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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Há coincidências….

O meu olhar, 20.07.11

Retirado do Margem Esquerda do ex-incursionista Primo de Amarante. Uma pérola este texto!...

 

Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV:

 

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço?

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado? O Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se? Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: são os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.


in Le Diable Rouge, de Antoine Rault

 

Nota: o sublinhado é meu.

 

Mudam-se os tempos…

O meu olhar, 20.07.11

Em Março de 2011  a então Ministra da Educação Isabel Alçada propunha na Assembleia da República, a eliminação da área de projecto e a limitação do estudo acompanhado. Na altura toda a oposição, incluindo portanto o PSD e o CDS, votaram contra. Agora o actual Ministro da Educação defende o mesmo, sem oposição à vista. Então e o despedimento dos professores? E a falta de estudos que fundamentem a medida? Mudam-se os tempos... A mim, o que me espanta, é que apenas decorreram quatro meses entre as duas posições.

 

Isabel Alçada em defesa da reforma

 

 

 

 O PSD respondia assim:

 

Do discurso fácil à realidade em sentido contrário

O meu olhar, 19.07.11

Tomei a liberdade de reproduzir parte de um excelente texto de Mariana Vieira da Silva do JUJULAR por tratar de um assunto ao qual sou particularmente sensível: a área da saúde pública. Esta área está no centro de fortíssimos interesses económicos e á alvo fácil para discursos fáceis e não fundamentados, como foi o caso ontem, no Prós e Contras.

 

César das Neves debita frases nas quais parece não ter pensado mais de meio segundo, cheio de certezas e de "eu sempre disse". A questão é que grande parte dessas frases são pura e simplesmente falsas.

Um exemplo. Diz-nos César das Neves, gesticulando: "Nós temos um sistema de saúde pior que os outros e que gasta mais que os outros per capita" Daria imenso jeito ao argumento de um Estado gordo, que desperdiça e onde seria facílimo cortar que esta frase de César das Neves fosse verdadeira; mas não é. Portugal gasta menos em saúde do que a média da OCDE, quer quando falamos de despesa pública per capita, quer quando falamos de despesa privada per capita, como mostra o gráfico abaixo.

 

   

 

Podia dar-se o caso de sistema de saúde ser pouco eficiente e estar afundado em gastos desnecessários e consumos intermédios, mas, para mal de César das Neves, não é assim. Portugal apresenta melhores indicadores de qualidade e tem menos despesa percapita que a média da OCDE . Os EUA são o país que mais gasta e apresenta uma esperança média de vida de 78 anos, Portugal com quase ¼ do gasto alcança os 79 anos.Portugal está entre os 6 países mais eficientes da OCDE

Frases Que Ficam

O meu olhar, 19.07.11

"Temos de reinventar o conceito de serviço público, nomeadamente na diversidade das áreas sociais. Um novo conceito que atenda mais à necessidade de dar uma resposta rápida e adequada aos crescentes problemas sociais da população portuguesa, do que ao respeito de uma visão ideológica que os tempos tornaram obsoleta."

Cavaco Silva, 18 de Junho de 2011, no X Congresso Nacional das Misericórdias Portuguesas

estes dias que passam 234

d'oliveira, 17.07.11

Y los años han pasado

 

 

 

 

 

Ah, Barbara,

 

Quelle connerie la guerre

 

(Prévert, Paroles)

 

 

 

 

 

Passam setenta e cinco anos do início da guerra civil espanhola, conflito que divide com as invasões francesas a triste glória de ser o mais violento e dramático da longa história peninsular.

 

Ainda hoje, se verifica que nem todas as contas estão saldadas, nem todas as vítimas reconhecidas, nem todos os agravos esquecidos ou perdoados.

 

Sobram por toda a Espanha, milhares de fossas comuns, muitas ainda por descobrir e quase todas por explorar.

 

Enterrar os mortos é, na nossa cultura europeia, um imperioso dever. Raros serão (e eu conto-me entre eles) os que nenhum interesse têm nas suas ossadas. Por mim, deitem-me ao mar para alimento (ou veneno) de peixes & outras espécies marítimas). Todavia, para uma enorme maioria de pessoas, enterrar os seus é uma obrigação e mais do que isso um acto de amor e de fé numa outra vida.

