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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

É mau demais!

JSC, 16.11.12

Um sr. do PSD, primeiro, depois um do CDS/PP apareceram a relatar como foi morosa e difícil a tarefa de convencer o ministro das finanças a aceitar alguns ajustes no Orçamento para 2013. Aqueles dois senhores vangloriaram-se do sucesso conseguido e tentaram mostrar como “o melhor povo do mundo” vai beneficiar com o acordo que obtiveram do sr. ministro das finanças.

 

Quem não acompanhar estas coisas ainda fica a pensar que o sr. ministro das finanças não integra o governo PSD/CDS/PP ou, então, pensará que estes partidos são da oposição ao governo, exactamente ao governo  que o sr. ministro das finanças lidera.

 

É incrível o que esta gente é capaz de engendrar para endrominar o povo.  E fazem-no com o maior dos desplantes.

Frases Que Ficam

JSC, 16.11.12

O Orçamento do Estado para 2013 é, do ponto de vista fiscal, o precipício em que vão morrer milhões de contribuintes. Por isso, só há uma maneira de parar esta carnificina: é não aprovando o OE/2013. Porque depois da sua aprovação, não haverá recuo e a mortandade de empresas e contribuintes será uma realidade, que tornará o país por longos anos num cemitério da esperança de qualquer vida digna neste retângulo à beira-mar plantado.

Nicolau Santos, Expresso, 16 de novembro de 2012



o leitor (im)penitente 73

d'oliveira, 16.11.12

 

Duas vezes na mesma semana!

 

Nem sempre o “Público” (declaração de interesses: é o meu jornal desde o número 1) merece que o tratemos bem. Defeitos, e muitos, como qualquer um de nós, tem-nos e não são poucos nem raros. Mas, nestes 23 anos, conseguiu, apesar de tudo, ser o melhor, o mais livre, e o menos parcial de quantos andam por aí.

Esta semana, melhor dito, ontem e hoje, excedeu-se. Inseriu dois pequenos cadernos dedicados a dois desaparecidos escritores. Ontem (15 de Novembro) foi Eduardo Prado Coelho e hoje (16) é Manuel António Pina num destacável do suplemento “ípsilon”.

Leitores e amigos, se é que ainda os tenho por aqui: corram ao quiosque e comprem estes dois exemplares. Mesmo se os jornais são, no dia seguinte, mera embalagem “para peixe” (MAP dixit), nestas páginas faz-se um bocadinho de história literária e, daqui a anos, alguém nas vossas casas, descobrirá, encantado/a, estas folhinhas carinhosamente guardadas.

E verificará surpreendido que o cuidadoso guardador desses papeis amarelecidos era, sem o saber, um coleccionador de “ephemera”, coisa fina como agora alguém subitamente descobriu.

Eu que, desde que me lembro, recortei jornais (e que num incêndio estúpido, perdi vinte e tal anos de histórias incríveis) aconselho mesmo para estes recortes uma camisa dessas que se vendem ao cento em qualquer papelaria: bom plástico, bom tamanho ( A4) e protege mesmo o papel frágil do jornal.

E nos dois caderninhos perpassam gatos...... 

 

*na gravura: as gatas Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman, muito cá de casa, meditam no futuro do mundo

Au bonheur des dames 335

d'oliveira, 15.11.12

Eduardo Prado Coelho

 

 

 

Tinha decidido (e prometido à Maria Manuel) ir até à Gulbenkian nestes dois dias de homenagem e recordação do Eduardo. Razões ponderosas obrigaram-me a ficar por aqui, no Porto. Se, por um lado lamento perder este encontro de amigos de um amigo meu, por outro talvez prefira esta distância. Detesto comover-me em público.

 

Conheci o Eduardo nos anos setenta, penso que ainda antes do 25 de Abril. Foi na Figueira, num pequeno festival de cinema independente que durou  uns bons anos. Anos em que nos voltávamos a encontrar e a conversar longamente. E a discutir, já agora. Faço parte do grupo de pessoas a quem, de quando em quando, o Eduardo exasperava. E exasperava por que, tão leitores dele éramos, que queríamos sempre um acordo total com o que pensávamos. Ora o EPC era um matreiro de primeira e dava tudo por, volta que não volta, causar uma surpresa, lançar um desafio, remar contra a corrente que ajudara a criar, enfim "desinstalar-se"… E, leitor de mesa de café (e ele bem que referia isso, numa crónica em boa hora ressuscitada pelo "Público") ficava irritado quando ele saía do carreiro e me obrigava a pensar. E a discordar. 

