Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au Bonheur des Dames 314

d'oliveira, 31.03.12

 

  

 

Patrão fora, dia santo na loja

 

(carta a outra doente)

 

 

 

Até pareço o Provedor das almas! Ou, lembrando-me dos meus anos juvenis, da Conferência de S Vicente de Paula. Eu explico: nesses anos tremendos, fui enviado para uma coisa chamada “internato anexo ao liceu de Braga”, dirigida por um certo padre Alípio se a memoria não me trai. Este Alípio, que nada tinha de queiroziano, era uma afável criatura que tendia para acreditar nos nossos arroubos místicos. Daí que me tenha consentido ir para a sala de estudo da malta da JEC onde se jogava um poker primoroso, e para a dita “Conferência” que praticava o bem, visitando enfermos. Visitar enfermos era uma bela desculpa para nos baldarmos ao salão de estudo e passear pela idolátrica Braga tal qual o libertino Luís Pacheco.

 

Vem tudo isto a propósito da nossa querida colega “O meu olhar” que me diz em comentário ao último post que está doente em casa. E fragilizada! Logo ela com aquele cabelo loiro e olho azul! Uma “Ofélia” se é que li bem o meu Shakespeare. E doente!!!

 

Mas que é isto, querida Guilhermina? Você está a fazer concorrência desleal à minha loira privativa que está que ferve na clausura hospitalar do S. António! Para doenças no blog e arredores próximos chega uma, jamais duas pessoas. E ambas mulheres! Jesus que está a acontecer? Já não nos bastava o Seguro, o Passos, o Zorrinho, o Louça e o tovarich Jerónimo que parecem todos atacados de fleimão agudo e incontroverso, de catatonismo delirante e perverso, enfim de uma qualquer doença tropical e misteriosa (dengue? Febre amarela? ((esta seria mais para o Fazenda que não consta da lista acima mas que se mete já, e gozosamente, a ver se também ele deixa de nos atormentar)) malária?)?

 

É que a sua doença, para alem de tudo o mais, põe em risco a condução desta nave de loucos, deste blog arrevezado que fica assim entregue à bicharada machista. De facto da almirante Kamikaze não temos novas nem mandados. Da nossa espampanante Sílvia, capitã geral do Rio de Janeiro, é justo supor que está ainda a fazer a ressaca do Carnaval local se é que não foi chamada para o governo da presidenta Dilma. Ou seja, o elemento feminino que sempre comandou com mão de ferro em luva de veludo, este desvairado batel, está ausente. Assim sendo, começo a pensar que a coisa corre certos e sérios riscos. À uma, e como se vê, ja nem um manto diáfano de fantasia cobre a nudez forte da verdade , ou verdade forte da nudez, como Eça aconselhava e o pudor impunha. A a ilustração documenta!!!!.....

 

Daqui a pouco começamos a escrever num português vicentino e desbragado, mais desbragado ainda do que a tolice do acordo ortográfico que um Secretário  de Estado da cultura actual entende trazer no bico um pouquinho de xenofobia (porque não um poukinho? Ou melhor e à espanhola um poukiño? Ou ainda um pôkiño? Ou outra merda kualker?

 

Voltemos porém aos nosso recados. V doente querida Amiga? E o Joaquim que nada nos dizia!... Ainda ontem, quando o encontrei entre duas bailarinas espanholas do Alcazar de Madrid, em vez de me dar essa abrupta novidade, piscou-me o olho e disse: ora veja estas duas febras directamente importadas ds futura estação do nosso TGV, que tal? Combalido pela doença da CG, mal tive forças para levantar o olho dos decotes imoderados das citadas febras para, em tom lastimoso murmurar que estando na Páscoa, sendo antigo membro da JEC – mesmo com o pecado venial da jogatina- e não menos antigo militante da Conferencia de S Vicente de Paula, não podia nem devia considerar qualquer carne, incluindo aquela, pois derribado pela aflição e transido pelo jejum pascal, apenas podia, como já disse, andar de lampreia para bacalhau na brasa, de jaquinzinhos com arroz para robalo grelhado, de caldeirada de enguias para petinga com salada.

 

Peixe, Joaquim, só peixe! Deixe as febras para daqui a uns dias e logo lhe direi se sim ou se sopas.

E mais um olhar desfalecido para a crua realidade dos decotes sem tapadura de qualquer fantasia...

