Não é a primeira vez que verifico coincidências entre o que escrevo aqui e o que, tarde ou cedo, leio noutros lugares. Estando fora de causa ser eu o pirateado (quem é que leria um blog entre mil, e logo este, para depois, dizer de sua justiça num jornal?) há que concluir ou por (des)agradáveis coincidências ou por o que, à falta de melhor, chamarei modas efémeras. Todavia o merencóreo não cabe neste caso. D Duarte é injustamente desconhecido. O público, mesmo o mais estudioso, enche a boca com o infante D Henrique, fala do D Pedro, o das Sete Partidas, apieda-se com o Infante Santo mas cala o nome do rei. E, todavia, D. Duarte merecia melhor sorte. Não tanto pelo tempo, relativamente escasso em que efectivamente reinou mas antes pelo outro e mais longo período em que, de facto, substituía o pai assegurando a administração do reino. Tanto e tão bem terá cumprido a sua função que até a juventude perdeu. E daí o seu humor melancólico a sua propensão para o stress e para a depressão, de que terá sido vítima, a sua imensa tristeza que só tem paralelo na sua erudição e cultura. Duarte é, os medievalistas que me perdoem tanta ousadia, o grande construtor da dinastia. O mito dever-se-á a Fernão Lopes, outro intelectual brilhante, escritor de mão cheia, pai da historiografia portuguesa. Mas os anos de Duarte, primeiro como “segundo” de seu pai, depois como rei, consolidam a aventura improvável dos de Avis. Poder-se-ia, já que da geração tratamos, e dever-se-ia, falar de um outro infante, de nome João, Mestre de Santiago, político habilíssimo cuja morte prematura o terá tornado “invisível” aos vindouros. Ou de Isabel, duquesa de Borgonha e mãe de Carlos o Temerário que o astuto Luís XI venceu, ao que parece sob o olhar estarrecido do  nosso Afonso V que excursionava por França.

Quando estudei História, primeiro na escola e depois durante cinco anos, no liceu, D. João I, por Aljubarrota, D. Afonso V (pelas inúteis e custosas conquistas africanas) e D. Manuel I eram as estrelas da dinastia. D João II carregava com uma pouco lisonjeira fama de matador de primos e nobres e D. João III aparecia como um beato que ainda por cima “importara” a Inquisição. Demorei anos, muitos e igualmente inúteis, a perceber que este rei praticamente fundara a verdadeira Universidade de Coimbra. Basta passar pela rua da Sofia (assim a chamávamos) para dar com uma boa meia dúzia de colégios que o rei mandou construir de raiz e dotou. O próprio Paço das Escolas foi por ele dado à Universidade. Se isto não é prova de visão, de amor pela inteligência e pela cultura, então não sei o que será.

Comecei por falar de acasos e coincidências, tentando tirar o cavalo da chuva, por via do merencóreo, e já vou na história da universidade de Coimbra (de que o Infante D Henrique também foi protector, diga-se de passagem. Até há feriado escolar no dia em que se celebra uma missa pela alma  dele...). Ora, e já não por coincidência, o mesmo JL, acima citado, dedica duas páginas a Maria Helena da Rocha Pereira, grande senhora dos estudos clássicos em Portugal, glória da Faculdade de Letras coimbrã onde se doutorou nos idos de 50. Assisti, entusiasmado e grato, a um bom par de aulas de “Cultura Clássica” dadas por essa excelente senhora. Tenho por aqui, lidos e relidos,  vários livros, imprescindíveis e notabilíssimos, de MHRP. Já dela aqui falei por, também, duas vezes mas sem coincidências de qualquer espécie.  Com ela, Portugal e a UC, conquistaram um lugar cimeiro nos estudos clássicos. Dá gosto verificar que, desta vez, as homenagens ainda vêm a tempo. Agora, só falta uma instituição que reedite alguns milhares de páginas da autoria desta Professora que só se podem compulsar em bibliotecas especializadas de tão esgotadas que estão as publicações primitivas.

