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Incursões

Instância de Retemperação.

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"Ajustamento de Portugal é muito mais bonito"

JSC, 08.05.13

A última intervenção do director-geral da Troika, dito ministro das finanças “não eleito”, mostra o grande desprezo que Gaspar tem pelo sofrimento que atravessa a esmagadora maioria dos portugueses. Mostra, ainda, o estado mental de um governante que  mata, destrói e, ainda, se vangloria com os resultados porque tudo corre como o planeado: "O ajustamento do sector privado foi notável, exatamente como foi previsto", diz. Grave mesmo é que o faz com absoluta impunidade e com a segurança de que jamais será perseguido ou condenado. Pelo contrário, quando der por findo o massacre, regressará ao seio do clube financeiro que o protege, com remuneração avantajada, sem cortes nem contribuições extraordinárias. Um nojo de gente!!

 

Todos os dias temos notícias sobre o “ajustamento mais bonito”.

 

Hoje, na SIC, “Há cada vez mais crianças que dependem da escola para comer. Em Cinfães, no distrito de Viseu, cerca de 80% dos alunos do 2º e 3º ciclo precisam de ajuda. É raro o dia em que não chegam novos pedidos de apoio”.

 

Desemprego em Portugal sobe para 18,5% enquanto na Zona Euro desce no próximo ano Portugal é o único dos países resgatados, além de Chipre, que vai registar um agravamento do desemprego entre 2013 e 2014. Na Zona Euro, a média irá cair. Desemprego agrava-se em Portugal como consequência dos cortes no sector público e de um crescimento mais fraco.

 

O Movimento de Utentes da Saúde Pública (MUSP) de Évora manifestou-se hoje preocupado com a inoperacionalidade da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), acusando o Governo de fazer "cortes cegos" na saúde, pondo em "risco vidas humanas".   A responsável falava à agência Lusa depois de a Ordem dos Médicos ter denunciado que a VMER de Évora está inoperacional em quase metade dos turnos, deixando o distrito "sem nenhum meio qualificado de emergência médica pré-hospitalar

 

Gaspar deve vangloriar-se, intimamente, com esta trágica realidade e até consegue ver "beleza" na fome, na miséria, na morte. A destruição da vida das pessoas está a decorrer conforme o previsto. Gaspar cumpre bem o papel que outros, de má memória, por outros meios, também conseguiram executar políticas e acções igualmente trágicas. Sem problemas de consciência.

No labirinto alfarrabista 1

d'oliveira, 06.05.13

 

 

 

Brilhante século XIX

 

Em Portugal, lê-se pouco e lê-se mal. Convenhamos que a culpa não é toda dos leitores mas alguma, também, dos editores, para não falar das livrarias que agora abrem portas.

Refiro-me, no último caso, a certas formas de comércio livreiro que movidas por uma ideia muito próprio de lucro a todo o custo apenas se interessam pela novidade, pelo best-seller e pelos livros mais fáceis (falo da FNAC mas poderia acrescentar mais um par de livrarias normalmente cadeias de livrarias onde ir por um livro mais confidencial ou com mais de dois ou três anos é tarefa arriscada quando não inútil.

Decidi, não sei se com razão, muito menos se com algum eventual êxito, ir consignando neste espaço um par de visitas e/ou de recomendações sugeridas pelas minhas deambulações pelo comércio alfarrabista.

E só o faço porque em três ou quatro ocasiões recentes consegui levar amigos a esse tipo de livrarias e dar-lhes a possibilidade de encontrar livros que eles queriam desde há anos.

Hoje, para começar, venho dar-vos conta de uma obra a todos os títulos notável:

Dictionnaire. universel d’histoire naturelle servant decomplément aux ouevres de Buffon, de G de Cuvier, aux encyclopédies et aux ancients dictionnaires scientifiques.

Não se alarme o leitor com o título comprido muito na moda no século XIX . Nem com o número de volumes (13 mais 3 de gravuras a cores ,intitulado “Atlas”), sequer com o preço (250€).

Trata-se de uma obra de grande qualidade mesmo se o “estado da arte” seja radicalmente diferente do longínquo ano de 1949 data em que o editor Renard Martinet& Cie deu por concluída a edição.

Hoje em dia, o principal interesse da obra reside nos preciosos três volumes de belíssimas gravuras a cores mostrando mais ou menos quinhentos animais. Uma obra prima.

Aliás, os preços que compulsei na internet (entre 1900 e 5000 euros) mostram bem a diferença entre a edição só texto (300 a 500€) e a edição completa.

