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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

diário Político 182

mcr, 31.01.13

 

 

 

 

 

O carnaval está próximo!

 

Só o Carnaval explica, se explica, esta lamentável cena quer corre á vista de todos no P.S.

Vejamos: o dr. António Costa andou nas bocas do mundo logo a seguir à defenestração popular de Sócrates. Havia, no partido alguma gente que entendia que Costa era o candidato natural à atribulada sucessão daquele.

Só que a viajem durante quatro anos (pelo menos) no deserto da Oposição parecia ser ( e, entre nós isso ocorre) um martírio mais próprio das onze mil virgens do que de cavalheiros habituados a frequentar os corredores do Poder.

Costa manteve-se pois na Câmara Municipal de Lisboa a agurdar melhores tempos. “À imagem de Sampaio”, disse alguém. E disse mal. Sampaio foi à luta na CML sendo Secretario Geral e provou que a coragem e a coerência valem no mundo opaco da política.

A sucessão foi disputada entre duas segundas figuras (se é que Seguro sequer aí chega) e ganhou quem controlava a maior parte do “aparelho”.

Desde o dia funesto (parao P.S. e para o país) em que Seguro, o “Tó Zé” se alcandorou na Secretaria Geral nada de interessante se passou naquela instituição. Parecia que o famoso silêncio de Seguro pegara de estaca e continuava. A menos que..., de facto, Seguro nada tivesse para dizer. Como, aliás, com forte possibilidade, se suspeita.

Todavia, a desastrada e errática governação do senhor Passos Coelho (outra luminária política no pálido firmamento político nacional) fez crescer a ideia de que não chegaria a bom termo.

O cheiro de eleições é como o perfume da carniça para as hienas. Desperta-lhes não só o apetite mas, sobretudo, a vontade de se sacrificar pelo país. E aí temos costa, subitamente desperto do seu letargo autárquico e disposto a passar o Rubicão.

Dez dias, dez miseráveis dias, é quanto Costa concede a Seguro para, na sua florida facúndia, “unir” o partido. Ou seja, no momento em que se desatam as paixões, as cobiças, o canelão entre pares, eis que do destroço que isso provocará, há-de surgir luminosa e radiante uma nova aurora e uma indiscutível unidade. Isto, não fora o Carnaval, pareceria uma tolice quando, de facto, é uma garotada.

O cheiro a eleições e a uma possível vitória tem força, uma imensa força. Com uma agravante: a tralha socrática andava por aí de monco caído, triste com a ausência do seu condestável que anda pelas francas e araganças de auditor livre numa vaga universidade.

Claro que esta aparente marcha em ziguezague de Costa corre alguns riscos: Seguro, apesar de tudo, teve tempo para se assegurar de um largo par de fidelidades. Não é improvável que, graças á pressa tonta de Pedro silva Pereira e do habitual Lacão (e nesta matéria Lacão só com grelos, à boa maneira galega...), as coisas corram mal aos revelados contestatários. Era bem feitto, mesmo se o resultado seja o cinzentismo actual.

E porque aparece esta pressa? Pois aparece por uma simples razão.

Ao fim de meses de desventura e derrotas, eis que o Governo conseguiu meter umas lanças em África, ou seja viu, vê-se, uma luz ao fim do do túnel. Se isso, e algumas vitórias menores na mesma altura, poder ser potenciado, corremos o risco de ver a actual coligação enfrentar as eleições legislativas de 2015 com alguma vantagem. Ou seja, se o milagre das rosas ocorrer (e pode ocorrer) o P.S. vai ter de passar mais outros quatro anos no deserto.

É perante esse risco que muita gentinha se movimenta desordenadamente a rezar pela queda do Executivo e por eleições antecipadas. A ideia é exactamente a de prevenir eventuais melhorias que seguramente absolveriam Coelho e amigos de todas as desgraças de que justamente as pessoas se queixam.

Ou seja, andamos a assistir a um drama de faca e alguidar cujos actores (canastrões) apostam em miragens.

Um grande fime do enorme Kurosawa, “Ran”, ensinava uma máxima de estratégia militar: “o primeiro a mexer-se, perde”. O filme passou há muito tempo, Kurosawa já morreu, e os políticos do P.S. não têm fama de cinéfilos. Nem consta que saibam jogar ao “go”, jogo de estratégia de enorme qualidade que também não corre por aí.

