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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Desacordo ortográfico

José Carlos Pereira, 31.12.12

Portugal, como sempre em tudo o que é novo, foi muito pressuroso na entrada em vigor do Acordo Ortográfico (AO), que foi apresentado como o alfa e o ómega para a afirmação da língua portuguesa entre as mais faladas em todo o mundo. De pouco valeram as vozes autorizadas que se levantaram contra o AO, vincando as suas debilidades e as fragilidades do processo que conduziu à sua aprovação.

Não sou linguista, mas também eu tenho resistido à aplicação do AO, pois pareceu-me desde o início que pouco ou nada ganhávamos com ele, que a aproximação da ortografia à oralidade não enriquecia a língua e que as reservas manifestadas pelos países de expressão portuguesa que ainda não adoptaram o AO, fazendo-lhe, pelo contrário, críticas violentas, aconselhavam a algumas cautelas.

O AO foi adoptado entre nós e os seus defensores alegavam, sobretudo, que era necessário tirar partido do potencial existente no Brasil e dos muitos milhões de falantes da língua portuguesa naquele país. Pois bem, agora foi o próprio Governo brasileiro a decidir o adiamento, por mais três anos, da aplicação obrigatória do AO, para 1 de Janeiro de 2016.

Depois das reservas sempre reveladas em Moçambique e em Angola, o Governo brasileiro não fez orelhas moucas às críticas de linguistas e académicos e decidiu adiar a aplicação do AO, colocando mesmo em cima da mesa a possibilidade de levar por diante uma reforma do actual Acordo Ortográfico.

Mais uma vez, quisemos colocar a carroça à frente dos bois e sujeitamo-nos agora a ter de aceitar uma revisão imposta pelos linguistas de outros países, quando nunca aceitámos as críticas oriundas do nosso meio académico. Enfim, nada de novo...

 

 

Au Bonheur des Dames 338

d'oliveira, 21.12.12

 

 

 

 

 

 

Ora bolas!

 

 

 

Não, assim não|! O mundo, este imprestável “vale de lágrimas em que gememos e choramos”, se é que recordo bem o “salve Rainha” da minha estouvada e distante infância em que uma bondosa catequista tentou inculcar-me a doutrina cristã e, de passada, salvar-me a imprestável alma que, mesmo sem ser gentil, há-de partir mais dia menos dia, para a zona de sombra, o mundo, dizia eu, afinal não acabou.

 

Ou acabou e nem demos conta. Hoje de manhã, no excelente alfarrabista Campos Trindade (à rua do Alecrim, olhem que vale a pena) ainda tentei convencer um dos livreiros a fazer-me um desconto especial sobre uma molhada de livros. Respondeu-me que já me deduzira 10% e que nem na quaadra natalícia se faz mais!

 

E troçou grosseiramente do fim do mundo, dos maias, dos adivinhos em geral, dos profetas e sei lá de mais quem. Juntei-me a ele carregando sobre os astrólogos, as madames que nos escrevem os signos semanais prometendo um monte de coisas que nunca acontecem. Imaginem que há bem poucas semanas alguém me vaticinava um encontro “escaldante” de que eu sairia triunfante e deixando na outra parte uma recordação imorredoira e um atroz sentimento de frustração pela minha partida para um destino edénico lá para os mares do sul. Passei uma semana atormentada mas fora as gatas, a CG mal-humorada, a rapariga gorda do quiosque e quatro senhoras viúvas de venerável idade que tomam café na mesma esplanada, nada, rigorosamente nada ocorreu.

 

Mas regressemos ao fim do mundo e ao tunante do Nostradamus, outro que tal que até mereceu uma série inteira no canal “história”, na televisão por cabo.

 

Então nem o fim do mundo, porra? Bem pelo contrário, o dia estava glorioso, sol forte e quente “glorious sun a relembrar o “winter of our discontent” dos inícios do Ricardo III .

 

Ao que sei esta é a 185ª vez que se anuncia em boa e devida forma o fim do mundo. A malta excita-se, peca furiosamente nas semanas anteriores, gasta o que tem e o que não tem (não me estou a referir aos dez primeiros anos do século, era o que faltava, aquilo não foi gasto, foi investimento ou, como dizia uma patética ex-ministra da educação, aquilo foi a festa das escolas, da arquitectura e dela, claro. E do esbanjamento! E da burrice supina e obscena que permitiu que se fizessem escolas “lindas de morrer”, todas envidraçadas onde hoje, se houvesse aulas, as crianças estorricariam de calor, por falta de verba para o ar condicionado...), endivida-se até ao tutano e depois o fim do mundo tem falta de comparência!