 

Claro que no dia seguinte, lá estava eu, de novo, à mesma mesa, repegando na conversa de sempre, lendo-o, rindo, meditando, comovendo-me, aplaudindo ou rosnando umas ameaças inocentes. 

 

Algumas vezes, poucas, lamento-o agora, trocámos uns bilhetes, alguma picardia em jornais onde ocasionalmente escrevi, como foi o caso do finado "O Jornal". À pala desse, ainda lhe tive de oferecer um almocinho no também desaparecido "Montecarlo". De facto, acabava de me sentar disposto a comer um famoso caril que lá se servia e eis que oiço a inconfundível voz dele "com que então agora andas a citar-me?" e, zás!, já só o vi sentado à minha frente, descarregando um fardo de livros e revistas na cadeira ao lado. Achei melhor pagar os direitos de autor que lhe eram devidos convidando-o a partilhar o caril mas o finório escapuliu-se para outro prato. E eu, que pensava demorar-me meia hora, um pouco mais, estive, se bem recordo, mais de duas horas e quatro cafés à conversa. Nesse dia, recordo que trespassámos com garfo e faca meia dúzia de bonzos nacionais e estrangeiros a que, descobrimos numa gargalhada cúmplice, tínhamos uma osga antiga e profunda. 

 

Confesso que, se já gostava dele, nesse dia aumentei fortemente a minha simpatia. É que partilhar gostos e ideias pode ser estimulante mas não chega à descoberta de antipatias comuns.E nesse dia glorioso e sangrento bem que nos demos ao cuidado de bordar a ponto cruz um par de criaturas detestáveis (ai que saudades, agora, que tanto poderíamos dizer-nos!…)

 

A última vez que estivemos juntos, foi cá, em casa, enquanto a Maria Manuel se entregava a uma dificultosa e demorada sessão de cabeleireiro e afins. 

 

Nessa manhã, refastelado num maple, o Eduardo contou-me uma parte da sua biografia amorosa e juro-o, aquilo, atempadamente gravado, dava um romance hilariante. A mordacidade, a ironia, alguma comovente singeleza, outro tanto de ingenuidade valiam o seu peso em oiro. Eu já não sabia como havia de parar de rir, de admirar o discurso e quase nem fazia perguntas. E ele desfiando uma história fluida com uma frieza temperada pro umas piscadelas de olho, que o patife saboreava o seu triunfo de contador perante o ouvinte fascinado. 

 

Meses depois, poucos, morria. Na praia, depois de vencer tantas dificuldades, de obter um fígado novo, de imaginar uns anos tranquilos. 

 

Cinco anos, já. E continua a fazer falta...

 

* Há retratos bem melhores do Eduardo. Mas este é, eventualmente, o último e revela um pouco os tempos difíceis a que ele parecia ter sobrevivido

Portugal e os outros

José Carlos Pereira, 14.11.12

O "Expresso" desta semana publicava uma curiosa comparação, em diversas áreas, entre Portugal e países de dimensão semelhante como a Áustria, a Bélgica, a Finlândia, a Grécia, a Irlanda e a República Checa. Resultam daí alguns indicadores que nos devem fazer pensar numa altura em que se fala tanto na reforma das funções básicas do Estado.

Na saúde, por exemplo, Portugal apresenta o terceiro valor mais alto em número de médicos (383 médicos por cem mil habitantes), mas é o penúltimo em número de consultas por médico (1.097 consultas por médico contra 3.146 consultas por médico na República Checa).

Também na justiça encontramos números inquietantes, mesmo que não sejam propriamente uma surpresa. Portugal tem o maior número de polícias e de procuradores e o segundo maior número de juízes. Contudo, enquanto na Grécia são precisos 190 dias para a resolução de processos na primeira instância, na Finlândia são necessários 259 dias e em Portugal bastam...417 dias.

A produtividade dos nossos sistemas de saúde e de justiça, que se pode avaliar por muitos outros indicadores, é um bom retrato do Estado que construímos.