Em resumo:o Carnaval está à porta, já assistimos ao corso do Largo do Rato e só se espera que as tristes passeatas de Ovar, Loulé e Torres Vedras desfilem para se entrar em quarta fira de cinzas.

E na quaresma, já agora!

D’Oliveira fecit, 31 de Janeiro 2013, dia de santa Marcela, santos Ciro, Saturnino mártires  Júlio, pb; e S João Bosco. E de uma revolução perdida à nascença (por ande corriam uns dinheirinhos da polícia, segundo o insuspeito João Chagas)

 

estes dias que passam 284

d'oliveira, 28.01.13

o fascismo ordinário 2

 

(preta, pobre e prolífica)

 

 

 

Ua senhora cabo-verdiana, negra, mãe de dez filhos, cabeleireira, desempregada e casada com um muçulmano guineense igualmente preto e casado com mais outras duas mulheres, viu um grupo de polícias invadir-lhe a casa e levar para destino desconhecido, por ordem do Tribunal e com a o assentimento da Segurança Social, sete ou oito das crianças. 

 

Desde sexta-feira que, insistentemente se cita um acordo entre a mãe condenada à perda dos seus e a Segurança Social (com o beneplácito do Tribunal) no sentido de voluntariamente se prestar à laqueação das trompas. 

 

Também insistentemente, sem que a SS (nunca uma sigla foi tão bem aplicada!) ou o Tribunal apresentem defesa consistente, se aponta que uma das razões para a retirada das crianças foi o facto da senhora Liliana Melo não cumprir o tal acordo.

 

Tribunal e SS dizem que não. Que as crianças foram retiradas à mãe (e pai) para serem protegidas. Estranha protecção é esta que implica que ninguém, exceptuando a SS e o Tribunal, saiba onde param os meninos.

 

Independentemente das eventuais boas razões do Tribunal e da SS, convém acentuar que o simples facto de haver uma qualquer referência à ablação das trompas (sem causa médica imperiosa) é uma abominação se não for um crime contra os mais elementares direitos humanos de uma mulher pobre, preta, desempregada e cabo-verdiana.

 

Mas, mais e pior, é a procissão de personalidades jurídicas desde uma senhora juíza a alguém do Conselho superior de Magistratura, que, mesmo sem haver transito em julgado, que  aparecem na televisão a defender esta medida.

 

Conviria lembrar a todos, e sobretudo aos meritíssimos magistrados, que além do dever absoluto de reserva, há nisto tudo, por mal explicado, um relento a eugenismo  ou seja à teoria segundo a qual era possível melhorar as características raciais de um determinado povo, promovendo a esterilização de todos quantos apresentassem deficiências físicas ou mentais. A coisa teve o seu glorioso pico na Alemanha nazi onde se esterilizavam à pazada (quando não eram sumariamente liquidados) todos quantos pareciam poder potenciar alguma "degenerescência" na população ariana."

 

Quantos fazem o favor de me ler sabem que tenho aqui defendido com veemência os agentes da justiça. Sou jurista de profissão e sei o valor e a solidão de quem julga. Mas por isso mesmo. porque sempre me opuz a condenações populistas de tribunais e magistrados, vejo-me obrigado a dizer "alto e pára o baile!" 

 

Mas isto, a aceitação da laqueação, mesmo que não tenha sido causa principal, sequer secundária, da sentença de retirada das crianças à família, é um desastre, uma tragédia para o bom nome da justiça e um imenso desprestígio para a sociedade portuguesa. O simples facto de ser referida na documentação do Tribunal e num relatório da SS é, de per si, algo que nos faz regressar à barbárie. Nem nos tempos angustiosos do dr Salazar e do nefasto Estado Novo!  

 

estes dias que passam 283

d'oliveira, 28.01.13

O fascismo ordinário 1

 

 

 

O senhor Arménio Carlos, secretário geral da CGT e membro do Comité Central do PCP entendeu pronunciar-se sobre um dos técnicos da troika. Exactamente o que é de raça negra. 

 

E que disse o distinto e branquíssimo senhor Carlos, membro indiscutível da "Herrenklasse" superior e ariana? 

 

Que o dito cavalheiro era o "rei magno escurinho".  A referência toda em subtileza e vesgo racismo deixa-me boquiaberto. 

 

Será que Carlos (Arménio de seu nome) percebeu a estupidez e vilania da graçola soez que lhe subiu flatulenta à boca? Será que o auditório dele o ouviu sem corar, sem protestar, antes numa risota impudica que mostra de que farinha são feitos alguns pretensos progressistas lusitanos? 