 

Querida Guilhermina, faça o favor de se curar depressa. Custe o custar. O Joaquim que dê à perna e cozinhe canjas, papas, arrozinho de manteiga, bife passado, enfim, o que for necessário. E se for mesmo preciso que ponha as duas espanholas a trabalhar. Trabalho domestico bem entendido. Trabalho domestico quer dizer trabalhos vulgares de casa e não aqueles que vêm nos anúncios “jovem desembaraçada. Vinte anos, 90, 60, 90 faz tudo, recebe em apartamento, hotéis mas também faz domicílios”. !sso é para as doenças dos varões.

V. precisa de mimos e ternura. Muita.

 

Mais do que a que vai embrulhada neste folhetim do amigo que a abraça e espera vê-la depressa ao comando desta nau

 

Seu, sempre,

 

mcr  

* na gravura: Helmut Newton: self portait

Este nu ainda não é o que acima se anuncia. Serve só para lembrar que abriu em Paris uma grande exposição deste fotógrafo. No Grand Palais. Honny soit qui mal y pense!

Intento (23)

sociodialetica, 30.03.12
 “A dominação dos ricos também se constrói nas mentes e no imaginário. Deve mostrar-se sob certas formas, em certos lugares, para divertir suficientemente os pobres. Pode-se até formular a hipótese de que se o espectáculo da riqueza deixasse de ser um divertimento para os mais modestos, os ricos arriscariam perder uma grande parte do seu poder social. Então talvez estivessem realmente ameaçados. Mas não nos iludamos: o que a riqueza mostra de si não é a verdade económica. (...) frequentemente é muito difícil saber o que os ricos ganham e possuem realmente. Eles mostram as suas férias, mas não a suas propriedades. Revelam mais facilmente os sinais do seu poder que o seu poder efectivo”
Pech, Thierry. 2011. Le Temps des Riches. Anatomie d'une sécession. Paris: Seuil. 153

Au Bonheur des Dames 313

d'oliveira, 30.03.12

 

 

 

 

Carta a CG

 

Minha querida, poupe-me a mais sustos. E se não for a mim, ao menos poupe as gatas! Que, como eu, se afligem demasiadamente com as suas aventuras e, mais ainda, com as suas desventuras. Essa coisa de depois de um grito quando estou na outra ponta da casa, a vir encontrar desmaiada à porta do quarto, pode ser melodramática quanto baste mas assusta-me. Muito.

 

Faça o favor de se lembrar que, quando postulei os seus favores (arre que esta frase saiu-me mesmo bem!) havia uma razão extra às vulgares (se é que vulgares são o reconhecer a sua beleza, a sua simpatia ou a sua inteligência. Ou mesmo essa sua inexplicável fraqueza de gostar de mim...) havia um forte sentido de oportunidade e egoísmo meus.

 

É que, bem contra a minha vontade, não estou a ir para novo, bem pelo contrário. Vou, em alta velocidade para “idoso”. Velho, como antes se dizia. “Sénior”, como umas inqualificáveis bestas, muito politicamente correctos, raios as partam!, agora grunhem.

 

Ora, para um cavalheiro avançado em anos e ciente disso, nada melhor que mulher nova. Enfim com a novidade possível que eu também não sou tão tolo que a vá buscar a escalões etários com metade dos anos que levo. Sei que isso está na moda, que tem sido moda, mas olhando a certos exemplos (e por todos cito o Borges, o Cela ou o Alberti, gente muito mais interessante e inteligente do que este seu chevalier servant) a coisa tem resultados demasiado incertos. Maus, mesmo.

 

Bem sei que se diz, “a boi velho, erva tenra”, mas uma coisa é a festa dos olhos outra um compromisso de vida. E, depois, V. vinha adornada de filha gentil e quase criada, evitando-me assim aquelas chatices de limpar cueiros, levar à escola ou aturar os primeiros sobressaltos da adolescência. Vi-me assim, sem qualquer mérito próprio, abonado de mulher e filha casadoira, preparado para ter quem me empurrasse a cadeirinha, quando (e que seja tarde, ou nunca, de preferência) eu já não puder vir por meu pé para a esplanada.

 

Ora estas maleitas que agora a afectam, mesmo se, como os médicos do hospital me dizem, já estão resolvidas, não ajudam nada a tranquilizar-me. E depois, V sabe que eu fico um bocado desamparado com uma mulher desmaiada. E ainda por cima, mesmo com essa sua magreza evangélica, V. pesa como chumbo. É que, repito, já não sou novo! Aliás, o senhor Marquês de Pombal terá uma vez dito que um homem, mesmo morto, precisa de quatro outros para o tirarem de casa. Quem diz homem, quererá dizer mulher, que agora, com a moda da igualdade de sexos, parece que V pesa quase tanto quanto eu. Aí com vinte e muitos quilos de diferença mas para efeitos de bem-pensância V pesa o mesmo. E manda o mesmo. Ou para ser franco: manda muito mais!

