Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Defendem a entrada do FMI para assegurarem o domínio sobre a economia e os povos

JSC, 29.11.10

 

Os ministros das Finanças da União Europeia, coadjuvados pelo FMI, aprovaram o plano de ajuda financeira à Irlanda, no montante de 85 mil milhões de euros. 35 mil milhões vão já direitinhos para a banca, apesar desta ser a responsável pela grave crise orçamental que afecta a Irlanda.

 

A ajuda da União Europeia nada teria de especial se levasse em conta e penalizasse os responsáveis pela crise orçamental irlandesa. Contudo, sobre esta matéria nada dizem as autoridades europeias e nada se ouve ou lê na comunicação social generalista ou especializada. Parece que todos esqueceram a origem da crise e acordaram que importante é recapitalizar os bancos, mesmo que isso seja à custa da população irlandesa, que vai ter de sofrer ainda mais e pagar a quem roubou à grande que recebe o bónus de ser “recapitalizado” à custa dos contribuintes.

 

No caso irlandês, pelo que se conhece, a entrada do FMI não visa regular e combater os responsáveis pela crise, a banca. O FMI, com o argumento de que importa repor a confiança dos mercados, elege como objectivo estratégico a sustentabilidade da dívida, sem cuidar, minimamente, que foram os investimentos da banca irlandesa em activos contaminados que geraram a bancarrota do sistema financeiro irlandês e a quase falência do Estado, pela afectação de recursos que fez para tentar salvar a banca.

 

Agora já ninguém fala na necessidade de regulamentação dos mercados financeiros e na responsabilidade das agências de rating. O que está a dar é o combate ao estado social, a liberalização do mercado de trabalho, modo enfático de dizer despedimentos sem regras. O que conta é o discurso liberal que responsabiliza o Estado por todos os males, mesmo que se saiba, e sabem, que foram os bancos privados os grandes responsáveis pela crise que afecta as diferentes economias.

 

 A receita aplicada pelo FMI e pelas autoridades da União Europeia tem ainda por objectivo salvaguardar os guardiões do templo: a Alemanha e a França.

Certamente que não é por acaso que, nos últimos dias, sempre que a Sr.ª Merkel falou a consequência imediata foi a subida dos custos da dívida portuguesa. Também não será por acaso que o ministro das finanças alemão acaba declarar que a ajuda à Irlanda tem por objectivo “evitar contágio” a outros países como Portugal e Espanha.

 

 As sucessivas declarações desta gente, de desconfiança quanto à capacidade de superarmos as dificuldades, constituem o melhor exemplo da vontade que mostram em obrigar os designados países mais frágeis a chamar o FMI, para este ditar as suas regras e impor o modelo de funcionamento da economia que garanta o crescimento da economia alemã, o reforço do emprego no centro, com a particularidade da Alemanha continuar a aparecer como o parente rico disponível para ajudar os pobrezinhos.  

 

Estes dias que passam 221

d'oliveira, 28.11.10


Solidariedade(s)

 

Sei que, no dia da campanha do Banco Alimentar, é fácil falar de solidariedade. E, já agora, conviria lembrar a ideia de um “Direito à Alimentação” que dois cidadãos lançaram para aproveitar as sobras dos restaurantes. A ideia será criar uma rede que junte todas as boas vontades e a cidadania activa para conseguir eficácia, soluções que prevejam economias de escala que tornem fácil e atraente donativos e outras colaborações.

No passado ano, noticiei (com demasiada pressa, confesso) uma iniciativa que pensei duradoura: a emissão de vales que se compravam no supermercado e que se destinavam ao Banco Alimentar. A iniciativa repete-se este ano mas dura apenas alguns dias.

Ora, desculpem o atrevimento, não acham que seria possível, mediante acordo com as grandes superfícies, manter à venda, nas caixas, esses vales? Vales de 1, 2, 5 e 10 euros que as pessoas mais ou menos anonimamente iriam comprando? Poderiam até ter um canhoto destacável que o doador guardaria para eventualmente descontar nos impostos, se fosse caso disso. Uma organização com a seriedade e a vitalidade do BA poderia gerir isso, com ou sem ajudas exteriores.