 

Será que a instituição que secretaria, a CGTP, entende esta boquinha foleira como um gracejo inocente e anti capitalista como se deve? será que o PCP acha que os seus membros podem ir por aí fora a troçar dos "escarumbas", dos "grunhos", da "pretalhada", dos "macacos sem pelo" como se nada fosse? 

 

Imaginemos, por um momento, que alguém, eu por exemplo, chamava a Carlos, um discípulo de Beria, de Vichinsky, de Jdanov (se é que ele sabe quem são estas abomináveis criaturas)? Ou que lhe prognosticava uma acentuada simpatia pelos guardas dos gulags, pelos sinistros esbirros da Tcheka e do NKVD, pelos kapos nazis dos campos de concentração que se entretinham a liquidar humanitariamente  ou por mero desfastio, um judeu, um cigano, um gay ou um comunista? 

 

Ou que o acusava de ser além de racista um fascistóide pouco instrído mas suficientemente cretino para dizer em público o indizível já que o não posso proibir de pensar o impensável? 

 

Ou que o acusava de partilhar com os cavalheiros do KKK o mesmo ódio ao "nigger", situação que a antiga URSS (o sol da terra do falecido dr Cunhal…) apontava dia sim dia não aos EUA? 

 

Obviamente, quanto mais não seja por misericórdia, não chamarei nada disto ao senhor Carlos. Deixo-o a sós com a sua consciência que não com o seu carácter.

 

Desconheço se a CGTP tem ou não conversas institucionais com a troika quando esses cavalheiros cá chegam. Se tem, com que cara o Carlinhos espertalhão se dirigirá ao senhor Abebe, o tal "escurinho e rei mago"? 

 

Eis ao que chegámos.  

 

missanga a pataco 80

d'oliveira, 28.01.13

Telegrama ao senhor grão mestre

ou o português é uma língua sacaninha 

 

A propósito dos escândalos que abalaram algumas instituições maçónicas indígenas, eis que o grão mestre do Grande Oriente Lusitano entendeu declarar: "a frequência das lojas, e inclusivamente a aderência de elementos, foi significativa, maior do que se poderia esperar após esta situação."(sic, apud "Público" ed de 28.01.2013).

Haja alguém de boa vontade, irmão ou não, que piedosamente explique ao senhor Fernando Lima que aderência não é adesão. Mesmo se, na prática medíocre de todos os dias as coisas passem por iguais. O Venerável queria dizer adesão mas confundiu os conceitos. As rodas do comboio aderem aos carris (nem sempre como infelizmente se verificou em Alfarelos). Há criaturas que achando a Maçonaria uma instituição maravilhosa (o que pode ser bizarria mas não constitui delito) aderem a esta. A isso, a esse sentimento de concordância chama-se adesão.

Estamos entendidos, senhor Lima?

A bem do português, que não da Nação. 

au Bonheur des Dames 340

d'oliveira, 26.01.13

Mais vale tarde do que nunca


Finalmente, com um largo mês de atrazo, aconteceu o jantar de inverno do Incursões. Razões várias levaram a que só hoje (ontem) se procedesse ao repasto. A senhora Merkel tinha deixado entender que não lhe parecia curial que os portugueses levassem a cabo jantaradas festivas, a troika replicou que o jantar era supérfluo e o actual governo que nos desgoverna acentuou a nota  sugerindo que se possível nos abstivéssemos de comer.

A troupe incursionista regougou tremendas imprecações, prometeu luta contínua às injunções anti populares e ameaçou um assentamento de rancho (que espera-se será o contrario de levantamento do dito). Numa palavra resolveu entrar em desobediência civil e jantar como Deus manda. Só que nestas esforçadas discussões se passou portuguesmente um inteiro mês!

De todo o modo a patriótica campanha anti fmi & comparsas continuou no jantar comemorativo a que já se fez referência. Mesmo se, como os tempos aconselham, se tenha escolhido um local menos pomposo e o camarada JCP se tenha abstido de brandir um dos seus famosos e gigantescos charutos cubanos. Também é verdade que chovia que Deus a dava e os charutos, sobretudo os da pátria castrista, dão-se mal com a água.

