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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Arnaut, o PSD e a REN

José Carlos Pereira, 26.06.12

A recente designação de José Luís Arnaut para administrador não executivo da REN – em vésperas da privatização da empresa… – evidencia mais uma vez que os políticos gostam de apontar o dedo aos adversários quando estão na oposição, mas, logo que ocupam o poder, fazem questão de adoptar sempre as piores práticas.

Arnaut é advogado, foi ministro, deputado e secretário-geral do PSD e é, desde o último congresso, responsável pela comissão de auditoria financeira do PSD. É alguém que está na primeira linha do partido nos últimos dez anos, pelo que a sua nomeação não pode ser dissociada do facto de pertencer ao partido que lidera a maioria governamental, mesmo quando a sua nomeação ocorre por indicação de accionistas privados.

Se o PSD tanto apontou aos governos socialistas o pecado de nomear “boys” do PS para os mais diversos cargos da administração e para as empresas públicas, não deveria agora preocupar-se em dar o exemplo contrário? Já víramos na EDP e na CGD que não era assim e constatamos agora que a febre das nomeações não está para cessar. Talvez a pensar que os portugueses, tão preocupados com as dificuldades do dia-a-dia, têm mais em que pensar e não valorizam estes assaltos ao poder.

De superministro… a próximo de zero

JSC, 20.06.12

No dia em que foram apresentados números aterradores sobre o desemprego, a confirmar o que as associações empresariais, designadamente da construção civil e da restauração, previram há vários meses, o Ministro da Economia fez para aí umas declarações onde se mostra muito feliz com a captação de 17 milhões de euros de investimento de uma multinacional alemã.

 

Pode parecer anedota mas é mesmo assim. O Ministro excitou-se com um investimento de 17 milhões de euros. E até viu nisso uma consequência das reformas estruturais (quais?) que diz ter implementado. Não foi um Presidente de Câmara a anunciar um investimento de 17 milhões na sua autarquia. É o ministro de Portugal a anunciar esse investimento (insignificante) no país. O mesmo Ministro que mantém congelados centenas de milhões dos fundos estruturais. Para ilustrar a dimensão da coisa, se os 17 milhões fossem, por exemplo, para um equipamento hoteleiro, estaríamos a falar de um hotel de 5 estrelas com algumas dezenas de quartos. É ridículo de mais para ser verdadeiro. Mas é.

 

O ministro deve-se ter esfalfado para encontrar uma “notícia” que lhe permitisse fugir a ter de comentar os números do desemprego que hoje são apresentados e a queda progressiva do poder de compra dos portugueses, que o Eurostat também acaba de divulgar. Só isso pode explicar que tenha valorizado o tal investimento alemão, desvalorizando o peso do mesmo.

 

O Ministro necessitava de avançar com um número, onde aparecesse a palavra “milhões” e a palavra “investimento”, para que jornalistas e afins julgassem que estava a falar de alguma coisa em grande. Mas não estava. O país não é uma autarquia.

 

O que o ministro deveria ter explicado hoje e a comunicação social deveria ter exigido que explicasse, era as políticas que tem desenvolvido e que conduziram ao encerramento de tantas e tantas empresas, como ainda hoje foi anunciado pelo grupo BATA, que vai encerrar mais de duas dezenas de lojas, colocando no desemprego mais de centena e meia de trabalhadores.

 

O que o ministro deveria explicar era o porquê de se ter chegado a uma situação, que no dizer do responsáveis do Grupo BATA, se tornou insustentável continuar em Portugal, porque, dizem, «o clima económico no país, tornou-se extremamente difícil, deteriorando a confiança dos consumidores bem como o seu poder de compra».

 

O país não precisa de um ministro que se regozija (e faz notícia) com um investimento de 17 milhões, mas que não tem resposta para contrariar o crescimento do desemprego, facto que o surpreende, por não ter sido previsto no modelo matemático que utiliza na projecção das variáveis macroeconómicas.

