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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam 280

d'oliveira, 03.07.12

A universidade milagreira

 

 

 

Em terras da Senhora de Fátima e da “santinha” da Ladeira, eis que vem a público o extraordinário percurso académico do licenciado Miguel Relvas que, ao que consta frequentou durante um ano a Universidade Lusófona e graças a um curriculum externo  (deputado e outras balivérnias do mesmo  teor, sem esquecer funções no seu próprio Partido) fez nesse curto espaço de tempo o que outros fazem em três ou quatro.

 

Depois do curioso percurso académico do “engenheiro” (entre aspas) José Sócrates eis que, do outro lado da ténue barricada que separa os dois irmãos siameses do centrão, surge mais uma bizarria académica.

 

Ainda não estamos ao nível da Hungria e da Roménia onde ministros (primeiros, segundos ou terceiros, tanto faz) são condenados por falsificarem teses de doutoramento, que gloriosamente foram plagiadas.

 

(diga-se, desde já que nem a austera e severa Alemanha  escapa a esta nova praga de caça aos diplomas de prestígio. Ainda há pouco um dos seus mais brilhantes e conhecidos ministros, nobre dos quatro costados, viu-se obrigado a reconhecer falcatrua idêntica e a demitir-se. A criatura que até usava o distintíssimo “zu” no nome, é agora apontada a dedo pela comunidade académica e mesmo pelos que chumbaram logo na “Abitur”)

 

Eu tenho alguma dificuldade em falar das universidades ditas privadas. Do pouco que contactei, fiquei com uma imagem pouco exaltante do ensino que ministram, ou de algum do ensino que ministram. Mas Portugal é um paraíso para esse género de instituições que se multiplicam como coelhos por essa geografia fora.

 

Já nem falo dos cursos que são milhentos e genericamente inúteis para os efeitos previstos por quem os demanda. No caso específico do Direito, então nem se fala. Mas outros cursos na área das Ciências Politicas e Humanas são igualmente fonte das mais esperadas dúvidas.

 

Nisto tudo, o que dói é a frustração de milhares de jovens e respectivas famílias que acreditaram na poção mágica do título universitário. Curiosamente, os advogados “ex-oficio” das vítimas, os amigos dos “indignados”, dos revoltados e dos enganados ainda não vieram a terreiro pedir uma dura sindicância à feira da ladra de diplomas.

 

Voltemos, porém, a Relvas, esse excesso político, esse homme a tout faire, esse stakanovista do facto político, essa fórmula milagreira do desenrascanso no tratamento da comunicação social.

 

Para que raios quer a criatura uma licenciatura? Gosta que lhe chamem doutor? Em Relações Internacionais? E isso serve para quê? Acaso desconhece que esta coisa das doutorices que se levam a sério são genericamente as antigas, a Medicina, as Letras, as Ciências Exactas, o Direito e a Economia. E as Engenharia e Arquitectura.  A malta de Belas Artes prefere o “Mestre” e isso, aliás, só quando a idade pesa.

 

Nada tenho contra os novos cursos, bem pelo contrário.  Psicólogos, antropólogos ou sociólogos são gente altamente estimável e útil. O problema é outro. Escasseiam as saídas profissionais e por cá ainda não se percebeu que o curso de per si pouco ou nada garante quanto à obtenção de uma profissão interessante e adequada á área de estudos escolhida. Cá ou em qualquer outra parte.

 

Relvas, esse tem a política onde goza da fama de fazedor de líderes políticos. E de meter a pata na poça de quando em quando. À falta de um curso para elefantes em loja de louça lá terá optado por essas vagas relações internacionais. E para não ter ralações lá fez o curso em velocidade supersónica. Não foi o único. Não será o último e pelo menos não teve de copiar uma qualquer tese de doutoramento. Um ano curto bastou-lhe. E a exaltante carreira política no palco e nos bastidores da sorumbática política nacional.

 

Um herói do nosso tempo.