Um dos elementos do grupo levou a sua contrita fé nos sacrifícios e na austeridade que todos nós pecadores, filhos de Eva, devemos suportar, ao ponto de, em vez de comida, se ter contentado com essa tradução do francês e em calão do desinteressante croque monsieur que por aqui corre com o nome de francesinha. O tempora o mores!

Os restantes membros da comandita mandaram às malvas o dr. Gaspar e os seus diktats e avançaram sobre belas postas de bacalhau. Como se vê, o patriotismo não é visita assídua do blog. E chamaram vários nomes ao senhor Relvas, ao senhor Coelho e a mais um par de criaturas do mesmo triste teor e espessura. Ainda não é a revolução mas ouviu-se um sussurro sobre bombas, petróleo e vagas propostas sobre a urgente criação de uma carbonária. A ver vamos. Pela parte que me toca ainda penso que estas criaturas poderiam ser eliminadas a DDT em dose forte. Fortíssima, se necessário. Ou a Sheltox que era uma coisa horrenda que cheirava mal que se fartava. Aos vaporizadores, cidadãos!

Jantou-se, portanto. Com menos pompa e circunstância que das outras vezes. Valha a verdade que, desta vez, a polícia não me multou como no ano passado. É verdade que chovia e a PSP (ou a Municipal) deve achar que não é feita para arrostar com as inclemências atmosféricas. Coitados, têm de se poupar. E, depois, não devem gostar de água pelo menos na sua forma líquida porquanto na sólida e com dois dedos de whisky é um ar que lhe deu. Deixemos, porém, de lado, as bizarrias das forças de segurança e vamos ao que interessa. Austeridade nem a feijões. Nós tentaremos continuar a almoçar e jantar, queremos um pequeno almoço digno e não desdenhamos um lanche. De resto, como é que se reanima o comércio, a circulação da moeda, o investimento se não tentarmos revigorar o debilitado consumo interno?

De resto, e para não variar, discutiu-se forte e feio. Estamos, como sempre, de acordo no desacordo. Mesmo quando, eventualmente, se está de acordo (como no caso da camarilha que desgoverna) há pontos pouco consensuais. Não vou referir os adjectivos com que as criaturas foram mimoseadas mas sempre revelo que enquanto uns detestam outros desprezam. Eu faço parte desses últimos. Acho aquela gentinha horrenda feia má e ignorante. Haverá um par de excepções mas mesmo essas já estão poluídas pelos miasmas exalados pelos restantes. A título meramente pessoal, descreio muito dessa turva alternativa que agora pergunta por aí qual é a pressa. A pressa, senhor Seguro, é esta: convém arranjar para o lugar que ocupa, alguém que saiba o que dizer, como dizer e na altuira certa. Os portugueses podem ter merecido algum castigo (este governo por exemplo). Mas não merecem um clone de Coelho (tirado da cartola ...etc) como é abundantemente o seu caso. “Ejusdem farinae”!, se é que me percebe, coisa de que duvido muito.

Quanto ao actual cavalheiro que divaga por aí convencido de que é um estadista começo a achar verdadeira uma frase antiquíssima: coelho só à caçador. E apenas se não houver lebre, galinha, porco ou outro comestível menos sensaborão.

Falava de jantar e tropecei na política. Referi esta e voltei à comida. O problema é que, pelo andar na carruagem, há os que comem (os que comem tudo) e os outros. E, cada vez mais, há mais outros. E isso é que me traz a mostarda ao nariz. De todo o modo, a mostarda esconde o cheiro da flatulência iníqua com que nos pretendem convencer que estão a trabalhar por nós. Não estão. Não estão. Nem sabem. E não sabem que nem sabem. É o mal dos cursos por equivalência, da frequência de umas coisas a que chamam universidades privadas, da política aprendida nas jotas, do compadrio partidario  e outros medonhos disparates modernos. 

E a culpa nossa é aturá-los, votá-los e permitir que andem por aí sem serem enxotados. Como moscas, mosquitos e outras bichezas de mau ver ew pior fazer. Sheltox nessa praga. 

E mais não digo que a ocasião era de festa. 

Dar-se ao (des)respeito

José Carlos Pereira, 22.01.13

No “Expresso” desta semana, o director-adjunto João Garcia interrogava-se sobre a ética no relacionamento entre os agentes políticos e um dos exemplos que usava era o da candidatura de João Cordeiro, até aqui o todo-poderoso líder da Associação Nacional das Farmácias (ANF), à presidência da Câmara de Cascais pelo PS. Isto depois de ter travado lutas desbragadas contra Ferro Rodrigues, José Sócrates e os governos socialistas, quando estes tomaram medidas que punham em causa o poderio das farmácias e da ANF na política do medicamento.