 

A guerra de Espanha foi de uma crueldade extrema, escusado é dizê-lo. As guerras civis trazem consigo mais esse estigma da violência sem limites.

 

Em Espanha, a rebelião contra a República, desatou duas carnificinas imediatas.

 

Por um lado, os primeiros meses, nas zonas fieis ao governo republicano, foram tumultuários. Brigadas de enfurecidos republicanos, com forte participação anarquista, mas não só, desencadearam uma repressão incontrolável contra os suspeitos de simpatias com os revoltosos. Mais de dois mil religiosos foram caçados como ratos e executados, como castigo a uma Igreja que se mostrou cúmplice da “cruzada” franquista, abençoando inclusive as tropas mouras que constituíam a ponta de lança do avanço rebelde no sul.

 

As prisões foram assaltadas e milhares de presos, levados em “sacas” (de sacar) foram assassinados. Por todo o lado, a delação, a inveja ou a vingança, tornaram cidadãos inocentes ou pelo menos não directamente envolvidos na rebelião, vítimas propiciatórias destas multidões exaltadas.

 

Não havia Estado, ou havia um Estado demasiado débil nesses primeiros meses. E assim foram massacrados cidadãos sem julgamento nem misericórdia.

 

No outro campo, o franquista, as coisas foram ainda piores, se é possível fazer comparações. À medida que as unidades rebeldes progrediam no terreno, eram meticulosamente fuzilados todos quantos, por alguma razão tivessem servido a República. Quando conseguiam escapar ou esconder-se, os falangistas iam pelas mulheres deles e, depois de conscienciosamente as violarem ( “a las mujeres de los rojos hay que mostrarles la verdadera hombria de los españoles”. Queipo de Llano numa das suas emissões aliás filmada e passada ainda há pouco num noticiario espanhol), eram presas, conduzidas a um local ermo e fuziladas. Como na pequena aldeia de Villena!

 

As tropas franquistas não queriam deixar para trás das suas linhas eventuais adversários.

 

Contas feitas, segundo Paul Preston, a coisa andou por cinquenta mil vítimas no lado republicano e cento e cinquenta mil no rebelde.

 

Isto quanto aos mortos durante a guerra, deixando de lado as baixas sofridas pelos exércitos em luta, as derivadas de bombardeamentos nas cidades republicanas A aviação republicana, ainda que de alguma qualidade não pode conduzir operações de bombardeamento ao território inimigo sobretudo por ser toda ela necessária para conter as vagas de aviões alemães e italianos que atacavam as suas posições.

 

Depois da guerra, a repressão alcançou extremos inéditos, podendo, hoje, consultar-se cerca de quatro milhões de “expedientes” (processos) abertos contra o mesmo número de pessoas. E nestes processos não constam todos quantos foram vítimas. Não há, por exemplo, no Arquivo de Salamanca, o processo de Lorca. Lorca, como tantos outros, nem sequer a isso teve direito: foi morto por um par de criaturas cobardes, que agiram mais ou menos por sua livre iniciativa (cfr: Miedo, olvido y fantasia. Crónica de la investigación de Agustin Penon sbre Federico Garcia Lorca (1955-1956) Comares, Granada 2009. Ou Ian Gibson, “Vida pasión y muerte de Federico Garcia Lorca”, Debolsillo, 2006) e não perderam tempo a escrever sequer um miserável auto de prisão. Obviamente, este número inclui, mortos, presos, fugidos, exilados, guerrilheiros, políticos, artistas e sindicalistas, enfim, a elite da República.

 

Setenta e cinco anos e ainda hoje, há um frisson quando se fala do assunto. Nem os acordos da “transição”, nem a morte da esmagadora maioria dos intervenientes na contenda, puseram fim à discussão. A guerra de Espanha alimentou e alimenta ainda, uma soma gigantesca de livros, romances, ensaios e histórias para todo o gosto. E, sobretudo, os desaparecidos. E as tumbas anónimas que se vão descobrindo. E as entradas na Enciclopédia sobre os espanhóis. E o caso Garzón. E... e...e...

