Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Um orçamento em alto-relevo

O meu olhar, 20.02.12

 

O Gabinete de Miguel Relvas realizou um ajuste directo com uma gráfica para a edição de 100 exemplares do orçamento de Estado. Até aqui nada de especial se não fosse o pormenor de o valor desta aquisição ter sido de 12 mil euros. Ou seja, cada exemplar custou 120 euros!

Não sei se este ajuste directo teve alguma coisa a ver com o facto de Passos Coelho dizer que tem que se injectar dinheiro na economia real. Ou isso, ou esta edição é de um luxo muito especial.

De qualquer modo, está visto que essa coisa estranha que dá pelo nome de fotocópias é só para uso dos contribuintes.

De garantia em garantia

O meu olhar, 19.02.12

Notícia no Jornal de Negócios:


Em Dezembro de 2011 o BES anunciou que foi ao mercado emitir mil milhões de euros garantidos pelo Estado.

Em Janeiro de 2012 o BES emitiu mil milhões em dívida, também com a garantia do Estado.

Este mês o BES realizou uma emissão de dívida garantida pelo Estado no valor de 1,5 mil milhões de euros.

Entretanto as empresas continuam à espera de financiamento e o discurso político, via Passos Coelho, é de que a banca deve financiar a indústria e a agricultura.
Enquanto uns têm discursos do Estado, inconsequentes, outros têm garantias do Estado.

 

A defesa do Porto de Leixões

José Carlos Pereira, 18.02.12

Nos últimos dia tem-se assistido a uma invulgar unanimidade de personalidades e entidades do Porto e da Região Norte em defesa da autonomia do Porto de Leixões, num momento em que se aventa a possibilidade de o Governo criar uma holding que centralize a gestão das várias administrações portuárias. Essa hipótese deitaria por terra a excelente gestão de que tem beneficiado a Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), que tem tido a capacidade de entender as necessidades da economia da região e, em consequência disso, ajustar a gestão portuária às necessidades das empresas. Recorde-se que em 2011 o Porto de Leixões registou o maior crescimento (12%) entre os portos nacionais, atingindo 16,3 milhões de toneladas movimentadas.

Rui Rio, Valente de Oliveira, Rui Moreira, Gulherme  Pinto e Ricardo Fonseca são algumas das personalidades que vieram a público defender a autonomia de gestão para a APDL, a que se juntou, por exemplo, a manifestação unânime da Assembleia Municipal do Porto.

De foram deste apelo ficaram os excêntricos líderes concelhios do PSD do Porto e de Matosinhos, Ricardo Almeida e Pedro da Vinha Costa, que vieram a público acusar a administração da APDL de incompetência e de conluio com a autarquia matosinhense. Estes dirigentes partidários locais prestaram um mau serviço ao seu partido e deixaram a nu a forma como a visão maniqueísta dos aparelhos partidários se afasta da realidade. Às vezes a tentativa de esbracejar para fazer prova de vida conduz a tomadas de posição ridículas...

À espera do futuro

José Carlos Pereira, 16.02.12

Na edição de Fevereiro da revista "Repórter do Marão", publico um artigo de opinião sobre a crise em que estamos mergulhados e a forma como o Governo e a União Europeia estão a lidar com ela:

 

"Portugal iniciou 2012 debaixo de uma forte depressão. O Orçamento do Estado já tinha balizado os enormes sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses, mas a realidade é sempre pior do que aquilo que se anuncia.

As fortes medidas de austeridade, a subida de impostos, o endividamento do Estado, a escassez de crédito, a crise do euro, a subida galopante dos juros da dívida pública, os mercados virados do avesso, tudo junto faz a receita ideal para uma contracção económica como há décadas não se vivia.

Em consequência desta negra realidade tem-se assistido a uma quebra significativa da produção industrial e do consumo, com a consequente destruição de emprego e do rendimento disponível. Os bancos, que já se tinham sacrificado no altar da dívida pública, foram obrigados a repor os níveis de capitais próprios e deixaram de ter dinheiro para emprestar às empresas. O número de falências e insolvências disparou em Portugal e a tendência deve agravar-se nos próximos meses. De tal modo que o Governo sentiu a necessidade de criar o programa “Revitalizar” para acudir às empresas em dificuldades e que manifestem junto do tribunal o propósito de recuperação.

Os portugueses interrogam-se para onde vai o seu país e questionam, justamente, se tanta austeridade vale a pena, já que a confiança em quem nos governa tem diminuído a cada dia que passa. O executivo de Passos Coelho tornou-se em alguns aspectos mais “troikista” que a troika. Neste momento vemos que são os representantes do FMI que defendem um travão na austeridade, pois já perceberam que as medidas implementadas não favorecem o crescimento económico. E sem esse crescimento não haverá criação de emprego e o país terá mais dificuldades para satisfazer os compromissos com os credores internacionais.