O que é curioso é que, neste momento, presumo, anda por aí, num alfarrabista lisboeta a mesmíssima obra completa por 250€!!!

Tive-a na mão e só a não comprei porque, aqui muito à puridade, envergonhava-me adquiri-la na totalidade para imediatamente passar os treze volumes de texto à clandestinidade dos arrumos.

Qualquer leitor entusiasta se depara com um problema: onde pôr os livros. Treze volumes andam pelos 75/80 centímetros (mínimo) e esse espaço faz uma falta dos diabos.

Como não faço parte do circuito bibliófilo, muito menos do dos colecionadores maníacos, achei melhor saciar a minha curiosidade numa edição recente do referido “atlas”, numa bonita e bem conseguida edição: cinco volumes encadernados num “coffret” de dimensão simpática, tudo por 38,5€ via “Amazon fr.”.

Confesso, todavia, que me ficaram os olhos presos naqueles três volumes encadernados (e cansados) da edição original. Mas eu sou apenas um leitor e a crise dissuade os melhores de gastar um balúrdio e, ainda por cima, degredar para a antecâmara da morte uma obra a todos os títulos exemplar.

Fica para quem a estimar ou, eventualmente, para algum especulador em livros (que os há...) que se motive com os preços mirabolantes da internet.

E já que se fala do senhor Orbigny, não deixa de ser interessante relembrar que, agora no Porto, um alfarrabista oferece, baldadamente, aos interessados uma monumental edição do grande Buffon, também ela em muitos volumes e carregada de ilustrações preciosas.

Claro que, oh volúpia possessória, também já consegui obter, desta feita num formato “XL” as gravuras de Buffon, recentemente reeditadas. Isso e um maravilhoso “alfabeto” da autoria do grande naturalista que andava esgotado há décadas.

Mesmo não sendo, não o sou seguramente, passadista, tenho de confessar que, hoje em dia, raros são os ilustradores que valem a pena.

Entre esses, e para que conste, relembro dois autores:

Manuela Bacelar

E o “Planeta Tangerina” que este ano conseguiu um grande prémio que só pecou por tardio.

E são portugueses!

Au bonheur des Dames 341

d'oliveira, 03.05.13

 

 

 

Algumas verdades sobre a feira do livro

 

Ao que consta a feira do livro do Porto não se vai realizar. A Câmara Municipal não parece disposta a entregar cash cerca de 80.000 euros. A vereadora do pelouro afirma que a CMP cede o espaço, não cobra taxas e outras alcavalas a elas associadas, garante a limpeza do local e outros serviços necessários mas dinheirinho vivo, nada.

E acrescenta que, num momento de aperto, mal pareceria que se financiasse uma actividade comercial.

E lucrativa, permito-me acrescentar, pois todos os anos, interessado que sou, vou sabendo dos comentários dos editores e dos resultados que eles confessam.

Sou um comprador compulsivo de livros. Contas feitas, nos últimos cinquenta e dois anos de vida, comprei um livro por dia. Leio como um desesperado, já fui sócio de uma editora, idem de uma livraria, sem falar nas cooperativas livreiras a que pertenci Traduzi duas dúzias de livros e escrevi três.. Tenho, pois, algum conhecimento da matéria.

Ora vejamos como é que funciona o mercado livreiro.

Em termos simples, para não assustar nenhum leitor, a coisa é assim. Um editor produz um livro, paga ao autor, eventualmente ao tradutor e entrega a obra a um distribuidor. Em termos simples, este recebe o produto por 50%  (ou menos ainda) do preço de capa. O distribuidor coloca o livro nas livrarias que teoricamente o recebem a 70% do preço de capa. O leitor compra o livrinho pelo preço lá marcado, digamos 100% do preço de capa.

Isto admite variantes nas percentagens mas o que importa saber é que, na “feira do livro”, a venda se opera de editor a leitor.

O desconto habitual neste negócio vai de 10 a 20%. Todos os dias, um ou dois livros são apresentados com descontos superiores (30 a 40%).

Não vou sequer debruçar-me sobre o facto de os maiores descontos incidirem, sempre ou quase sempre, sobre “monos”, peças invendáveis cuja principal utilidade poderia ser amparar um pé de mesa mais curto que os restantes.

Vou apenas relembrar que um editor que coloca o seu produto a 80% do preço total de capa, ganha quase toda a percentagem dos intermediários.

Virem agora estes cavalheiros ou quem os representa pedir por cima deste lucro excepcional mais oitenta milongas à CMP arguindo prejuízos eventuais parece-me má fé, para não usar expressão mais forte e justa.

