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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Assassino económico

sociodialetica, 11.07.11

A globalização, a fase do capitalismo mundial que se iniciou em meados da década de 80, tem como tudo na vida, vantagens e desvantagens.

 

Mas nesta como noutras situações não nos podemos ficar por essa constatação. Temos que colocar questões: Vantagens paras quem? Desvantagens para quem? Quais os seus impactos para uma sociedade que é de homens e não de autómatos, de coisas vivas (como já “economistas” romanos designavam os escravos) que podem ser mantidas vivas ou mortas, utilizadas ou colocadas no lixo, mas de Homens?

 

Quando um partido político salienta o agravamento das desigualdades sociais à escala mundial e em cada país ou quando um economista heterodoxo demonstra inequivocamente que o livre comércio e os mercados financeiros não conduzem ao desenvolvimento social da humanidade, os ouvidos dos “adversários”, dos papagaios e dos que vivem na sombra do poder fecham-se, e continuam a reproduzir frases feitas: “é inevitável”, “nós não podemos fazer nada”, “essas críticas são um exagero”, “sempre defendemos a liberdade”, blá, blá.

 

Quando as críticas ao sistema capitalista da globalização partem da boca dos que o defenderam, dos que ganharam consciência das atrocidades como testemunhas e mantêm o princípio ético fundamental de respeitar o Homem, o seu impacto é muito maior. Os ouvidos não se fecham tanto, algumas consciências perturbam-se, as inevitabilidades de que sempre ouviram falar parecem evitáveis. É essa a importância de homens como Stiglitz, um defensor da globalização reformada e um dos mais acérrimos lutadores contra a globalização actual.

 

John Perkins pode estar na galeria dos que negam a ortodoxia, provindo dela. Nunca será um teórico, mas um homem de acção, um “criminoso arrependido”. Um arrependimento lento e pensado que demorou vinte anos a escrever o seu livro Confissões de um Assassino Económico (Confessions of na Economica Hit Man, 2004, São Francisco, Berrett-Koehler Publishers, ISBN 1-57675-301-8). Muitos de nós demorámos mais de um lucro a encontrá-lo. É um livro que “não convém” editar, “não convém” divulgar, “não convém” ser pensado e discutido.

 

Porque John Perkins confessa-se, poderão dizer muitos: “sempre houve assassinos, sempre houve pessoas com comportamento desviante, esta confissão só o culpa a ele, não culpa a sociedade”. E teriam razão se John Perkins fosse um homem, tão somente um homem. Mas ele é muito mais do que isso: é uma parte integrante do funcionamento do sistema capitalista globalizado.

 

Mais do que as palavras valem as palavras do próprio:

 

estes dias que passam 231

d'oliveira, 08.07.11

A ver se a gente se entende

 

 

 

O pais arde em furor patriótico contra as agências de rating. Não é a primeira vez que a indignação virtuosa desce à rua e, provavelmente, não será a última. Foi assim com a ocupação de Goa, com Timor e, mais longe, com o ultimatum.

 

Em todos os casos, o fogo de palha da indignação nacional começou cedo e mais cedo terminou. No caso do “Ultimato” a coisa foi mesmo pior. Como se sabe, a primeira solução da questão era bem melhor do que a que finalmente acabou por ser consagrada. Foi a indignação exaltada, e breve, de meia dúzia de iluminados que fez o Governo recuar e que depois, deu no que deu: Pior, muito pior.

 

Com uma consequência, e de peso: o Partido Republicano, até à data uma amável e sensaborona agremiação de cavalheiros sem projecção nem importância política, cavalgou a onda da honra ofendida e ganhou as primeiras bases populares nas ruas lisboeta e portuense e começou (com a cumplicidade de quase todos os partidos – ou facções?, ou seitas? – monárquicos) a sua resistível caminhada para o poder.

 

Com Timor, o povo, tremulando de amor pelas populações da ilha, vestiu-se de preto ou branco, já nem recordo, e trovejou impropérios contra os indonésios inimigos de Deus, dos cristãos, dos mauberes e do toucinho. Chegou-se ao cúmulo de enviar um barco (uma barca, um esquife flutuante) carregado de almas piedosas a Timor. Nas águas territoriais estes candidatos ao martírio e ao heroísmo, pararam perante uma remota ameaça de uma lancha da marinha indonésia e, como desforço vingador e ousado, lançaram ao mar uma coroa de flores. E voltaram para a pátria, triunfantes mas enjoados como pescadas.