Senhores mecenas, deixem o efémero por uns tempos e lancem-se a uma tarefa digna, justa e, de certeza, mais duradoura. E muito, mas muito, mais útil.

 

* Isabel de Portugal e Filipe o Bom, seu marido, duque da Borgonha. Pilhado num blog monárquico a quem se agradece. E não diga que este republicano o tentou espoliar mas a gravura era boa demais para a deixar sozinha consigo.

Um imenso nevoeiro

JSC, 31.07.10

 

 

Durante cinco longos anos andaram enleados no Freeport. O Estado lá foi pagando para investigarem, indagarem, ouvirem este e aquele, carta para ali, resposta que não vinha, procurar o fio à meada e, eventualmente, encontrarem culpados ou não.

 

Durante os mesmos anos foram deixando cair para a comunicação social o que se queria que fosse publicado ou o que a comunicação social procurava. Tudo à má fila. Pois, o segredo de justiça, coisa em desuso.

 

Por fim, não encontraram culpado que se visse. Concluiu-se pelo arquivo dos autos. Tudo parecia indicar que o Freeport chegara ao fim, sem grande glória, mas com enorme gasto de tempo e dinheiro público, absolutamente improdutivo. Acabou, disseram todos.

 

Enganaram-se. Esta justiça de tão enleada é um novelo interminável. Não há culpados? Ai que não há. Afinal de contas ficaram 27 perguntas por fazer, por falta de tempo, dizem-nos. Pelo teor das perguntas que se conhecem, vê-se logo que aquilo é matéria complexa e que seriam necessários mais uns longos anos para reformular as perguntas, com o rigor e secretismo que só a justiça conhece, e outros tantos para deslindar as respostas.

 

E agora, Portugal? O que devias era exigir que te explicassem como é que durante cinco anos não tiveram tempo para fazerem aquelas sábias perguntas, com respostas óbvias. Contudo, do que se fala é do nevoeiro que criaram. Quem é que disse que Portugal é um imenso nevoeiro? Cada vez mais.

 

A grande utilidade do processo Freeport é a de mostrar a absoluta falta de eficácia e de eficiência da Justiça que geriu o processo. De decência. Se aquilo fosse uma empresa dava despedimento colectivo, com justa causa ou por motivo atendível, tanto o desperdício financeiro e desprestígio gerado, para a Justiça, para todos nós.

 

Au Bonheur des Dames 240

d'oliveira, 29.07.10

 

Da praia, da nortada e do mar que "é um cão"

Um leitor (também os tenho, que isto não é só leitorinhas gentis...) espanta-se com a minha indiferença quanto à praia. E, sinal de que me lê esforçada e atentamente, recorda-me que sou de Buarcos, terra de pescadores (e de mineiros de carvão, acrescento) mais praia que serra, mais mar que horta, mais fome que fartura.

Sou de Buarcos, claro que sou, mesmo se fui nascer à maternidade de Coimbra por ter sido prematuro e o meu pai, médico jovem mas prudente, ter achado que era melhor ter mais colegas para me partejar.

Brinquei na praia anos seguidos,  para o que bastava atravessar a estrada, que aquilo, a rua de Buarcos, depois, rua almirante Tenreiro e agora qualquer coisa mais condizente com a democracia (Av do Brasil?) era, de facto, uma estrada que ligava a cidade à antiga vila piscatória. Mais concretamente vivíamos num sítio chamado “Palheiros” cuja memória estará perdida. Palheiro, no litoral centro, é uma casa de madeira onde se vive (ou malvive) se guardam apetrechos de pesca, quiçá até, se há um andar superior para viver, um barco na parte de baixo. O lugar de Palheiros tinha, mesmo por trás da minha casa, um fortim, onde terá estado uma bateria de artilharia que “cruzaria fogo” com as fortificações de Buarcos e o forte de Santa Catarina, à entrada da barra da Figueira. Tudo obra de D João I e depois dos Filipes que assim protegeram aquela extensa baía da piratagem. Que estas defesas seriam eficazes prova-o, mesmo a contrario, o facto de durante a ocupação de Junot, os ingleses terem desembarcado, em piores condições mas com mais segurança na zona da Gala a sul do Mondego, longe dos canhões.