De facto, custa a compreender como é que o PS se lembrou de convidar João Cordeiro para as suas listas, mas talvez os senhores da Concelhia de Cascais tenham concluído que o senhor era um bom trunfo eleitoral e, vai daí, toca a relevar o que se passou e a procurar vida nova.

É assim que os partidos perdem credibilidade aos olhos dos eleitores e perdem o respeito por si próprios. E as lideranças que são coniventes com estas atitudes, abdicando de princípios básicos acabam por pagar um preço elevado por isso. Mais cedo ou mais tarde, com mais ou menos "linhas vermelhas"…

Uma discussão enviesada

José Carlos Pereira, 15.01.13

O país encontra-se mergulhado num clima de dúvidas e incertezas, que acaba por ser exacerbado pelo comportamento errante da classe política dirigente. O Governo, por não saber como deitar mãos ao corte de quatro mil milhões na despesa pública, esconde-se por detrás de relatórios de entidades internacionais, como o FMI e a OCDE, esperando que sejam esses economistas estrangeiros a dizer-nos de que Estado é que Portugal precisa. O caricato é que os jornais de hoje até já antecipam o que a OCDE vai defender, mesmo antes de lhe ter sido encomendado o trabalho…

Incapaz de construir um diálogo frutuoso com o principal partido da oposição e com os parceiros sociais, o Governo usa esses relatórios como forma de pressão sobre o PS e a UGT, nomeadamente, escapando-lhe que, com esse comportamento, esgota qualquer possibilidade de compromisso para encetar as reformas necessárias e inadiáveis.

Como se este quadro não fosse suficiente, o PS dá uma ajuda na atrapalhação e, a propósito da reforma ou extinção da ADSE, consegue dizer uma coisa e o seu contrário. O responsável por acompanhar a área da saúde no secretariado defende a extinção da ADSE, o líder parlamentar diz que não senhor, socialistas com responsabilidades na área, como António Arnaut e Correia de Campos, dizem que é necessário reformular esse subsistema e António José Seguro vê-se obrigado a vir a terreiro serenar ânimos. Já José Lello, sempre atento “à mercearia”, recorda que a maioria dos funcionários públicos vota no PS, pelo que é necessário cautela com as reformas…

É hoje evidente que o país não tem condições para suportar uma miríade de subsistemas e regalias que algumas classes profissionais foram conquistando ao longo dos anos, levando a despesa pública para níveis incomportáveis. Olhe-se então de frente e sem preconceitos para aquilo que o Estado pode proporcionar aos cidadãos com o nível de impostos que estes estão disponíveis para pagar. Depois é fazer as contas, como dizia Guterres. Preferencialmente num clima sereno, com diálogo e reflexão, envolvendo e responsabilizando Governo, oposição e parceiros sociais. Sem correrias e tiros para o ar, até porque a meta ainda está longe…

Carta Aberta ao Ministro da Saúde

O meu olhar, 15.01.13

Uma amiga minha, que tem uma doença oncológica, enviou ao Ministro da Saúde o testemunho do seu caso dado que este declarou desconhecer casos concretos. Esperemos que esta carta ajude no esclarecimento do Ministro e faça desbloquear a autorização que está parada no INFARMED há mais de 3 meses. É notório que a estratégia do INFARMED não é dizer não, apenas... não decide.

 

Exmo. Senhor Ministro da Saúde,
 
Na sequência de declarações suas que ouvi na televisão sobre o racionamento de medicamentos (em que referia não ter conhecimento de casos concretos), venho por este meio contribuir para o seu esclarecimento, apresentando-lhe o meu caso concreto:
 
Tenho cancro e sou acompanhada no Hospital de Santa Maria.
Na sequência de um longo historial de tratamentos sem atingir os resultados desejáveis, o meu médico recomendou um novo tratamento que inclui Bevacuzimab (Avastin).A utilização deste medicamento carecia de autorização especial do Hospital (já concedida) e do INFARMED. O pedido foi feito ao INFARMED há mais de 3 meses, sem que este Instituto tenha dado qualquer resposta concreta até hoje. (em anexo: reclamação e resposta do INFARMED; reclamação junto do IGAS).
 
Inevitavelmente, vem-me à memória a recente notícia da morte de um doente que aguardava uma decisão semelhante há 9 meses!
 