 

Aliás, ao contrario do que piedosamente, alguém quis fazer-nos acreditar, as mulheres sempre mandaram mais!  Dando-nos a ilusão que éramos nós quem mandava! Mandávamos, o tanas!

 

Quando a ordem simples (que nunca é simples, claro) não funciona, eis que um pobre macho se vê enrodilhado numa teia de insinuações, de sugestões, de argumentos, de água mole em pedra dura, que o desbaratam tão completamente que acaba cedendo pensando que impôs a sua razão! 

 

Neste momento há por aí alguns sisudos leitores a abanarem a cabeça de acordo a uma tal velocidade que mais parecem moínhos de água. E dois tolos a dizerem que sou eu o tolo! Que mal se conhecem.

 

Confesso que estes três dias já de ausência sua tem sido estranhos. À uma, apenas puxei as orelhas aos lençóis da cama,  deixei o cesto do escritório com papéis e aumentei gozosamente a desordem na secretaria. E fui comer lampreia!...

 

Demasiada liberdade dá para desconfiar. E lamentar. Num filme do Buñuel, desculpe-me este facataz pelos surrealistas!, mais propriamente “O fantasma da liberdade” ouve-se de quando em quando um grito “viva’ la ca’ena”, ou seja vivam os grilhões. Parec e que os espanhóis do início do seculo XIX não apreciavam devidamente a “liberdade que o “rei” José Bonaparte lhes trazia na ponta das baionetas napoleónicas. O povo preferia, apesar de tudo, o horrível Fernando VIII, um cobardão!, à liberdade, igualdade e fraternidade sugerida pelos “franchutes” invasores. E vai daí iam-se aos ocupantes com o que tinham à mão inventando ferozmente a palavra guerrilha e, pior ainda, o seu selvático resultado.

 

Nós por cá, gatas e eu, estamos na mesma: antes uma CG mandona, repontona, com a mania de lavar o lavado, irrompendo em imprecações contra o nosso laissez vivre laissez passez, do que esta estranha calma, este silêncio desanimador que atormenta a casa. A casa vazia. A casa assombrada. A sua casa...

 

Volte depressa! Volte bem! Sem Si isto é um desconsolo, uma aflição, uma desordem.

Volte para os que a amam!

 

* fotografia antiga de três cúmplices intitulada "la grasse matinée" e devida aos meus próprios talentosos fotográficos!

 

 

 

José Sócrates? Guilty!

José Carlos Pereira, 30.03.12

O santo e a senha para descodificar a razão de todos os problemas de Portugal tem um nome: José Sócrates. Tudo se esgota no nome do anterior primeiro-ministro, recolhido em Paris. Na comunicação social, Sócrates nunca deixou de ter os seus "amigos" de estimação e é ver como a ausência de novidades no julgamento em curso do caso "Freeport" se transforma em sucessivas manchetes que procuram "chegar" até ao ex-líder socialista. No Palácio de Belém também mora alguém que não resistiu a acertar contas passadas, num amplificado prefácio trazido à estampa. Entre os magistrados, a culpa, seja lá do que for, é de Sócrates e dos seus correligionários - o caso da investigação prioritária à utilização de cartões de crédito e telefones pelos ex-governantes fala por si. Nos encontros partidários de PSD e CDS basta pronunciar o nome de Sócrates para encontrar a razão de todos os problemas.

Miguel Sousa Tavares já opinara que esta obsessão corre o risco de desviar a atenção dos portugueses do que verdadeiramente interessa neste momento, servindo de escudo aos actuais governantes. Agora foi Francisco Assis que veio escrever no "Público" sobre este assunto, dizendo que um "fantasma paira sobre a vida pública portuguesa - chama-se José Sócrates. A imprensa tablóide persegue-o e calunia-o, o principal partido do Governo convoca-o e difama-o, o Presidente da República ataca-o com uma ausência de subtileza imprópria das funções que exerce, um grupo de ignotos juízes desprovido do mais... elementar sentido de Estado vitupera-o e o próprio PS revela algumas dificuldades em lidar com a sua memória política recente. Esta obsessão quase patológica com a figura do anterior primeiro-ministro prejudica a qualidade do debate em curso, obnubila a compreensão dos verdadeiros problemas com que o País se defronta, diminui a lucidez dos vários intervenientes na vida pública e, não raras vezes, apouca quer intelectual, quer moralmente um conjunto de personalidades que, por razões institucionais, deveria cultivar outra perspectiva da dignidade política."

