Au Bonheur des Dames 314
Patrão fora, dia santo na loja
(carta a outra doente)
Até pareço o Provedor das almas! Ou, lembrando-me dos meus anos juvenis, da Conferência de S Vicente de Paula. Eu explico: nesses anos tremendos, fui enviado para uma coisa chamada “internato anexo ao liceu de Braga”, dirigida por um certo padre Alípio se a memoria não me trai. Este Alípio, que nada tinha de queiroziano, era uma afável criatura que tendia para acreditar nos nossos arroubos místicos. Daí que me tenha consentido ir para a sala de estudo da malta da JEC onde se jogava um poker primoroso, e para a dita “Conferência” que praticava o bem, visitando enfermos. Visitar enfermos era uma bela desculpa para nos baldarmos ao salão de estudo e passear pela idolátrica Braga tal qual o libertino Luís Pacheco.
Vem tudo isto a propósito da nossa querida colega “O meu olhar” que me diz em comentário ao último post que está doente em casa. E fragilizada! Logo ela com aquele cabelo loiro e olho azul! Uma “Ofélia” se é que li bem o meu Shakespeare. E doente!!!
Mas que é isto, querida Guilhermina? Você está a fazer concorrência desleal à minha loira privativa que está que ferve na clausura hospitalar do S. António! Para doenças no blog e arredores próximos chega uma, jamais duas pessoas. E ambas mulheres! Jesus que está a acontecer? Já não nos bastava o Seguro, o Passos, o Zorrinho, o Louça e o tovarich Jerónimo que parecem todos atacados de fleimão agudo e incontroverso, de catatonismo delirante e perverso, enfim de uma qualquer doença tropical e misteriosa (dengue? Febre amarela? ((esta seria mais para o Fazenda que não consta da lista acima mas que se mete já, e gozosamente, a ver se também ele deixa de nos atormentar)) malária?)?
É que a sua doença, para alem de tudo o mais, põe em risco a condução desta nave de loucos, deste blog arrevezado que fica assim entregue à bicharada machista. De facto da almirante Kamikaze não temos novas nem mandados. Da nossa espampanante Sílvia, capitã geral do Rio de Janeiro, é justo supor que está ainda a fazer a ressaca do Carnaval local se é que não foi chamada para o governo da presidenta Dilma. Ou seja, o elemento feminino que sempre comandou com mão de ferro em luva de veludo, este desvairado batel, está ausente. Assim sendo, começo a pensar que a coisa corre certos e sérios riscos. À uma, e como se vê, ja nem um manto diáfano de fantasia cobre a nudez forte da verdade , ou verdade forte da nudez, como Eça aconselhava e o pudor impunha. A a ilustração documenta!!!!.....
Daqui a pouco começamos a escrever num português vicentino e desbragado, mais desbragado ainda do que a tolice do acordo ortográfico que um Secretário de Estado da cultura actual entende trazer no bico um pouquinho de xenofobia (porque não um poukinho? Ou melhor e à espanhola um poukiño? Ou ainda um pôkiño? Ou outra merda kualker?
Voltemos porém aos nosso recados. V doente querida Amiga? E o Joaquim que nada nos dizia!... Ainda ontem, quando o encontrei entre duas bailarinas espanholas do Alcazar de Madrid, em vez de me dar essa abrupta novidade, piscou-me o olho e disse: ora veja estas duas febras directamente importadas ds futura estação do nosso TGV, que tal? Combalido pela doença da CG, mal tive forças para levantar o olho dos decotes imoderados das citadas febras para, em tom lastimoso murmurar que estando na Páscoa, sendo antigo membro da JEC – mesmo com o pecado venial da jogatina- e não menos antigo militante da Conferencia de S Vicente de Paula, não podia nem devia considerar qualquer carne, incluindo aquela, pois derribado pela aflição e transido pelo jejum pascal, apenas podia, como já disse, andar de lampreia para bacalhau na brasa, de jaquinzinhos com arroz para robalo grelhado, de caldeirada de enguias para petinga com salada.
Peixe, Joaquim, só peixe! Deixe as febras para daqui a uns dias e logo lhe direi se sim ou se sopas.
E mais um olhar desfalecido para a crua realidade dos decotes sem tapadura de qualquer fantasia...
Querida Guilhermina, faça o favor de se curar depressa. Custe o custar. O Joaquim que dê à perna e cozinhe canjas, papas, arrozinho de manteiga, bife passado, enfim, o que for necessário. E se for mesmo preciso que ponha as duas espanholas a trabalhar. Trabalho domestico bem entendido. Trabalho domestico quer dizer trabalhos vulgares de casa e não aqueles que vêm nos anúncios “jovem desembaraçada. Vinte anos, 90, 60, 90 faz tudo, recebe em apartamento, hotéis mas também faz domicílios”. !sso é para as doenças dos varões.
V. precisa de mimos e ternura. Muita.
Mais do que a que vai embrulhada neste folhetim do amigo que a abraça e espera vê-la depressa ao comando desta nau
Seu, sempre,
mcr
* na gravura: Helmut Newton: self portait
Este nu ainda não é o que acima se anuncia. Serve só para lembrar que abriu em Paris uma grande exposição deste fotógrafo. No Grand Palais. Honny soit qui mal y pense!