É verdade que este comportamento do INFARMED não prova a existência de racionamento explícito de medicamentos em Portugal.
Mas como classificar esta atitude de deixar passar longos meses sem qualquer resposta, perante pedidos de autorização de medicamentos que, pela natureza das doenças aos quais deveriam ser aplicados, seriam sempre de administração urgente?
Não será legítimo concluir que deste alargamento incompreensível dos tempos de resposta resulta um racionamento implícito, na medida em que se inviabiliza quer o tratamento nos Hospitais do SNS, quer a procura de outras alternativas, quer uma reacção atempada a uma eventual resposta negativa aos pedidos de autorização especial?

Minority Report

José Carlos Pereira, 11.01.13

Moedas à parte, o relatório do FMI parece reunir uma rara unanimidade: a conclusão de que os autores do relatório não conhecem a realidade económico-social do país e não percebem o alcance das consequências de um corte como o que foi proposto. Com certeza que é necessário reduzir a despesa, como já muitas vezes defendi, mas não é reunindo à volta de uma mesa uns economistas do FMI, desconhecedores do Portugal profundo, que chegaremos às medidas adequadas. Muitas das medidas propostas são impossíveis de aplicar no Portugal de hoje. Lobo Xavier, aliás, acaba de vincar na SIC Notícias que esta não pode ser a base de uma discussão séria e serena sobre o assunto. Nem mais.

Deixo aqui as palavras de Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social e antigo ministro do PSD, que resumem tudo:

"Se eu tivesse encomendado um estudo a alguma entidade que depois me apresentasse estas soluções, aconselhá-la-ia apenas a mudar de vida. As medidas propostas pelos peritos do FMI são inexequíveis e pouco sensatas, para não dizer completamente insensatas.

O relatório analisa o impacto social das medidas no país? não. Por isso, para mim, não vale nada. é um disparate. Cortar quatro mil milhões de forma cega qualquer um corta. Não é disso que Portugal precisa neste momento.

Quero acreditar em todas as declarações que vários ministros do Governo foram entretanto proferindo, dizendo que o relatório não é vinculativo e que o que lá está apresentado não será aplicado. Mas só nos resta aguardar para ver o que vai acontecer".

Au bonheur des dames 336

d'oliveira, 10.01.13

Sic transit Gloria

 

 

 

Uma senhora deputada do P.S. foi apanhada pela polícia a conduzir com 2,41 gramas de álcool por litro. A coisa ocorreu a altas horas e será um dos máximos históricos registados no “torrãozinho de açúcar”. A representante do povo e desta desgraçada “cidade invicta” tinha ainda por cima participado em acções sobre segurança rodoviária! Convenhamos que é um “must”. Como deputada e digna representante dos que a elegeram era também membro da comissão Nacional do P.S. (o que nem é importante, convenhamos) e, pasme-se!, faz parte da Comissão para a Ética, Cidadania e Comunicação entre outras funções no parlamento. 

 

Dá para dizer que a senhora deputada “ia como um carro” o que seria de somenos se ela própria não fosse de facto num carro. Na cidade, em plena noite, onde circulam pessoas sobretudo à sexta feira, dia (ou noite) em que os bares (uma infinidade!) se enchem de criaturas para as quais provavelmente não há crise.

 

Ou que terão nervos de aço. A senhora que ia “como o aço”, pitoresca expressão muito em uso na minha descuidosa mocidade, teria festejado com amigos os seus recentes trinta e sete aninhos. Isto porque, como se sabe, nesse dia a senhora não fez mas perfez, trinta e sete pouco robustas primaveras. Fortemente robustas porque aguentar cerca de 2,5 gramas sem cair redonda para o lado é obra. Como é obra conseguir meter-se no carro e circular por aí (por ali, aliás...) sem se estampar contra o primeiro candeeiro. A menos que a solícita polícia a tenha colhido perto do local onde os festejos tenham ocorrido. 

 

Ora aqui temos uma émula da Maria Parda enaltecida por Mestre Gil vai para quinhentos anos. Com uma diferença: aquela Maria vinha das classes baixas, não presumia de dama e era claramente uma criatura que se locomovia a pé. E só bebia vinho e, porventura, aguardente. Não ameaçava a segurança dos transeuntes a menos que aos tropeções rua fora lhes desse algum encontrão. 

 

Todavia, deste “fait divers”, conviria tirar algumas conclusões. 

