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Um drama de faca e alguidar de que todos somos vítimas
(desgarrada ao som das notícias)
Um rapazola inconsciente reiterou com a sua estúpida brincadeira tudo o que Portugal tem de odioso e mesquinho aos olhos dos estrangeiros e de muitos cidadãos nacionais.
Desviemos piedosamente o olhar, tapemos o nariz, e sigamos em frente.
Ao lacrauzinho nada melhora o seu mau carácter (eu diria, a sua ausência de carácter). Ao outro tonto também de pouco serve recomendar o uso, mesmo casual –se possível-, de algum discernimento. Tarefa inglória e, porventura, inútil. O
Pessoalmente continuo a afirmar-me um exilado na pátria própria.
Exilado e enojado. Felizmente nunca encontro esta gentinha onde quer que vá. O que me evita ter de lhes negar a mão, coisa que só por duas vezes me aconteceu. É que uma “bacalhauzada” exigiria pronta desinfecção do membro esposto e quase nunca há álcool do mais forte para uso terapêutico. Um herói de “Três vezes nove vinte e um” de Manuel Fernando Magalhães (meu colega entre o 3º e o 5º ano, num Lourenço Marques perdido) recorre a um copo de whisky afortunadamente perto para lavar a mão conspurcada por um qualquer militar. A coisa teve como consequência a prisão de Magalhães , obviamente.
De prisões já tive a minha dose mesmo se ocorridas no tempo da outra senhora. Penso, todavia, que se com uma outra estadia nas masmorras, desaparecesse este monte iníquo de criaturas, de bom grado me iria entregar à mais próxima esquadra.
A ideia tola de, no actual estado das coisas, ir para eleições teria resultados péssimos, mesmo se a continuação deste governo recauchutado seja ceder a uma chantagem.
Eleições agora, sem sequer termos a certeza de haver resultados convincentes, seria entregar este pobre país, e as suas maltratadas gentes, a uma intolerável crise que só pioraria a situação de ambos. Basta imaginar os delirantes próximos três meses e as consequências fatais de empobrecimento que, podem estar certos, nos atingiriam.
Aliás, das oposições, os sinais que se recebem são caóticos e catastróficos. O PCP não percebeu e não perceberá a falta de entusiasmo popular às suas teses. A esquálida manifestação que a CGTP convocou para Belém (nem meio milhar de pessoas lá estiveram) diz bem da falta de credibilidade das ameaças que, a seu tempo aqui se criticaram.
O BE atingiu o grau zero da toleima com a sua proposta de deixar de pagar boa parte da dívida pública. O bloco, coitado, tem uma vocação norte-coreana da política e relembra, mesmo se traduzido em calão, o abnegado isolacionismo do falecido camarada Enver Hodja.
Quanto ao PS, relembra-se aqui, apenas, a opinião de Mário Soares sobre o “timorato” Seguro. Há por aí alguém que seja capaz de comprar um carro em segunda mão a Seguro? Alguém acredita naquele simpático ectoplasma?
Alguém, aliás, esqueceu, o desatroso governo do PS, sob a batuta irresponsável e fantasista de Sócrates? Alguém se lembra que, nessa época, Seguro tinha como regra de oiro, um silêncio que nunca incomodou os seus amigos de partido nem nunca provou nada mais do que isso mesmo: silêncio. Um ruidoso silêncio que provavelmente não demonstrava qualquer espécie de ideias, fossem elas quais fossem. E, agora, que tem a possibilidade de as exprimir, voltamos a verificar que aquilo é um deserto.
Gostaria, agora, de relembrar que todos os partidos da oposição andaram a apelar a Cavaco Silva. Não deixa de ser irónico verificar que o PC e o BE (os únicos que até agora ouvi) acusam Cavaco de tentar tutelar a democracia! Cáspite!
Afinal o apelo aos poderes do Presidente era tão só um pedido de eleições. A ideia, na essência justa, de ser a vontade popular a derimir uma situação, naufraga, porém, nos isacrifícios intoleráveis de três meses de caos absoluto. Casa sem rei nem roque não produz nada de bom. A preocupação palavrosa da auto-intitulada esquerda esquece a situação de gente concreta. Perpassa nestas enfraquecidas hostes comunistas e bloquistas, uma sensação de “antes sós que mal acompanhados”, frase usada e abusada pelo dr Oliveira Salazar. Com uma diferença: Salazar tinha moeda própria, independência aduaneira, navegava nas águas turvas da guerra fria e dispunha por bons e maus (e péssimos) meios de um apoio popular baseado na ignorância, no analfabetismo, na acção tremenda da censura sem falar no medo que paralisava muitos portugueses. Alem de haver a almofada da agricultura, da Igreja, de um reviralhismo que subitamente se descobriu nacionalista (por todos Cunha Leal) e o discreto apoio de todas ou quase todas as potências ocidentais. E uma moeda se não forte, pelo menos estável... Isso mesmo ocorria ainda na antevéspera do 25 de Abril. Recordemos que na segunda metade dos anos 60 se assistiu a um forte crescimento da economia nacional.
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Acabo de ouvir, com estas que a terra há-de comer, os dois partidos de governo, através de responsáveis menores, e o PS (que andou perdido em parte incerta hora e meia!!!). Os primeiros, depois do bofetão presidencial, que lhes anunciava o fim do recreio, murmuraram um vago e acabrunhado talvez ao PR.
O PS pela voz de Alberto Martins (e aqui vê-se quão certo eu estava quanto ao informe Seguro) veio dizer três banalidades protegendo sem especial convicção a sua negação a um compromisso de governação. Martins, e não é inócua a sua aparição, diz em substância que não entra num Governo (ninguém, nem Cavaco, o exige), que está muito triste por Cavaco não requerer a abalizada opinião do PC e do BE, coisa que ele Martins acha absolutamente fundamental, pelo que aproveita o momento para a exigir, mesmo se, como se sabe, se está nas tintas para esta rapaziada, e que gostaria imenso de eleições.
Martins não se pronunciou sobre nada da que o PR diz quanto a razões para não fazer eleições. Dá vontade de ver Martins (sempre ele) a tentar num governo periclitante saído de eleições, negociar com os credores.
Tudo isto parece ser uma rapaziada. Cavaco, para usar uma expressao popular, meteu-lhes o testículo na virilha, e Seguro, o timorato, escafedeu-se. anda por aí, fugido e em parte incerta. Alguém acredita nesta amiba política?
No meio disto tudo, Cavaco garante um ponto: ajustou contas com o rapazinho Portas. A vingança serve-se fria...
Vou jantar. Uma salada magnífica com legumes braseados, tomate coração com queijo em azeite, uma costeleta que sobrou de uma anterior refeição, ervas variadas, enfim um repasto.
Cheira-me que a gentuça política não consegue sequer engulir um tremoço. É bem feito.
PS: Portas e Coelho também andam a monte... Terão passado à clandestinidade? estaremos em vésperas de uma patuleia, de uma maria da fonte? terá o Remexido encarnado nestas duas tristes criaturas? será que vão emigrar? força meninos: há no Zimbabue um futuro radioso para os dois!
* como os leitores perceberão fui escrevendo isto enquanto ouvia as notícias. Sem rede.
** na gravura: Proudhon, um homem que só tardiamente aprendi a ler, conhecer e respeitar.