Concordo inteiramente com o deputado socialista. Além do mais, o tempo é o grande julgador e vai digerindo os descontentamentos, por muito que isso custe a uns tantos. Esta semana, o director do "Expresso", Ricardo Costa, proclamou que Sócrates jamais voltará a ganhar uma eleição em Portugal. Mas em política não há lugar para fatalidades...

As fragilidades da "nova" CCDRN

José Carlos Pereira, 29.03.12

aqui escrevera sobre o arrastado processo de nomeação das equipas dirigentes das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), entidades com competências relevantes em áreas fundamentais para o desenvolvimento integrado do país e das suas regiões. No que diz respeito à CCDR do Norte, esse processo conheceu ainda uma miríade de nomes atirados para as páginas dos jornais, talvez com o objectivo de avaliar a forma como os mesmos eram acolhidos.

A escolha do Governo acabou por recair numa equipa com um perfil vincadamente técnico, claramente desalinhada, em termos de trajecto e de curriculum, com aquilo que se passou ao longo dos anos e com as exigências que se colocam a estas entidades. A CCDRN teve lideranças marcantes com Valente de Oliveira, Braga da Cruz, Silva Peneda, Arlindo Cunha ou Carlos Lage, personalidades que prestigiaram a instituição e que assumiram um papel importante no ordenamento do território, no planeamento e desenvolvimento regional, na cooperação transfronteiriça e na aplicação dos fundos comunitários na região. As fidelidades pessoais e partidárias obnubilaram, desta vez, os responsáveis pelas nomeações.

Como se não bastasse, veio a público que um dos vice-presidente da CCDRN não poderia ter sido nomeado pelo facto de a lei exigir para este nível de funções a nomeação de licenciados há mais de oito anos. E o dito vice-presidente é apenas bacharel, o que tem causado um enorme burburinho na CCDRN. Conhecendo a casa, não custa acreditar...

Neste clima, reúne-se amanhã a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal para debater temas estruturantes para esta macro-região, sobre os quais se desconhece em absoluto qualquer opinião dos novos responsáveis da CCDRN. Começar pior era impossível.

 

Um simples número nas estatísticas do SNS

O meu olhar, 29.03.12

Uma amiga minha muito especial, doente oncológica, enviou a carta que abaixo transcrevo, a um conjunto de entidades ligadas ao sector da saúde.

Para o Ministério da Saúde e para o Governo ela é apenas um número que integra as estatísticas. No entanto, ela é mais que isso, é uma pessoa com um problema de saúde cujo apoio do SNS para a boa evolução do mesmo não se compadece com decisões cegas de gabinete.

Fica aqui a carta, para reflexão:

 

  

Exmos. Senhores

Ministro da Saúde

Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria

Director Clínico do Hospital de Santa Maria

Presidente da Comissão de Coordenação Oncológica

Director do Serviço de Oncologia Médica do Hospital de Santa Maria

  

1. Sou doente oncológica há vários anos, actualmente seguida no Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria;

2. Na sequência de uma recaída da minha doença, iniciei quimioterapia em Agosto de 2011;

3. Dados os maus resultados revelados pelas análises clínicas, em 26 de Outubro de 2011, o meu médico optou pela suspensão da quimio e prescreveu TAC abdominal, pélvica e torácica, para uma mais completa avaliação da situação e selecção de tratamento mais adequado; estas TAC foram pedidas com urgência, desejavelmente num prazo máximo de 15 dias;

4. Fui informada que, por força das restrições em vigor, determinadas pelo Ministério da Saúde, os exames tinham obrigatoriamente de ser feitos no Hospital de Santa Maria, não sendo possível a sua requisição ao exterior, como era habitual;

5. Na ausência de um contacto do Hospital de Santa Maria nas semanas seguintes, dirigi-me aos serviços de imagiologia deste hospital; aí, fui informada da impossibilidade de previsão exacta da calendarização das TAC, e de que era extremamente improvável que as mesmas pudessem concretizar-se a curto prazo;

6. Preocupada com as consequências do adiamento dos exames, decidi recorrer aos serviços de uma empresa privada, a IMI, onde realizei as TAC, em 16 de Novembro de 2011, pagando 350 €;

7. O relatório da IMI  veio confirmar o agravamento da doença já sugerido pelas análises clínicas e, em 22 de Novembro, o meu médico oncologista prescreveu-me um novo tratamento de quimioterapia, que iniciei em 5 de Dezembro de 2011;