Como se a nossa realidade não fosse já suficientemente complexa, a Europa está também ela mergulhada numa crise profunda, que se estende às suas lideranças e contamina o próprio projecto europeu. A dupla “Merkozy” tem preferido combinar entre si o caminho a seguir, mas o que é certo é que as soluções encontradas não foram suficientes para colocar as economias mais frágeis do euro a salvo da cobiça dos mercados. A resposta titubeante e por vezes tardia aos problemas da Grécia, da Irlanda e de Portugal não impediu que Espanha e Itália ficassem na mira dos especuladores, o que assustou sobremaneira os líderes da zona euro.

É fundamental, pois, que a Europa crie mecanismos que possam auxiliar directamente os países necessitados. O Banco Central Europeu deve assumir-se como um aliado desses países, deitando mão dos instrumentos adequados, sejam os títulos de dívida pública – as famosas eurobonds – ou outros. É inaceitável ver os mercados escolherem como alvo as economias mais debilitadas, apostando no respectivo incumprimento, com o consequente aumento dos juros da dívida, enquanto se sucedem cimeiras europeias em que os dirigentes dos vários países se ocupam em discussões estéreis e parecem não perceber o que os rodeia.

Na ausência de uma estratégia concertada a nível europeu, discute-se no momento em que escrevo um novo plano de ajuda à Grécia e especula-se se Portugal precisará ou não de reforçar o pedido de assistência externa. A Europa continua a preferir pescar à linha, como se vê.

No que nos diz respeito, Portugal terá de cumprir os compromissos enunciados no memorando com a troika – e só esses – e manifestar convictamente tal propósito perante os seus parceiros. Com o decurso do ano se verá como evolui a economia nacional e a execução orçamental e só então se conseguirá perspectivar se é viável Portugal voltar aos mercados para se financiar já em 2013.

Sabe-se, porém, que a larga maioria dos economistas não acredita nessa possibilidade e aposta que será necessário introduzir alterações ao programa de assistência financeira, prolongando-o no tempo e reforçando o valor do empréstimo concedido. Penso o mesmo e nisso estou acompanhado pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, como se viu há dias na reunião do Eurogrupo.

Curioso será ver Passos Coelho teimar e persistir até ao fim que não precisará de mais ajuda externa. Até não poder mais. Tal como Sócrates foi acusado de negar até ao fim a necessidade de recorrer à assistência da troika…".

Estes dias que passam 230

d'oliveira, 16.02.12

Fernando Canedo

 

Era a alma da excelente “Mealibra” tal como já fora do Centro Cultural do Alto Minho. Era, já não é. Um cancro súbito e mortal deu conta dele em dois meses. Costuma dizer-se, a seguir: “quando tanto havia ainda a esperar”. No caso, havia. O FC era um activista. No bom sentido, diga-se já. Não impingia nada a ninguém mas quando acreditava num projecto era infatigável. Não desanimava, não se perdia em choradinhos, metia pés ao caminho e ala que se faz tarde.

Gostava de fazer coisas e de as fazer ali, em Viana, – há que convir – clima que nunca foi especialmente propício à cultura. Mas o Canedo não se dava por vencido com facilidade. Era teimoso, era militante, gostava demasiado dos “seus autores”, defendia-os caninamente, era capaz de andar pela rua com meia dúzia de volumes no bolso para os vender ao primeiro que encontrava. “Toma lá que vais gostar!”

Nos últimos anos, andava devotado à Mealibra” e tornara-a uma montra do que se ia escrevendo em Portugal, dando assim espaço e visibilidade a escritores sem cuidar de “capelas”, amizades, idades e reconhecimento público.

Só isso bastaria para se sentir já a sua falta esperando bem que o mesmo não suceda à publicação.

O Fernando Canedo foi meu editor. Paciente e amigável, aturou-me bizarrias e venceu a minha relutância a publicar fosse o que fosse. Martelou-me, com a ajuda do Manuel Simas Santos, a cabeça, reviu textos, propôs uma selecção final, arranjou um precioso patrocínio e, finalmente, vendeu-me os textos quase de mão em mão. Durante algum tempo, exigia-me colaboração para a Meã Libra, ameaçava vir cá a casa confiscar textos e, ainda há pouco tempo, dois três meses, interpelou-me zangado solicitando um par de prosas para a “Mealibra”. “E que as crónicas sejam bem humoradas, ouviste?”

Vou tentar fazer-lhe a vontade se é que ainda vou a tempo.  

A política do Take Away Social

JSC, 15.02.12

O Governo anunciou uma linha de 50 milhões de euros para criar uma rede de “cantinas sociais”. Perante tanta fartura de dinheiro vivo apareceram logo 950 instituições a oferecerem-se para promoverem as anunciadas “cantinas sociais”. O Ministro da segurança social até tenciona avançar com um serviço de refeições em regime de take away. Até na alimentação da pobreza se evolui para o take away. Claro que estas políticas podem-nos remeter para tempos longínquos. A diferença é que nessa altura o governo não tinha como missão empobrecer o país.