A propósito das eleições gregas

JSC, 18.06.12

 

A Grécia foi a eleições. Anunciam-nos, agora, que se abriu uma “nova era” para a Grécia. É verdade que ganharam os do costume. Contudo, os analistas vêm nisso o começo de uma “nova era”. Os mesmos analistas (são outras as figuras mas o mesmo pensamento) dizem que os mercados ficaram mais tranquilos depois de conhecidos os vencedores na Grécia. Outros anunciam, ainda, que diminuiu o pessimismo dos investidores, razão para que o mercado, afiançam, abra uma janela de credibilidade para a Grécia.


É uma pena que estes analistas não consigam ver que o “mercado” de que falam não existe. Tal como não existem os “investidores” que, segundo eles, andavam amedrontados com o resultado das eleições gregas. Tal como não existirá nenhuma “nova era” para a Grécia.


O que verdadeiramente existe são os ESPECULADORES, que continuarão a fazer o seu caminho, a enriquecer à custa do empobrecimento generalizado dos países que atacam. Pior, continuarão a condicionar cada vez mais as escolhas eleitorais, a nomear governos, a impor programas a governos, que passam a administrar o país seguindo uma lista de tarefas, periodicamente controlada por supervisores externos.


Entretanto, os tais analistas lá continuarão a fingir que não sabem, a cumprir o seu papel de moldadores de opinião, a facilitar a vida aos especuladores (nacionais e estrangeiros), que, muitas vezes, até apresentam como benfeitores porque concedem “ajuda” financeira.


Na verdade, uma “ajuda” estranha uma vez que gera sempre lucros fabulosos a quem a concede, com a agravante de serem pagos por quem nada ou pouco beneficiou com as causas que forçaram a tal “ajuda”.

estes dias que passam 279

d'oliveira, 17.06.12

Futebol e democracia

 

 

 

Não leitoras e leitores, não vou fazer teoria sobre a democracia à pala do futebol. Quero tão só comentar a mania das televisões (a mania e a insistência) em fingir que ligam muito à opinião das claques.

 

Que a equipa portuguesa ganhou limpamente o jogo com a Holanda não há dúvidas. Que se esforçou, que deu tudo por tudo, que não desanimou com o primeiro golo dos adversários, enfim que, por uma vez, mostrou aquelas qualidades que universalmente se nos reconhecem e por conta das quais um bispo intrometido, que não me lembro de ver nos tempos duros, veio criticar uma toliçada do 1º Ministro.

 

Mas não estou aqui para falar da Igreja, mesmo se, por vezes, me surpreenda como é que a última instituição de monarquia absoluta  vem pregar qualquer valor democrático. Acaso os bispos são eleitos? Acaso os fieis têm algo a dizer sobre o governo da Cúria? Acaso os grandes eleitores do Papa prestam contas aos seus rebanhos?

 

Deixemos porém este pequeno problema teológico (eles, os fieis que se amanhem...) e voltemos à desbragada indigência televisiva nacional.

 

A propósito da vitória suada, digna, exaltante, da selecção, eis que, esgotado o recurso aos comentadores (Jesus! Maria! José! Que gentinha!) do costume que serviram o mesmíssimo serviço requentado no português balbuciante do costume, eis que os microfones se põem à caça do povo. Do bom povo.

 

 Do povo que aparece mascarado a rigor em verde e vermelhão, gritando slogans, trauteando pobres cantares à glória da equipa. Desta feita vi na TVI. As senhoras repórteres alucinadas para arranjar uma frase, uma ideia, algo a acrescentar à imensa verborreia entretanto dispensada aos tele-espectadores.

 

O povo, claro, respondeu como sabe. Gritando slogans, agitando bandeiras, aos pinotes. E a jornalista feliz. Será que elas (e eles) ganham por cada burrice que é atirada para a efémera posteridade de um momento de noticiário?

