diário Político 182
O carnaval está próximo!
Só o Carnaval explica, se explica, esta lamentável cena quer corre á vista de todos no P.S.
Vejamos: o dr. António Costa andou nas bocas do mundo logo a seguir à defenestração popular de Sócrates. Havia, no partido alguma gente que entendia que Costa era o candidato natural à atribulada sucessão daquele.
Só que a viajem durante quatro anos (pelo menos) no deserto da Oposição parecia ser ( e, entre nós isso ocorre) um martírio mais próprio das onze mil virgens do que de cavalheiros habituados a frequentar os corredores do Poder.
Costa manteve-se pois na Câmara Municipal de Lisboa a agurdar melhores tempos. “À imagem de Sampaio”, disse alguém. E disse mal. Sampaio foi à luta na CML sendo Secretario Geral e provou que a coragem e a coerência valem no mundo opaco da política.
A sucessão foi disputada entre duas segundas figuras (se é que Seguro sequer aí chega) e ganhou quem controlava a maior parte do “aparelho”.
Desde o dia funesto (parao P.S. e para o país) em que Seguro, o “Tó Zé” se alcandorou na Secretaria Geral nada de interessante se passou naquela instituição. Parecia que o famoso silêncio de Seguro pegara de estaca e continuava. A menos que..., de facto, Seguro nada tivesse para dizer. Como, aliás, com forte possibilidade, se suspeita.
Todavia, a desastrada e errática governação do senhor Passos Coelho (outra luminária política no pálido firmamento político nacional) fez crescer a ideia de que não chegaria a bom termo.
O cheiro de eleições é como o perfume da carniça para as hienas. Desperta-lhes não só o apetite mas, sobretudo, a vontade de se sacrificar pelo país. E aí temos costa, subitamente desperto do seu letargo autárquico e disposto a passar o Rubicão.
Dez dias, dez miseráveis dias, é quanto Costa concede a Seguro para, na sua florida facúndia, “unir” o partido. Ou seja, no momento em que se desatam as paixões, as cobiças, o canelão entre pares, eis que do destroço que isso provocará, há-de surgir luminosa e radiante uma nova aurora e uma indiscutível unidade. Isto, não fora o Carnaval, pareceria uma tolice quando, de facto, é uma garotada.
O cheiro a eleições e a uma possível vitória tem força, uma imensa força. Com uma agravante: a tralha socrática andava por aí de monco caído, triste com a ausência do seu condestável que anda pelas francas e araganças de auditor livre numa vaga universidade.
Claro que esta aparente marcha em ziguezague de Costa corre alguns riscos: Seguro, apesar de tudo, teve tempo para se assegurar de um largo par de fidelidades. Não é improvável que, graças á pressa tonta de Pedro silva Pereira e do habitual Lacão (e nesta matéria Lacão só com grelos, à boa maneira galega...), as coisas corram mal aos revelados contestatários. Era bem feitto, mesmo se o resultado seja o cinzentismo actual.
E porque aparece esta pressa? Pois aparece por uma simples razão.
Ao fim de meses de desventura e derrotas, eis que o Governo conseguiu meter umas lanças em África, ou seja viu, vê-se, uma luz ao fim do do túnel. Se isso, e algumas vitórias menores na mesma altura, poder ser potenciado, corremos o risco de ver a actual coligação enfrentar as eleições legislativas de 2015 com alguma vantagem. Ou seja, se o milagre das rosas ocorrer (e pode ocorrer) o P.S. vai ter de passar mais outros quatro anos no deserto.
É perante esse risco que muita gentinha se movimenta desordenadamente a rezar pela queda do Executivo e por eleições antecipadas. A ideia é exactamente a de prevenir eventuais melhorias que seguramente absolveriam Coelho e amigos de todas as desgraças de que justamente as pessoas se queixam.
Ou seja, andamos a assistir a um drama de faca e alguidar cujos actores (canastrões) apostam em miragens.
Um grande fime do enorme Kurosawa, “Ran”, ensinava uma máxima de estratégia militar: “o primeiro a mexer-se, perde”. O filme passou há muito tempo, Kurosawa já morreu, e os políticos do P.S. não têm fama de cinéfilos. Nem consta que saibam jogar ao “go”, jogo de estratégia de enorme qualidade que também não corre por aí.
Em resumo:o Carnaval está à porta, já assistimos ao corso do Largo do Rato e só se espera que as tristes passeatas de Ovar, Loulé e Torres Vedras desfilem para se entrar em quarta fira de cinzas.
E na quaresma, já agora!
D’Oliveira fecit, 31 de Janeiro 2013, dia de santa Marcela, santos Ciro, Saturnino mártires Júlio, pb; e S João Bosco. E de uma revolução perdida à nascença (por ande corriam uns dinheirinhos da polícia, segundo o insuspeito João Chagas)