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Incursões

Instância de Retemperação.

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Os ministros manobradores

José Carlos Pereira, 26.05.12

Todos conhecemos o exemplo de políticos que afirmaram o seu poder a partir do controlo dos aparelhos partidários, da máquina financeira que suporta e apoia os partidos e da teia de interesses que se cria a partir do momento em que se dá a ascensão ao poder. São políticos que nunca veríamos como candidatos a primeiro-ministro, mas que acabam por ser os verdadeiros números dois, com poder para fazer escolhas determinantes e para influenciar decisivamente os líderes. Saídos do poder, facilmente vemos esses políticos fazerem carreira no mundo dos negócios...

Se olharmos para as maiorias governativas dos últimos vinte anos, recordamos assim de repente o poder e a trajectória que seguiram Dias Loureiro, que ascendeu com Cavaco Silva, Jorge Coelho, que acompanhou António Guterres, e Miguel Relvas, que fez a tarimba com Durão Barroso e Santana Lopes e agora evidencia todo o seu poder sob a liderança de Passos Coelho.

É comum, também, que estes dirigentes percam por vezes a noção dos limites que se colocam ao exercício de funções públicas e acabem envolvidos em casos menos claros e que indiciam um aproveitamento indevido de informação privilegiada e a afirmação indiscriminada do poder de que estão investidos. Com efeito, a massa de que são feitos alguns desses políticos leva a que, com frequência "o pé lhes fuja para o chinelo".

Em pouco tempo de governação, Miguel Relvas deu mostras de cair nestes erros crassos. A sua ligação ao "caso das secretas", em que muito ainda há por saber, é um bom exemplo. Relvas envolveu-se com "pavões", para os quais tudo se torna possível em troca de poder e influência. O todo-poderoso ministro vai saltando de justificação em justificação, mas pelo caminho já teve de deixar cair um adjunto como vítima. Veremos como tudo acaba, embora este processo torne evidente a facilidade com que se assaltam domínios que deviam ser classificados, em benefício de pessoas e empresas.

O envolvimento de Miguel Relvas com o jornal "Público" mostra, por sua vez, como a promiscuidade entre jornalistas e políticos, com ameaças, pressões e intimidações, cria uma nuvem que escapa ao leitor comum. É assim que certos políticos criam um ambiente favorável nos jornais - trocam informações, obtêm confiança e tecem influências. Depois, esses mesmos políticos, que têm os números de telefone pessoais dos jornalistas, sentem-se à vontade para interpelar e intimidar os jornalistas quando os casos em investigação são menos convenientes.

É um retrato do país pequeno e em que toda a gente se conhece nestes meios políticos e jornalísticos. O pior é que quando se acede ao domínio da máquina do Estado e da governação eespera-se uma postura e um sentido de Estado que estes políticos desconhecem e nem compreendem. Ao fim e ao cabo, para eles, estar à frente da máquina do partido, do aparelho de Estado ou das empresas a que têm ligações é indiferente. Os cuidados são os mesmos e as ligações de proximidade também. Com o preço que se conhece.