Diário Político 167
Este é o mundo em que vivemos
O dr Nobre arreou! Desistiu! Está farto da ingratidão dos portugueses. Está farto de (não) estar no Parlamento num obscuro lugar da bancada pletórica do PPD!
Vai continuar a ser útil ao povo, à nação valente e imortal e à Humanidade (sic) naquela cópia fraquinha dos Médicos sem Fronteiras e dos seus émulos Médicos do Mundo.
Vai continuar, rodeado de familiares ao comando da sua (e nunca o possessivo foi tão bem empregado!...) AMI onde, nos quadros dirigentes, mais depressa se vê um camelo a entrar numa agulha do que alguém que não lhe esteja ligado por laços familiares.
Eu ainda não percebi se a criatura é mesmo um caso de desvairada e incontinente vaidade ou apenas um mero problema de inteligência (ou falta dela).
Bem sei que uns caridosos cavalheiros vagamente “socialistas” lhe murmuraram ao ouvido uma canção de embalar tão frouxa que nem um menino da primária nela cairia. Bem sei que essas ocultas ccriaturas apenas queriam fazer o Manuel alegre morder o pó. Depois largavam o triste Nobre (que fora apoiante de Cavaco anos, poucos, antes) na primeira esquina. O que aconteceu.
Que Passos, o iluminado, tenha pensado que aqueles votos lhe faziam jeito, não duvido. Passos, a meu ver, não prima pelo discernimento. Que o desatento Nobre não tenha perdido um simples minuto a pensar que estaria a ser novamente utilizado, também já não me surpreende. O homenzinho estava perdido de amores pela ideia que fazia de si próprio sem perceber que o espelho deformante onde se mirava era uma armadilha. Que levasse a sua inocência ao ponto de afirmar que se não fosse eleito Presidente do Parlamento se ia embora só prova que a politica torna louco o mais são.
Que depois da derrota, tenha vindo dizer que iria ser deputado “enquanto se sentisse útil” foi outra tolice. Antes tivesse mantido a anterior palavra. Sairia mal mas não como sendeiro. O que agora aconteceu.
2 Dominique Strauss Khan meteu-se (ou foi metido) com uma senhora que “ocasionalmente se prostituía”, que num telefonema para o clandestino marido, preso numa cadeia do Arizona por tráfico de droga, dizia que “ o tipo está cheio de dinheiro, não te preocupes que eu sei o que estou a fazer”, mãe de um filho que afinal era de outrem, violada e desviolada por militares inexistentes num brumoso pais africano (etc, etc, cfr “le Monde” últimas edições) está agora a braços com uma queixa de uma evanescente criatura que afirma ter sido alvo de uma tentativa de acosso sexual por parte dele, que, no fundo, se resumiu a um soutien meio arrancado.
Passemos aos factos.
Em 2003, uma jovem jornalista pede repetidamente a DSK uma entrevista. Este finalmente concede-lha numa sala ou quarto da Assembleia Nacional francesa. Será nesse local, obviamente sem testemunhas que DSK se teria lançado qual leão da Metro sobre a jeune fille en fleur. Sem êxito.
E sem consequências! Durante quatro anos nem uma palavra transpirou sobre o nefando caso. Todavia, em 2007 a criatura disse numa entrevidta televisiva que fora alvo de um gesto libidinoso de DSK. Que a credibilidade dela seria parca, atesta-o o fato de a cadeia televisiva ter cortado o nome do autor do ataque e dos media alertados para o facto terem achado que aquilo não passava de uma tentativa de promoção pessoal de uma aspirante a escritora de um medíocre livrinho.
Que só há dois meses, a mesma criatura, moída por atroz sentimento de dor e humilhação, tenha aproveitado a boleia do caso nova-iorquino para, num remake tardio vir de novo à estacada, também eu, também eu, fede a inventona.
Que só depois do desenlace deste fim de semana, venha agora já de advogado constituído fazer a competente queixa, cheia a esturro (para não dizer fossa).
DSK pode ser flor que não se cheire. Mas era um temido e elogiado directo do FMI. Era, todos o afirmam, e ainda há momentos a TV5 numa mesa redonda o repetia a várias vozes, o mais bem colocado político de esquerda para derrotar Sarkozy.
A ideia de uma conspiração parece-me monstruosa e absurda. Mas, como dizem os espanhóis, no creo em brujas pero que las hay, las hay.
Não vivemos na idade média mas nos anos dois mil. Que uma mulher jovem, diplomada e independente, se deixe manusear por um politico não me surpreende. Que seja manuseada contra vontade sem dar um grito, sem tentar fugir, sem se queixar logo de seguida, já me custa, e muito, a crer, que deixe o caso durante quatro longos anos no limbo é pasmoso. Que o refira, en passant, num programa de televisão, e depois não aja, começa a pôr-me nervoso. Que, enfim, em cinco ou seis semanas o volte inopinadamente a referir em circunstâncias tão anómalas quando aliás se previa que umas dezenas ou centenas de milhares de dólares calariam a criada do hotel (possuidora, ela mesma de cem mil dólares! As criadas pretas na América estão pela hora da morte!) é algo que me relembra a pior literatura policial que em anos de vício impune e misógino fui lendo.
O mundo em que vivemos é de facto feioso! Arre!
D’Oliveira aos cinco dias do mês de Julho, festa de Santo António Maria Zacarias, SS Marino e Teodoto e de santo Agatão, conforme o calendário zaragozano.
Para os devotos patafísicos festeja-se hoje, 5 de Gidouille, S. Speculum confessor (os leitores que se juntam no “ninho da Águia” ainda não deram provas suficientes para poderem entrar nesta ordem, encore un effort!...)
*a gravura: fabulosa fotografia de Gonçalo Lemos!