Assim, alem deste momento especial de solidariedade, poderiam os mais interessados ou, mesmo muitos mais, fazer durante o ano pequenos (ou grandes) donativos. Eu, pela parte que me toca, poderia pagar a má consciência com que compro os meus patés, os queijos, algum que outro enchido comprando ao lado uns vales que, não resolvendo o problema de fundo, pelo menos aliviariam algum necessitado. Com a vantagem que assim cada um dá o que pode, ou aquilo a que está disposto, sem um olhar inquisidor, porventura critico e mordaz.

É que a solidariedade não pode ter dia certo, pois a necessidade é de todos os dias.

A sociedade civil, suporte único e último da democracia (e da liberdade), fortalece-se com este tipo de exercícios anónimos mas agradáveis.

Se porventura algum blogger me lê, pedir-lhe-ia que replicasse esta ideia no seu espaço. É que sozinhos valemos pouco, mas juntos atingimos seguramente muita gente. Pode até acontecer que a ideia possa ser melhorada ou possa servir para outras manifestações do mesmo teor.

Malta, se não formos nós a fazer, quem é que fará?

 

* gravura pilhada ao "figueira digital" (Boa iniciativa ó conterrâneos)

Au Bonheur des Dames 256

d'oliveira, 27.11.10

Mais do mesmo...

Há dias referi por aí a história do museu do Louvre que lançou um apelo público para comprar “as três graças” de Lucas Cranach. Volto ao tema para anunciar que neste momento já está atingido o primeiro terço da enorme soma em apreço. Exactamente 328.000 euros. E em doze dias!

De passada refira-se que o Museu de Rouen ( media cidade provincial francesa que não chega a 150.000 habitantes pese embora ser a capital da Normandia) teve tal êxito com a exposição “Une ville pour l’imprssionisme, Monet, Pissarro et Gauguin a Rouen”, vista por cerca de 240.000 pessoas, que, com os lucros gerados, se pode dar ao luxo de adquirir um quadro de Pissarro e outro de Corot!!!

Para memoria: a exposição rendeu quarto milhões de euros (um milhão a mais do que se previa e as duas peças adquiridas custaram 567.000 euros)

Por cá, e em grandes títulos: (a saída de La Feria do Rivoli) prova que são necessários capitais públicos e um investimento forte para que haja cultura ou entretenimento na cidade (sic) afirmação de um dos antigos “ocupantes” do Rivoli.

É pró que estamos!.....

 

diário Político 154

mcr, 27.11.10

Uf! Que alivio!

 

Vem nos jornais: o sr. Engenheiro Belmiro de Azevedo apoia o senhor professor Cavaco Silva. Para surpresa é uma surpresa. Com efeito, as pessoas pensavam que o senhor engenheiro Belmiro de Azevedo iria apoiar o candidato Lopes, o do PCP, entenda-se ou, a la rigueur, e censurando-se alguns desvios de direita, o senhor Manuel Alegre.

Eu mesmo, ainda há dias, num sossegado recanto do Grémio Literário, ouvi duas conspícuas figuras públicas exprobando brandamente o patrão da SONAE pelas contínuas atitudes de esquerda que desde há trinta e tal anos vem tenazmente tomando. A fine napoleón (Lichwitz) que ia degustando enquanto o sono post prandial não vinha, começou subitamente a saber-me a uma dessas mescambilhas nacionais, tipo “brandy” que mais parecem pedra pomes diluída em aguarrás e álcool etílico. Credo!

Convém dizer, Deus mantenha o Grémio em boa paz, que os meus dois consócios variavam quanto ás opções presidenciais do senhor engenheiro. De facto, enquanto um deles jurava a pés juntos que o ilustre patrão de indústria cantava “uma gaivota, voava, voava...” no duche, o outro punha-o mais da parte do deputado Defensor de Moura. “O homem é do Norte”, acrescentava este último, “e o engenheiro não perde nenhuma procissão das festas da Agonia...”

Confesso que, sempre tivera as minhas dúvidas quanto à posição politica do engenheiro. Venho da velha escola marxizante, fugi diante da policia quando isso era preciso, gritei os meus vivas à República e os meus morras à reacção, pelo que me surpreendia a teoria amplamente defendida da appartenance de B de A às hostes progressistas. Mas, enfim, já se vira coisa mais digna de admiração (por exemplo o sr. professor Veiga Simão transitando do governo marcelista para um do PS, para não falar dos arroubos místicos do dr Alberto João Jardim quando engrossa a voz e fala de democracia e de liberdade) pelo que mesmo duvidando, eu próprio comecei a idealizar o conhecido empresário em franca conversa com o senhor Jerónimo de Sousa sobre o tema sempre candente das danças de salão e da sua influência na educação do proletariado da margem sul.