Dão-nos como destino: um país de pobres e velhos entregues à caridade

JSC, 13.11.12

Isto bem pode ser uma obsessão. Ver coisas feias onde outros conseguem ver coisas bonitas. Também pode ser do tempo. Não o tempo que faz, antes o outro. O que mói e recalcitra. A uns mantém-nos, assim, casmurros, a olhar o amanhã pelo mesmo filtro. A outros, acrescenta-lhe novas qualidades, permitindo-lhes ver o “novo” no velho.

 

Vem isto a propósito dos factos e números que nos últimos dias nos tem sido dado observar.

 

Começamos por um dia marcado pela presença de uma Angela em Portugal, dia em que também ficamos a saber que Duarte Lima desencantou uma outra Rosângela. No mesmo domínio, também nos disseram que, finalmente, Vale Azevedo acabou por ser detido e já está a contas com a justiça.

 

Dia em que também ficamos a saber que nos primeiros dez meses deste ano a DECO recebeu o maior número de sempre de pedidos de ajuda de sobre-endividados, num total de 4.525, representando um aumento de 25% face ao período homólogo anterior.

 

Só por uma estanha má vontade é que se consegue ver alguma ligação entre a notícia da DECO e os factos anteriores. Do mesmo modo que estas notícias nada tem a ver com estoutra, que nos diz que dezenas de sacos de pão deixados às portas de cafés e restaurantes são roubados diariamente na Guarda.

 

Reconfortante é saber que a taxa de desemprego em Portugal caiu para os 15,7%. O senão desta notícia é que os números da emigração em Portugal, no ano passado, aproximam-se dos picos registados nas década de 60 e 70 do século passado. O Diário de Noticias revela que em 2011 saíram do país, para trabalhar, 150 mil portugueses.  

 

 Para o mal ser maior, com consequências bem mais gravosas que as registadas nos anos sessenta, à fuga das pessoas soma-se um número de nascimentos que não consegue repor o crescimento demográfico. Este ano a taxa de natalidade deverá cair cerca de 20%.

 

E o que vem a seguir? Bem, o Banco de Portugal acaba de deitar por terra todas as previsões macroeconómicas do Governo. O ano de 2013 vai ser ainda muito pior do que o Governo vem anunciando. O Banco de Portugal reviu as suas projeções para o crescimento económico do próximo ano e antecipa uma recessão na ordem dos 1,6%, contrariando a projeção do Governo que prevê uma queda de 1%.

 

No final de 2013 teremos uma recessão que será, pelo menos, o dobro do que o Governo nos diz que vai ser. O resultado será mais falências, mais desemprego, mais fome. Tudo se conjuga para que os benfeitores, cujo expoente máximo é a Sr.ª Jonet, tenham cada vez mais pobres e velhos para cuidar. Não será pela inação do Governo que deixarão de ter matéria prima para praticar caridade.

Au Bonheur des Dames 335

d'oliveira, 13.11.12

 

 

E, afinal, o que veio a gnadige Frau cá fazer?

 

Haja quem me responda, por Odin e demais gente do Valhala!  Ou pelos Nibelungos e pelas ruivas barbas do rei Frederico!

O Professor Freitas do Amaral, novel bardo da indignação democrática (ele que andava tão mudo nos tempos do Professor Marcello Caetano…) afirma peremptório que a senhora veio inspeccionar os indígenas para melhor se reeleger na Alemanha. Convenhamos que o argumento é pobre sobretudo vindo de uma cabeça (Kopf) tão brilhante.  Que se saiba, a lusitanagem não vota nas eleições federais e os votantes pouco ou nada se incomodarão com a nossa boa ou má opinião sobre Merkel. Aliás, a senhora goza neste momento de uma percentagem favorável na ordem dos 46% o que, queira-se ou não, deve chegar para ganhar sem grande canseira.

O sr. Professor Amaral acrescenta ainda outra afirmação: que, ao reafirmar as posições de sempre, a angelical chanceler cometeu uma gaffe tremenda pois só o deveria ter feito depois de conversar com outro Professor, desta feita Cavaco Silva! Ou seja, Freitas do Amaral preferia que a senhora mudasse de opinião (eu também) ou então que entrasse ainda mais muda do que entrou, coisa que relevaria do verdadeiro milagre de Fátima mesmo em território luterano.

Voltando à vaca fria (ou seja, ao nosso assunto, não vá alguém pensar que eu estaria a referir-me a alguma pessoa viva…) que veio Merkel cá fazer?

Jogar aos quatro cantinhos?