*fotogramas de "La guerre est finie" de Robert Bresson, argumento de Jorge Semprum  

 

Diário Político 168

mcr, 17.07.11

Não estão na moda

 

 

 

Não, já não estão na moda. Mesmo se, ritualmente, todas as sextas-feiras, no noticiário da noite se faça menção de mais umas dezenas de mortos já não estão na moda.

 

Ao fim e ao cabo, são árabes, mouros, inimigos da fé e do falecido império. Ainda por cima, são sírios, ou seja, gente que desconhecemos em absoluto. Se, ao menos, fossem palestinianos, sempre haveria uma boa alma de esquerda (e não de Setchuan...) a lamentar o desperdício. Mas são só sírios. E depois, aquilo é complicado. Há por lá drusos, chiitas, alauitas, sunitas, curdos e sei lá mais quê. E um par de cristãos sem importância de maior. E, cereja no bolo, o rapazola Assad, filho e herdeiro de um outro Assad, que muita e boa esquerda venerava como se fora um dos seus (e outra tanta direita igualmente louvava porque o homem combatia os “sionistas”), cavalheiros vindos de uma, mais uma!, conspirata militar, politica (partido Baath) e religiosa,  alauita. Ou seja não é sunita nem exactamente chiita, mesmo se a generalidade dos comentadores, dê a seita como uma heterodoxia do chiismo. 

 

Na prática, para quem, de facto, move os peões neste xadrez médio-oriental, o facto da dinastia Assad (que governa ininterruptamente o pais desde há quarenta e tal anos) pertencer à minoria alauita dá imenso jeito pois não desequilibra a balança a favor do mais numeroso grupo sunita e mantém em respeito curdos, cristãos e drusos e restantes chiitas ortodoxos. Depois, desde a perda dos montes Golam, a sua verborreica oposição a Israel é exactamente isso: verborreia! Muito barulho para nada. E ainda tem uma vantagem suplementar: quando é preciso, a Síria faz de policia no irrequieto Líbano.

 

Tudo, portanto, correria bem, não fora a chamada “primavera árabe” continuar teimosamente o seu percurso, carregado de mortos, sempre os mesmos, os que reclamam liberdade e democracia, por entre a indiferenças de muitos e o descuido de quase todos. Nem a guerra civil declarada (Líbia), a larvar (Iémen), a mudança mais ou menos tranquila (Marrocos, que todavia, oh espanto, chega às luzes da ribalta porque há ainda quem pareça querer mais, sem curar de parar para reflectir que estas actuais importantes reformas fornecem pano para mangas para um bom par de anos de tranquila mas decidida evolução democrática, atalhando caminho aos pequenos grupos radicais e messiânicos existentes no reino), gozam agora de lugar nos noticiários.

 

De facto, convenhamos, não convém esta evolução do outro lado do mare nostrum. O árabe dramático e radical dava imenso jeito aos xenófobos que pululam na Europa, aos saudosos da revolução final (que pululam pouco) e a todos quantos se obstinam em manter um status quo, seja em Israel, seja nos poços do petróleo.

 

De modo que, para abreviar, aqui fica uma chamada de atenção para uns e uma garantia para outros. Este cronista está atento, indignado, incomodado e solidário com a rua árabe. E irá dando notícia dos mortos sem sepultura, das vozes dissonantes e de tudo o que vai acontecendo.

 

Para já, notícia é não haver notícia diferente e só isso deveria incomodar muita consciência tranquila: na Síria (e não só) continua a morrer gente, porventura a melhor, porventura a mais interessante e, indubitavelmente, aquela que, mais depressa e melhor, poderia estabelecer pontes estáveis com esta Europa á beira Verão e à beira abismo.   

d'Oliveira, 17.07.11

 

 

Assis e Seguro (IV)

José Carlos Pereira, 16.07.11

A análise das moções apresentadas por Francisco Assis e António José Seguro não traz novidades de monta. Também não isso é que se espera de documentos desta natureza. A prática sobrepor-se-á à teoria política.

Num momento de viragem como o PS não vivia há muitos anos, em que é necessário, por um lado, fazer oposição a uma maioria que introduzirá medidas duras com as quais o PS também está comprometido, e, por outro lado, assegurar a sucessão de uma liderança carismática, que nos últimos seis anos esteve mais centrada nos problemas da governação e menos nos do partido, as maiores atenções estarão na forma como os candidatos à liderança se propõem reformar o PS e o espaço da esquerda democrática.