Entretanto, ao que leio, há um grupo de criaturas (há sempre...) que zangada com a Câmara, com o dr Rui Rio, com a troika, com o mundo ou com as cólicas de estômago, que se propõe manifestar exigindo uma feira. A feira já! A do livro, claro, nunca a cabisbaixa, que não terão lido.

Exigem uma feira e os morabitinos camarários para a fazer. Tudo em nome da “cultura”, palavrão muito em uso que, por razões que se ignoram, não se aplica às livrarias que perdem diariamente leitores. Diariamente!

Abafadas pela “fnac”, pelos hipermercados que vendem os best-sellers do momento, as livrarias são como as casas mortuárias só que com menos gente.

A lusa gente não põe o pé na livraria nem à lei da bala. Mesmo se, como é sabido, estas multipliquem as ofertas, ofereçam 10% sobre o preço de capa, proponham títulos que as grandes superfícies nunca têm nem querem ter (poesia ou teatro, por exemplo).

Nunca vi ninguém manifestar-se a favor de um pagamento camarário às livrarias. Que pagam todas as taxas, todos os IMIs, toda as alcavalas e impostos para não falar dos restantes custos fixos que são, como calculam, imensamente superiores aos custos das barraquinhas da feira.

Durante a “feira”, as livrarias, se já tinham poucos clientes então ficam nas vascas da doença do sono, do dengue, da catalepsia. Mas isso ninguém vê. Ninguém quer ver.

O grupo de esparvoadas criaturas que, agora, possuído de furor uterino pela “cultura”, vocifera por uma feira paga pelos dinheiros públicos a produtores privados (os editores) deveria meter os pés a caminho e, uma vez por semana,  entrar numa livraria e, vá lá, comprar o mais baratinho.

E ler. Ler qualquer coisinha.

Enquanto leem, não dizem, nem fazem, disparates.

 

estes dias que passam 297

d'oliveira, 02.05.13

 

 

A culpa é da Merkel!

 

Andam por aí uns rapazolas a dizer que as vitórias das equipas alemãs se devem ao facto delas serem realmente equipas e não um ajuntamento de estrelas, de prima-donas, de special ones e outras balivérnias.

A verdade, a áspera verdade, é bem outra: isto tudo faz parte da conspiração germânica. A Frau Merkel andou estes últimos anos a solapar as economias do Sul e a desalentar os futebóis ibéricos mas não só.  

É mesmo provável que tenha andado a comprar árbitros, bolas, relvados quando não públicos...

O 1 de Maio de Passos Coelho

O meu olhar, 01.05.13
Eu ainda sou do tempo em que os jornalistas se reuniam para decidir se deveriam ou não trabalhar no 1 de Maio. A decisão final foi positiva com a missão de cobrir, durante todo o dia, as comemorações do Dia do Trabalhador. Isto passou-se no primeiro 1 de Maio depois do 25 de Abril.

Quem comemorou esse dia não o esquece.

No 1 de Maio de 2013 tive oportunidade de seguir as emissões da TSF e da Antena 1 durante quase todo o dia porque estive em viagem. Aliás, comecei o dia a ouvir as notícias da RTP, às 8 horas da manhã. E o que ouvi? Uma jornalista a papaguear o que Vitor Gaspar tinha dito na véspera. Logo a seguir aparece a imagem de Vitor Gaspar a dizer o que a jornalista tinha dito que ele dissera. A cena repetiu-se com Passos Coelho... duas vezes. Intervenções da oposição? Nada. A oposição não faz parte da agenda, mesmo quando se trata de questões gravíssimas para todos nós.

Quanto ao 1 de Maio a primeira pessoa a falar nele foi a senhora da meteorologia.

Bom, quanto às emissões da TSF e da Antena 1 a cena repetiu-se com a particularidade de as palavras de Passos Coelho terem mudado a partir de determinada hora. Deixaram de ser as da véspera porque tinha estado a fazer uma peça de teatro junto dos seus colegas sindicalizados do PSD e os jornalista tinham gostado muito. Tanto que passaram o dia a repetir as suas palavras. Tanto que o 1 de Maio só passou a ser verdadeiramente noticia no inicio da tarde, depois do inicio das comemorações em Lisboa e Porto. Uma única excepção : a entrevista de Maria Flor Pedroso a Arménio Carlos e Carlos Silva na Antena 1.

Não há duvida. O jornalismo vive tempos difíceis. E nós também.

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