De Goa, nos ínvios anos sessenta nem falo. Aquilo, as manifestações populares, foi de um ridículo atroz e só me lembro de um colega e amigo, da minha idade, ajoujado ao peso de uma enorme cruz a desfilar perante os meus olhos embasbacados. Nunca percebi para que era a cruz, muito embora não duvidasse que, manejada a preceito por mão forte e patrioticamente justiceira, produziria uma mortandade nas tropas indianas. Estávamos era longe delas. Foi o que as salvou. Esse amigo, veio a ser pessoa importante, presidente de uma dessas extraordinárias comissões de coordenação regionais e, mais tarde, Ministro!

 

Eu, que me ria á socapa, velhacamente, nunca cheguei sequer a presidente de junta de freguesia!......

 

E voltemos à moody’s ou melhor às quatro ou cinco agencias de ratting que fazem e desfazem fortunas.

 

Parece que a ideia central dessas curiosas coisas é a seguinte: para que um devedor, soberano ou assimilado, possa abichar um empréstimo, há que garantir ao futuro credor a sua honorabilidade e solvabilidade.

 

Tal tarefa recairá sobre alguém que tenha um par de qualidades fundamentais: independência, critério judicioso, experiência de mercados e capacidade de avaliar riscos. E aí aparecem as ratazaning, digo, ratting. 

 

Essas agências têm obviamente de ser independentes de todo e qualquer poder, fáctico, financeiro, politico de modo a poderem garantir às partes que o que dizem não é influenciado por nada exterior à solvabilidade de uns e à possibilidade emprestadora de outros. O controle delas assenta na sua boa reputação e na qualidade dos seus serviços.

 

Então como é que subsistem estas empresas que, por força, hão-de ser grandes e necessitar de uma batalhão, digo um regimento, digo um exército, de profissinais altamente qualificados?

 

Pois por vender antecipadamente os seus serviços a quem quer que ande neste mercadejar internacional. Os Estados, as regiões autónomas, as cidades importantes, os bancos e mais um par de instituições deste teor pagam uma avença aos ratões das rattings e estas garantem um bom e leal serviço.

 

Em teoria isto não falha. Na prática pode haver ratés: é que as agências podem ter accionistas que tenham interesse nos negócios de clientes directos ou indirectos e, por isso, serem susceptíveis de criar pressões contra A ou B ou até contra ambos.

 

É aí que estamos? Eu, que sou um pobre homem de Buarcos, não digo que sim nem que não. Nem sequer digo nim. Interrogo-me, apenas, diante de tanta indignação indígena (a que pouco ou nada ligo) e internacional, desde o BCE ao senhor ministro das Finanças da Alemanha, passando por mais dois ou três criaturas de relevo.

 

À primeira vista, agnóstico que sou, custa-me pensar que anda nisto mão de reaça ou de talassa ou de qualquer outra raça. Também não acredito em pirraça. E é isso que me embaraça.

 

É que se as agências tivessem uma escondida agenda para rebentar com Portugal (logo Portugal, uma potência insignificante neste capítulo da guerra dollar – euro, dollar – yuan, Yuan –yene,todos contra um e um contra todos, ou o raio que os partiu) a coisa sabia-se.

 

Claro que pode sempre dizer-se que isto da Moody’s vem de longe, coisa que aliás entra pelos olhos dentro. Não é pelos lindos ou feios olhos do senhor Coelho (rabbit para os da moody’s) que o escândalo se precipita. A ser verdade que a malta é fraquinha nos pagamentos e com uma situação insustentável, isso virá de longe, muito longe, como a fama do licor Beirão. Já o senhor Sócrates ( o lusitano, e não o admirável filósofo condenado à cicuta) andou de chapéu na mão a saltitar de PEC em PEC até ao estatelanço final e isso, por dúbio e tolo, poderia ter alertado os da moody’s para quem os Sócrates arrivistas não passam de saltitões sem importância. 

 

Vir agora dizer que tudo isto é novo e inesperado parece ser um pobre e deslavado exercício de retórica que os factos condenam e que os políticos, todos os políticos sem excepção, negam.

 

Ao que parece a Madeira, Cascais e Sintra, o Joãozinho das perdizes e o círculo dos amadores de lerpa de Balhozes de Baixo já arrenegaram da moody’s e lhe cortaram a colecta.

 

Por quanto tempo? É que em precisando de uns cacaus a algum lado hão-de ir. E, sem moody’s ou similar, o gajo que tem a massa fecha-se em copas e manda-os dar uma volta ao bilhar grande.

