estes dias que passam 287
Febeapa à portuguesa
Foi o saudoso Stalislau Ponte Preta (aliás Sérgio Porto) que, em épocas difíceis, para a maioria de nós quase inimagináveis, inaugurou o termo. Corriam os anos sessenta e no Brasil vigorava uma ditadura militar que se caracterizava por ser mais burra e mais ignorante do que normalmente já se esperaria da gente de armas. Stanislau cognominou o diário espectáculo da política brasileira de “Festival de Besteira que Assola o País”. E vá de cascar na soldadesca inculta ...
Ora por cá, a burrice impera e em alto grau. Ou então nem burrice é mas mera ignorância. Crassa, mais densa que o chumbo, viscosa e de mau gosto.
Hoje lá teremos de ir buscar a pobre senhora que faz de Ministra da Justiça, uma licenciada em direito por uma tal Universidade Livre que, ao que parece, pereceu de morte macaca ao fim de cinco anos de funcionamento. Foi a DGES (Direcção Geral do ensino Superior) que lhe passou a certidão de óbito pelas causas que se conhecem.
Apesar de tudo, que é muito, a vaga generosidade que anima qualquer um não pode sem mais pedir a uma universidade encerrada pelas autoridades responsabilidades pelos seus ex-alunos. Mas que apetece pensar que de mau molde sai peça defeituosa, ai isso é que nem ginjas!
A senhora drª Cruz, hoje com uns briosos cinquenta e tal aninhos, foi sendo notícia nos meios políticos pela sua intensa actividade partidária. Não era a Pasionária, longe disso (que para tal e desde logo lhe faltava qualquer espécie de talento oratório) nem sequer uma émula da drª Beleza (que só cita por pertencer ao mesmo partido) ou de boa parte das senhoras actuais e ex deputadas (que usam parcamente a voz e intervenção pública), nem nunca alguém ficou abismado com alguma proposta dela, no Parlamento ou fora dele.
Foi por isso com surpresa que o país a viu alçada ao cargo ministerial que hoje ocupa. Surpresa e resignação. De todo o modo, nem num conjunto tão pardo, tão pouco entusiasmante, ela não sobressaía.
E um ano e tal passado continua a não sobressair. Ou melhor, sabe-se da sua querela eterna com uma alma gémea encarniçada com quem vem travando uma desgastante e nada exaltante guerrilha de palavras. Assunto meramente fecal que não vale a pena referir mais. Aqueles dois são farinha do mesmo saco e que se comam um ao outro é questão que não interessa sequer às comadres do solheiro.
E voltemos à criatura vagamente loira, vagamente de cabelos escorridos e compridos, vagamente vociferante, que por aí anda a fazer de ministra não se sabe bem de quê. Da Justiça, aliás. Da Justiça que felizmente (para ela, justiça) é cega e, se calhar, surda e muda. Ou tornada surda e emudecida...
Ocorre que uns indivíduos (que felizmente não são das minhas relações –a alguma vez havia de ter sorte mesmo negativa) e que se deram ao duro labor de ministrear as “obras públicas” (ou talvez as privadas de alguém) no anterior Governo, estão a ser investigados pela policia. “Tarde mas ainda a tempo”, suspirou o país inteiro que não consegue perceber o milagre da multiplicação de encargos para o Estado e a grossa prebenda para os privados construtores.
Perguntada pelos jornalistas, a senhora drª Cruz nem hesitou: bradou com destemperado esganiçamento que o recreio tinha acabado; que cessara a impunidade e outras pérolas do mesmo arrojado e duvidoso gosto.
Claro que a pobre criatura ao ver um microfone à sua frente, se excedeu. De facto poderia ter dito que não era à MJ que competia Comentar inquéritos e buscas a anteriores governantes; poderia até dizer que a Justiça funciona e não olha à qualidade, classe ou importância do cidadão postto em causa pelo regular desempenho das actuações policiais; enfim poderia com candura e distância ter dito as mesmíssimas coisas que disso sem daí sair beliscão para a sua isenção ou condenação para quem nem sequer acusado está. Isto é o que faria qualquer pessoa dotada de vulgar bom senso. Um jurista (mesmo vinda tal universidade fenecida e livre) tem mais responsabilidades e deve usar de alguma cautela no que diz e como o diz. Um cidadão, jurista, político e ministro então deve redobrar de esforços e, se possível, usar um português bem pensado, bem elaborado e não deixar rabos de palha. E não prejudicar o Governo (mesmo esta caricatura de Governo) de que faz parte.
Hoje, no café (a esplanada fecha aos domingos...) à hora de maior afluência, alguém, alto e bom som, declarava que a pobre senhora está na menopausa e que isso lhe afecta as faculdades discursivas e reflexivas. A tese é de um insuportável machismo (burrices idênticas tem sido largadas pelo cavalheiro Borges ou por Relvas sem esquecer o chefe de governo) e no meio de umas dezenas de paroquianos que vinham da missa poderia cair mal. E digo poderia porque, ao contrario do que seria esperado, não houve uma voz, um gesto, nada. Quem ouviu, sorriu, assentiu e comentou na sua mesa mas em tom bem menos tonitruante a frase patriota que escarnecia da drª Cruz. Confesso que se por um lado não me agradou, por outro não fiquei comovido. Quem na praça diz asneiras em casa é criticado. Ou no café.
A drª cruz tem na gaveta, fechadas a sete chaves umas reformas que ela anunciou com pompa e circunstância. Algumas são tão absurdas que a prisão domiciliária a que estão submetidas é mais que salutar (refiro-me à ideia de reduzir a pobre pátria escaqueirada pelos de antes e por estes a 30 mega comarcas que, todos reconhecem, é solução ainda mais cara, mais injusta e e menos eficaz do que a actual situação. Sobretudo, só para 4exemplo, por esta coisa de somenos. Aumentar a distancia dos cidadãos aos tribunais só seria possível se vigorasse nessas terras esquecidas um qualquer sistema útil, barato e eficaz de transportes. Todavia, todos sabemos que a CP já só opera em menos de metade da antiga rede e que as companhias privadas de transporte público há muito que abandonaram regiões inteiras dada a concorrência do automóvel privado. Resultado: os pobres que se ponham a toques e preparem alguma forte dinheirama para táxis (se os houver) no caso de quererem ir a tribunal defender algum legítimo direito. E os remediados se ainda existirem, idem, aspas, aspas.
Entretanto, a drª Cruz e doutor e Pinto lá continuam na sua azougada troca de piropos. Aquilo ainda acaba em namoro firme. E que bonito par fariam...