Ambos prometem fazer uma oposição séria e responsável, sem abdicar dos princípios mais caros ao PS, desde logo na defesa da escola pública, do Serviço Nacional de Saúde, dos instrumentos de solidariedade e apoio aos mais desprotegidos e da intervenção do Estado na regulação dos mais relevantes sectores económicos. Também defendem a reforma das leis eleitorais, embora com nuances diferentes, e aqui Francisco Assis não temeu anunciar a vontade de estabelecer contactos à esquerda para as próximas eleições autárquicas. Os dois candidatos são ainda unânimes na defesa de uma Europa mais solidária e com um novo modelo de governação, que contribua para a regulação dos mercados financeiros e para um novo compromisso entre os parceiros europeus.

Entre portas, as diferenças sentem-se não só no estilo. Seguro diz o que militantes, dirigentes intermédios e autarcas querem ouvir. Andou demasiados anos na sombra a tecer cumplicidades que agora chegou a hora de cobrar. A este propósito, não esperava ver um destacado autarca do PS, que muito aprecio, vir dizer que apoia Seguro para honrar um compromisso assumido há muito. Os compromissos não se assumem apenas com base em cumplicidades pessoais e independentemente das circunstâncias.

O comportamento de Seguro, que esteve como deputado todos estes anos sem verdadeiramente estar com a liderança e a governação de José Sócrates, actuando pela calada a preparar o “day after”, não me parece um cartão-de-visita recomendável. Prefiro os que assumem as divergências e desafiam quem está no poder. Prefiro a atitude de quem se distancia, como fez Manuel Alegre, que deixou o parlamento quando entendeu que o devia fazer, mas que nunca quebrou a solidariedade com o PS e o seu líder nos momentos essenciais. Por que razão esteve Seguro calado no recente congresso de Matosinhos?

Assis é diferente na forma e no estilo. Será menos calculista e mais impulsivo, é verdade, mas vejo essas características como qualidades e não como um qualquer handicap. Nunca se coibiu de ir a votos, em circunstâncias nem sempre favoráveis. Deu a cara no parlamento pelas governações de Guterres e Sócrates, identificando-se com os mais longos períodos de governação do PS. Mostrou que não transigia com o populismo e com o caciquismo.

Na sua candidatura denota ousadia e ponderação. Ousadia quando defende a possibilidade de simpatizantes assumidos e declarados do PS, que por razões várias não pretendem inscrever-se como militantes, poderem participar nas decisões que digam respeito a eleições para cargos externos, designadamente para as autarquias. Sei bem que esta proposta choca com os interesses instalados e com o formato mental dos “velhos” militantes, mas este é o caminho que os partidos têm de seguir se quiserem captar o interesse dos votantes que estão fora das sedes partidárias. Quando trinta ou quarenta militantes de uma concelhia decidem sobre uma candidatura autárquica que terá de mobilizar milhares de votantes como se vence esse gap sem abrir o partido à participação de todos os interessados?

Assis revela ponderação quando não proclama sem mais a defesa da regionalização, no momento actual. Sou um regionalista convicto e defendo essa reforma administrativa, mas compreendo que essa está longe de ser uma medida consensual entre nós, pelo que será positivo avançar por pequenos passos, reforçando os instrumentos de desconcentração e descentralização e apostando num novo modelo de governação das áreas metropolitanas, até que a regionalização administrativa se imponha como uma consequência natural.

Não sou militante do PS, mas como seu eleitor habitual não tenho dúvidas em considerar que, no actual quadro, Francisco Assis é quem reúne as melhores condições pessoais e políticas para liderar o PS nesta nova etapa.

 

(fim)

estes dias que passam 233

d'oliveira, 15.07.11

Ainda a criatura do DREN!

 

Doze mil euros é quanto o Estado vai pagar ao dr Charrua, ex-funcionário da DREN e despedido por uma criatura que exerceu de comissária politica durante o primeiro consulado socrático.