A notícia abrupta do apoio a Cavaco silva desfaz mais uma das minhas antigas convicções sobre as gentes que povoam esta terra amorável. Afinal, o capitalista apoia o homem que não tem dúvidas, que não hesita e que durante quase uma década pastoreou o bom povo português com mão firme mas terna. E que, obviamente, não tem nada que ver com estas confusões todas em que nos movemos, sejam elas a dívida pública, o deficit ou mais prosaicamente os bancos que vão ao fundo levando com eles paras as profundezas do mar ignoto, os bens dos depositantes 8o que é natural) e as muitas centenas ou milhares de milhões que a CGD lá meteu para estancar a vergonha.

Mais tranquilo com as declarações de hoje, prometi a mim mesmo abandonar o detestável vício francês do cognac fine napoleón (etc.) e passar a um regime mais robusto e benigno em consonância com os tempos que se anunciam: um Balvenie Classic depois de almoço, já que não consigo chegar ao Macallan fine & rare de 1946 ou sequer ao Bowmore de 40 anos. Também é verdade que não tenho as posses do distinto engenheiro se é que ele se dá a estes luxos asiáticos no que toca a espirituosos.

 

 

O preço da electricidade

JSC, 25.11.10

A ERSE legitima. A EDP factura. Mexia recebe milhões de euros a título de prémio pela boa gestão conseguida. Quem paga tudo isso? Os consumidores/contribuintes.

 

A DECO explica como se formam os preços da energia, que em boa parte nem é bem um preço, tem mais a ver com uma tributação.

 

Parece importante que pelo menos o assunto seja discutido. Por isso coloco o endereço para a petição.

sonhar a terra livre e insubmissa 1

d'oliveira, 23.11.10

 

Magister dixit

O Dr. Cavaco Silva, actual Presidente da República e candidato à sua própria sucessão nesse lugar pelos vistos apetecível, entendeu brindar-nos com mais uma afirmação surpreendente. Ao que se lê, S.ª Ex.ª andou constantemente a prevenir o Governo, o parlamento e a arraia miúda (nós, os paisanos) das catástrofes que nos esperavam se não tivéssemos cabecinha. S.ª Ex.ª viu e previu (como eu aliás, que não sou presidente, sequer economista mas apenas – e basta! – cidadão interessado) que o caminho de esbanjamento de recursos que foi visível desde quase o primeiro dia de Sócrates (e que repetia outros idênticos de Guterres e de um certo Cavaco Silva que durante oito anos governou a desgraçada pátria com impressionantes maiorias absolutas) ia dar para o torto. Como deu.

S.ª Ex.ª parece esquecer-se de que, enquanto Presidente da República, andou por aí a permitir que se passasse a imagem de convergência táctica e estratégica com o Governo actual. De facto, se avisos houve, passaram despercebidos. Ou sou eu que sou surdo e burro como um portão de quinta ou S.ª Ex.ª usou uma linguagem de tal modo cifrada que a todos (e a mim, especialmente) soava como serbo-croata falado por um nepalês pouco dotado para línguas. Por junto e que me recorde, S.ª Ex.º lançou o famoso suelto da “má moeda estragar a boa” em tempos dessa outra aberração que foi o episódio folhetinesco Santana Lopes. Com Sócrates (o actual, não o grego, Deus o tenha em bom descanso já que não impediu que lhe usassem - e abusassem – o nome) foi uma lua de mel se é que me permitem a imagem.

Tentando caboucar no tempo passado, relembro algumas fífias todas ditas em tom paternal e meloso que só para iniciados se poderiam tomar pelo que agora se afirma: claros avisos à navegação.

Não fora o respeito que, enquanto cidadão e republicano, devo a S.ª Ex.ª, atrever-me-ia a duvidar da veracidade das palavras do primeiro dos portugueses.