 

Em vez dessas cenas grandiloquentes e caricatas mais valia fazer três coisas: meditar no sucedido, avaliar as culpas – se culpas houver – próprias e propor soluções alternativas e eficazes.

 

Até lá isto não passa de mais um sobressalto de virgem que já passou o prazo de aceitação.

 

*a ilustração: O usurário do grande António Dacosta, 1940

 

 

 

 

 

 

Cavaco, o maestro

O meu olhar, 08.07.11

 

Disseram-me há dias que Cavaco é quem dirige a orquestra. De facto, o que Cavaco Silva diz é imediatamente seguido pela grande maioria do batalhão de comentadores que povoam as nossas televisões e jornais. Tivemos recentemente um exemplo que ilustra esta tese na perfeição.

 

Em Novembro de 2010, face às críticas do Governo de Sócrates e de analistas à Moody's, com os juros da dívida portuguesa a rondarem os 7%, Cavaco considerou que  a "retórica de ataque aos mercados internacionais" é um "erro" que prejudica a economia portuguesa. Referindo ainda que é uma “retórica desnecessária” e “que é absolutamente negativa para o emprego no nosso país”.

 

Agora, em  6 de Julho de 2011, com os juros a três anos nos 19,334% e com a Moody's a cortar em quatro níveis o 'rating' de Portugal, colocando a dívida do País na categoria de lixo, Cavaco “considera não haver a mínima justificação para que o rating de longo prazo de Portugal tenha sofrido tal corte”. Cavaco Silva defende ainda que "as questões em torno da avaliação do risco e da notação financeira dos Estados-Membros da União Europeia devem merecer uma resposta europeia".

Esta última posição é, do meu ponto de vista, a que mais defende os interesses de Portugal. As questões óbvias que se colocam são:

Porque é que Cavaco Silva não tomou a defesa desta posição antes, quando o Governo era do PS?

Porque é que a grande maioria dos comentadores, ex-ministros e responsáveis de cargos institucionais, responsabilizam agora as agências de rating quando lá atrás seguiram a opinião do Presidente da República de crítica a quem discordava da actuação destas agências?

 

 

 

Au Bonheur des Dames 282

d'oliveira, 07.07.11

Carta 2ª a um cavalheiro alegadamente  meu amigo

 

 

 

Esta carta não vai para Garcia.

 

Vai para Pereira. Pereira, só, ou MS Pereira, vá lá. Mas nunca Garcia Pereira, esse sorumbático guerrilheiro urbano que advoga furiosamente e milita devotamente no Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses, vulgo MRPP, isto é movimento reconstrutivo do partido do proletariado. Proletariado que, em seu  tempo, se revia em Arnaldo de Matos, seu primeiro grande guia e educador do povo. Mais proletário do que Arnaldo, só Matos. Ou Durão Barroso, claro! Absolutamente proletário. Por fora e por dentro. É por isso que a Europa está onde está. Com Barroso ao volante, não há outro caminho senão este. O da proletarização total!  Os chineses que se cuidem! E os norte-coreanos!

 

Havia muitos proletários no MRPP, uns mais proletários que outros, ou seja, havia uma linha negra e outra branca, digo vermelha, agora não sei quantas linhas há, se é que eles se cosem com alguma linha, ou preferem estar proletariamente desalinhados, uma espécie de PC alinhavado, entre as naftalinas estalinistas e a saudade maoísta, a que sobra da UDP, evidentemente, pois agora alguma dessa está bloqueada no Bloco, sob a égide de Fazenda, outro proletário puro e duro, mais proletário que ele não deve haver, pelo menos não consta.

 

Mas deixemos esta alegre e simpática companhia de vanguardistas populares e retornemos a Pereira, o vilão. Este, de certeza, não é proletário, pelo menos não consta. Terá defeitos, claro, e muitos, mas proletário não!  Pereira é de Esquerda e bonda!

 

E é, ou era, um amigo estimável. Aturamo-nos mutuamente as bizarrias desde 75 ou 76! Ainda o filho calçava (só) 46, biqueira larga, umas Doc Martens horrendas que faziam o pai praguejar. Isso e frequentar a praia de Moledo, vestido com uma gabardina infame, em pleno Verão. Ai os filhos...