Sou, pois, da praia. Usei-a com excesso até há meia dúzia de anos e ainda hoje quase não há para mim paisagem que não tenha mar. E se possível, mar de inverno, mar com ondas, mar que se veja. Todavia, na zona para onde habitualmente vamos, as “rias bajas”, o mar é manso, não tem uma onda,  por pequena que seja, não se pode entrar nele de corrida a terminar num mergulho sob a vaga prestes a rebentar.

Brincar com as ondas, “picar uma carreira”, apanhar com elas em cheio limpa a alma, amassa o corpo e lembra-me a meninice. Ora, em Areas, praia bonita e com três ou quatro excelentes esplanadas onde se petiscam tapas e raciones variadas, o mar é chão. Bom para meninos em idade de desmame. A CG gosta mas tem desculpa que ela é dos confins da Beira Alta, de Trancoso. Para os serranos as ondas são seguramente ameaçadoras e a água quer-se em sossego, calminha, com pé. Agua-pé?

De modo que, vou para a Galiza sem especial entusiasmo banhista. A praia uso-a cum granu salis: um par de horas matinais, sentado à sombra do guarda-sol a ler um livro. De meia em meia hora levanto-me, espreguiço-me, vou molhar o mimoso pé, dou três braçadas e já está.

Logo que se aproxima a hora refeiçoeira, retiro-me com a dignidade possível para a esplanada, carregado de guarda-sol, cadeira e demais bagagem, e espero pelas mulheres da família afinfando-lhe com uma caña e alguma tapa. E penso sempre que, ali, com o mar à vista mas sem areia, sob a sombra protectora de um toldo se está muito melhor. Só a vergonha me impede de fazer da esplanada o meu poiso balnear. E seria tudo vantagens: basta erguer uma mão e trazem-nos café ou, pelo menos, aquilo a que os galegos chamam um café solo.

Mas receio que a CG considerasse isso “uma desconsideração” e um cavalheiro da minha idade não pode dar-se a esses desvarios. Cumpro, penitencialmente, a minha dose diária de duas horas de areia incómoda, mar manso e cadeira desconfortável. Ao fim e ao cabo são só duas semanas e, com sorte, há sempre um ou dois dias sem sol para se poder ir sem remorsos até uma cidade próxima ver livros, manuseá-los, comprá-los e até, mas não é obrigatório, lê-los.

* na gravura: Buarcos, a praia, os restos da muralha e, à direita, em cima, o resto do castelo, a “Unha do Castelo”.

 

Ilusão de óptica 1

O meu olhar, 29.07.10

Os neurónios interpretam os que os nossos olhos vêem.

Mas que vêem os nossos olhos?

 

 

 

Se olharem durante alguns segundos concentrados para a cruz no centro verificam que as bolas são verdes e que afinal se trata apenas de uma bola!!

O fim da “fiesta nacional”

JSC, 29.07.10

 

São curiosas as reacções à deliberação do Parlamento da Catalunha que proibiu as corridas de touros a partir de 2012. Os apoiantes consideram que se trata de um avanço civilizacional, acreditando que o mesmo venha a suceder em outros países, incluindo no resto da Espanha. Os aficionados das touradas consideram que se trata de uma acção política, de mais uma etapa no caminho da Catalunha para a independência. Para estes, o fim da “fiesta” pode marcar a proximidade do fim da Espanha, somatório de Nações. In Público.