Porque, como Brutus, S.ª Ex.ª é um homem honrado mesmo que, no caso em apreço, eu não seja Marco António mas apenas e só um cidadão que se aproxima da velhice e se chama mcr. Se S.ª Ex.ª diz que preveniu claramente o povo, as elites e o Governo, que remédio tenho eu, amicus Plato sed magis veritas, senão aceitar a sua palavra? Tanto mais que, S.ª Ex.ª falava como candidato à sua própria sucessão, ou seja a um lugar que nos representa a todos, interna e externamente. Seria impensável que, numa circunstância assim, tão importante, alguém se atrevesse, sequer, a maltratar a verdade, a vesti-la do manto  leve da fantasia, a travesti-la, a, ahimé!, a manipulá-la. Se S.ª Ex.ª diz o que disse, então fui eu, e  como eu uma multidão de cidadãos surdos como calhaus, que digo?, como penedias, quem viciosa e impudentemente não ouviram, não quiseram ouvir, ou ouviram e não se importaram, ou importaram-se pouco como sucede com as crianças irresponsáveis, como os súbditos irresponsáveis que S.ª Ex.ª em tempos não muito longínquos, pastoreou com mão firme mas amorável.

Eu, conhecido pela caturrice, pela velhice, pela má fé, por ser apoiante – amigo há cinquenta anos - de Manuel Alegre só recordava aquela embrulhada das escutas a Belém que conseguiram rebentar com as hipóteses, na altura razoáveis, da dr.ª Ferreira Leite chegar a S. Bento. A conspiração belenense, as escutas alegadas, as fantasiosas declarações  (e os extraordinários e sonoros silêncios de S.ª Ex.ª....) provenientes dos porta-vozes da Presidência foram um bálsamo absoluto na tentativa de fazer esquecer a recente e pesada derrota do P.S. nas eleições europeias. Ao molestar a dr.ª Ferreira Leite, fizeram esquecer as criticas generalizadas (e justas e justificadas ) à deriva despesista, aos erros de apreciação da crise, ao estado comatoso do défice, da dívida pública e à ineficácia das medidas entretanto tomadas. A pobre senhora que presidia aos destinos do PPD apareceu aos portugueses como uma pitonisa da desgraça, como uma ave de mau agouro o que, de resto, foi amplificado dentro do seu próprio partido pelos partidários da actual direcção Passos Coelho. Todavia, ao reler as criticas da “tia Manuela” (era mesmo assim que desdenhosa, grosseira e machistamente a referiam) não posso deixar de pensar que a senhora avisava correctamente, previa com serenidade e sabia perfeitamente o desastre que por aí vinha. E virá, queiram ou não fingir que isto não é a Grécia nem a Irlanda (nem o Burkina Faso ou a República Centro-Africana, como por vezes parece).

S.ª Ex.ª, nesta sua saltitante peregrinação entre visita presidencial e sessão de propaganda, discreteia agora, com clareza e dureza sobre os seus avisos, premonições e demais declarações. Agora, subitamente, todos o entendem perfeitamente, até eu, o surdo acima citado. Pensar-se-ia que, esta súbita revelação este claro entendimento que ora nos unge como a palavra reencontrada em Emaús, significaria que, em tempos não muito distantes, se cultivou, et pour cause, uma langue de bois espessa e ininteligível que rendia dividendos altos. Por um lado dizia-se o que se dizia, num murmúrio abafado e entre dentes, por outro lançavam-se os alicerces do futuro candidato que aparentemente estava calmo mas que de facto condenava irremediavelmente às gemonias (e não à cicuta) Sócrates, o P.S. e, por arrastamento, o outro inevitável candidato Manuel Alegre. Manobra, dirão. Nada disso! Nunca houve manobra, porque S.ª Ex.ª como Brutus é um homem honrado...

Amigos, portugueses, cidadãos, oiçam-me: vim apenas enterrar César e nunca atacar o actual Presidente ou sequer defender a outrance o meu candidato. Apenas venho enterrar César já que desenterrar a verdade me está vedado, porque Brutus é um homem honrado...

 

 

Declaração de interesses: o escriba é amigo de longa data e apoiante actual de Manuel Alegre. Por essa razão inaugura esta série para diferenciar os textos normais que aqui vai debitando daqueles que, como este, referem directa ou indirectamente a campanha eleitoral para as presidenciais. Assim os leitores menos interessados poderão passar à frente e dar por não escritas as crónicas com o titulo geral “sonhar a terra livre e insubmissa” citação roubada a “Pátria, lugar de exílio” de Daniel  Filipe, ed Presença, magnifico livro de poemas ainda à venda (não confundir com a antologia do mesmo nome, também recomendável, organizada por Egito Gonçalves, para a Inova).