 

O investimento do governo nas “cantinas sociais”, para além de matar a fome a muita gente e dar emprego a alguns, para poderem matar a fome aos outros, tem dois impactos certeiros. O primeiro, favorece a imagem do governo, porque reforça o papel das IPSS e estas têm um efeito multiplicador na propagação da mensagem; o segundo, contribui para elevar os níveis de segurança, porque um pobre esfomeado é mais perigoso do que um pobre com a barriga cheia (mesmo que seja apenas uma vez por dia).

Diário Político 175

mcr, 09.02.12

Variações  sobre os dias

 

Se os jornais estão certos - coisa que não é assim tão segura – um cavalheiro alemão, social-democrata ainda por cima entendeu prevenir Portugal do seu iminente declínio (como se já lá não estivéssemos) por o Primeiro Ministro ter ido tentar abanar a árvore das patacas a Angola.

 

Segundo Herr Schultz, que também preside ao Parlamento  Europeu, “os Estados membros que partilham um modelo económico e democrático só terão hipóteses no quadro da UE”.

 

Se Schultz pretende dizer que a democracia angolana é um sofisma e algo de profundamente repugnante, nada a opor. Também eu acho que aquilo, a elite angolana e os seus extravagantes processos, é de fugir a sete pés. Todavia, ao que vou vendo, isso, os hábitos angolanos, não tem privado ninguém, alemães incluídos, de fazer negócios (e negociatas...) com Angola. Ou com a China. Ou com, mesmo se as coisas são apesar de tudo diferentes, com a Rússia e com aqueles curiosos paraísos ex-soviéticos donde manam o petróleo, o gás natural e os ditadores.

 

Também eu preferia ver os negócios portugueses serem feitos e aumentados com os países da Europa. Porém, e é aí que reside o busílis, parece que a Alemanha não está disposta a investir cá. Ou, se investe, paga menos do que os outros. Muito menos.  Direi que os patrícios de Schulz, tão cuidadosos com as companhias das empresas portuguesas, se esquecem de quem é Putin e os tovariches actuais. E, convenhamos, também se esquecem daquela rapaziada húngara que anda a fazer cada vez mais leis restritivas da democracia. E nem falemos de alguns países da “área de influência” alemã que tratam os ciganos abaixo de cão.

 

Será que o Genosse Schulz está ofendido com o pouco êxito dos seus compatriotas na EDP e na REN?  Será que algum banco alemão tentou comprar o BCP ao preço da uva mijona e viu os angolanos oferecerem mais?

 

Parece, entretanto, que Schulz quis falar no “declínio da Europa” verificável por se ir pedir cacau fora da Europa. Mas, diabos me levem, será que a Europa, agora dirigida por Merkel e Sarkozy,  anda por aí a oferecer dinheiro  que os ingratos do sul recusam?

 

E se Schulz se virasse para a senhora Merkel e lhe exprobasse a incapacidade política e a triste estratégia “um passo em frente, dois atrás” que, finalmente se reduz a um mero cálculo eleitoral interno.

 

O declínio europeu há muito que vem sendo comentado e anunciado. Um continente que tem mais cães que filhos, que se desindustrializou a passos largos, que não consegue dizer se é a favor ou contra uma “Reserva Federal” e os “eurobonds”, que importa e tem de pagar boa parte da energia que consome, quer o quê?

 

Responda quem souber.

 

d'Oliveira fecit 9.2.12

 

Schulz, Angola e Portugal

José Carlos Pereira, 09.02.12

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, sentiu necessidade de vir explicar as suas declarações num recente debate em Bruxelas, amplificadas nos media portugueses, segundo as quais teria criticado a excessiva colagem de Portugal ao investimento angolano e que isso representaria o declínio do nosso país. Refere agora Schulz que o que pretendeu dizer foi que os países europeus devem estar mais próximos uns dos outros e serem mais solidários. Se os países mais frágeis não tiverem os apoios de que necessitam dentro da União Europeia isso significará o fracasso europeu. Assim seja.

De todo o modo, isso fez-me reflectir sobre o protagonismo que os capitais angolanos têm actualmente em Portugal e a forma ostensiva como se apresentam. Depois do imobiliário e do comércio de luxo, os angolanos estão nas empresas dos mais diversos sectores e ocupam posições dominantes em áreas estratégicas. É demais? Não sei. O que me parece claro é que não é saudável para a relação entre os dois países que essa afirmação económica seja tão ostensiva. Tal comportamento não pode servir para reparar mágoas antigas...

O episódio da recente mudança na administração do Millennium bcp, comandada a partir de Angola à vista de todos, antes de qualquer Assembleia Geral, não me parece um exemplo feliz e uma atitude a repetir. Muito menos o corrupio no Ritz sob as luzes dos fotógrafos do "Expresso"...