 

Por uma ou por outra razão, melhor, por ambas as razões, parece-me justa a decisão do Parlamento da Catalunha em proibir as touradas. É um espectáculo que nunca apreciei e que tenho muita dificuldade em aceitar. Sempre que passo por um canal que está a transmitir uma tourada surpreende-me o ar de contentamento e de recreação dos que aplaudem e saúdam cada estocada no animal, que vai desfalecendo até que acaba por levar a estocada final. Bravo! Bravo! Grita-se em redor da arena enquanto o até aí imponente e orgulhoso touro é arrastado ou levado no meio de meia dúzia de vacas, para o liquidarem a seguir, fora dos olhares das câmaras e dos bravistas espectadores.

 

A minha repulsa é ainda maior quando este espectáculo passa na RTP. Então, questiono-me: estou eu a pagar uma taxa mensal para estes tipos andarem a transmitir programas desta natureza?

 

Sou contra as touradas, como sou contra todos os actos de agressão e tortura de animais para fins de diversão. Esta razão basta-me para apoiar a decisão do Parlamento da Catalunha e a Catalunha.

Au Bonheur des Dames 239

d'oliveira, 28.07.10

Isto está de estorricar os untos...

(Variações sobre estação calmosa)

Uma amiga escreve-me contando da primeira e nova neta. Vê-se que, mesmo fingindo distanciamento, está embevecida. E não é para menos: uma neta, sobretudo a primeira, é sempre uma bênção.

À uma, são os pais que lhe aturam as noites, os choros, o cocó enquanto nós as podemos alegremente deseducar. Depois, temos outra visão das coisas e do mundo, outra paciência, outra urgência.

A minha amiga, a propósito da neta dá-me “secretas” novas dos avoengos. De um par de amantes da música que deixaram um nome honrado e honroso no deserto da nossa crítica musical; de um brioso e valoroso militar nos anos em que ser militar nas guerras ditas de ocupação das colónias era qualquer coisa. Hoje, olhamos para esse tempo com olhos cansados e do século XXI. Não percebemos aquela elementar verdade do último quartel do século XIX quando toda a  Europa entendia dever ter colónias e retalhar a pobre África já gasta pela escravatura infrene e pelas guerras que isso provocava. Ser “colonial” era, nesses tempos esquecidos, uma honra, um título e um sinal de inequívoco progresso. Boa parte da propaganda republicana assentava na imperiosa e civilizadora acção colonial. Quando os pobres soldados foram mandados para o matadouro da Flandres na 1ª Grande Guerra, um dos argumentos mais brandidos (e menos provados) foi o da defesa das “colónias”. O ultimato inglês sobre a retirada de qualquer autoridade portuguesa do mapa cor de rosa (as questões do Chire e dos macololos) foi um dos momentos mais altos da campanha republicana contra a Monarquia que “se vergava” frente a John Bull.

Aliás, quando penso nessa gloriosa inutilidade que é a vaga união dos países lusófonos, suspeito sempre que ainda por lá andamos enfeitiçados pela ideia de que “aquilo” é obra nossa. E se for preciso meter naquele saco de gatos a Guiné do Obiang podem ter a certeza que a meterão. Bem podem Mia Couto ou Eduardo Lourenço protestar. Aliás, os intelectuais servem para isso, para protestar. Protestar e não serem ouvidos. “Coitado. O gajo é bom escritor mas de política não percebe nada....” É por isso, ou também por isso, que Manuel Alegre (a quem Soares não reconhece “estatura”!!!...) vai perder para Cavaco Silva. Este, não pratica sonetos, sequer rimas mas “sabe da poda”... e de Economia.