Também o Pingo doce

JSC, 20.11.10

 

É tudo gente boa e preocupada com o país. Note-se que não se limitam a distribuir resultados gerados no exercício, vão mesmo distribuir resultados de anos anteriores, aplicados em Reservas, provavelmente, numa perspectiva de reforço dos capitais da sociedade, que agora, com a distribuição anunciada, vão descapitalizar.

 

Estamos perante empresários com uma especial visão da ética empresarial e da responsabilidade social das empresas.  

Cuidado com o que se escreve no facebook…

JSC, 19.11.10

A justiça francesa dá razão a empresa que despediu trabalhadores após comentários negativos no Facebook.

 

Se fosse por cá, com grande probabilidade,  isso seria considerado “liberdade de expressão”,” manifestação de estados de alma” ou um simples "desabafo escritural", sem significado de maior, pelo que a decisão seria a favor dos trabalhadores. O que até me parecia bem.                                          

Mais uma cimeira para nada mudar

JSC, 19.11.10

Nestes dias a cimeira da Nato domina tudo e todos. Não há dúvida que as coisas da guerra mobilizam as pessoas. Pela ordem natural das coisas a Nato é uma organização fora de tempo. Por um lado, porque o bloco contra o qual foi criada há muito que deixou de existir. Aliás, os países do extinto Pacto de Varsóvia aderiram à Nato ou estão a caminho disso. Por outro lado, porque as ameaças e perigos que hoje nos confrontam deixaram de poder ser combatidos por exércitos convencionais. As tragédias que assolam o Iraque e o Afeganistão também estão aí para o mostrar.


Nem importa falar do custo destas cimeiras. Dos blindados que deveriam ter chegado e não chegaram, mas que terão de ser pagos, o que irá enriquecer o país fornecedor e aumentar a nossa dívida. A curiosidade de ontem foi o encontro de “jovens atlantistas” e a mensagem que aí foi deixada. A notícia não diz quem promoveu esse encontro. Admito que os tais “jovens atlantistas” sejam os legítimos herdeiros dos seniores que vão hoje iniciar a cimeira.

 

Outra curiosidade foi o enxotamento do pessoal que vinha manifestar-se contra a Nato. Para estes não houve brandos costumes. Uma funcionária, suponho do SEF, explicava que não deixaram entrar um grupo de finlandeses porque eles  disseram que vinham para a manifestação e que na viatura traziam cartazes e tarjas contra a Nato.

 

Pessoas com cartazes e tarjas devem ser pessoas muito perigosas. Além disso as tarjas eram contra, se fossem a favor, provavelmente, até seriam recebidos pelo Primeiro ministro, como sucedeu aos tais “jovens atlantistas”, a quem José Sócrates apresentou o "novo conceito estratégico" da NATO, que passa, disse, pela defesa colectiva contra o terrorismo, os ciberataques, a pirataria, o narcotráfico e o tráfico de pessoas”. Bonito de ouvir. Mas só isso.

Todos procuram vender-nos a ideia de que esta cimeira vai ser muito importante. Que vai dar um novo impulso ao namoro Rússia-Nato e que vai definir a estratégia para o fim da guerra no Afeganistão.

Desde há algum tempo que até o Secretário Geral da Nato reconhece que a invasão (ele diz “intervenção”) do Afeganistão foi um erro porque subestimaram a capacidade de resistência dos afegãos. O que ele quer dizer é que não os consegue vencer e que só resta sair. Neste sentido o que a cimeira vai definir são as condições para a saída, transferindo para os países membros a responsabilidade e os custos do abandono do Afeganistão.

 

É notável que apesar de reconhecerem que foi um erro, ninguém, absolutamente ninguém, procura imputar responsabilidades ou apontar o promotor de tamanho erro. Não o fazem porque, do ponto de vista militar e económico, para a indústria da guerra, aquilo não foi nenhum erro, foi um grande negócio. Negócio que tem que ser mantido, alargado, razão para a Nato prossiga e amplie os seus objectivos, que já passaram a fronteira original para visarem mais longe, o ciberespaço.

 

Entretanto, no terreno, o mesmo Secretário Geral vai dizendo que o novo papel da Nato também passa por reforçar a sua capacidade para “treinar e educar forças de segurança locais”. Parece que é aqui que entra Portugal.

Pág. 1/4