A propósito dos projectos de requalificação urbana
Os fundos do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) deram um impulso decisivo à regeneração urbana dos centros históricos das principais vilas e cidades do país. Quase que não há município por esse Portugal fora que não tenha aproveitado a oportunidade para “lavar a cara” do respectivo centro urbano e requalificar algum património edificado.
Contudo, quando esses projectos não são consolidados com a malha urbana existente criam-se por vezes verdadeiras “ilhas” requalificadas, com arranjos exteriores e equipamentos urbanos renovados, lado a lado com um edificado decrépito e ao abandono.
A legislação das SRU (Sociedades de Reabilitação Urbana) criou instrumentos que permitem a essas entidades, controladas por capitais públicos, intervir numa escala alargada e ajudar a reerguer, esse é o termo, quarteirões inteiros das cidades. Nos municípios mais pequenos, há bons e maus exemplos de intervenção, que deveriam ser acautelados à partida. Creio que os gestores dos fundos do QREN só deveriam aprovar projectos que garantissem à partida, que o edificado privado, com os apoios necessários, era envolvido também ele no programa de requalificação. Seja pelo recurso ao programa JESSICA (Join European Support for sustainable Investment in City Areas), com acesso a taxas de juro bonificadas e a prazos de amortização alargados, seja pela implementação de incentivos que motivem verdadeiramente o investimento privado.
Em Almada, por exemplo, a Câmara Municipal criou as denominadas Áreas de Reabilitação Urbana, atribuindo isenção completa de taxas municipais e comparticipando a fundo perdido o investimento privado, para além de reduzir em 30% o IMI dos proprietários que assegurem a manutenção devida dos imóveis nessas áreas. O objectivo passa por assegurar a qualificação do parque habitacional, atrair as populações mais jovens e atrair novas actividades económicas para esses centros urbanos. Em dois anos, Almada já conta com mais de três milhões de euros de investimento em obras neste âmbito.
O que não deve acontecer é investir de forma significativa no espaço público e ficar-se pela mera sensibilização dos proprietários privados, à espera de sabe Deus o quê. Na minha terra, Marco de Canaveses, cidade que tem neste momento em curso o seu projecto de regeneração urbana, a proposta da autarquia para esse património degradado é, à falta de melhor, tapá-lo com telas publicitárias…