 

E os anúncios? Os apoios à selecção? Vejamos por exemplo os da GALP, empresa lusitana, patriótica e amiga dos que esmifram forte e feio pela gazolina. Para alem de uma rapariga que se declara actriz (ao menos que lhe paguem, coitada, para esquecer a vergonha pelas baboseiras que a fazem soltar) há uma de um rapazola que quase ameaça a selecção. Parece que o júnior quer ser investigador e trabalhar imenso por Portugal e acaba por dizer á selecção que o futuro dele depende das vitórias nacionais.

 

Isto é uma burrice supina, tem um péssimo efeito, e passa a má mensagem. Nós, enquanto país, dependemos de coisas bem mais sérias, mais graves e mais importantes do que um jogo de futebol. É de política que deveríamos falar sem esquecer que o futebol também nos pode alegrar. Mas não é desses noventa minutos esforçados, jogados por profissionais  de alto gabarito que não representam de nenhuma maneira o povo português, os profissionais portugueses, os trabalhadores, os investigadores, os patrões portugueses, que a salvação vem.

 

Ganhar um jogo ajuda. Mas distrai. Alegra mas, a seguir, a realidade, a dura realidade bate á porta.

 

Mas isso deve ser muita areia para as televisões, para as direcções de informação e para  uma comandita que ganha por cada minuto de presença no ecrã o que centenas de milhares de compatriotas nem sequer sonham alguma vez ganhar.

 

Ganhámos, estou contente.

 

A vida continua, continuo preocupado. Angustiado. Mas com uma esperança burra, com a cabeça fria e o coração em alvoroço.

 

 

 

 

 

 

 

Au Bonheur des Dames 322

d'oliveira, 17.06.12

Deus não dorme 2

 

 

Como dizia em texto anterior, nem sempre os eleitores se deixam ir para a urna como carneiros para o matadouro. Ainda bem, abençoados sejam!

Estas eleições têm, para já, quatro resultados retumbantes. Quatro castigos exemplares. 

O senhor Bayrou que se devia considerar uma espécie de proconsul em Pau foi batido. Os "seus" (que topete!) eleitores de facto não perceberram (ou perceberam demasiado bem) o seu voto em Hollande. Pelo seu percurso, pelo seu programa, Bayrou poderia tentar ser uma espécie de ponte entre a Direita e o PS. Era isso que queria para o fantasmático partido a que preside (MoDem). Tudo o aconselhava a maior prudência e nem sequer o PS lhe pedia tanta devoção. 

Sègoléne Royal (presidente da região) foi batida em La Rochele. Estava quase garantido esse resultado. A ideia peregrina de a "paraquedistar" para uma circunscrição julgada segura (é era-o; e é-o) afastando Olivier Falorni, secretário federal do PS e amigo de Hollande de longa data. A vitória de Falorni baseia-se numa forte maioria socialista local que nunca o abandonou e, não há dúvida, numa transferência de vozes da Direita que, inclusive, prejudicaram a candidatura desta. 

A senhora Royal tem claras e pesadas respnsabilidades nesta derrota. Deveria ter sido mais discreta; deveria ter pensado nos militantes locais. Não deveria abandonar a sua anterior circunscrição (onde não sendo amada tinha mais hipóteses de se eleger)  Nunca deveria ter tido a ousadia de se apresentar como candidata ao "perchoir" (Presidência da Assembleia Nacional) quando tudo lhe recomendava um "bas profil". Perde com um resultado tremendo (37% contra 63% de Olivier Falorni. 

O seu discurso de derrota e a entrevista subsequente que oiço são patéticos e mostram que ela não aprendeu nada. Temo que no que toca a estrela do Ps se esteja já a falar de estrela cadente. 

Não me alegra a derrota desta mulher combativa mas, confesso, não me surpreende e não me entristece. Pessoalmente acho que a democracia sai robustecida desta lição.

Mais robustecida sai ainda com a derrota da candidata de Direita (UMP) Nadine Morano uma sarkozista de choque que entendeu pedir os votos da extrema direita. Contra as indicações do partido. É bom que alguém separe as águas que Nadine não separou.