 

Portanto, de fim do mundo, népia! Zero vírgula zero.

 

Vá lá que tivemos o fim (?) da novela TAP. A honra nacional está salva e temos outra vez uma “companhia de bandeira”. Temos isso e uma dívida brutal da mesmíssima companhia. Alguém vai ter de entrar com a massa, agora que o Efremovitch está fora da carroça.

 

Aqui para nós isto vai ser um sarilho dos gordos. Que eu saiba, a TAP só andou bem enquanto teve o monopólio das linhas coloniais e não havia “low cost”. Sem esse monopólio, com a concorrência das pequenas companhias e tendo que jogar na divisão dos grandes, a TAP parece um caso perdido. Sobretudo porque a legislação comunitária não permite que o Governo subsidie aquele emplastro. Ou seja, sem o cacau governamental, aliás nosso, a TAP mete água. Parece que mesmo assim, eu já ouvi um comentador a dizê-lo, há quem diga “que se lixe a lei comunitária”. A bandeira das quinas tem de estar presente nos céus de todo o mundo. E quem paga? Pois paga o Zé! Paga a festa das escolas, as auto-estradas, o aeroporto, o TVG, os aviões, os submarinos, a soldadesca, e a honra nacional. O Zé Povinho é agora, foi sempre, o Zé Pagante, o paganini de todos os desmandos, de todas as sacanices, de todas as vilezas, de todos os arranjos e arranjinhos de que um qualquer legislador se recorde. O Zé que não tem dinheiro para mandar meter uns fundilhos novos nas calças até paga os carros luxuosos de todos os senhores juízes de um certo Tribunal superior que vai estar muito na berra. Suas meritíssimas excelências têm direito a carro para todo o serviço (e a gazolina e manutenção). Parece que fica mais barato dar-lhes o pópó do que pagar uma dúzia de motoristas para ir buscar e trazer os meritórios julgadores. Ora toma!

 

Mas agora, com o fim do mundo, talvez tenham desistido dessas e doutras originais mordomias, superiores, acrescente-se, às dos outros juízes dos restantes tribunais superiores.

 

Mas deixemos estas bizarrias nacionais e voltemos ao mundo que (não) acabou: estartemos todos transformados em amáveis ectoplasmas que desconhecem que algo mudou para tudo ficar na mesma, para parafrasear o Príncipe Salina? Salina dr. Relvas, e não das salinas. Salina, na Itália, dr. Passos, a de Monti semi-defenestrado por um tal berlusconi. Felizmente, mesmo no mundo antigo, o único Monti que recentemente tivemos não passou de um sonho aberrante de três políticos em fim de carreira. Até mais ver, claro. Salina na Sicília que tem uma mafia oficial e com pergaminhos, nada que se compare com este pinhal da Azambuja em que se converteu o torraozinho de açúcar.

 

E por aqui me fico. À falta de fim do mundo, aqui se escreve FIM.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 294

d'oliveira, 19.12.12

Há dias maus e dias piores

Eu não sei se estamos na quadra do Natal ou se, misteriosamente, já se chegou ao Carnaval.

Vejamos: um cavalheiro que frequentou longinquamente uma universidade e que, dizem-me, será ministro, andou em conversas com um candidato, o único candidato, à compra da TAP. “Normal”, pensar-se-ia, “o homem é ministro. E como ministro deve estar ao par do que se passa”. Só que, lembra-me alguém, o cavalheiro não é o ministro da pasta. Nem de perto nem de longe.

Ora esta estranha solicitude do senhor Relvas parece bizarra. A que título anda ele nestas conversações? Não terá ralações que lhe cheguem com as extensas atribuições do seu cargo? O homem é incansável? Que dedicação à “res publica”! A menos que, e não serei eu quem atire a primeira pedra, a sua intervenção no caso TAP, possa parecer ilegítima.  É que `a mulher de César não basta ser honesta, TEM QUE PARECÊ-LO!...

Já por aqui afirmei que o senhor Relvas se deveria conceder a si próprio umas férias, umas longas férias. E mesmo que isso fira o seu zelo patriótico e o seu imperecível amor á pátria e à TAP (de resto uma companhia completamente falida, o que prova, além do mais, que Relvas é sensível à caridade e ao amor pelos mais desfavorecidos), talvez fosse bom lembrar ao senhor Passos Coelho (tirado da cartola...) que as movimentações deste seu colega e amigo levantam algumas dúvidas por aí. E este desgraçado Governo pode precisar de muita coisa (de tudo, aliás...) mas não de dúvidas. Sobretudo, destas.