 

Em primeiro lugar, convenhamos, que beber o suficiente para revelar 2,4 gr no balão é, permitam-me a metáfora, carregar no acelerador. Forte e feio! 

 

Eu nada tenho contra os bêbados se bem que deteste frequenta-los e não lhes ature as bojardas e o mau hálito. E o vociferar imbecil. A violência e a incapacidade de assumir responsabilidades. Mas, nesses casos, suponho que podemos julgar que são vítimas de doença (e tive amigos que morreram alcoólicos!), O que é insuportável é os bêbados sociais, os que acham “porreiro” mostrar que aguentam os copos, os que fiados na sua capacidade de beber sem consequências arriscam a a vida deles e, mais grave, infinitamente mais grave, as dos outros. 

 

Não gostaria de me armar em moralista (eu mesmo já fui apanhado em excesso de velocidade e de nada servirá dizer que isso ocorreu numa auto-estrada deserta, com um carro extremamente seguro e atestado apenas de um copo de leite, outro de sumo de laranja e um café.) mas esta historieta tem alguns contornos que nos deveriam fazer pensar. 

 

Descontemos a borracheira que se não era de caixão à cova pouco faltaria. Então a criatura bebeu-lhe forte e feio e (a menos que a celebração tenha sido a sós) ninguém se lembrou de a não deixar ir naquele estado? Chiça, que com amigos destes mais vale fazer anos a 29 de Fevereiro. Ou a 30 para ainda ser menos vezes! 

 

O segundo ponto prende-se com as funções da criatura. Que diabo, mesmo que ser deputado nos tempos que correm seja coisa de duvidosa relevância, é o que temos. E neste caso, a pobre senhora até pertence à Comissão de Ética! E de Cidadania! Eu sei que se dizia que beber é dar de comer a um milhão de portugueses. Nem tanto, nem tanto, claro mas enfim. Todavia, algo me diz que não seria vinho o que a senhora  ingeriu. Ponhamos um par de espirituosos, a rematar um jantar festivo mais regado. Copiosamente regado se atentarmos no facto da criatura ter sido felizmente apanhada cerca das três da manhã!  

 

A segunda questão que eventualmente me preocuparia se eu ainda esperasse algo da deputadagem que por aí circula é esta: a senhora achou que não valia a pena desculpar-se perante os que a elegeram. Pelos vistos, já passada a bebedeira (mas acaso em ressaca) limitou-se a dizer, e cito: “agradeço o seu contacto mas não vou fazer nenhum comentário”. 

 

Notem a arrogância! E a incapacidade de perceber! Notem, igualmente, a toleima de um qualquer porta voz do grupo parlamentar a que a senhora pertence que entendeu não dever fazer comentários. Também ele. Estes pobres diabos ainda não perceberam – e duvida-se que alguma vez se lhes ilumine a cabecinha – que mesmo sem condenar, sem fazer julgamento público  sempre poderiam dizer um par de generalidades sobre o facto de conduzir em estado de notória ebriedade, sobre o crime de o fazer (e é crime conduzir a partir de 1, 2 gramas, exactamente metade do que se verifcava no caso em apreço)  , sobre o desgosto que se sente por isso, sobre, por exemplo, a posição do Partido quanto ao facto de, em casos destes, não parecer justificável invocar o estatuto de deputado.

 

E, já agora, sempre é possível perguntarmo-nos se a criatura tem condições para continuar sentadinha naquele areópago que, mesmo medíocre, é o que há de mais parecido com uma assembleia legislativa, ou seja com um poder fundamental. Pelo que sei. esta é a primeira vez que o nome da deputada aparece nos meios de comunicação. Da sua pretérita actividade, nada ou pouco como será o caso de ter dito qualquer coisa sobre segurança rodoviária. forte coisa há de ter sido dado o que agora sabemos. 

 

Resta-nos esperar para saber se desta aventura, felizmente sem vítimas (exceptuando o bom nome da cidadã mas isso é com ela), haverá ou não consequências. Se julgam a criatura, por exemplo. E se, julgando-a, os senhores juízes a tratam como qualquer outro cidadão. Mesmo se esta cidadã, pela cultura, pela educação e pelas responsabilidades políticas, não mereça a mesma desculpa de um pobre borracho ignorante e a braços com uma vida seguramente menos confortável. Mas isso é um outro falar. 

 

* na gravura: uma versão de "Maria Parda" 

 

 

 

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