 

Re-voltemos a Pereira, o artista. Artista em vários campos, alguns duvidosos, cala-te boca!, mais que duvidosos, libidinosos, cala-te boca desgraçada! Artista e homem para tudo, capaz de serrar uma tábua melhor que um carpinteiro, de pensar uma caneta melhor do que um designer, perdido no universo poeirento da escultura e artes afins e eterno hóspede da minha anterior casa, onde assistia impávido a diárias (aliás nocturnas) sessões de bridge com um ar entre entendido e enfastiado. Uma vez, o Pedro Sá Carneiro, o pior jogador de bridge que nunca passou da página dois de qualquer manual do dito jogo, ao vê-lo tão aplicado, veio perguntar-me: o gajo sabe jogar?

 

Não resisti e disse-lhe que sim, que Pereira, o malfazejo, era um jogador de primeira água, um Terence Reese, traduzido em português, português do Porto bem entendido, por via dos palavrões.

 

E por que é que não joga connosco?, insistia o Pedro, amigo perfeito, filósofo e tudo o mais, mas um desastre no bridge.

 

Por causa das namoradas!, lembrei-me, em desespero de causa, que não contava com aquele interrogatório.

 

Fez alguma promessa?, reinquiria o Pedro, pedrão dum raio, mais chato que a potassa (e no bridge, uma catástrofe).

 

Foi o Luis M. quem me salvou dessa aflição explicando, sem se rir, ao Pedro que o Pereira, andando de namorada nova, perdera umas horas nuns “rubbers” (vocês não sabem o que é mas cada rubber significa um par de partidas de bridge), irritara-se, ficara com azia por via do leite, já lá iremos, e quando chegara a casa falhara miseravelmente no cumprimento de certas obrigações amorosas, de que lhe vinha larga fama e sobejado proveito.

 

O Pedro engoliu tudo e prometeu nunca falar disso. Mas o Pereira, a seus olhos, nunca mais foi o mesmo. Ainda por cima, o diabo do homem só bebia leite por via duma úlcera que ele acarinhava desde sempre. Nós no cervejame e o Pereira no biberão. Aquilo era uma renda: ia-me ao frigorífico e mamava duas embalagens de leite por noite!

 

Antes de morrer, raios parta a vida!, o Pedro ainda me confidenciou: aquilo (a nega!) deve ter sido de beber demasiado leite. O leite ataca o fígado e um gajo com o fígado em bolandas fica com ratés no berimbau. Como se vê, o Pedro era existencialista!....

 

Recontravoltemos a Pereira, o ingrato. Há cerca dum ano, pedi-lhe pelas almas, em nome da velha amizade, pela nossa comum devoção a Santa Marilyn Monroe, e por mais um par de coisas que não revelarei, que me digitalizasse um louquíssima história de Portugal em verso, perpetrada por outro Pereira, o capitão Joaquim António Pereira, inspirado autor de versos tão extraordinários como estes que se seguem:

 

Foram criadas escolas,

 

Duas, Médico-cirurgicas

 

Pra ensinar os rapazolas.

 

Tais criações eram úrgicas!

 

Ou

 

Veio depois Garcia de Orta

 

Incomparável botânico

 

Até salva gente morta

 

Fugida do horrível pânico.   

 

 

 

(os leitores argutos terão adivinhado que a criatura homenageada na 1ª quadra era D. Pedro V)

 

 

 

Este Pereira, o capitão poeta, perpetrou mais uma dezena de livros, em diversos géneros (Dinheiro ou morte; Escrava do desejo; Zé Ninguém em África) desconhecendo eu se a sua pertinácia literária se traduziu em fortuna ou glória no seu tempo. Todavia, o seu nome era conhecido e reconhecido pela buliçosa juventude académica dos anos 40, mormente a de esquerda, pois bastas vezes vi o Rui Feijó, o José Pala e Carmo ou o António Alçada Baptista encontrarem-se e dispararem, mesmo antes do “como estás, pá?”, uma quadra do lírico militar. Isto nos anos oitenta! Quarenta anos depois da publicação do livrinho!

 

Não preciso de dizer mais para se perceber o meu interesse no livro que Pereira, o artista faltoso, se ofereceu prontamente para digitalizar, e fazer mais umas tropelias que, depois, nos permitiriam fazer três ou quatro exemplares que eu, a minhas expensas, mandaria encadernar para oferecer, sendo certo que um deles iria directo para Pereira, o atraso de vida e de promessa!