Apreciar o belo sol outonal e o mar imenso de que, faltava mais esta!, partiram os nossos heróicos avós (que por sinal foram mas é sacar o mais que podiam aos povos inermes que encontraram) como Merkel, num repente de sinceridade política, referiu?

Terá vindo alugar uma casinha de férias para quando sair do poder e puder, enfim, tomar um inocente banho de sol e comer umas sardinhas assadas com pimentos?

Se assim for, ainda bem que os alemães pagam a pronto e generosamente! Mesmo correndo o risco medonho de ao cruzar uma praia sossegada nos aparecer Frau Merkel de biquíni. Se não morremos da austeridade, seguramente morreremos daquela fartura de carnes nórdicas expostas ao olhar buliçoso e gingão dos lusitanos!

À inanidade da visita de seis horas, correspondeu a pouquidão dos protestos. uns centos de pessoas aqui, outro tanto ali, uns paninhos pretos nos monumentos (originalidade de que eu já não ouvia falar desde os protestos contra o ultimatum inglês em que a indignação lusitana se traduziu em cobrir de crepes a estátua de Camões e suscitar a criação de "A portuguesa" "contra os bretões marchar, marchar". Parece que também se lançou uma subscrição pública para adquirir um navio de guerra bom que vingasse as afrontas britânicas. Ao que sei, a coisa ficou em águas de bacalhau: a indignação patriótica não foi proporcional à generosidade em abrir os cordões à bolsa. Feitios!), um par de graffiti de gosto duvidoso e umas inscrições  "Merkel raus!" a que não faltou um jocoso "e leva o Passos contigo". Em suma: "tout va bien madame la marquise". E a constatação que somos um país de brandos costumes.

Não que eu queira que alguém se imole pelo fogo (a exemplo do que se tem passado na China onde já vai em cinco o numero de monges tibetanos contestatários e falecidos) ou que algum dos raros intervenientes na cómica  conferência de imprensa lhe atirasse com um sapato. Nada! Nada disso! E muiuto menos que apareça desvairado e de pistolão um moderno Buiça a foguear a alemã!

Mas, tendo em vista a temerosa onda de fundo anunciada na net e o número avassalador de indignados que se previa, esperava um bocadinho mais e não esta pacífica versão nacional do mons parturiens.

Decididamente já nada é como era... 

 

(a gravura diz tudo: legenda e foram felizes para todo o sempre)

O exemplo capital

JSC, 13.11.12

 

Já por aqui escrevi que um dos grandes temas das próximas eleições autárquicas deveria ser em volta do modelo de financiamento dos Municípios, o que implicaria discutir as propostas fiscais e de preços que as diferentes forças políticas têm para o Município a que concorrem.

 

O Município de Lisboa acaba de mostrar o significativo poder fiscal que os Municípios já dispõem e como podem colocar esse poder ao serviço das respectivas populações.

estes dias que passam 289

d'oliveira, 11.11.12

 

 

Lá vamos cantando e rindo

 

Um anúncio televisivo que corre há semanas ou meses, apresenta um cavalheiro que se identifica por João e médico. A criatura tem um abencerragem que, sempre na ficção do anúncio, acaba de ser admitido na universidade. Para premiar esta heróica acção escolar do filho, o papá oferece-lhe um popó!

A pronto? Qual quê! A prestações que uma entidade (cujo nome omito por não só não querer publicitá-la mas também por enojada surpresa) imediatamente aprova propondo-lhe um plano de pagamento. A coisa, aberrante nos tempos que correm, acaba com o mais velho assegurando com uma imbecil beatitude que “cá em casa também se sabe economia”...

Não vou tomar um parvoejada publicitária pelo país mas se ela existe e se corre pelas televisões, que não oferecem os seus medíocres serviços gratuitamente, é porque encontra eco e adesão. Essas instituições financeiras podem ser sanguessugas mas parvas não são. O dinheirinho que gastam em publicidade vai voltar em dobrado em negócios, no caso em juros pelos empréstimos que diligentemente propõem a um rapazinho que acaba de entrar na universidade. Coitado! O peso das responsabilidades académicas deve impedi-lo de usar os transportes públicos, mesmo se estes sejam como são... ineficientes e muito atreitos a greves...

Não quero tomar a nuvem por Juno e, muito menos, entender a paternal oferta como usual  entre nós. Mas, como no problema da existência das bruxas, “que las hay, las hay...” 

 

(a gravura -excelente! - foi pilhada ao blog in-provável