Eu, que apoio Alegre por mil razões a menor das quais não será um ramalhete de afectos de origem coimbrã, já nem me irrito com isto. Já não tenho idade para discutir as insanidades do dr. Soares que em tempos bem difíceis apoiei (e no princípio contávamo-nos pelos dedos de uma mão, frente a zenhistas, comunistas, pintassilguistas e outros freitistas), coisa de que me não arrependo. Ao dr. Soares faltou sempre um golpe de asa para fazer de contrapeso às duas figuras que o atormentaram até bem tarde (Salazar e Cunhal) e também não foi contemplado com o quantum satis de “mais azul e mais além” que lhe permitisse ombrear com Mandela ou com Sandro Pertini, “il babbo” presidente da Itália com um honroso passado de socialista e “partigianno”. Ficou-se por uma embevecida tradução para português do amigo Miterrand. Com uma agravante: a tradução é como o francês que Sª Exª pratica: desenvolto mas trapalhão e fortemente aldrabado. Paciência...

A CG está como as cinco chagas. Aproveitou a minha ausência em Lisboa por um par de dias para desmaiar e cair em cima sei lá de que móvel. Resultado, toda ela é uma dor. Então as costelas nem se fala. Daqui a dias devíamos partir para a Galiza mas assim a coisa está complicada. E ela que anda a sonhar meio ano com aquelas escassas semanas à borda d’agua (a nossa casa está a três metros da maré cheia, dormimos embalados pela ligeira rebentação da ria de Pontevedra, à vista dos golfinhos e da meninada que guincha naquelas mansas águas.

E dorme mal, claro, com as dores. Eu fui exilado para outro quarto para lhe deixar espaço mas nem assim. Não tem posição para dormir e nem a companhia da gata Kiki de Montparnasse a consola. A Kiki, de vez em quando vem ao meu quarto certificar-se de que durmo o sono dos injustos. Salta para a cama e, ronronante, dá-me cabeçadas até acordar. Logo que verifica que estou vivo, vai embora e deixa-me a pensar em gata à bordalesa ou, pelo menos, estufada com ervilhas.

Os dispensáveis carinhos nocturnos da Kiki, o vento leste que hoje pela madrugada até assobiava, o cheiro persistente a queimado, quase que me fazem desejar a invernia.

Como as leitorinhas gentis (e pacientes, pacientíssimas!...) perceberam já, estou (como o chorado rei D Duarte) de humor merencório. Nem a campanha lisboeta me melhorou a disposição. Tinha visto num catálogo de um alfarrabista uns dicionários de makua-português e de xironga-português (e vice versa) mais um estudo sobre a importação de palavra portuguesas para o suhaíli  e um outro sobre questões conexas e fui entusiasmado por eles. Nada! Népia! Tinham sido todos vendidos, sem excepção. Convenhamos que já é galo.

Alguém, daí, desse lado do ecrã, perguntará: “para que é que o maduro do mcr quer dicionários de vernáculos africanos?” A resposta, esperemos que a não entendam como neo-colonialista, é simples. Em tempos que já lá vão, vivi parte da adolescência em Moçambique. Aprendi tantas palavras quanto pude das línguas faladas em Lourenço Marques (hoje Maputo quando deveria ser Xilinguine) e em Nampula. Eram os criados que nos ensinavam. Mais tarde, tentei saber um pouco mais sobre as línguas do ramo bantu (bantu convém explicar é plural de muntu, o homem. Nada mais mas, quer se queira quer não, passou a caracterizar uma multidão de povos provenientes de um mesmo tronco comum que vindos da África Ocidental avassalaram grande parte da África tropical e do sul quer a ocidente (Congo, Gabão e Angola) quer a oriente Uganda, Kénia Tanganika Mocambique e África do Sul sem esquecer as a Zâmbia o Zimbabué e o Malawi, entre outros) e prometi a mim mesmo tentar aprender um pouco mais. Vou tarde mas tenho todo o tempo que me resta. E o amor por essas línguas e gentes a par do louco pensamento de que, assim, recreio a juventude.

É uma ilusão mas antes isso que passar pela vergonha de ser deputado...

 

* a gravura: mulher makua (provavelmente do Ibo)

Política(s) de Verão

José Carlos Pereira, 27.07.10

Quando nos aprestamos para entrar por Agosto adentro, mês privilegiado de férias, a política encerra a temporada legislativa e entretém-se com fait-divers e jogos florais.