 

Passaram dias, passaram semanas, meses passaram e, de Pereira, o esfumado, nem novas nem mandados. Se, acaso, passa cá por casa, jura e trejura que vai adiantado na tarefa meritória de resgatar o olvidado e brioso guerreiro e literato. Ofereço-lhe, enternecido, um café, a CG brinda-o com chocolates e biscoitinhos, as gatas trepam-lhe para o colo em ronrons alucinados e felizes, e Pereira, sorve o primeiro e, voraz, dá conta dos segundos e, ala que se faz tarde, desaparece no negrume da noite, como um fogo fátuo ou o fantasma de Canterville. E segue-se o longo, espesso, penoso, silêncio. Pereira  passa à clandestinidade, perde-se no nevoeiro e do livro, nicles!

 

Valerá a pena este esforço, este apelo lançado ao éter, este pôr na praça esta modesta desavença entre dois amigos, dois compadres, dois cúmplices, dois alegado jogadores de bridge, um dos quais real e outro, muito mais interessante, puramente inventado?

 

Alguém viu por aí este Pereira?

 

*a ilustração, não podia deixar de ser, é do admirável Cézanne, pai da pintura moderna, olho alucinado e tremendo, mão certeira e inventor de cores que só vemos (e se o merecermos...) depois de muito peregrinar naquela imensa obra. Ó Pereira, nem assim?

 

 

Passos Coelho foi ao Casino

José Carlos Pereira, 07.07.11

Pedro Passos Coelho levou ontem a família ao Casino. Calma! Foram ao Casino de Lisboa, mas por motivos "culturais". Em cena estava a peça (ali entre a revista e o stand up comedy) "Vip Manicure - A Crise", com Ana Bola e Maria Rueff. Um espectáculo que revisita o humor que chegou a cansar os espectadores da SIC.

Depois de levar "um murro no estômago" nada melhor do que uma diversãozinha, não é?

Imaginam o que se diria se fosse o "outro" a ir dar umas valentes risadas no dia em que a agência de notação Moody's cortou o rating do nosso país para o nível de "lixo"?

Felizmente Sócrates foi embora

O meu olhar, 07.07.11

Ferreira Fernandes hoje, no DN:

 

Passos Coelho reagiu: "Um murro no estômago." Também Cavaco Silva sentiu que não havia "a mínima justificação" para a classificação dada a Portugal. Aleluia, assinale-se que se alargou o leque dos que ficam sem fôlego com as intenções ínvias de uma agência de rating. "Lixo!", é o que a Moody's diz que somos. Anote-se, não porque a Moody's seja séria, mas porque é muito influente. Vamos ter de viver com ela, e as da matilha. A boa notícia é que José Sócrates já se foi embora. Ajuda muito. Até agora ele era aquela árvore que tapava a floresta das Moody's. A culpa era dele, só dele, dizia-se, e boa parte de Portugal andava encandeado com essa culpa. Agora já quase todos conseguimos ver a rataria das agências - é um passo em frente. O perigo seria que o PS, ressabiado pela animosidade anterior dos adversários, quisesse pagar com a mesma moeda. Felizmente, isso, que seria uma estupidez, não parece ser intenção do PS. Podemos ter, agora, uma opinião nacional, que deve ser transformada em vontade comum. Ter uma causa comum contra as agências de rating (como tem sido, em Espanha, desde o Rei, passando pelos dois maiores partidos, até aos jornais de direita e de esquerda) é bom. Não que sirva de grande coisa, de tal modo a teia nos é exterior. Mas é sempre bom quando o óbvio se torna universal e poupamos em falsos combates. Desde esta semana, Portugal está mais adulto

 

 

(Nota: o sublinhado é meu)

 

 

Pesadelo neoliberal

sociodialetica, 07.07.11

Escrevi há dias, para uma publicação portuguesa…

“A crise de sobreprodução que ainda vivemos, e viveremos por vários anos, teria sido uma oportunidade excelente para mostrar que a realidade tem leis objectivas, que as crises continuam a existir, que permanece na sociedade mundial, regional e nacional interesses contraditórios, que o bem-estar do grande capital não é o bem-estar da sociedade, antes pelo contrário para milhões de cidadãos à escala mundial.

Uma oportunidade excelente para combater-se o empolamento do financeiro em relação ao económico, do improdutivo em relação ao produtivo. Combater-se a especulação financeira mundial aceleradora da crise ao transferir dinheiro das nações para essa especulação. Combater-se a brutal fuga aos compromissos fiscais e às obrigações sociais, fuga que condena os Estados a financiarem-se junto de quem os roubou. Abdicou-se de uma política anti-cíclica.