8. Na tarde de 30 de Dezembro de 2011 (2 meses depois da data da requisição das TAC e decorridos já 2 ciclos da nova quimio), recebi um telefonema do Hospital da Cruz Vermelha, informando-me que seria neste hospital que iriam concretizar-se os exames requisitados em Outubro no Hospital de Santa Maria e propondo-me marcação das TAC para Janeiro de 2012; devido à minha argumentação e à boa compreensão da pessoa com quem falei, consegui que os exames fossem antes marcados para o final de Março, altura em que, na opinião do meu médico oncologista, seria útil fazer uma nova avaliação da eficácia da quimioterapia em curso. Em 28 de Março de 2012, fiz as TAC, no Hospital da Cruz Vermelha.

 

Gostaria de expressar aqui a minha profunda insatisfação com a não realização atempada do meu exame através do SNS.

Gostaria ainda de alertar para as graves consequências que esta situação poderia ter tido para a minha saúde, caso eu não tivesse optado pela realização do exame numa empresa privada, assegurando o pagamento de 350 € não reembolsáveis.

 

Concluo, deixando ainda as seguintes interrogações:

 

- O que acontece aos doentes que confiam cegamente no sistema de saúde e concluem que a falta de contacto do hospital numa situação como esta significa que o diagnóstico e inicio de novos tratamentos não são urgentes?

 

- E aos que, não conseguindo reunir as somas avultadas cobradas pelas empresas privadas e não passíveis de reembolso, não realizam os exames com a rapidez necessária?

 

- O que me teria acontecido a mim, se não tivesse feito a TAC por minha conta e, após 3 meses sem tratamento e iniciando mais tardiamente um tratamento novo, a minha doença se tivesse agravado de forma irreversível?

 

- O que poupou o SNS e o país com esta situação, se afinal a TAC foi realizada no Hospital da Cruz Vermelha, um hospital privado, com a agravante de se vir a concretizar, no mínimo, com 3 meses de atraso em relação à data recomendada para o exame?

 

- O que pouparia o SNS se eu tivesse aceite passivamente a realização da TAC na data que me foi proposta (Janeiro) - demasiado tarde para o objectivo à data em que foi prescrita, demasiado cedo para fazer uma nova avaliação - resultando, portanto, num custo desnecessário?

 

Espero que esta reclamação e reflexões possam contribuir para uma maior ponderação do impacto na saúde dos doentes das decisões que estão a ser tomadas na área da Saúde pelo Governo e Ministério da Saúde.

 

 

Nota final minha:

Todos sabemos o que está por detrás dessa decisão de não marcação de exames em entidades privadas no final do ano: a execução orçamental de 2011. Em Janeiro de 2012 essa medida já não se aplicou, como vimos neste caso, porque já não influenciava os dados da Execução orçamental de 2011.

 

"Custe o que custar". Foram estas as palavras que usou, não é assim sr. primeiro ministro?

The Codice - A Injecção da Banca

O meu olhar, 29.03.12
 

Este vídeo é uma forma popular de expressar a inversão de valores que foi tão bem apresentada pelo Sociodialetica, nosso companheiro de Incursões, AQUI.

Destaco desse texto:

  1. Quando da crise de 1929/33 o sistema bancário já estava hierarquizado, havendo um banco central que apoiava os restantes bancos e que era o principal suporte financeiro dos Estados. Na actual crise o Banco Central Europeu não assume a função de recurso financeiro em última instância, e, antes pelo contrário, são os Estados que servem de recurso em última instância aos bancos operando nos respectivos países. Passou-se dum sistema bancário ao serviço do País para o País ao serviço dos bancos. 

Tunísia um ano depois

sociodialetica, 29.03.12

 

Um ano depois. No Museu do Instituto do Mundo Árabe, em Paris, uma exposição sobre a Tunísia recente.

 

Numa ampla parede a liberdade de escrita. Entre os milhares de frases redigidas pelos visitantes duas mensagens sobressaem: “Palestina” e “Amanhã!”.

 

Num quadro a óleo as engrenagem de uma máquina com dois cravos. Aconchegam-me com orgulho e angústia.

 

Entre as diversas temáticas da exposição o riso penetra fundo no âmago da vida.

Um gato sabichão declara que “a democracia é uma questão de organização”. Junto dele uma mesa com três pilhas de textos escritos: a dos “discursos para os nossos”, a dos “discursos para os outros” e ainda uma de “desmentidos à imprensa”.

Estranha sensação de déjà vu.

Pág. 1/4