O final da sessão legislativa ficou marcado por duas votações curiosas na Assembleia da República. A proposta de abolir alguns feriados e de passar a gozar a maior parte dos feriados em dias contíguos ao fim-de-semana, que já aqui criticara, não passou no Parlamento e apenas contou com o voto favorável das duas deputadas proponentes, as independentes eleitas pelo PS, Teresa Venda e Rosário Carneiro. Tanto barulho para nada.

Por outro lado, com o voto contra do PS, foi aprovado o novo calendário das férias judiciais. Se as minhas contas não estão erradas, as férias judiciais passam a compreender 10 dias na Páscoa, 45 dias no Verão e 13 dias no Natal e Ano Novo. Quem é amigo, quem é? E esses malandros do Governo que não percebem a especificidade do mundo judicial…

As últimas semanas foram também sacudidas pela(s) proposta(s) de revisão constitucional do PSD. Um trabalho liderado pelo monárquico Paulo Teixeira Pinto, multado e suspenso da actividade bancária pela sua acção no BCP, e certamente com a ajuda de muitas cabeças pensantes, mas que pareceu tudo menos pensado. A forma como alteraram com toda a facilidade e em poucas horas propostas relativas ao sistema político, desde os poderes do Presidente às consequências das moções de censura, deixa antever que as ideias não foram devidamente ponderadas e amadurecidas. Uma proposta de revisão constitucional não devia ser uma coisa feita de ânimo leve.

É evidente também a vontade de marcar as diferenças com o PS e a esquerda nas opções relativas ao Serviço Nacional de Saúde e ao ensino público, privilegiando os interesses do sector privado. O mesmo sucede com a abstrusa proposta de substituir a “justa causa” pela “razão atendível” como justificação para despedir. Como bem explicaram algumas pessoas, inclusive de direita, a jurisprudência é hoje consensual relativamente ao que é justa causa para despedir, mas levaríamos anos e anos até que a “razão atendível” merecesse o mesmo consenso. Entretanto, os trabalhadores sofreriam na pele as investidas de patrões menos escrupulosos.

A única vantagem da proposta de revisão constitucional do PSD é mostrar ao que vêm os seus dirigentes. O que merece uma resposta à altura. Sem tibiezas.

Serviço Público

JSC, 27.07.10

 

A ONG Wikileaks presta o que se pode chamar de autêntico serviço público, com a particularidade de nada custar aos Estados, o que constitui uma dor de cabeça para os governantes, que prefeririam pagar para poderem controlar.

 

Com refere o Público, a  Wikileaks é um site dedicado a publicar documentos secretos para denunciar a corrupção dos estados. Portanto, quem tiver acesso a documentação credível já sabe para onde a poderá encaminhar…

 

Desta vez o escândalo é em torno da guerra no Afeganistão, São apenas 91 mil documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão foram revelados ontem. Aguardam-se os desenvolvimentos.

A campanha

JSC, 25.07.10

 

 

Fernando Nobre diz que só (e se ) quando for Presidente da República é que se pronunciará sobre o problemática da revisão constitucional. Provavelmente, o monárquico Fernando Nobre está à espera para ver em que é que dá o trabalho que o PSD encomendou ao presidente da causa real, que tem por objecto apresentar uma proposta de revisão constitucional da República.

 

Contudo, Fernando Nobre pronunciou-se sobre outras coisas: "as pescas", "o subsolo da plataforma marítima" e "o reforço da agricultura", que qualificou de grandes "desígnios nacionais".

 

Pela amostra, conclui-se que Fernando Nobre não está disponível para falar de matérias que considera de “exclusiva responsabilidade da Assembleia da República”, mesmo que tais matérias digam respeito ao futuro papel do Presidente da República, mas está disponível para falar sobre generalidades e matérias cujo poder executivo está fora do âmbito de intervenção do Presidente da República.

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