 

Mas Relvas é ubíquo. Agora é a trapalhada da venda da RTP1. Por mim, nenhum mal virá ao mundo se nos livrarmos daquilo que, de há anos a esta parte, finge ser “serviço público”, como se serviço público fosse ser apenas e mal, pessimamente, “ a voz do seu dono”, o reino do desperdício e da incompetência. Basta olhar para as privadas e para o que fazem para perceber que a RTP1 É um elefante moribundo e errático que apenas precisa de um cemitério. Até a pequena “2” é melhor, mesmo se a sanha canalha do economês lhe tenha retirado um excelente programa como, apesar de tudo, era a “câmara clara”.  Eu percebo que acabem com os programas culturais: não interessam nem ao menino Jesus e põem uns tipos esquisitos a falar de coisas esquisitas. E as sublimes mentes que gerem o empório RTP não percebendo (obviamente) o que para ali se diz, devem achar que aquilo é gastar velas com ruim defunto. E neste momento a chamada “cultura” é um medonho defunto para as luminárias que dirigem a televisão e o país, ou vice versa.

Agora, porém, parece que o candidato à compra da RTP é uma coisa que tem sede num paraíso fiscal, alimentada por dinheiros de que ninguém conhece a proveniência, e cujos donos são absolutamente desconhecidos. A menos que alguém tome por donos os cavalheiros que num qualquer rincão do Panamá gerem igualmente “milhares de empresas” como consta dos jornais.

Claro que no meio desta absurda farsa, falou-se na hipótese de haver angolanos na empresa candidata a compradora. Independentemente de também eu me maravilhar com a rapidez com alguma gente angolana enriqueceu (e nem vale a pena citar nomes porque são já sobejamente conhecidos), o que me espanta foi o relento de colonialismo cansado que aflorou aqui e ali. “São os pretos que nos querem colonizar!” Como se o facto de uns cavalheiros, por sinal levemente amarelados, nos terem comprado a EDP fosse de somenos.  Ou seja, os chineses, mesmo que de alguma verdadeira ou meramente putativa tríade,  estão autorizados a vir cá à pesca de bons negócios mas a “pretalhada” é demais! Até o “El Pais”, jornal que leio desde o primeiro dia, veio chamar a atenção para a ironia da história.

Conviria lembrar que há por aí uns bancos, carregados de dinheiro africano, há uns jornais com donos angolanos, há hotéis e empresas todos eles mantidos de pé com esses petro-dólares , provenientes de um pais onde ainda há gente (muita) sem sapatos, sem roupa e com fome). E sem liberdade! Mas isso passou sob um espesso silêncio que cobriu por inteiro o arco politico representado no Parlamento e não só.

Pela parte que me toca, ficaria igualmente preocupado se as matilhas de Murdoch, aquele cavalheiro que domina os piores e mais lucrativos tablóides do mundo, viessem pela RTP. Não virão: não acreditam naquele cadáver do Lumiar. Como no caso da TAP, e sempre com a sombra omnipresente de Relvas, ninguém parece interessar-se pela “rtp”.

Em tempo: quando é que começou a falar-se da venda da TAP e da RTP?  Creio, e espero estar certo, que não foi este depauperado ajuntamento de ministros que inaugurou esta fase de liquidações apressadas de passivos. Que isso vem já de longe, como a fama do “licor beirão”, mais propriamente do anterior executivo.

Continuando: vender a TAP afecta a soberania nacional? Será que a Suíça é menos livre por já não ter a Swissair?  E o Brasil, novo eldorado, perdeu alguma coisa quando morreu a Panair? E por aí fora.

Fui, em uma boa centena de voos, um relutante passageiro da TAP, mesmo no tempo em que a sigla era pirateada para “transportes atrasados permanentemente”. Viajava na TAP por não ter escolha ou alternativa mais barata. Agora, sempre que tenho essa oportunidade, recorro às companhia low cost e francamente acho que ganhei na troca. E, cereja no bolo, não tenho de me cruzar com o senhor Relvas. Convenhamos que já não é pouco.

Fica sempre bem dizer: - ajudem-se uns aos outros

JSC, 19.12.12

Cavaco Silva, sempre amparado pela mulher, aproveita esta quadra para expressar estados de alma. Segundo o DN, Cavaco Silva "não quer um país em que alguns sejam excluídos”. Porque, diz, “Um país que não inclui todos é um país incompleto”.

 

Cavaco Silva está a falar de quê? Cavaco Silva está a falar para quem? Será que está a falar para a mulher, em jeito de autocrítica? O que fez? O que irá fazer Cavaco Silva para que aquilo de que fala seja mais completo?

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