Finalmente Martine Le Pen, filha e herdeira do fundador da Frente Nacional perde na circunscrição em que Mélenchon (frente de Esquerda) também já partira os dentes.  A derrota desta "pasionaria" da extrema direita é um bom sinal da saúde mental e da vontade popular duma circunscrição onde vivem em boa harmonia milhares de cidadãos que não nasceram em França mas se sentem franceses, apesar da cor de pele, da religião ou da cultura dos seus antepassados.

 

Ah quanto eu não daria por ter em Portugal um sistema destes em que cada um sabe quem é o candidato em que vai votar. Não oculto, neste desabafo, o facto deste sistema demasiado local poder afastar (como afasta) muitos cidadãos do poder. Em boa verdade, a Frente Nacional , terceira força política de França, apenas elege dois candidatos mas também é verdade que os deputados começaram por ser isso mesmo, mensageiros e representantes dos eleitores. E, nesses círculos, os eleitores podem entender-se como muito bem quiserem para obter uma represntação regional que considerem adequada e representativa. 

A democracia tem destas coisas, as mais das vezes gratificantes. Deus, de facto, não dorme. Assim seja e assim continue a ser. 

As eleições no PS/Porto

José Carlos Pereira, 17.06.12

Decorreram este fim-de-semana as eleições para as federações distritais do PS e, no Porto, o presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, derrotou por uma margem de cerca de 2.000 votos o autarca de Matosinhos, Guilherme Pinto. Uma grande vitória de Carneiro, que só não levou a melhor nas concelhias de Porto, Gaia, Santo Tirso e Paredes.

Conheço bem José Luís Carneiro e posso testemunhar as suas convicções no sentido da renovação do partido, da sua abertura à sociedade civil e ao contributo dos cidadãos sem filiação partidária. Na noite de ontem, Carneiro veio já defender causas fundamentais que têm motivado a região Norte, fez a defesa da escola pública e do Serviço Nacional de Saúde, mostrou-se empenhado na luta contra a pobreza e apelou ao Governo para avançar com um plano de emprego para a Área Metropolitana do Porto e para financiar a agenda para a empregabilidade no Vale do Sousa e Baixo Tâmega. José Luís Carneiro mostra que as suas prioridades vão de encontro aos temas que mais preocupam as pessoas neste momento e estou certo que o facto de ser oriundo do interior do distrito permitirá que o principal partido da oposição olhe de outra forma para esses municípios.

As eleições da Distrital do PS/Porto - sem líder há mais de um ano! - foram muito marcadas pelo suposta maior ou menor proximidade face à liderança de António José Seguro e ainda pelos resquícios dos alinhamentos nas anteriores eleições locais e nacionais. Assim se explica que alguns dos apoiantes de José Luís Carneiro nas eleições em que perdeu, há dois anos, a corrida à distrital para Renato Sampaio estivessem agora do lado de Guilherme Pinto, emboram todos saibam que as tricas pessoais sempre tiveram um exagerado destaque no PS/Porto.

Tive oportunidade de ouvir da boca de Guilherme Pinto algumas ideias interessantes - a necessidade de as principais instituições do Norte se unirem de modo a recuperar alguma da influência perdida e a criação de uma associação mutualista de apoio às empresas exportadoras, por exemplo - que podem ser retomadas pela liderança de José Luís Carneiro.

Ao autarca de Baião fica agora o desafio de ser capaz de constituir uma equipa forte e de reunir o contributo de personalidades que possam ajudar o PS/Porto a um ano das eleições autárquicas, nas quais se exige uma combatividade e uma mobilização extraordinárias. Nessa altura, recorde-se, o Governo PSD/CDS estará a meio do mandato e a renovação obrigatória de boa parte dos presidentes de Câmara abrirá janelas de oportunidade para a conquista de novas vitórias na Área Metropolitana do Porto e no interior do distrito.

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