Neste panorama internacional a política mais subserviente perante o grande capital, mais neoliberal e anti-social tem sido realizada pela União Europeia, nomeadamente pelo Banco Central Europeu. ”

 

Contudo, o comportamento dos últimos dias do Banco Central Europeu é mais do que a de campeão do neoliberalismo. É de subserviência (via empresas de rating, e não só) perante o principal rival nas políticas mundiais do sistema monetário, à hegemonia dos mercados financeiros: os EUA (sistema bancário, fundos de pensões, bolsa de títulos e valores, etc.). Subserviência perante os especuladores contra a moeda europeia, que aproveitam, como bons estrategas que são, os elos mais fracos, as divergências internas e a incompetência política dos decisores.

 

Quais as razões? O aprendiz de feiticeiro (o Mestre Financeiro da globalização actual ainda é os EUA) quer ser mais que o próprio feiticeiro? Os bancos europeus, incluindo os alemães, estão a ser excessivamente asfixiados pelos produtos financeiros do suprime, ainda “lixo tóxico”? É mera desorientação política (que a há, há!) perante o desmoronar dos sonhos dos políticos que não olharam para a dinâmica da sociedade? É o Snr. Jean-Claude Trichet que se anda a candidatar-se  a algum “tacho” mais elevado?

 

É uma forma de mostrar quem manda na UE? É mera estupidez?

 

Os deuses que respondam. Os homens que lutem.

estes dias que passam 237

d'oliveira, 06.07.11

Onze!

 

Onze! Como se fora uma equipa de futebol. Uma equipa pobre, sem suplentes. Como uma equipa de meninos, na praia, com um par de sapatos ao alto a fazer de baliza, e um risco sinuoso ao meio para limitar os meios-campos.

 

Onze!

 

As leitoras gentis e os conspícuos cavalheiros que fazem o favor de me ler, recordarão, sem dificuldade, o que aqui fui escrevendo sobre os projectos faraónicos da anterior Administração. E, já agora, desse monstro de mil cabeças irresponsáveis, que se chama Comissão de Coordenação da Região Norte, a que se devem juntar os eixos Atlânticos e tutti quanti que, vivendo num mundo irreal, falam de uma Atlântida mítica a que chamam Noroeste Peninsular. Com uma cereja no bolo: a ideia peregrina de que seria o Porto, cidade com perda crescente de habitantes e de importância, que seria a capital, o centro, o umbigo dessa nova época de oiro.

 

Vai daí, no desparrame imaginativo de dar destino ao dinheiro que não há, entenderam os apóstolos de super região que era necessário um TGV Porto-Vigo!

 

Um TGV, ouviram bem! Um super foguete a ligar as duas cidades e a derramar pelo caminho oiro incenso e mirra!

 

Contra este cenário patriótico, justo, progressista, genial, fenomenal e regional, vem, contudo, esmagar-se uma comezinha realidade. Mais que comezinha: ridícula!

 

O actual comboio que faz a ligação Porto Vigo, e vice versa, supõe-se, transporta no seu bojo lento e antigo, onze passageiros por dia. Este comboio era, aliás, o único, o único, reparem bem!, entre Tui e Porrinho, uma cidade que fica a vinte quilómetros de Vigo e que, desde há vinte, trinta anos, é uma espécie de arrabalde industrial desta. Ou seja, era a CP e não a RENFE quem garantia aos habitantes de Tui transporte ferroviário até Vigo!

 

Relata o jornal de ontem que no percurso Tui Vigo nem um revisor aparecia, sinal evidente que, para os espanhóis, o lucro era tão irrisório que nem sequer havia um funcionário disponível para cobrar os bilhetes.

 

A CP, desta feita, lá entendeu que o que é demais, é demais, e decidiu prescindir do prejuízo. Só me espanta que tão tarde tenha acordado.

 

Entretanto, vai por aí um sururu: os não passageiros e os seus legítimos representantes acham que isto é um despautério. Que é o Estado liberal a mostrar as suas hediondas fauces (escrevi fauces e não faces, que no caso seria ate só face...) Que é Terreiro do Paço a esmagar a Praça da Liberdade, o bom povo do Norte, o Norte trabalhador e proletário, o Norte virtuoso e sofredor, o Minho verde, o Douro azul, o vira e o malhão! E a dobrada, o frango de cabidela, os rojões e o pudim do abade de Priscos!

 

É o Benfica (e o Sporting, já agora) a tentar vingar-se do senhor Pinto da Costa e do “glorioso”!

 

É a pedra no caminho. É o fim do Mundo! Não há direito!    

 

*imagem roubada a um simpático blog brasileiro