 

Ao que então se dizia, o dito dr Charrua, terá gracejado sobre o fantasmático título universitário do Primeiro Ministro, sobre o “inglês técnico, os exames em datas inverificáveis, incluindo um domingo (esta gente trabalha que se farta, até no dia do Senhor!...). Tudo isto, numa conversa privada, durante a pausa do almoço...

 

Desnecessário é dizer que Charrua foi rapidamente mandado para o seu anterior lugar. É bem feito! Por ppd frenético e gracejador e por traição à pátria imortal...

 

A matrona que o correu, lá deve andar na sua labuta normal mas o Estado, esse, vai pagar pela actividade inquisitorial de que deu exemplo excessivo.

 

As pessoas poderiam ser levadas a pensar que, se asneira houve, isso deveria ser imputado a quem asneou (e nunca um verbo foi tão bem empregado, os asnos que me perdoem). O Estado, está lá longe, em cu de Judas, preocupado com coisas mais importantes do que os dichotes de um cavalheiro mesmo se tem por nome charrua e é militante de um partido da oposição. O Estado, no caso o Ministério (a implodir se Deus quiser) da Educação, foi na conversa e agora é o que se vê: somos nós todos que vamos desembolsar a indemnização a Charrua. A dona Margarida essa, ainda anda por aí, já não de vingadora mas contente e feliz, porque o Tribunal não a considerou (nem à Ministra, nem ao dr Valter, Secretário de Estado) causadora da perturbação que culmina nesta condenação. Do Estado, isto é de ninguém e de todos.

 

Ao que parece o Tribunal teve em linha de conta o facto de a DREN ou quem nela mandava considerar as piadas de Charrua ofensivas para o 1º Ministro, mesmo se proferidas em conversa privada, sem intuito de publicitar ao restante pessoal uma opinião que, aliás, os factos e os documentos produzidos na altura, facilmente comprovavam.

 

Não importa! A fiel Margarida, campeã do socratismo triunfante não tem responsabilidade. A responsabilidade é nossa, que vamos todos pagar os 12.000 euros que um acto perverso e estúpido de quem mandava sem peias nem método, acarretou.

 

A Ministra dona Lurdes não é responsável. O cavalheiro de bigode que dá por Valter Lemos também não. Isto tudo aconteceu por milagre do Espírito Santo. A perseguição aleivosa a um pateta que não sabe que dizer piadas sobre o Sócrates nacional e engenheiral tem sempre consequências aos olhos do informador que delatou e da mãozinha severa que correu com o prevaricador.

 

Lope de Vega, esse dramaturgo impar, escreveu uma peça chamada “Fuenteovejuna” e nela narra a violência de um comendador contra os camponeses, a tentativa de violação de uma moça filha do alcaide da aldeia. Em sua defesa todos se unem e limpam o sarampo ao atrevido e namoradeiro nobre. Quando o Rei envia a sua gente de justiça para uma devassa,  à pergunta sobre quem matou o maléfico Guzman todos os habitantes respondem que foi Fuenteovejuna. Na incapacidade de condenar abstractamente uma aldeia inteira o Rei, bem avisado, desiste do processo.

 

Aqui foi uma criatura, duas com o delator, três com a superiora imediata, quatro com mais alguém, quem entendeu castigar a insuportável ofensa à dignidade augusta do Primeiro Ministro e afastar por “conveniência de serviço” o imprudente gracejador. Não houve possibilidades de estabelecer que inconveniência e de que serviço se tratava. Daí a reparação dos 12.000 euros.

 

E nós a pagar. Ora aqui está a diferença entre tempos de honra, a Espanha dos Reis Católicos, e tempos de merda, o Portugal desta gentinha que agora se vê isenta de responsabilidades.

 

Temo bem que este meu texto não tenha o humor, a ironia, a eventual graça de alguns ultimamente produzidos. A culpa é minha: não sei, nunca soube, calar a indignação mesmo se isso me não faz sorrir e não traz a ninguém um momento de descanso.

 

Às vezes custa muito, muitíssimo, ser português.

 

Bom fim de semana, e preparem-se para pagar mais estas doze milhardas.

 

(neste blog fatal, esta historieta foi tratada a seu tempo nos “estes dias que passam” 62 e 63 e no Diário Politico 51 do compadre e cúmplice d’Oliveira. Tudo entre Abril e Maio de 2007. É para que saibam que já nessa altura alguém estava atento. E não se esquece!)

