Crises (1)
A CRISE DE 1929/33 E A ACTUAL SÃO COMPARÁVEIS?
1. Só a história futura nos informará da validade da comparação entre a crise de 1929/33 e a de 2008 e que continua ainda hoje, 2012. Admitimos que existem semelhanças e diferenças importantes. Já fizemos referência a elas num trabalho anterior (»»») (»»») (»»»).
Apontávamos então como semelhanças:
- Ambas são partes integrantes do ciclo de negócios, são crises de sobreprodução que se manifestam sob a forma de subconsumo;
- Ambas se desencadeiam numa fase em que o capitalismo domina à escala mundial, embora no primeiro com a recente recordação da Revolução Russa;
- Grande parte das formas de manifestação da crise é semelhante.
Acrescente-se uma outra :
- Segundo alguns autores existem os ciclos longos da economia, com uma aproximação a uma periodicidade de meio século, contendo uma fase ascendente (de maior tendência ao crescimento) e uma descendente (de menor tendência ao crescimento). De acordo com estas teses as duas crises situar-se-iam numa fase descendente do grande ciclo de Kondratief
Apontávamos então como diferenças:
- Grande parte das actividades produtivas estão fora do território dos países que mais sofreram a crise (EUA e Europa);
- A crise actual está mais intensamente associada às bolsas de valores e ao capital fictício;
- Actualmente é muito maior a economia paralela;
- Hoje há um muito maior entrelaçamento das economias nacionais, pese embora o grande sincronismo do ciclo em 1929/33.
Acrescentemos duas outras muito significativas:
- Então vivíamos numa ditadura, que se tinha imposto recentemente, com um ambiente interno e externo que lhe era relativamente favorável. Hoje vivemos em democracia.
- Então o Estado Português tinha total poder de decisão política sobre as instituições económicas portuguesas, enquanto hoje essa soberania, nomeadamente económica, está em grande medida na União Europeia, fora do seu campo de decisão.
Esclareça-se, no entanto, que esta falta de poder de decisão nada tem a ver com o sistema político interno de Portugal, mas por agora haver uma integração regional (UE) e, sobretudo por esta ter adoptado (diga-se, também com o voto entusiasta de Portugal) uma configuração político-económica que privilegia o núcleo dos países mais desenvolvidos economicamente.
Da diferença apontada em (f) resulta uma outra diferença.
- Quando da crise de 1929/33 o sistema bancário já estava hierarquizado, havendo um banco central que apoiava os restantes bancos e que era o principal suporte financeiro dos Estados. Na actual crise o Banco Central Europeu não assume a função de recurso financeiro em última instância, e, antes pelo contrário, são os Estados que servem de recurso em última instância aos bancos operando nos respectivos países. Passou-se dum sistema bancário ao serviço do País para o País ao serviço dos bancos.
2. Sendo bom não esquecer todas estas semelhanças e diferenças há ainda dois aspectos que convém referir:
- Então como agora Portugal está numa fase de afastamento dos países mais ricos da Europa, numa divergência de dinâmica de crescimento económico. No período que antecede a crise o nível médio de rendimento por habitante em comparação com o dos países europeus mais desenvolvidos atingia o nível mais baixo desde o início do século XIX. Para o período mais recente o rendimento per capita português atingiu o valor mais elevado em relação à actual União Europeia em 1999, e desde então tem vindo a diminuir (ver Figura 1). Simultaneamente assiste-se a um agravamento da situação da nossa economia em termos de formação bruta de capital fixo, vulgo investimento, tendo quase sempre valores inferiores ao dos actuais países da UE desde 2000 (ver Figura 2).
- Em diversas crises anteriores se fizeram comparações com a crise de 1929/33, particularmente na de 1973/06, uma das maiores após a segunda grande guerra. Nessas comparações foi então dito qualquer coisa como “comparando a evolução dos indicadores económicos constatamos que a crise mais recente teve amplitude menor, mas isso deve-se essencialmente a que então não havia uma política económica.” Se esta afirmação é verdadeira então podemos dizer que esta crise é bastante pior que a de 1929/33.
Figura 1 |
Fonte: Banco Mundial |
Figura 2 |
Fonte: Banco Mundial |