 

*na gravura: cena de Fuenteovejuna, encenação desconhecida. 

 

 

 

Assis e Seguro (III)

José Carlos Pereira, 15.07.11

A reflexão sobre as duas candidaturas à liderança do PS focaliza-se hoje na forma como Francisco Assis e António José Seguro se propõem organizar o partido e fazer oposição ao novo Governo PSD/CDS.

Seguro diz que o PS tem de mudar muito no novo ciclo que pretende encetar, no que é um sinal de matizado distanciamento face à anterior direcção de José Sócrates. Diz apostar na mobilização das pessoas e no contributo dos militantes e simpatizantes. Promete que o PS consigo será uma oposição construtiva e positiva, não abdicando, no entanto, de um conjunto de direitos fundamentais com os quais o partido se identifica. A cultura do compromisso que quer afirmar não invalidará a ambição de construir uma alternativa política válida. Quer um partido aberto, com uma nova cultura de participação. Para isso promoverá um código de ética e apostará em reuniões partidárias descentralizadas. A promoção da igualdade levará a que haja serviço de baby-sitting nas principais reuniões partidárias! Seguro quer recuperar o gabinete de estudos – agora Laboratório de Ideias – e a Universidade de Verão. Naturalmente, a preocupação imediata centra-se na preparação das eleições regionais e das autárquicas de 2013.

Francisco Assis assume na plenitude (toda) a história do PS e enaltece a modernização alcançada nos últimos seis anos com o Governo de José Sócrates. Enfatiza, designadamente, a redução dos vários défices estruturais, a melhoria da qualidade de vida dos portugueses em variados aspectos, a importância do plano tecnológico e a requalificação da democracia e o reforço das políticas de igualdade, aproveitando para anunciar a sua oposição a qualquer revisão da despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez. Diz que a crise veio demonstrar a necessidade de mais debate e mobilização e de uma melhor comunicação. Diz que, consigo, o PS será oposição responsável.

Assis aposta na modernização e reorganização do PS numa maior proximidade dos órgãos aos militantes. Para conseguir uma maior abertura do partido à sociedade criará condições para atrair votantes e simpatizantes habituais para os processos de participação e decisão sobre a eleição para cargos externos, designadamente para as autarquias. Assis quer promover uma Convenção da Esquerda Democrática e reactivar o Gabinete de Estudos, mantendo uma grande atenção ao sindicalismo e aos movimentos sociais. Reconhece igualmente a enorme importância das próximas eleições regionais e autárquicas, comprometendo-se com metas claras.

 

(continua)

Burlices

sociodialetica, 15.07.11

- Oh mulher, como os nossos vizinhos têm enriquecido!?

- Não sabes do negócio deles? Todo o pessoal da terra fala nisso! Montaram uma empresa para fazer burlas e outros negócios esquisitos. Não percebo bem o que eles querem dizer mas falam no aproveitamento dos conflitos de interesses.

- Com a vida difícil que temos hoje, acho que vamos montar uma coisa semelhante.

- Oh homem dois negócios tão próximos fazem muita concorrência. Ainda ficamos encravados!

- Nada disso, o nosso negócio é diferente do deles. O nosso burlão é “independente”!

 

Comentadores, políticos, especialistas e outros míopes descobriram, certamente porque quando do início da crise financeira actual tinham ido passear à Lua, que as empresas de rating estão inseridas em grandes malhas de conflitos de interesse e são instrumentos das negociatas de “aliados”. Por isso quando da falência da Lehman Brothers (a maior da história americana) esta empresa ainda estava cotada muito bem pelas empresas de rating.

 

Podia-se defender o fim das empresas de rating, podia-se defender a regulação nacional e internacional das empresas de rating, podia-se defender um movimento massivo para os Estados e as empresas não mais pagarem e colaborarem com as empresas de rating.

 

Nada disso, cria-se outra, “europeia”, para entrar no mesmo jogo. Um jogo que nunca é controlado pelos Estados, nunca pelos povos, sempre pelo grande capital financeiro, sem rosto, sem pátria.